Coração Indomável II escrita por JFB Bauer


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Começando a postar...



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Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, as gangues de motociclistas, fora da lei ou, na sigla em Inglês OMG para Outlaw Motorcycle Gangs, são organizações cujos membros utilizam seus clubes de motocicletas como canais para empreendimentos criminosos. As OMGs são organizações criminosas altamente estruturadas cujos membros são engajados em atividades criminais tais como crimes violentos, tráfico de armas e de drogas.”

 PARTE I

 

Capítulo 1

Trenton - Princeton- New Jersey

Ir de carona com Kate, no primeiro dia da volta das férias da faculdade, era uma tortura. Ela dirigia feito louca, além disso, estávamos atrasadas. Quando ela passou pelo segundo farol vermelho, eu não aguentei.

— Quer nos matar? — perguntei a minha irmã.

— Fica na sua “noivinha do pastor”! — falou me olhando atravessado. — Não quer chegar à faculdade no horário, Nicole? Então fica quieta e me deixe dirigir.

Virei o rosto, contrariada. Maldita hora para o meu carro dar pane. Havíamos chegado de Lebanon, uma cidade do interior da Pensilvânia, na noite anterior e, hoje pela manhã meu carro não quis dar sinal de vida. Então, tive que pegar carona com minha irmã mais nova. Éramos duas universitárias na faixa dos 20 anos. Kate tinha dezenove anos. Eu era um ano e meio mais velha que ela. Apesar de irmãs éramos completamente diferentes. Fisicamente eu era parecida com meu pai. Cabelos ondulados castanhos, quase num tom marrom que eu mantinha até o meio das minhas costas. Em meus olhos é que estava minha maior semelhança com meu pai. Tínhamos, os dois, olhos castanhos esverdeados.

Já Kate era a cópia, quase perfeita da minha mãe com cabelo loiro e olhos azuis.   Na personalidade também não poderíamos ser mais opostas uma a outra. Eu era a mais certinha se fosse assim que se podia colocar, já Kate dava muita dor de cabeça aos meus pais.

Charlie e Elizabeth Andrews eram pais maravilhosos, muito atenciosos conosco e preocupados com o bem estar das filhas, assim como eram a maioria dos pais. Havíamos nos mudados para Trenton, cidade há poucos quilômetros de Princeton quando eu havia sido aceita na universidade criada ainda no século XVIII.

Meu pai, que era contador e de origem humilde, não cabia em si de orgulho por sua filha estar em uma universidade da Ivy League. Ele não poupou esforços para que eu tivesse a melhor educação que ele pudesse me proporcionar, e por isso, eu o amava demais. Ficou decidido que eu não moraria em um dormitório de estudantes. Papai não queria separar a nossa família e, desse modo ele mudou de cidade e trabalho para que todos pudéssemos morar juntos.

Logo após, Kate também foi aceita em Princeton. Minha irmã podia ser rebelde e desmiolada, mas era muito inteligente e tirava boas notas. Até melhores que as minhas.   É claro que minha querida irmã não ficou feliz com os arranjos que meu pai fez para que a família ficasse unida. Ela queria era ir para outra Universidade, para o outro lado país para poder ser livre.

— Então está livre, maninha? Deixou aquele “mala” do Michael? — Kate perguntou fazendo uma careta para mim.

— Não fale assim dele, Kate. E sim, eu e Michael terminamos — falei olhando pela janela do carro.

— Até que enfim — disse não prestando atenção em nada do que eu disse.

Balancei a cabeça. Não adiantava tentar fazê-la entender. Kate era muito imatura.

Meu relacionamento de quase três anos chegara ao fim. Eu e Michael éramos um casal mesmo após nossa mudança para Trenton. Não foi a distância que nos separou, mas sim suas decisões. Ele era filho do pastor da cidade em que morávamos, e resolvera seguir os passos do pai. Não era o que eu queria para mim. Ser esposa de um pastor. Chegamos à conclusão que queríamos coisas diferentes e, sem drama terminamos nosso namoro. Por fim, percebi que não era mais apaixonada por ele. Eu não estava sofrendo.

