Never Enough escrita por oicarool


Capítulo 18
Capítulo 18




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Houve um tempo em que Darcy Williamson comemorava quando Elisabeta Benedito não comparecia aos jantares e festas de suas famílias. Quando mais novo, sempre tinha um sentimento de exclusão quando Elisabeta e Ernesto decidiam brincar juntos. A medida que foi envelhecendo, era apenas desgastante discutir com Elisabeta. Darcy era educado e maduro para a sua idade, mas esquecia-se disso quando a mais velha dos Benedito implicava com ele.

No entanto tudo parecia estar no passado, pois agora, ao lado dos irmãos e das irmãs de Elisabeta, Darcy sentia fala dela. As meninas Benedito não sabiam onde Elisabeta estava, tudo o que sabiam é que ela teria um compromisso e depois os encontraria na feira de rua. Mas o relógio já marcava além das oito horas da noite, e Darcy não sabia que tipo de compromisso poderia se estender em hora avançada.

Por isso, enquanto os irmãos e as amigas se divertiam nas mais diversas barraquinhas de doces e artesanatos, Darcy tinha vontade de resmungar. Estava, portanto, andando um pouco mais lentamente que todos os outros. Não estava com paciência para tanta empolgação, e suspeitava que isso tudo fosse por causa da Elisabeta. Afinal, onde ela estaria?

— Você parece distraído. – uma voz surgiu à seu lado, como se materializasse seus pensamentos.

— Elisabeta. – ele respirou aliviado. – Onde você estava?

Elisabeta parou de caminhar, fazendo Darcy parar também. Foi então que ele notou o sorriso que ela tinha no rosto. O nariz estava vermelho e os olhos mais brilhantes do que o normal. Ela parecia feliz. Genuinamente feliz. E desde o acidente de Felisberto ele parecia não ver mais aquele sorriso.

— Eu consegui, Darcy. – ela disse, e seu sorriso se alargou.

Darcy não resistiu ao impulso de abraça-la. Há semanas Elisabeta se dedicava à seu novo projeto. Precisava convencer o jornal a dar uma chance. Ele tinha certeza que ela conseguiria. Não havia sonho que Elisabeta Benedito não realizasse. Sentiu os braços dela ao redor de seu pescoço e a ergueu do chão, girando-a no processo.

— Você merece, Elisa. – Darcy sussurrou no ouvido dela.

— Ei, o que está acontecendo aqui? – a voz de Cecília interrompeu o momento, e Darcy colocou Elisabeta no chão.

— Eu consegui o emprego no maior jornal da cidade. – Elisabeta disse em voz alta, enquanto seus familiares e amigos se aproximavam.

E então recebeu todos os abraços daquelas pessoas que tanto amava. Um a um, eles dividiram sua felicidade. Mas havia algo a mais naquele abraço de Darcy, na forma como ele a encarava com orgulho, como parecia feliz por sua conquista, como se fosse também uma conquista dele. E o coração de Elisabeta ficou aquecido por aquele pensamento.

Naquela noite fria e estrelada, todos esqueceram um pouco dos problemas. Riram até que suas barrigas doessem, provaram diferentes sabores. As Benedito deixaram de lado a preocupação com a recuperação de Felisberto, Darcy não pensou sobre seu emprego, Ernesto e Ema se esqueceram que o avô dela torcia o nariz para o relacionamento dos dois.

E, quando seus irmãos decidiram ir embora, Darcy fez um pedido silencioso para que Elisabeta ficasse. Mesmo sabendo que isso chamaria a atenção de suas irmãs, ela não pensou duas vezes. Disse que ainda tinha muito a aproveitar, que o show de fogos sequer havia começado, e mesmo sob um olhar inquisidor de Cecília, Elisabeta apenas deu de ombros.

Assim que perderam os irmãos de vida, seus dedos se entrelaçaram e caminharam pela feira de mãos dadas. Pelo menos até Elisabeta reclamar de frio, então Darcy a abraçou de lado, e seguiram assim seu caminho. Não falaram muito, apenas comentando sobre qualquer coisa que chamava sua atenção entre uma barraca e outra. Estavam apenas confortáveis demais naquele passeio.

A verdade é que havia uma paz entre eles. Algo que batia descontroladamente em seus corações e parecia acalmar apenas quando estavam juntos. Uma necessidade desesperada da presença, do conforto. Era o que havia mudado entre eles após o acidente de Felisberto. Desenvolveram uma cumplicidade, um laço intenso, que ia muito além dos beijos desesperados. Era como se precisassem um do outro.

