Aeipathy escrita por GirldiAngelo


Capítulo 2
Jason




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Jason

 

Em controvérsia a tudo ao meu redor, sentia que meu relógio biológico decidira se tornar uma completa bagunça nos últimos dias. E era exatamente por esse motivo que me encontrava ainda perdido entre papéis que tomavam a mesa enorme a minha frente, apesar de já passarem das duas da manhã.

Algumas pessoas diziam que isso era normal, que a insônia seria apenas a primeira das mudanças na minha rotina com a aproximação da Seleção. Ótimo, eu nem conhecia as garotas ainda e elas já me tiravam o sono, como seria quando elas chegassem ao castelo? Como eu poderia escolher uma esposa, sem sequer ter uma boa noite de sono?

Olhei para o pacote fechado, colocado estrategicamente a minha frente. Meu pai sabia que eu não resistiria a curiosidade, e aparentemente não dava a mínima se eu descumprisse a primeira regra da competição e soubesse quem eram as selecionadas antes de todos, contanto que ninguém soubesse. Mas eu não deveria, não é? É para isso que existem as regras. Faltavam poucas horas para o jornal, bastava eu me deitar e assim que acordasse, deixar os afazeres do dia tomarem conta dos meus pensamentos. E então eu veria as garotas oficialmente, seguindo as regras.

Tentei focar nesse pensamento, entretanto minhas mãos foram mais rápidas e abriram cautelosamente o envelope, apesar da censura mental que me fazia. Decidi então, para acabar com o conflito interno, puxar apenas duas fichas para fora. Uma espiadinha não faria mal a ninguém, faria?!

A primeira ficha já foi o suficiente para saber que definitivamente eu não dormiria em paz naquela noite. Apesar de ter apenas uma foto, os olhos cinzas da garota já me intrigavam com sua determinação e seu sorriso confiante, que completavam a imagem de uma garota bem resolvida. Seus cabelos loiros moldavam perfeitamente os traços firmes e contornado do rosto e por fim, toda a foto entrava em perfeita harmonia ao notar a postura da garota, pelos ombros e queixo alinhados. Corri os olhos pela sua ficha a fim de ter mais informações e acabei por me impressionar mais ainda, sua descrição era quase como se ela tivesse sido criada para ser uma princesa, ou ao menos ter algum destaque sobre todas as outras candidatas. Annabeth Chase com certeza era um nome a se considerar.

Decidi não me demorar mais naquela ficha, mesmo sabendo que aquela garota apareceria na minha mente pelas horas seguintes.

Pulei então para a próxima garota, e o contraste não poderia ser maior. Piper Mclean era seu nome, e ela sorria divertida na foto, como se tivessem lhe contado uma piada segundos antes de terem apertado o botão da maquina fotográfica. Sua postura era mais leve, a pele mais morena, o cabelo mais curto e até seus olhos tinham um ar excêntrico – Enquanto um deles era de um tom leve de castanho, o outro parecia não se decidir entre um castanho escuro e um verde vibrante que tomava conta da outra metade da íris da garota. Aquela imagem era, provavelmente, a mais distante da figura de princesa existente possível, entretanto tudo nela era simplesmente bonito demais para ser ignorado. Se as outras trinta e três garotas fossem como essas duas, eu com certeza teria grandes dificuldades em fazer minhas escolhas.      

           

    ♕

 

— Alteza... – o Soldado Jackson chamava enquanto dava leve batidas na porta a fim de me despertar. Apertei os olhos antes de abri-los e me deparar com o quarto já completamente iluminado pela luz do sol que entrava pelas janelas.

Olhei para mim mesmo no espelho ao lado da cama quando me sentei. Havia adormecido com o terno do dia anterior, meus olhos estavam escuros pelas poucas horas de sono e meus cabelos estavam incrivelmente bagunçados. Sequer lembrava em que momento da noite passada eu tinha ido para a cama.

— Não é meu melhor estado, é?! – Ri levemente enquanto o guarda se aproximava com uma xícara em mãos.

