Onryō escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 2
Capítulo 2




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ATO 2: KYŌGEN

狂言

Finalmente vou poder trabalhar e ganhar o meu dinheiro depois de meses morando no Japão. Para mim é chato ficar parada sem nada para fazer, e se cuidar de idoso é o emprego do momento, eu topo. Entrei na agência e fiquei aguardando a minha vez de ser chamada. Uma moça japonesa me chamou e eu fui ao escritório de London.

"A verdade é que eu não sei se você vai permanecer no emprego, porque Yoko é a principal, mas está desaparecida. Mesmo assim isso servirá como experiência para você, senhorita...?"

"Oliveira. Suelen Oliveira".

"Senhorita Oliveira. Eu não quero acreditar no pior, mas você sabe que o tempo e o imprevisto é cruel. Ela pode ter sido morta e nem sabemos onde ela foi"

Sinceramente, o papo com o senhor  Michael tomou proporções mórbidas. Ele falava sobre a antiga empregada como se ela já estivesse morta. Mudamos de assunto, porque odeio falar sobre mortes ou coisa do gênero.

"Yoko tomava conta de uma senhora idosa numa casa de classe média de Nerima. Os proprietários são americanos. Há o senhor Vincent Prescott, Samantha, sua esposa, e Elizabeth Prescott, mãe do Vincent. Aqui está a chave da casa. Boa sorte".

Peguei a chave com uma certa demora. Agradeci ao senhor Michael e fui para Nerima.

O metrô e um táxi foram suficientes para chegar ao bairro. A casa era grande, com telhados orientais, com muro baixo e um portão pequeno. Havia algumas árvores ao redor, além de uma área verde mais ao fundo.

Assim que entrei, vi uma bicicleta parada. Não havia ninguém, porém resolvi entrar o mais rápido possível.

"Olá? Vim pela agência". Girei a chave na porta e entrei. A primeira coisa que eu vi foi uma bagunça generalizada com o lixo espalhado na sala perto da escada. Um quarto ao lado era a sala de jantar e mais o fundo o quarto da senhora Elizabeth,que inclusive estava toda encharcada de urina.

"Quem...você?" Ela me olhou com seus olhos arregalados.

"Sou a nova cuidadora substituta. Sou Suelen Oliveira. A Yoko Fukushima não veio trabalhar, por isso estou aqui".

Achei um absurdo o desleixo daquela família com aquela senhora. Tive um trabalho pra duas, limpando a idosa toda urinada, limpando a casa bagunçada e me preocupando com o fato dela não ter comido por uns dois dias. Com certeza foi ela quem fizera a bagunça toda. Enfim, levei a dona Beth para a banheira do banheiro de baixo e a lavei, depois preparei o que tinha no armário e fiz uma sopa de carne.

"Até que não foi difícil". Pensei que havia feito a velha dormir, mas ela se acordou de uma maneira anormal para os padrões. Suando muito, ela tremia e falava baixinho que algo ou alguém estava perto.

"Não vá! Fique aqui" parecia apavorada até demais.

Tive que acalmá-la. Voltou a dormir, e voltei aos meus afazeres. Por volta das 17:00 horas, quando estava para encerrar o meu expediente, percebi um barulho de telefone tocar. A ficha caiu quando me dei conta que o telefone era sem fio e não estava encaixado. O barulho do toque vinha de cima, dum quarto.

Um gato preto passou pelas minhas pernas, dando-me um susto.

"Como entrou aqui?"

Minha atenção com o gato mudou quando escutei passos do andar superior. Era como se uma pessoa de pequeno porte, uma criança, corresse. Confesso que fiquei apreensiva com isso, mas sei que preciso subir e pegar o telefone.

A escada tinha um corrimão de madeira branca e os degraus de madeira escura. Havia dois intervalos que mudavam a direção dos degraus... vou explicar: quando entramos na casa, a escada fica no nosso lado esquerdo. O primeiro degrau não fica de frente pra sala, e sim fica na direção da sala de jantar ao lado. Quatro degraus, um intervalo, depois os degraus ficam de frente à sala, mais alguns degraus, um intervalo e por fim os degraus ficam na direção oposta até chegarmos a parte superior. Muito bem, caminhei vagarosamente pelos degraus e parei no primeiro intervalo, vendo apenas o gato subir. Fiz o mesmo e subi pela segunda vez, mas desta vez senti medo, senti como se uma energia malígna estivesse naqueles quartos. Caminhei pelo corredor e entrei no último quarto.

Ao abrir a porta, vi que o chão estava empoeirado. A tal Yoko não fez a limpeza naquele cômodo. Havia uma janela de frente para a porta, sem móveis e um daqueles guarda-roupas que ficam na parede. A porta, que rolava para o lado, estava grudada com fita isolante. Manchas na porta pareciam ser de sangue, o miado do gato ecoou pelo teto. 

"Droga" meu celular tocou. Ricardo ligou, mas só queria saber se eu estava bem.

Uns dois minutos conversando... vi um rosto humano na janela do quarto. Dei um pequeno grito, mas acalmei Ricardo. O pior era que eu havia visto o rosto de uma criança, um menininho japonês de uns sete anos. Tentei abrir o vidro e verifiquei o absurdo: 5 ou 6 metros separavam a janela do chão. Era impossível que alguém estivesse ali me observando. Desci, desconfiada.

"Se os patrões não apareceram até agora, o mínimo que você deve fazer é sair daí e falar com o Michael"

"Fico com pena de deixar dona Elizabeth sozinha..."

Olhei para os degraus da escada e vi o rosto do menino a me encarar profundamente. Seu corpo estava escondido atrás da parede, mas o rosto marcante me encarava no intervalo. E POR DEUS!, fiquei com aquele lugar sem espaço pra passar um átomo. Ele era um menino japonês, com cabelos pretos e lisos, um rosto branco como a neve. Percebi o gato preto perto dele. Engoli em seco, tremendo de medo, principalmente por passar das 18:00, e perguntei o seu nome num japonês rasgado.

"Sou Suelen... seu nome..."

"Toshio"

Aquele menino me deu calafrio. Notei Ricardo na outra linha e um segundo depois o Toshio desapareceu de minha vista.

Um grunhido, como arranhar a garganta, me deixou apreensiva. Vinha do andar superior! Senti como se estivesse observada todo o tempo.

"Depois eu te ligo"

"Sai daí, Suelen!"

Senti uma respiração humana na minha nuca, arrepiei-me com aquilo. Um vulto preto passou pela sala de jantar, caminhei e fui ao quarto da dona Beth.

"AHHHHHHH!" Gritou. Seu estado era deplorável, porque havia mijado e defecado na própria camisola.

"O que foi, dona Beth? Fala comigo"

Seus olhos reviraram e logo começou a ter convulsões. O fedor de urina e cocô me deixou perturbada, além do fato daquilo estar acontecendo. Pensei seriamente se aquela casa era assombrada e algo tinha a ver como desaparecimento da Yoko. Elizabeth parou de uma vez e olhou atrás de mim. Olhei pra trás, nada vi. Ela chorava sangue, o que me deixou aterrorizada. Afastei-me dela, mas recebi um empurrão do menino de branco, Toshio. Eu pisquei e ele sumiu!

"Senhora, Beth... Oh!"

Vi um vulto tomar forma na parede. Seus longos fios pretos pareciam tentáculos e o rosto amedrontador. Era uma mulher toda de branco, com uma boca aberta e olhos arregalados. Senti meu coração gelar, e vi a entidade abraçar a Beth e sugar a sua vida.


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