Kate estacionou seu carro e, logo vi minhas amigas inseparáveis, desde que comecei a faculdade de direito, Sarah e Sophia me esperando no lugar que sempre nos encontrávamos antes das aulas. Saltei do carro e fui ao encontro delas recebendo um abraço afetuoso de cada uma.

Sophia era uma loira alta com corpo de modelo de literalmente para o trânsito. Filha de pais abastados também não residia na Universidade, morava em Princeton. Sarah, minha amiga baixinha e de cabelos cacheados era também muito bonita. Para minha sorte as duas apesar de ricas não eram esnobes. Nos três formávamos um grupo bem peculiar.

— Nicole, estávamos morrendo de saudade de você — Sophia disse enganchando seu braço ao meu.

Pela minha visão periférica vi Kate indo ao encontro de Josh, seu pseudo-namorado e o beijando.

Eu não conseguia me sentir confortável com ele. Algo me dizia que ele não era uma boa pessoa. No entanto, Kate nunca me dava ouvidos.

— Então? Novidades? — Sophia perguntou. — Como está seu namorado?

— Terminamos — falei simplesmente.

Minhas amigas arregalaram os olhos, preocupadas.

— Sério? E como você está, amiga? — Sarah perguntou pegando meu outro braço.

— Sinceramente, eu não estou triste. Acho que nosso tempo já passou.

— Mas dessa vez é pra valer? Por que vocês já terminaram outras duas vezes — Sophia alertou.

— Sim, foi daquela vez que você ficou com o Ethan e também com o Alex — Sarah disse em tom baixo e conspiratório.

Nossa! Falando assim até parecia que eu era uma vadia, pensei comigo. Então lembrei-me daquela época em que acabei ficando com dois dos meus amigos. Eu queria superar a separação e quase coloquei duas amizades no lixo. Por sorte, meus amigos eram maravilhosos e entenderam a situação. Continuávamos grandes amigos.

     — Não tem volta — disse firme.

— Então... — Sarah falou com tom de voz malicioso — você precisa arrumar o cara do rebote.

Foi o que eu havia feito quando fiquei com dois dos meus amigos. Eu não queria cometer erros semelhantes.

— Acho melhor não. Estou bem sozinha. E vocês? Quais as novidades? - mudei de assunto.

— Eu não tenho muitas — Sophia disse fazendo pouco caso. — Fui para Miami com meus pais. Muita praia, baladas, nada de mais.

Olhei de boca aberta para Sophia. Ela falava aquilo como se fosse nada.

— A Sarah sim tem novidades... e quentes — Sophia disse maliciosa.

Olhei minha amiga baixinha que corou.

— Fala, Sarah! O que aprontou? Quando saímos de férias você tinha ficado com o Ethan. Mas disse que não era para termos esperanças de algo a mais. Algo mudou? — perguntei curiosa.

Ela abriu a boca, mas não disse nada.

— É que... eu... eu e o... olha só o Christian está vindo — disse subitamente.

Olhei para onde ela apontou e vi meu amigo vindo em nossa direção com seu imenso sorriso.

Christian Wynn era um cara lindo e incrível, e diferente de nós era de origem bem mais humilde. Ainda morava no subúrbio de Trenton com a mãe e dois irmãos menores. Ele era estudioso, dedicado e, por isso, conseguiu a bolsa para estudar em uma das melhores Universidades do país, além disso, ele era um amigo para todas as horas. Sentia como se fosse meu irmão.

Meu amigo também não escondia seu deslumbramento por Sophia, que não lhe era indiferente, mas não dava abertura a ele. Eu desconfiava que a natureza humilde de Christian fosse um dos empecilhos para isto. Não por ela, mas sim pelos pais de Sophia que eram muito conservadores quanto à mistura de classes sociais.

— Oi meninas — Christian disse beijando a cada uma de nós na bochecha.

— Oi, Christian, como está? — perguntei fazendo um carinho no cabelo dele.

