Never Enough escrita por oicarool


Capítulo 11
Capítulo 11




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Sonhar com Elisabeta Benedito havia se tornado uma atividade familiar para Darcy Williamson. Por isso ele não estranhou quando a moça surgiu em seu sonho, ainda que estivesse sonhando que percorria a floresta em um treinamento do exército. Talvez Elisabeta estivesse ali para salvá-lo daquela tortura. Mas, por que ela falava sussurrando? E por que a voz de Ernesto estava presente ali também?

Antes que sua mente processasse as informações, Darcy abriu os olhos. Elisabeta e Ernesto continuavam a falar, então seu próximo passo foi virar-se em direção ao som. Elisabeta percebeu o movimento de Darcy, e logo os olhos sonolentos dele se encontraram com os dela. Os cabelos dele estavam bagunçados e Elisabeta teve o impulso de tentar arrumá-los, mas não saiu do local.

Ele abriu um sorriso preguiçoso, fazendo com que subitamente o estômago dela fosse tomado por borboletas. Ela sorriu de volta, e quase suspirou ao ver Darcy coçar os olhos. Mas Ernesto continuava à sua frente, esperando por uma resposta, e Elisabeta precisava reencontrar sua linha de raciocínio.

— Por que não Jane? Você poderia levar Camilo. – ela respondeu, como se fosse dona de suas emoções.

— O meu objetivo é sair com Ema, Elisa. Jane e Camilo nunca vão sair de perto de nós. Eu só quero um pouco de privacidade com a minha namorada. – Ernesto dramatizou.

— Mas por que eu? – Elisabeta bufou.

— Porque você é a melhor amiga de Ema. E o Barão nunca deixaria que ela saísse a noite sozinha comigo. Por favor, Elisa. – Ernesto juntou as mãos.

— Posso saber o que está acontecendo? – Darcy espreguiçou-se.

— Preciso que Elisa acompanhe eu e Ema esta noite. – Ernesto respondeu.

— E precisava fazer isso no nosso quarto? – Darcy deu um sorriso de lado para Elisabeta.

— Se nossa mãe souber que quero ficar sozinho com Ema, ela se juntará ao Barão. – o irmão mais novo também sorriu. – E Elisa é de casa, ela não se importa com seus roncos.

— Eu não estava roncando. – Darcy protestou, fazendo os dois rirem.

— De qualquer forma, Ernesto, o que é que eu vou fazer em um encontro de vocês dois? – Elisabeta revirou os olhos.

— Me ajudar! Ajudar Ema. – Ernesto bufou. – E Darcy poderia ir junto, assim você não fica sozinha.

— Eu? – Darcy perguntou.

— Hoje não é seu dia de trabalhar. Vocês dois podem ir comigo até a casa de Ema, assim o Barão não cria problemas. – Ernesto olhou de um para o outro. – Por favor!

E, como não havia nada que Ernesto pedisse que os dois não atendessem, aceitaram após alguns protestos. Apesar de estarem invadindo o encontro de Ernesto e Ema, Darcy e Elisabeta não conseguiram deixar a ansiedade de lado. Darcy vestiu sua melhor camisa e o colete por cima, passou um pouco mais de colônia do que o habitual, e até mesmo deu uma desculpa para ir buscar Elisabeta, enquanto Ernesto terminava de se vestir.

Sorriu ao vê-la se aproximar em passos lentos, com um vestido vermelho vibrante e um sorriso contido no rosto. Precisou morder a língua para evitar um elogio que não parecia ter espaço, e prendeu a respiração quando Elisabeta o cumprimentou com um beijo no rosto. Antes que o momento pudesse ficar constrangedor, Ernesto saiu da casa dos Williamson e gritou seus elogios à Elisabeta. “A mulher mais linda do bairro”, foi como Ernesto a chamou, e Darcy não podia fazer nada além de concordar.

Os três andaram até a casa de Ema, e Ernesto, como era seu habitual, dominava a conversa. Dizia o quanto era difícil ficar sozinho com sua namorada, quando sua própria casa era lotada de seus irmãos, e o Barão mantinha vigilância constante. Darcy e Elisabeta apenas concordavam, trocando olhares vez ou outra. Quando finalmente Ema se juntou à eles, Ernesto e ela foram na frente, deixando Elisabeta e Darcy para trás.