— Lamento que não, Alteza, mas você tem um compromisso com o conselho em 30 minutos... – ele me entregou a xícara e eu sorri levemente com o cheiro do café. Não me demorei em beber um longo gole do liquido, o calor e amargura descendo pela garganta e levando o sono consigo.

— Obrigado, Soldado Jackson. Farei o melhor para não me atrasar. – Respondi e me levantei da cama, o garoto entendeu que deveria se retirar do quarto enquanto eu seguia direto para o banheiro.

As criadas sabiam que eu gostava de passar os primeiros momentos da manhã sozinho, então tinham o costume de deixar tudo pronto ainda no dia anterior. Um terno sempre bem passado e a banheira esperando para ser completada com a água quente estavam à minha espera assim que entrei no aposento e então a missão de estar pronto parar encarar o dia devia ser cumprida, mesmo com um tempo menor que o normal.

Apesar de ter que caminhar um pouco mais rápido pelos longos corredores do castelo, consegui chegar exatamente na hora para o primeiro compromisso da manhã. Quando adentrei na sala do Rei, apenas alguns dos assessores do meu pai conversavam de modo informal entre si enquanto esperavam pelos outros. Os cumprimentei com um leve sorriso e sentei-me na cadeira de sempre, ao lado direito do Rei, na mesa redonda.

Zeus parecia absorto demais no documento que lia para perceber minha presença, mas mesmo assim fiz questão de chamar sua atenção com um cumprimento educado. Sabia que ali não era o local certo, mas sentia que já era hora de conseguir conversar com meu próprio pai, mesmo que por poucos minutos, afinal só ele naquele castelo todo saberia como lidar com esse nervosismo envolvendo a seleção.

Entretanto, não tive tempo nem para começar uma conversa, já que no segundo seguinte ao cumprimento o último dos assessores entrou na sala e, com todos ali, a reunião teve início. Como de costume, escutei a todos os assuntos com atenção, mas não tive espaço para nenhum comentário ao passo que chegávamos quase ao fim das discussões.

O general Zhang reclamava por longos minutos pelo fato de não poder incentivar seus soldados a serem mais agressivos contra os rebeldes, enquanto Minerva Pace precisava interrompe-lo constantemente para lembrar que já tínhamos problemas o bastante com uma guerra externa em curso, não precisávamos piorar as coisas dentro do país. Então, como se houvesse um cronograma para o rumo da conversa, começava uma discussão sobre as estratégias a serem utilizadas nos conflitos na Nova Ásia, o número de soldados a mais que precisaríamos recrutar, quanto dinheiro seria gasto e, por fim, como controlaríamos a insatisfação do povo.

— Bem, temos uma distração chegando, não?! – Apolo Solace sugeriu me encarando pelo canto do olho. – Todos vão parar para acompanhar a Seleção. A ideia de que qualquer garota do meio do povo vai poder se tornar a princesa? Só precisamos incentivar uma grande torcida pelas garotas de cada província…

—Tentar manter algumas garotas da 4 ou 5 por um tempo considerável pode ser bom para causar esse efeito. – Marte Zhang parecia ponderar a ideia.

— Com licença, mas... – limpei a garganta antes de voltar a falar. – A seleção é mais que só uma jogada política de vocês. – Procurei a expressão do meu pai a fim de encontrar algum apoio.

— Está na hora de perceber que tudo que nos envolve é uma jogada política, Jason. – O rei devolveu meu olhar com certa dureza. – Precisa pensar no que é melhor para o país, quem será a melhor princesa e futura rainha, meu filho.

— É a minha esposa! – Lembrei-os com certa indignação na voz.

— Qualquer uma dessas garotas vai te amar, escolha a que agradar ao maior número de pessoas e então você terá uma esposa e um povo fiel no seu reinado, garoto. É assim que funciona. – O general respondeu, sorrindo com certa ironia. Encarei-os descrente por um longo tempo antes de balançar a cabeça e me levantar.

— A escolha continua sendo minha, vocês não a influenciarão. – Afastei a cadeira e me virei para olhar no rosto de Zeus. – Com licença, Pai. – Não esperei uma resposta, apenas me retirei da sala no menor tempo possível, caminhando pesadamente até meu próprio escritório.


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