— Tudo bem, Nicole. E você?

— Estou ótima. Louca para começar as aulas — respondi sorrindo.

— É uma CDF mesmo — resmungou Sarah.

Dei de ombros.

— Nicole está solteira agora, Christian — Sophia disse sugestiva.

Christian ergueu as sobrancelhas maliciosamente. Sorri para ele. Às vezes tinha a impressão de que Sophia queria me jogar para cima dele só para não cair em tentação. Contudo ela podia perder as esperanças, apesar de nos conhecermos a pouco mais de um ano, eu e Christian nos amávamos como irmãos.

Antes que pudéssemos dizer mais alguma coisa um motor de moto de uma Harley-Davidson rugiu no estacionamento da universidade. Todo mundo olhou. Não era normal naquele ambiente acadêmico uma moto daquelas. Ela não combinava em nada com o estilo dos prédios quase medievais de Princeton.

Quando olhei com mais atenção vi um cara na moto. Ele usava calça jeans clara bem justa nas pernas, camiseta branca e jaqueta de couro preta. Havia uma inscrição na arte atrás da jaqueta, mas não consegui ver o que era.

Todos que estavam ali olharam com interesse para o novo visitante.

O rapaz tirou o capacete e quase pude ouvir um coral de suspiros das garotas presentes. O homem não era assim tão desconhecido. Era Sebastian Wynn.

— É o seu irmão, Christian — Sarah praticamente afirmou.

O rapaz procurou pelo estacionamento até encontrar Christian fazendo sinal que queria conversar com ele.

— Sim. Eu vou lá falar com ele — disse meu amigo, subitamente sério, saindo de perto de nós.

— Porra! Este irmão do Christian é tudo que um homem pode ser de quente — Sophia disse se abanando.

— E tudo que um homem pode ser de problema — Sarah completou também observando o irmão de nosso amigo.

Christian e seu irmão conversavam bem próximos no que parecia ser uma conversa tensa.

Eu já o conhecia. O havia visto algumas vezes e, ele sempre me intrigou e intimidou. Ele era o legitimo bad boy. Christian havia nos confessado que seu irmão mais velho fazia parte de uma gangue de motoqueiros, no subúrbio de Trenton. Sophia pesquisou e havia nos dito que ele era membro da gangue serpentes vermelhas. Uma gangue que havia sido fundada aqui em New Jersey, em 1962.

Christian pouco falava do irmão e nunca fez questão de nos apresentar. Acredito que ele tinha medo que nos interessássemos por seu irmão. Não podia negar que ele era quente como Sophia havia dito, mas eu era muito certinha para ter algo com alguém como Sebastian. Além disso, eu não queria confusão. E ele nunca me olhara uma segunda vez.

Sebastian Wynn era alto, um metro e noventa talvez mais, tinha cabelos castanhos, olhos verdes escuros e um rosto que devia ser proibido de se exibir por aí. O maxilar dele era como a perdição de qualquer mulher com hormônios. Parecia ter um corpo bem definido. Ou seja, o cara era um perigo.

Todas as garotas do estacionamento o olhavam incluindo eu, e foi justamente quando eu estava olhando para ele que Sebastian Wynn encontrou meu olhar. Eu tentei desviar, mas não consegui. Ele falou algo a Christian e voltou a me olhar de novo. Desviou o olhar e colocou o capacete saindo em disparada do estacionamento.

Eu o assisti partir, e então minha atenção foi tomada por meus dois amigos que chegaram nos abraçando inesperadamente: Alex e Ethan.

— Oi, Gatinha - Alex disse me dando um beijo no rosto.

— Oi, meninos, como foram às férias? — perguntei.

Então, Alex começou a discorrer por tudo que viu na sua viagem pela América do sul e o irmão bad boy de Christian foi totalmente esquecido.

O primeiro dia de aula foi agitado. Meus amigos e eu conversávamos sobre nossas férias e o que fizemos para nos divertirmos. Éramos jovens sem preocupações apenas curtindo a vida universitária. Notei que Sarah e Ethan estavam meio estranhos um com o outro e, até o final daquela tarde, não consegui descobrir o que havia acontecido. Mas era obvio que algo tinha acontecido entre os dois.

