Never Enough escrita por oicarool


Capítulo 13
Capítulo 13




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A internação de Felisberto se prolongou mais do que o esperado. A despeito do pai das Benedito ter despertado no dia seguinte ao acidente, estava fraco e debilitado pela perda de sangue, pela cirurgia. Sua recuperação foi lenta, e quando todos pensavam que estava prestes a ir para casa, uma infecção fez com que a alta fosse adiada. Já fazia quase um mês desde a queda do telhado, e ainda enfrentavam as incertezas sobre a recuperação.

O que sabiam de antemão era que as fraturas de Felisberto eram importantes. Os médicos sugeriam que, com sorte, em seis meses ele estaria apto a retornar ao seu trabalho. Quando Elisabeta ouviu essa previsão, sua mente rapidamente começou a antecipar os problemas que enfrentariam. O salário de Felisberto era a principal fonte de renda da família, e não haveria como sobreviver sem um esforço de todas.

Por isso cada uma das Benedito foi à luta, que foi proibida pelas irmãs. Jane e Cecília estavam lavando roupas nas horas vagas, enquanto Mariana fazia entregas pela cidade com uma motocicleta emprestada por Brandão. Lídia estava vendendo doces na escola. Elisabeta havia conversado com seu editor, e, sendo capaz de entregar suas colunas trabalhando apenas um turno, no outro trabalhava em uma pequena cafeteria, servindo mesas.

Elisabeta calculava que o dinheiro de todas as irmãs, em conjunto, seria capaz de pagar as contas normais da casa. Infelizmente, a cada dia que Felisberto passava no hospital, novas necessidades surgiam. O pai precisaria de cuidados especiais, remédios, e não havia garantia que conseguiria se recuperar totalmente. Mesmo com o trabalho extra, e a ajuda dos Williamson, a perspectiva futura era difícil.

Se não bastasse, ao visitar seu pai naquele dia Elisabeta recebera a notícia de que ele apresentava febre novamente. Os médicos tentariam trocar alguns medicamentos, mas não havia garantias. O desgaste emocional era enorme, e naquele dia em especial, Elisabeta sentia-se exausta. Estava triste, confusa e preocupada. Por isso agradeceu quando Mariana optou por visitar os avós e Brandão no Vale do Café, e quando Camilo insistiu em levar suas outras irmãs para um passeio.

Estava revezando as noites no hospital com Ofélia, e com sua mãe fora de casa, tinha finalmente um pouco de paz e de silêncio. Quem sabe ao não precisar confortar suas irmãs, ao não precisar se preocupar com elas, pudesse descansar um pouco. Precisava com urgência colocar sua cabeça no lugar, ficar mais centrada. Era a única forma de conseguir lidar com o turbilhão que sua família enfrentava.

Porém, não demorou mais do que um par de horas para que percebesse que ficar sozinha não ajudaria. O que realmente precisava era de alguém que garantisse que tudo ficaria bem, que estivesse ali por ela. Precisava de colo e conforto. E não ficou surpresa ao perceber que sua necessidade era da presença de Darcy. Seu vizinho, seu amigo, o homem que estivera à seu lado desde o acidente do pai.

Darcy seguia como uma presença constante. Parecia ter sempre a palavra certa ou o abraço caloroso no momento em que ela precisava. Darcy Williamson parecia antecipar qualquer necessidade sua, acolher suas irmãs. Também costumava aparecer com o jantar, dormia no sofá das Benedito mais vezes do que Elisabeta podia contar. Revezava-se com Ernesto e Camilo, e os três irmãos Williamson pareciam tomar conta delas como cães de guarda.

Quando a batida na porta interrompeu seus pensamentos, o coração de Elisabeta deu uma cambalhota. Queria que fosse Darcy. Esperava que fosse ele. Esperava que ele contasse sobre seu dia, sempre com pequenos comentários que arrancavam sorriso dela. Gostava quando Darcy se aproximava de forma mansa, quase sem querer, até que Elisabeta estivesse em seus braços, em um abraço que os dois precisavam, mas nenhum tinha coragem de iniciar.

