Onryō escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 1
Capítulo 1




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ATO 1: NŌ

Hoje completo 27, e o meu presente de aniversário é uma bolsa de estudos para estudar no Japão, numa universidade de biotecnologia em Nerima. Estou tão confiante que me sairei bem... talvez eu seja, daqui pra frente, o mais novo ganhador do Nobel de Ciência. Quem sabe?

Minha namorada, Suelen, e eu fomos às 3 da manhã para o aeroporto Pinto Martins em Fortaleza. Uma viagem com escala e muitas horas de voo. Contudo, não ficaremos a sós, porque meu tio, Olavo Nakagawa, será o meu guia quando chegarmos lá.

"Pela primeira vez adorarei a cultura japonesa, mas detesto aquele negócio de mangá, otaku, essas coisas. O seu verme".

"Se desse uma chance para isso, quem sabe não goste...?"

O horário do voo apareceu em letras garrafais no letreiro e pudemos ir para o embarque. Entramos de mãos dadas para dentro do avião, prestando atenção para os nossos assentos.

"Ricardo... aqui" falou mostrando-me. A sorte era que ficamos com uma janela e nenhum passageiro perto era esquisito.

A viagem ocorreu de maneira tranquila e confortável. Suelen até dormiu, coisa que nunca consigo a dez mil metros longe do chão. Por volta de algumas horas, fizemos escala em São Paulo e depois em Sidney, Austrália.

"Olha, Ricardo!"

Vi as luzes da pista de pouso do aeroporto de Tóquio. Pousamos, saímos e nos encontramos como meu tio. 

"Ricardinho Nakagawa, meu sobrinho favorito!" ele falou alto que me fez ficar com vergonha.

O tio Olavo era também descendente de japoneses, baixinho e usava óculos de grau. Colocou nossas malas no carro e fomos para um distrito da capital japonesa.

"Como vão os estudos?"

"Bem. O intercâmbio vai durar dois anos. Preciso me acostumar com a cultura nipônica". Ri desajeitadamente.

Meu tio apenas olhou pelo retrovisor e deu um sorriso. Tavez ele pensasse: que tipo de descendente de japa é esse que não sabe nada da terra dos seus bisavós? Certo, eu não sei de caramba alguma. Apenas dos animes e mangás que acompanho e do baiacu mais venenoso do mundo. Ninguém pode me culpar por preferir o bumbum da Paola Oliveira do que a beleza da Luce Liu... enfim.

Chegamos na casa da minha tia, e aí tive que desdobrar meu japonês enferrujado porque ela sequer sabia dizer um "bom dia" sem ter que enrolar a língua. Ela era vendedora de yakisoba, ambos tinham uma cantina em casa. Os fregueses faziam fila e já me propus a ser um tipo de garçom para meu tio.

"Estou muito cansada. Amanhã vou me inscrever para um desses empregos de cuidadora de idosos. Soube que tem uma empresa que é conveniada com a universidade. Muitos imigrantes estudantes trabalham lá"

"Só quero que fique à vontade aqui". Beijei-a no rosto e voltamos a guardar nossas roupas.

Passou-se o dia, vi a cantina do meu tio funcionando bem. Os clientes chegavam na bancada e faziam o pedido com minha tio, depois minha tia levava os pedidos.

"Arigato gozaimasu"

O movimento era enorme, pelo menos não faltavam clientes. No final, fiz um teste para trabalhar informalmente com meu tio.

 

Passou uma semana. As aulas começaram, por isso passava muito tempo fora decasa. Era praticamente do campus para o trabalho. Nesse ínterim, Suelen ficou estudando enfermagem e precisava trabalhar de cuidadora para adquirir mais experiência. A empresa que contrata alunos de intercâmbio deixou-a na espera, portanto fui o único a trabalhar.

Dois meses no Japão. Suelen continuou estudando no primeiro bimestre de medicina, mas nada de trabalho. Durante nossas conversas ela me disse que o senhor Michael London havia dito que surgiu uma vaga para garçom num restaurante perto do centro de Tóquio.

"Aproveita. Trabalhando num ambiente mais profissional, talvez ganhe mais".

Falei com o meu tio acerca dessa proposta. Ele me incentivou a conhecer o Michael London para falarmos sobre o emprego. Fiquei sentado no seu escritório, aguardando o homem chegar.

"Desculpa a demora. Estou atolado em trabalho. Enfim, você é namorado da Suelen? Também é brasileiro?"