À noite, como era nosso costume, saímos para nos divertir. Fomos aos barzinhos da moda, em Princeton.  Sentíamos falta de Christian que morava no subúrbio de Trenton e não costumava sair com a gente por estes locais.

Não bebi nada alcoólico e pude voltar dirigindo para Trenton.  Cheguei cedo em casa, pois no dia seguinte teria aula de manhã cedo. Ao chegar em casa presenciei uma séria discussão entre meus pais e minha irmã. Kate estava visivelmente alterada. Ela havia chegado a pouco, e era nítido que havia bebido ou, ingerido alguma substância ilegal.

Eu não era careta, mas tudo tinha limites e Kate andava extrapolando os limites há tempos. Eu e mamãe tivemos que dar banho nela e colocá-la na cama. Eu culpava a más companhias por deixarem minha irmã naquele estado, principalmente a daquele namorado dela. Não ia com a cara dele.

No outro dia no intervalo das aulas, Christian comentou que teria uma festa no subúrbio. Nossa curiosidade sobre como seria uma balada por aqueles lados foi grande.

— Fala, Christian! Como são as festas por lá? — Sarah perguntou não escondendo sua curiosidade.

— Não é nada de mais — ele desconversou.

Christian sempre fazia isso. Eu achava que ele tinha vergonha de sua origem humilde.

— É só uma festa. Dançamos, bebemos essas coisas.

— O que vocês dançam? É tipo uma balada? Eletrônica?— Sophia perguntou.

— Não. O pessoal é de maioria descendente de latinos, então as músicas são mais neste estilo. Dançamos salsa, na maioria das vezes.

Um grande sorriso se formou em meu rosto. Eu adorava salsa. Alex havia me ensinado já que sua família eram descendentes cubanos. Além disso, estávamos em New Jersey, ao lado de Nova Iorque onde o ritmo teve grande popularidade nos anos setenta.

— Ah! Christian, você vai ter que nos levar. Eu amo salsa. Eu e Alex não fazemos feio não é, Alex? — perguntei ao meu amigo que estava de boca cheia com seu sanduíche.

Ele assentiu.

— Nicole... eu não acho uma boa vocês irem lá — Christian respondeu visivelmente desconfortável.

— Por que não, cara? — Ethan indagou.

— Bom lá é... é o subúrbio, cara. É onde estão as drogas, as gangues, essas coisas... E não querendo ofender vocês, mas não é lugar para riquinhos.

— Deixe de bobagem, Christian. Como se as drogas não estivessem em qualquer lugar hoje em dia — Ethan disse. — Eu fiquei a fim de conhecer este lugar.

Christian parecia preocupado.

— Ok. Eu vou falar com o pessoal de lá e perguntar se vocês podem ir. Mas eu realmente acho que não deveriam ir — ele disse pegando o celular.

— Prometemos nos comportar, Christian — eu disse rindo.

— Fale por você, gata — Alex completou e riu debochado.

Eu nem mesmo sei por que queria tanto ir nessa balada de subúrbio. Era verdade que eu gostava muito de dançar sala, mas também não era uma paixão. Além disso, eu começava a pensar que Christian tinha razão em não querer nos levar para o seu mundo. Com certeza era um lugar perigoso e eu não deveria dar preocupação para os meus pais. Para isto já bastava Kate. Quando pensei em recuar e dizer ao meu amigo que esquecesse aquela história, ouvi Christian ao celular com o irmão.

— Sebastian? Sou eu. Olha só. Acha que dá rolo se eu levar alguns amigos a festa hoje à noite?

Então o irmão dele, o tal Sebastian era o cara que mandava no local, concluí.

— Bom, eles querem conhecer — ele falou mais baixo, — não vai dar confusão, eu prometo. Eles são legais.

Todos nós aguardávamos, ansiosos.

