Não Tão Estranha Assim escrita por Débora SSilva


Capítulo 6
Capítulo 5 - Quero um protetor de tela DELE




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Capítulo 5
Quero um protetor de tela DELE
— Blair Montello

— Bom dia — ele completa permanecendo com seus lábios levemente erguidos em um bonito desenho de seu sorriso.

Eu fico estática. Embasbacada em como minha boca aberta se mantém tão aberta ao ver o Lindão que invadiu minha casa na noite de ontem. Ele tem cabelos tão pretos como uma noite chuvosa, sem sequer uma estrela para iluminá-la. Agora tenho essa certeza, porque mesmo com um fraco sol da manhã, não sou capaz de identificar os fios separadamente em seu cabelo.

O rosnado de Sun Hee aos meus pés me desperta, me fazendo pigarrear, mas mantenho meus olhos no azul do mar que são os dele.

— B-bom di-ia — tropeço nas poucas palavras que tenho. Pigarreio novamente, tentando recuperar a voz, mas, antes que eu tenha a chance, meus amigos manifestam-se.

— Tenta de novo, querida — escuto Amélia gritar da cozinha e o sorriso do Lindão aumenta, minimamente, mas sou capaz de perceber graças a minha visão de longo alcance chamada óculos de grau 1,5° pra minha miopia.

Tiro minha cabeça que se encontra encaixada entre a porta entreaberta e o umbral. Direciono meu olhar para as pessoas que deveriam ser minhas amigas nesse momento.

— Vai cagar, Amélia — murmuro, mas sei que eles são capazes de me escutar.

— É uma boa ideia, talvez mais tarde — solta Amélia, acariciando a achatada barriga. Carter solta uma gargalhada, ótimo namorado, péssimo amigo.

Dessa vez abro um pouco mais a porta e fico de frente para o garoto de olhos azuis. Ele me observa, da cabeça aos pés e ao parar em meu camisetão sorri abertamente. Ok, ganhou um ponto por gostar da minha blusinha caseira.

— Então... — começo, incentivando-o a falar, afinal foi ele que veio até minha casa.

— Posso falar com você — ele olha além de mim, percebendo meus amigos no final do corredor —, em particular?

— Já tá a meio caminho do altar, Blair — ouço Amélia comentar em um sussurro e fico na tentação de voltar ao meu quarto e pegar meu taco de basebol, dessa vez para bater em minha amiga.

Ao invés disso, apenas viro minha cabeça para trás e a sentencio a morte com um olhar. Carter não está tão sorridente quanto a loirinha. Ele vem em minha direção com sua melhor pose de irmão protetor. Assim que me alcança, envolve meus ombros com seu braço e me puxa para perto, encarando o Lindão de frente.

— O que você quer? — Carter pergunta rispidamente. Ele não esta nem perto de encarar tudo aquilo como algum motivo para me zoar e Amélia percebe rapidamente, vindo para meu outro lado e esperando um momento para intervir.

Carter virou, realmente, um grande protetor. Como uma mamãe urso. Assim como é brincalhão, também é extremamente protetor. Eu não encaro como um defeito, ele sabe até onde pode se meter, e colocar um pouco de moral no momento nem fazia mal. Qual é, o Lindão invadiu minha casa na noite passada e apareceu hoje com esse sorrisinho lindo pra cima de mim, puff, me poupe. Ou talvez não poupe e permaneça com esse sorrisinho, foi minha nota mental de uma Blair interior.

— Assunto pessoais — o garoto diz, impassível, ainda encarando Carter, e isso chama minha atenção. Talvez ele quisesse voltar a se desculpar ou me contar algo sobre Jake. Eu não sou do tipo curiosa, mas eu realmente quero saber sobre o assunto.

— Tudo bem, que tal vocês aguardarem no meu quarto, hein?! — sugiro para Carter, mas ele nem pisca, então cutuco com o cotovelo Amélia que se dispõe a puxar seu namorado em direção às escadas.

— Estamos de olho — Amélia avisa, fazendo o movimento dois dedos de seus olhos para o garoto a minha frente. Carter sobe para o segundo andar, mas de costas, mantendo seus olhos na porta.

Quando vejo que os dois já estão fora de vista (mas com certeza, não fora do alcance de nossas vozes), retorno para o Lindão que já me encara sem maiores preocupações.

— Eles são um pouco superprotetores, mas não mordem, juro! — digo com um sorriso forçado e os olhos dele se desviam para os meus pés, onde Sun Hee está plantada sem se mexer um centímetro. — Tudo bem, essa aí eu não tenho tanta certeza.

— Ok — ele murmura voltando seus olhos para os meus. — Vou ser rápido.

— Claro, pode entrar — sugiro e faço um sinal de dedo para que Sun Hee permaneça em seu lugar, ela obedece, mas não antes de ranger os dentes para o pobre rapaz que ela está louca para dar uma mordida.

Ele passa por mim não deixando de me encarar e eu, mesmo com um friozinho subindo por minha coluna, não deixo de corresponder o olhar. Aponto a sala de estar para ele e o convido a se sentar. Sun Hee logo aparece, deitando aos meus pés após eu me acomodar na poltrona ao lado do sofá.

— Bom — ele inicia a conversa e estou bem desperta para escutá-lo, até empurro os fios soltos para trás das orelhas —, você é filha de Joy Montello, certo?!

A pergunta me pega de surpresa, mas concordo com um movimento de cabeça. Ele permanece me encarando e vejo seus lábios se repuxarem para um lado do rosto, como um tique nervoso.

— Então, minha mãe é a nova consultora farmacêutica do seu pai, na fábrica, e...