"Sim, sou. Vim por causa da vaga do emprego de garçom".

"Entendo. Assine estes papéis. Está em inglês, mas basicamente é o termo de responsabilidade..."

Afirmei que era fluente em inglês, mas a atenção do homem se voltou para a pessoa que batia na porta. Uma japonesa entrou. Aparentemente conversaram num inglês fluente, revelando que ela sabia falar além da língua natal. Segundo Michael, a moça oriental era Yoko Fukushima, uma univesitária que veio do norte para uma bolsa de estudos na capital, além de trabalhar como cuidadora na agência de empregos.

"Amanhã mesmo você começa a trabalhar no restaurante Kataoka. Primeiro será uns dias de teste e aptidão. Não vá me desapontar".

"Claro que não".

Cumprimentamos um ao outro e saí. Do lado de fora da agência, vi a tal Yoko pegar a sua bicicleta e virar a esquina.

O emprego no restaurante Kataoka não foi difícil. Talvez por ser oriental, fui incluído com facilidade. O dono, Fujimori Kataoka ou Kataoka Fujimori me recebeu de braços abertos... e graças ao bom Deus que ele sabia falar inglês.

Durante a semana inteira fiz o teste de aptidão e finalmente fui contratado. Agora a síntese do meu dia era fazer faculdade e ir trabalhar à noite.

Por volta de uma segunda-feira, quando ajeitava as cadeiras do restaurante, vi o senhor London sentar à mesa perto da vidraça. Ele limpou seus óculos de grau e me chamou. Deixei meus afazeres de lado um pouco e fui até ele.

"Chegou mais cedo do que o nornal"

"Sabe aquele dia em que você chegou no meu escritório para a vaga de emprego? Lembra daquela jovem japonesa que entrou minutos depois?"

"Claro".

"Desapareceu..." ele voltou a retirar o óculos dos olhos, mas agora para ensfregar seus dedos nos seus olhos.

"Como assim?"

"Ela não apareceu hoje. Desde sábado que anda desaparecida. Aquela menina nunca foi de faltar um dia de emprego"

Eu lamentei pelo sumiço da moça. Na verdade eu nunca a conheci, por isso não sentia absolutamente nada.

"Chegou o momento da sua namorada ser chamada. Ela ainda topa? Vai ser a substituta... mas se Yoko faltar demais aí será bom para a senhorita Suelen".

Olhei firmemente para os olhos de Michael. Algo no fundo estava me dizendo para não aceitar a oferta, algo inexplicável. No entanto, Suelen precisava de grana para despesa na casa dos meus tios.

"Aceito falar com ela".

Ele me cumprimentou e ficou para o jantar.

 

Ao término do expediente, fui ajeitar as cadeiras do restaurante. Passava das dez da noite, exausto e com sono. Um vento frio entrou no estabelecimento e me fez arrepiar. Sabe esse ventos que mais parecem assopros na nuca, como se uma pessoa chegasse com a respiração pesada atrás de si?

"Acorda, Nakagawa. Prefiro que durma na sua casa. Tá pensando na bezerra?"

"Não, David. Minha mente está vazia... quem sabe eu assista a um filme de terror?". Sim, sou viciado em terror.

"Mais terror que nosso cotidiano? E pensar que saí de Cuiabá pensando que a vida no Japão seria fácil. Quer saber uma história de terror japonesa? Sabe a loira do banheiro brasileira, Slender Man americano, etc e tal? Aqui nesta terra reza uma lenda que quando uma pessoa morre em condições de extrema dor e sofrimento, seu espírito vira uma maldição e passa a perseguir quem entrar na residência ou local da morte. Macabro, não?"

Nem prestei atenção direito ao que ele havia dito. Apenas arrumei minhas coisas e fui pegar o trem.

Retornando quase onze da noite, vi Suelen estudando na mesinha do nosso quarto. Ela havia pedido sushis com molho.

"Estou faminto, mas antes preciso falar algo contigo. O Michael foi para o restaurante. Ele te quer na agência amanhã".

"Que mudança repentina. Reparou que as coisas estão melhorando quase tudo de uma vez? Você arranjando emprego, eu arranjando emprego..."

"Se quiser pode não ir".

"Eu vou. Preciso do dinheiro".

Abracei-a com minhas forças. Somos como marido e mulher, morando juntos e trabalhando. Minha vida está tranquila, até demais.


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