— Certo. Espero teu retorno. Tchau mano — ele desligou. — Meu irmão vai verificar com pessoal da gan... de lá se tem algum problema.

— Seu irmão é o mandachuva por lá? — Ethan perguntou e eu prestei bem a atenção. Nem mesmo sei por quê.

Christian coçou a cabeça.

— É. Mais ou menos isso – respondeu.

*

Estávamos todos no carro de Ethan. À frente, Alex ia com ele e, atrás estávamos nós, as meninas. Achávamos que a noite poderia ser divertida. À medida que íamos nos aproximando do subúrbio, a paisagem bela da cidade ia sendo substituída por prédios de no máximo dois andares, velhos e pixados.

Não demorou muito para que avistássemos o local em que combinamos com Christian, para ele nos esperar. Havia com ele dois caras muito mal encarados e com as mesmas jaquetas de couro preta que Sebastian usava.

— Nossa! Eu estou me sentindo no filme gangues de New York - Sophia comentou.

Ethan parou o carro e Christian se aproximou.

— E ai, pessoal? Prontos?

— Claro - Ethan respondeu, animado.

— É só me seguir, ok? Não desviem de jeito algum — alertou.

Seguimos Christian cada vez mais dentro do bairro até que chegamos a uma espécie de depósito abandonado, mas que não estava em nada abandonado naquele momento visto que já estava movimentadíssimo pela festa que ali rolava.

Havia muitas motocicletas estacionadas. Percebia-se que ali era um local dominado ou comandado por um clube de motociclistas.

Assim que descemos do carro todas as pessoas, que estavam por ali, nos olharam. É claro, nós éramos os intrusos.

Christian veio ao nosso encontro.

tudo certo. Meu irmão e os caras estão avisados de nossa presença e ninguém vai encrencar.

Eu olhei para as pessoas ali e pensei comigo que eu e as meninas exageramos na produção. Não que estivéssemos arrumadas demais, mas era nítido que éramos os riquinhos como Christian falara.

— Vamos lá! — Christian incentivou.

— Vamos. Estou louca para dançar- Sarah disse.

Ao entrar, nos vimos envolvidos numa decoração na cor predominante de vermelho, verde e dourado. Tudo muito quente. A música alta preenchia todo o ambiente. Estava muito cheio e a pista de dança fervia com casais dançando salsa. Eu nem tive tempo de pensar muito e, Alex pegou minha mão me puxando para a pista.

— Vamos arrasar, gata — falou sorrindo já iniciando os movimentos que havíamos a tanto, treinado.

— Com certeza, Alex.

Dancei muito mesmo. O suor escorria por meu corpo e, me arrependi de ter vindo de calça. Meus amigos também pareciam se divertir a valer. Algumas pessoas, ainda nos olhavam desconfiados, mas seu interesse pela dança e festa eram maiores que a curiosidade sobre nós.

Alex era o meu par, por isso passamos quase toda a noite dançando juntos. Salsa estava no sangue dele desde sempre. Naquele momento dançávamos uma salsa mais lenta e, com isso, percebi o irmão de Christian, Sebastian me observando de uma mesa próxima a pista. Ele estava rodeado de garotas.

Desviei o olhar, incomodada com o olhar dele. Talvez, eu estivesse exagerando e ele não estivesse olhando para mim. Para confirmar olhei em sua direção novamente o vi da mesma forma, me observando. Desviei novamente o olhar. Eu tinha que admitir que ele era gato. Gato não era a palavra certa. Era muito lindo mesmo. Um tesão.

— Minha vez de dançar com a Nicole — Christian falou ao meu lado entregando Sarah a Alex, para que trocássemos os pares.

— Onde estão Ethan e Sophia? — perguntei por que não vi meus amigos na mesa em que antes estavam.

— Foram... Você sabe... — Christian disse e, eu saquei.

Eles deviam estar fumando algo, ou experimentando algum tipo de droga. Eu não era puritana e, já havia experimentado maconha, contudo cheguei a conclusão que não era a minha praia. Eu gostava de ter noção dos meus atos. Sarah e Alex compartilhavam de minha opinião, e Christian detestava drogas. Por isso sua irritação por Sophia estar se drogando.