Elisabeta queria que fosse uma daquelas noites em que ele permitia que ela chorasse em silêncio, apenas para dizer que tudo ficaria bem quando ela finalmente se acalmava. As noites em que ela não queria que suas irmãs se preocupassem, mas também não queria se desfazer da companhia dele. As raras noites que invariavelmente os dois ficavam no quarto dela, e Elisabeta dormia nos braços de Darcy, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Ela sabia que seu coração estava batendo mais forte por ele. Que ansiava o calor e a segurança de Darcy. Sabia que sua pele se arrepiava quando ele sussurrava em seu ouvido palavras de calmaria. Mas não deveria pensar sobre isso. Não quando ele estava apenas sendo um bom amigo, quando faria isso por qualquer uma de suas irmãs. Não deveria ver mais do que atos de amizade naqueles gestos.

Além disso, Ernesto e Camilo brincavam com Darcy o tempo todo a respeito de Joana, uma ex-namorada do passado. Elisabeta lembrava-se da moça. Era bonita, simples, e recordava-se de que todos a adoravam. Até mesmo Mariana e Ernesto, que não conseguiam entender porque Elisabeta cismava com Joana. Darcy nunca respondia às provocações, mas Elisabeta suspeitava que não eram brincadeiras sem sentido.

Ficou surpresa, porém, quando abriu a porta e encontrou Ernesto. Tentou sorrir, disfarçando a decepção, mas o amigo a puxou para um abraço carinhoso e apertado. Ernesto era diferente de Darcy. Era como um irmão para ela, e não despertava nada além de carinho e gratidão. Ele se afastou e entregou à ela um envelope, que Elisabeta sabia bem o que continha.

Ernesto estava fazendo horas extras e recebendo semanalmente. Entregava o dinheiro direto à ela, sem explicações e sem deixar que recusasse. Elisabeta gostaria de poder recusar, e certamente pagaria cada centavo quando pudesse. Mas, naquele momento, sentia-se apenas muito grata por poder contar com tantos amigos verdadeiros. Olhou para o envelope e suspirou, guardando-o junto aos outros.

— Todas as suas irmãs estão na minha casa. – ele fechou a porta, colocando as mãos nos bolsos. – Achei que precisava de companhia.

— Pensei que gostaria de ficar sozinha, mas é muito solitário. – Elisabeta sorriu, triste.

— Tentei trazer Ema, mas o Barão teve um mal estar esta tarde. Ema disse que você terá que se contentar comigo sendo o representante. – Ernesto sentou-se no sofá.

— Ah é, e o que você respondeu? – Elisabeta sentou-se ao lado dele, rapidamente deitando com a cabeça apoiada nas pernas de Ernesto.

— Que você prefere à minha companhia, é claro. – Ernesto revirou os olhos.

Ernesto Williamson era o meu amigo de Elisabeta Benedito desde suas primeiras memórias. Eram muito parecidos, e quase nunca brigavam de verdade. Era muito mais comum que os dois brigassem com Darcy do que um com o outro. Eram cúmplices de travessuras, e à medida que cresciam, também se tornaram os principais confidentes um do outro.

É claro, porém, que Elisabeta não poderia contar à Ernesto a respeito de Darcy. Por isso deixou que o amigo tagarelasse a respeito de como planejava pedir Ema em casamento, do medo de que o Barão não permitisse o noivado, do quanto à amava. Elisabeta fechou os olhos, à medida que ele acariciava seu cabelo, e sorriu ao ouvir o quanto Ernesto e Ema pareciam felizes, mesmo diante de momentos tão nebulosos para ela. Era bom ver que a vida continuava acontecendo, que o mundo seguia girando.

Elisabeta estava quase dormindo quando ouviu uma leve batida na porta. Ernesto gritou para que a pessoa entrasse, e Elisabeta apenas ergueu os olhos para ver quem era o visitante. Os olhos de Darcy encontraram os dela, e ela notou quando ele engoliu em seco. Ernesto cumprimentou o irmão, e Elisabeta estranhou a resposta seca.

— Me desculpem, eu não queria atrapalhar. – Darcy disse, ainda com a porta aberta.

— Que bom que chegou, Darcy. – Ernesto sorriu. – Preciso mesmo ir para casa. Você poderia fazer companhia para Elisa?

— Era o que eu pretendia fazer. – Darcy resmungou. – Mas vejo que estão ocupados.

Elisabeta o encarou confusa, sentando-se totalmente. Não demorou para que Ernesto beijasse sua testa e se despedisse do irmão, deixando os dois em um desconfortável silêncio.

— Eu não queria atrapalhar. – Darcy repetiu, após alguns segundos.

— Atrapalhar o que? – Elisabeta revirou os olhos.

— Esse momento casal. – ele respondeu, irônico.