— Como foi que concordamos com isso? – Darcy resmungou, ao chegar perto de Elisabeta.

— Eu não sei. Espero ao menos que ele me pague algumas pipocas. – Elisabeta riu.

Darcy ofereceu seu braço à ela, e Elisabeta revirou os olhos antes de aceitar. O contato dos corpos provocou um arrepio involuntário nos dois, mas preferiram ignorar o que quer que acontecia quando estavam perto um do outro. Ernesto ditava o caminho e nenhum dos dois tentava buscar um assunto em comum. Aos poucos ficaram confortáveis com aquele contato, e logo a animação das crianças e o barulho das conversas chegaram à seus ouvidos, e seus olhos puderam ver as grandes lonas.

Elisabeta suspirou, animada. Havia esquecido que o circo estava na cidade. E adorava aquela movimentação. Os palhaços, acrobatas, mágicos. A felicidade que as pessoas pareciam compartilhar naqueles momentos. Antes que pudesse processar todas as informações, Ernesto já depositava dois ingressos nas mãos de Darcy e sumia com Ema entre a multidão.

— Ah, eu adoro o circo! – Elisabeta disse, sorrindo. – O cheiro de pipoca, os mágicos. E também os palhaços. Eu adoro os palhaços.

Darcy revirou os olhos, lançando um olhar estranho para Elisabeta. Mas logo sorriu ao ver a felicidade em que se encontrava. Elisabeta parecia uma criança, prestes a sair correndo, ansiosa para ver todas as atrações. Parecia a menina com quem ele havia convivido toda a sua vida, e ao mesmo tempo havia algo diferente, como se fosse uma pessoa completamente diferente e fascinante.

E Darcy deveria focar nela, porque havia algo que ninguém sabia sobre ele. Darcy detestava palhaços. De todas as formas ou tamanhos. Em gravuras, desenhos e, principalmente, pessoalmente. Odiava a maquiagem exagerada, os sapatos gigantes e as perucas coloridas. Tinha verdadeiro horror daquelas criaturas.

Mas não era algo que compartilharia com Elisabeta. Podia ouvir a risada dela se soubesse. Elisabeta jamais perdoaria essa informação. Voltaria a ser aquela menina de trança no cabelo, que pulava em volta dele toda vez que queria irritá-lo. Por isso engoliu em seco e a acompanhou até a grande lona de circo. E não reclamou quando Elisabeta escolheu um lugar na primeira fileira.

É claro que se arrependeu no segundo em que o espetáculo começou e os palhaços invadiram o picadeiro. Havia um em especial, com um grande topete e bochechas marcadas que seria o pesadelo de qualquer criança. Darcy remexeu-se na arquibancada. E estava tão focado em observar os traiçoeiros palhaços, que não percebeu que chamara a atenção de Elisabeta.

Até que o palhaço aproximou-se de onde estavam e Darcy engoliu em seco. Ouviu a risada de Elisabeta, mas não a processou. Ainda estava focado na criatura, o maxilar cerrado, o corpo inteiro preparado para lutar ou correr. E então ouviu um sussurro em seu ouvido que o arrepiou mais do que qualquer coisa.

— Você tem medo de palhaço? – Darcy podia ouvir o sorriso dela ao pronunciar essas palavras.

— É claro que não. – ele descruzou os braços, fingindo estar relaxado.

— Eu não acredito que você tem medo de palhaço. – Elisabeta riu novamente.

— Não é medo. Eu apenas não gosto de palhaços. – Darcy a encarou, com indignação.

— Um homem desse tamanho com medo de palhaços. – Elisabeta ainda sorria, deliciando-se com a informação.

— Você não lembra das histórias que nossas mães contavam? Do palhaço que matava crianças? – Darcy franziu a testa.

— Darcy, eram apenas histórias para que não saíssemos correndo pela cidade. – Elisabeta revirou os olhos.

— Palhaços são perigosos. Você não deve confiar em um homem com uma máscara. – ele disse, sabiamente.

— Tecnicamente é uma maquiagem. – Elisabeta sorriu como um gato.

— Não são confiáveis ainda assim. – ele resmungou, voltando novamente sua atenção aos palhaços.

— Não se preocupe, eu protejo você. – Elisabeta riu novamente, e então pegou a mão de Darcy, como se fosse a de uma criança.