— Você dança muito bem, Nicole — Christian mudou de assunto. — Dá de dez em muita menina que cresceu dançando salsa.

Sorri para ele.

— Obrigada.

— Meu irmão tem razão — uma voz rouca nos interrompeu.

Era Sebastian Wynn. Ele estava ao nosso lado.

— Dança maravilhosamente bem. E quem sabe gostaria de dividir seus conhecimentos comigo.

O quê?! Não entendi o que ele queria dizer.

— Sebastian, por favor... — Christian olhou com irritação para o irmão.

— Qual é Christian? É só uma dança. Sua amiga não vai se importar. Aceita dançar comigo? — aquele deus grego perguntando olhando no fundo dos meus olhos.

Porra! Dançar com ele? Estava escrito em seu lindo rosto que tinha jeito e cheiro de encrenca. Mas por que não? Era só uma dança, afinal.

— Claro — falei com a voz trêmula.

Ele me intimidava. Muito.

Christian olhou para mim, nitidamente, não gostando de minha resposta e, logo seu irmão tomou seu lugar segurando minha mão e cintura. A mão que me tocava agora tinha uma pegada diferente de Christian. Ele era quente. Muito quente. Mas eu não estava querendo me queimar.

A música La Lomba de Rick Martin começou a tocar e nós dois começamos a dançar. Nossos corpos se movendo em total sincronia. A música era sensual. Senti ainda mais calor, não sei se por conta da música, da dança ou por conta da companhia.

Fixei meu olhar ao dele pela primeira vez desde que começamos a dançar.

— Eu sou Nicole — falei meio insegura em puxar papo com ele.

— Eu sei quem você é. Aonde aprendeu a dançar assim? — Sebastian perguntou me olhando intensamente.

Seus olhos verdes escuros quase negros, eram lindos.

— Er... Foi Alex... meu amigo, ele me ensinou — falei nervosa.

Por que este homem me deixava tão nervosa?

Sebastian me rodopiou ficando colado as minhas costas. Senti um arrepio por todo o corpo. Seu rosto tão próximo do meu pescoço que eu podia sentir sua respiração morna.

— Você é muito bonita — falou.

— O-obrigada.

— Eu quero te beijar.

 Quase engasguei com o que ele disse. Ele era bem direto.

— Não sei se é uma boa ideia — respondi.

— Medrosa — me acusou, mas acabou rindo em seguida.

Continuamos dançado, cada vez mais colados. Ele me virou de frente para ele, o corpo muito colado ao meu. A dança era cada vez mais sensual. Meu coração acelerou e, meu corpo começou a arder em lugares impróprios.

Eu não sabia o que falar com ele e quando dei por mim já tinha dito:

— Não vou transar com você.

Ele deu uma gargalhada alta.

— Não pedi isso, boneca. Somente um beijo, mas acho que tem razão. Não seria uma boa ideia — dito isso, ele saiu me deixando plantada no meio da pista de dança.

O que ele quis dizer com aquilo? Que ele não queria transar comigo? Que eu não era desejável? Não sei por que, mas fiquei furiosa.

Voltei para a mesa onde estavam todos os meus amigos.

— E ai, gatona, dançando com aquele pedaço de carne quente? — Sophia disse já bem afetada por seja lá o que fosse que ela tenha ingerido.

— Foi só uma dança, Sophia — falei emburrada.

Por que eu estava tão irritada?

Ao olhar para pista vi Sebastian agarrado a uma ruiva linda. Fiquei chocada. Eles estavam praticamente simulando sexo em público pela forma como dançavam. Ele tinha a perna dela levantada, quase montada em seu quadril enquanto os dois rebolavam. E a garota estava de saia pelo amor de Deus! A cena me lembrava muito a daqueles casais do filme Darty Dancing¹, que dançavam ousadamente. Sebastian e a ruiva não se beijavam, mas estavam quase fazendo isso e, o pior era que o cretino teve a audácia de me olhar e sorrir. Virei o rosto contrariada.