Soube que foi a coisa errada a dizer quando os olhos de Elisabeta faiscaram. Mas não conseguia controlar a sensação ruim que sentia, o sentimento de traição ao ver Elisabeta aconchegada em Ernesto.

— Momento casal? – ela bufou. – Você está ciente que está sugerindo que eu estou traindo minha melhor amiga?

— Não sei se Ema pensaria algo diferente ao vê-la nos braços de Ernesto. – Darcy deu de ombros, e deixou uma sacola em cima da mesa.

— Eu não estava nos braços de Ernesto. – Elisabeta levantou-se. – Você tem ideia do dia terrível que tive?

Darcy ficou em silêncio. Sabia que estava exagerando. Seu irmão nunca faria aquilo com Ema. E Elisabeta... esperava que ela não fizesse aquilo com ele.

— Meu pai teve febre de novo, a única maneira de pagar os remédios que ele precisa é aceitando o dinheiro que seu irmão deveria estar usando para planejar o casamento dele, minha vida está uma bagunça. – Elisabeta começou a falar cada vez mais alto. – Eu estou triste e confusa e não preciso de você me fazendo sentir pior.

— Elisabeta, eu não quis... – ele disse, estrangulado.

— Não quis sugerir que eu estrava traindo minha melhor amiga? Que um ato de amizade do meu melhor amigo teria maldade? – Elisa gritou. – Você é inacreditável.

— Me desculpe, eu só... – Darcy tentou responder, mas foi interrompido por ela.

— Vai embora, Darcy. Eu quero ficar sozinha. – ela suspirou, cansada. – E você deve ter coisa melhor pra fazer. Sua namorada não está reclamando por você passar tanto tempo aqui?

Darcy a encarou com confusão.

— Namorada? – ele ergueu a sobrancelha.

— Joana, Julia, seja lá qual for o nome dela. – Elisabeta não sabia porque estava falando aquilo. – Ontem mesmo sua mãe comentou o quanto vocês combinam.

— Minha mãe o que?

— E seus irmãos à adoram. Tenho certeza que ela deve querer mais tempo com você. – ela resmungou. – Ou talvez a perfeição seja tanta que ela entende. – Elisabeta deu ênfase à última palavra.

Darcy de repente sorriu. Elisabeta não falava nada compreensível para os ouvidos dele.

— Do que é que você está falando? – ele se aproximou.

— Eu estou cansada, Darcy. Me deixe em paz. – Elisabeta pediu.

Mas Darcy a puxou pelas mãos, aproximando-a quase o suficiente para que seus corpos estivessem em contato. Uma das mãos a segurou pela cintura, e Darcy acariciou o rosto de Elisabeta com a outra mão. A expressão dele era séria, enquanto a dela era cansada e confusa.

— Você acha mesmo que eu faria isso? – ele perguntou, suave. – Que eu passaria minhas noites aqui e depois correria para os braços de uma qualquer?

— Você acha que eu correria para os de Ernesto. – Elisabeta deu de ombros.

Darcy sorriu, e Elisabeta sentiu seus joelhos falharem. Ele estava perto, e sua respiração ficou presa quando Darcy se aproximou ainda mais. O nariz dele tocou no dela em um movimento suave, um carinho leve. Elisabeta sentia a respiração dele, e fechou os olhos quando os lábios de Darcy tocaram a ponta de seu nariz. Seu coração estava acelerado com a expectativa, e Elisabeta não formava nenhum pensamento coerente.

Uma de suas mãos involuntariamente tocou o rosto dele, a barba cutucando seus dedos. Ela o sentiu sorrir contra sua pele, e então o nariz de Darcy tocou o dela novamente. Podia sentir os lábios dele perto dos dela, e desejou que ele a beijasse. Mas Darcy beijou sua bochecha, suave e demoradamente. O canto de boca dela formigou em contato com a dele, mas antes que pudesse pensar sobre isso, ele a puxou para um abraço íntimo.

— Eu trouxe o jantar. – ele disse, quando se afastou dela.

Não demorou para que as outras Benedito retornassem, na companhia de Camilo, Ernesto e Charlotte. Jantaram juntos, e naquela noite Darcy pediu que Ernesto dormisse na casa dos Benedito. Era a única forma de manter seu controle. Se ficasse na presença de Elisabeta por mais alguns minutos, jogaria a cautela pela janela e não poderia se aproveitar de um momento de fragilidade.

E estivera muito perto disso naquele dia.

 


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