Mas, mesmo depois dos palhaços saírem do picadeiro, seus dedos continuaram entrelaçados. E Elisabeta não reclamou do polegar de Darcy acariciando sua mão. Era apenas confortável, e quando o espetáculo terminou, parte deles queria continuar com aquele pequeno contato.

Ema e Ernesto não estavam em nenhum lugar à vista, e por isso Elisabeta e Darcy decidiram voltar para a casa. Andaram em um silêncio confortável na volta para casa, comentando brevemente sobre o tempo, as estrelas ou para que Elisabeta brincasse com Darcy sobre haver palhaços nas esquinas.

— Um homem que já estava no exército, treinado para a guerra, com medo de palhaços. – Elisabeta balançou a cabeça.

— Não gosto deles desde criança. – ele deu de ombros, já sorrindo também com as brincadeiras. – E o exército não treina ninguém para enfrentar palhaços.

— Você gostava? – Elisabeta perguntou, após alguns segundos de silêncio. – Do exército?

— Eu tinha alguns amigos e gostava de fazer exercícios. – Darcy deu um sorriso de lado. – Mas não acredito que a violência resolva as coisas. Gosto de saber que poderia protegê-los se fosse necessário, mas é só.

— E a fábrica?

— Preciso do dinheiro. Estou juntando o que posso. Gostaria de trabalhar com trens. – ele deu de ombros. – Pretendo investir nisso quando tiver dinheiro o suficiente.

— Por que não agora? – Elisabeta o questionou. – Se é que o você realmente quer fazer.

— Preciso ajudar os meus pais. – Darcy sorriu, conformado. – Você sabe como é. Além disso, a construção da próxima ferrovia só inicia no ano que vem. Ligará São Paulo ao Vale do Café.

— E você pretende participar? – Elisabeta sentiu o coração dar um salto.

— Quem sabe? – Darcy a olhou de soslaio, sem realmente se comprometer com uma resposta.

A verdade é que não sabia. Gostava de trens desde menino, e estava estudando cada vez mais sobre eles, sobre as ferrovias. Estivera inclusive na sede da empresa que construiria a próxima ferrovia. Mas não queria largar tudo, não queria deixar novamente os pais, os irmãos.

— Você deveria seguir seus sonhos... – Elisabeta comentou, quando já chegavam perto do portão da casa dos Benedito.

— Não é assim tão fácil. – Darcy virou-se para ela.

— Não é fácil, é apenas possível. – Elisabeta o encarou decidida.

Darcy sorriu ao ver a lua iluminar aqueles olhos desafiantes. Como se o mundo fosse seu território. Como se fosse um absurdo ouvir que alguém não largaria tudo para seguir um sonho.

— É possível quando se é uma jornalista decidida. – Darcy não resistiu à se aproximar, e colocar uma mecha solta do cabelo de Elisabeta atrás de sua orelha. – Quando tudo o que precisa é do seu talento e de alguém inteligente para entender o quanto você é brilhante.

Elisabeta foi pega de surpresa. Não costumava receber elogios. Ao menos não elogios de Darcy. Muito menos quando ele estava tão próximo, quando podia ver com nitidez os pelos de sua barba, as pequenas linhas nos cantos dos olhos. E podia ver a cor deles, que tão perto se confundia entre azul e verde. Pensou em agradecer, mas se viu sem palavras.

Nenhum dos dois notou que se aproximavam como dois imãs, como se não houvesse nada que pudessem fazer para controlar aquela atração. Elisabeta sentiu a respiração de Darcy – pipoca, e a bala de menta que ele oferecera ao saírem do circo. Fechou os olhos ao sentir a testa dele próxima da sua. O nariz dele tocou o dela e era inevitável que todo o resto seguisse. Beijaria Darcy Williamson, e não havia nada que ela quisesse mais.

O momento se desfez sem que os dois tivessem controle, quando a porta dos Benedito se abriu e fez com que se afastassem rapidamente. Mariana correu até eles, completamente alheia ao que acontecia. E, como num piscar de olhos, a expectativa de Elisabeta e as borboletas no estômago deram espaço para a preocupação e o desespero, ao ouvir as palavras da irmã.

— Elisa, ainda bem que chegou. Papai sofreu um acidente. Ele está no hospital e Elisa, ele não parecia bem. Eu estou com medo.


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