A confiança mútua fez com que Elisabeta o seguisse para a parte lateral da feira, sem questionar onde estavam indo. Era menos iluminado ali, naquele descampado. Elisabeta podia ver alguns casais espalhados, aproveitando aqueles momentos roubados. Darcy caminhou até uma grande árvore, e sentou-se ali. Ergueu a sobrancelha para que ela também sentasse com ele.

Elisabeta sentou-se entre as pernas dele, as costas apoiadas em seu peito. Darcy passou os braços ao redor do corpo dela, a puxando para ainda mais perto. Uma das mãos segurou uma das dela, e Darcy brincou com seus dedos. A noite estava fria, mas Elisabeta duvidava haver outro lugar mais confortável que os braços de Darcy.

— Este é o melhor lugar para ver os fogos. – Darcy sussurrou no ouvido dela.

— É mesmo? – Elisabeta riu. – E todo ano você traz uma moça diferente para cá?

— Sim. – ele brincou, e Elisabeta deu um tapa de leve em sua perna. – Você é a primeira, Elisabeta Benedito. A menos que Charlotte conte, então é a segunda.

— Estou lisonjeada. – Elisabeta sorriu, e Darcy beijou seus cabelos.

— Estou muito orgulhoso do seu novo emprego. – Darcy disse, após alguns segundos em silêncio. – Você é incrível, sabe disso, não é?

Elisabeta afastou-se um pouco para encará-lo. Tinha um sorriso tímido no rosto, e Darcy sorriu ainda mais ao vê-la.

— Você é. De verdade. – ele reafirmou.

— Devo estar ouvindo coisas. – Elisabeta acariciou o rosto dele. – Ou isso, ou eu diria que você está tentando me seduzir, Darcy Williamson.

— Eu jamais diria isso apenas para seduzi-la. – Darcy ergueu a sobrancelha.

— Apenas? – ela imitou a expressão.

— Eu não reclamaria se este fosse um desfecho para o elogio. – Darcy abriu um sorriso, e Elisabeta não resistiu a beijar seus lábios.

E o fez porque brotou em seu peito um impulso, quase uma necessidade, de falar sobre seus sentimentos. De dizer que gostaria de ser seduzida por ele. De ser elogiada por ele. O beijou porque se não mantivesse os lábios ocupados, talvez dissesse à Darcy que estava se apaixonando por ele. Que sentia seu corpo em queda livre quando ele estava por perto. E não saberia o que fazer ao falar nada disso.

Porque suspeitava, pela forma como ele olhava para ela, que ele sentiria o mesmo. E era simplesmente descomplicado que estivessem ali, sentados juntos, vivendo um momento apenas deles. Era mais fácil não precisar lidar com a pressão certeira de seus pais por um compromisso que nenhum dos dois parecia exigir. E havia a expectativa, o frio na barriga, a espera pelo momento em que ele a beijaria.

Por isso manteve seus lábios nos dele, tentando que um beijo falasse e calasse ao mesmo tempo. E quando encerrou o beijo, acomodou-se nos braços de Darcy, sentindo a calmaria e o tormento de tê-lo cheirando seus cabelos, beijando seu pescoço de leve, acariciando seus braços. Tudo isso enquanto o show de fogos começava e o céu estrelado ganhava novas cores e brilhos.

E era exatamente como se sentiam. Como se sua independência estivesse sendo invadida por fogos de artifício. Barulhentos, mas belos. Era uma deliciosa bagunça que estavam acostumados a viver um com o outro. Mas ao contrário de desconforto, agora a invasão causava desejo, ânsia, espera. E aos poucos encaixavam suas diferenças, admiravam suas discordâncias.

Ficaram ali até os fogos terminarem, as barracas desmontarem, as luzes ficarem mais fracas. Entre beijos e carinhos, usando o mínimo de palavras que podiam. E depois andaram de mãos dadas pela cidade, observando as velhas paisagens, que pareciam ter contornos de novidade. Ou talvez fossem seus olhos. Talvez fosse a visão de mundo de Darcy e Elisabeta que estivesse mudando.

Se despediram no início da rua, com um beijo apaixonado, mas quase casto. Deixaram nele as palavras que não queriam dizer, as implicações que não queriam fazer. Ao contrário de quando eram crianças, não voltaram correndo para casa. Não entraram batendo os pés ou reclamando sobre o que o outro acabara de fazer. Não tinham seus irmãos a tiracolo.

Voltaram em passos lentos, com sorrisos no rosto, corações acelerados. Entraram em casa querendo ficar lá fora, querendo um pouco mais um do outro. Com a sensação de que finalmente tinham uma brincadeira deles, na qual combinavam os passos, da qual nenhum deles queria desistir.

 


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