— Eu acho que deveríamos ir embora. Já está tarde — falei.

Minha súbita vontade em ir embora nada tinha a ver com o irmão de Christian.

— Ah não, Nicole! Esse lugar é demais! — Sarah disse toda animada e suada de tanto dançar.

Eu fui voto vencido e, acabamos ficando mais um pouco. Tentei a voltar a me divertir como antes. Acabei dançando muito com Ethan e Alex. E não vira mais Sebastian. O que foi ótimo.

Muito mais tarde decidimos ir embora. Avisei que precisava ir ao banheiro. O lugar já estava mais vazio e fui andando entre as pessoas para chegar ao meu destino, mas antes que pudesse fazer isto senti uma mão me puxando e me prendendo contra a parede.

Meu sangue gelou. Quem era esta pessoa?

— Oi, boneca.

Sebastian! Apesar de não conhecê-lo muito bem senti alivio por saber que era ele. Meu sangue, de gelado passou a fervente muito rapidamente, ainda mais com ele tão próximo do jeito que estava. Seu perfume estava adentrado minhas narinas. Ele era cheiroso, lindo e sexy. Mistura altamente perigosa.

— Você me assustou — falei.

— Acho que mudei de ideia — ele disse.

Os olhos verdes faiscantes. Pude ver e sentir o desejo em seus olhos.

— Sobre o que? Desculpe-me, mas não entendi...

— Sobre o beijo — ele me cortou olhando diretamente para minha boca. — Mudei de ideia e vou beijar você.

Não houve tempo para que eu dissesse algo ou, recuasse, pois sua boca pegou meu lábio inferior em uma carícia ousada. Inferno! Isso foi quente! Ele estava me olhando. Eu não fechei os olhos. Foi uma carícia quase depravada.

Ficamos nos encarando. Minha respiração acelerada aguardando o momento que ele fosse me beijar de verdade. Por que eu sabia que isso iria acontecer.

Não demorou muito para a boca dele tomar a minha com força. Fechei os olhos e tudo virou uma explosão de sentidos. A posse de sua boca sobre a minha era inigualável. A língua dele entrou em minha boca exigente, quase punitiva.

Céus! Eu nunca havia sido beijada assim!

As mãos dele pegavam minha cintura com força enquanto eu o agarrei pelo pescoço, nos beijávamos intensamente não importando se alguém estivesse vendo ou não.

Sebastian me prensou contra a parede fazendo sentir todo seu corpo másculo. Ele deslizou as mãos da minha cintura para minha bunda apertando-a me fazendo sentir também sua ereção. Arfei contra sua boca. Isso já não era mais um beijo, era um amasso e tanto. Eu já não queria somente um beijo, eu queria mais. Muito mais e minha sentença anterior já não era verdadeira. Eu queria sim transar com ele, mesmo sabendo que era errado ou, no mínimo, uma loucura total. Mas se ele quisesse me possuir ali mesmo acho que não conseguiria resistir.
           De repente senti um frio em contraste com o calor que estava sentindo. Percebi Sebastian afastado de mim quase um metro.
           Eu ainda respirava ofegante o olhando louca para que ele continuasse ou, que me sugerisse irmos a algum lugar. Loucura total! Eu tinha ciência disso, mas era o que eu estava sentindo.
           Notei que, seus olhos antes ardendo em desejo, já não estavam mais da mesma forma.

— Você está louca pra trepar, não é? - disse debochado. - Mas isso, vou deixar um dos seus amiguinhos resolver.
            Ele virou as costas e, saiu me deixando lá parada, excitada, perturbada e confusa. E também furiosa.
            Como é que é? Filho da puta! Cretino! Qual era a dele afinal?

Voltei, furiosa, para onde meus amigos se encontravam, a vontade de ir ao banheiro totalmente esquecida por conta da raiva. É claro que não mencionei nada do que tinha acontecido a nenhum deles. Não sei se por vergonha ou, raiva por ter sido tão estúpida.


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