— Você acha que meus pais poderiam demiti-la por sua culpa? — o interrompo, mas, por seu aceno de cabeça, concluo que acertei sua suposição. Sorrio com um menear de cabeça, negando tudo aquilo. — Meus pais nunca fariam isso, e é verdade que contarei tudo para eles, mas meus pais não iriam julgar sua mãe pelas ações de seu filho. E, bom, você se desculpou.

— Certo — ele concorda dando um sopro para baixo, chamando a atenção de Sun Hee e a deixando mais atenta. Então sorri e, o que eu havia achado que era um sorriso aberto para minha humilde camisa, não havia ainda visto todo esse brilho nesse instante.

Ele aparenta até ser mais jovem com seu sorriso, brincalhão e calmo, sem a pose de badboy que representou em todo o tempo que nos vimos. Seus olhos não se descolam dos meus por um segundo, e sinto meu rosto esquentar e um formigamento divertido passar por meu corpo.

E, com certeza, minha Blair interior teria simplesmente falado:

— Só um instante, vou tirar rapidinho uma foto desse sorriso lindo e pôr de protetor de tela em, assim, tudo!

Mas nem acontece, graças a Blair exterior bem forte que sou.

— Essa era, realmente, minha única preocupação. — ele diz se levantando.

— Ah tá — aceno como se para disfarçar o que eu pensei. — Fica de boa!

— Obrigado — ele agradece com um movimento de cabeça e eu me levanto também, junto de Sun Hee, e o levo até a porta. Antes de sair ele lança uma piscadela para mim, repuxando novamente os lábios em um pequeno movimento.

Tranco a porta e me encosto nela, deixando-me escorregar até me sentar no chão, recebendo uma olhadela de estranheza de Sun Hee. Ótimo, até minha cachorra me acha estranha. Bufo e balanço a cabeça com força enquanto escuto a corrida de meus amigos escada abaixo.

— Conta tudo, o que rolou? — Amélia, se sentando ao meu lado, finca seus olhos verdes em mim, exigindo respostas.

— Eu sei que vocês ouviram tudo, parem de graça — resmungo jogando a cabeça para trás e terminando por batê-la na porta e reclamar disso.

— O que te deixou estressada? — Carter pergunta se sentando no primeiro degrau da escada e Sun Hee se esgueira para seu lado, sabendo que receberá carinho em excesso.

— Eu não tô estressada! — me defendo bufando e voltando a me encostar com calma na porta, deixando minha coluna reta e afastando qualquer emoção esquisita.

— Você tá falando grosso, nem vem — Amélia concorda com seu namorado e me olha torto. — O que, realmente, aconteceu?

Apenas viro meu rosto para ela, a encarando, e pisco com meus dois lindos olhinhos uma única vez e é o bastante para ela soltar um gritinho com a garganta e abrir a boca em um perfeito O.

— Eu odeio ser adolescente! — digo, determinada.

— Já eu, amo! — Amélia fala risonha, me fazendo revirar os olhos.

— É tudo explosivo demais, sabe — explico meu lado da história e ela concorda com um sorriso.

— Essa é a graça, tudo vem com emoção e abala o coração — minha amiga fala animada e eu bufo.

— O que isso quer dizer? — Carter se manifesta balançando as mãos no ar e depois aponta o dedo para nós duas. — Vocês estão me ignorando completamente, isso é um absurdo!

— Blair tá caidinha pelo garoto — ela aponta para trás com seu polegar e eu que solto um gritinho, mas de ultraje, a fazendo se virar para mim. — Quê?

— Eu não disse que estou caidinha por alguém —  esclareço, encolhendo minhas pernas para perto de mim e me virando completamente em sua direção. — Se você não entende meu olhar — aponto de mim para ela — o que é isso entre a gente?

— Foi isso que você me passou com aquela piscada! — ela cruza os braços como se soubesse mais que eu mesma.

— Claro que não! Eu quis dizer que estava com uma sensação louca, sabe, apenas isso — resumo para ela, em seguida olho para Carter. — Sabe quando você conhece alguém e tem sua primeira impressão, eu não sei se ele me passou uma boa ou ruim. Eu só senti tudo no superlativo me matando por dentro, só tô confusa.

— Dã! — Amélia resmunga e gargalha em minha direção. — Você está caidinha por ele, Blair, não é pecado se sentir atraída por um cara.

— Eu sei — dou de ombros e suspiro —, mas não foi isso, se não eu sentiria isso toda vez que acho um cara bonito!

— Tipo eu, né — Carter suspira, como se condenasse sua beleza.

— Não — discordo, séria, mais para fazer graça mesmo e funciona quando ouço a gargalhada de Amélia. — Mas eu tenho certeza de duas coisas, a primeira é que eu não estou caidinha por ninguém...

— Vamos chamar de — ela faz aspas no ar com os dedos — “um bom pressentimento”.

— Eu não tenho certeza se prefiro assim, mas tudo bem — me levanto do chão e sorrio — e a segunda é que estou muito inspirada para fazer um belo de um almoço.

— Glória! — Carter comemora se levantando e me esmagando em um grande abraço — Adoro comida de graça! Só preciso buscar a Lily na casa da Sra. Dolts

— Ah, eu vou com você! — Amélia já se levantava abrindo a porta, mas me livro do abraço de Carter e corro até ela, envolvendo meu braço em seu pescoço e a puxando.

— Muito engraçadinha! — a arrasto em direção a cozinha escutando Carter se despedir e fechar a porta.

— Qual é, sabe que sou péssima na cozinha! — ela se justifica pela tentativa de uma saída estratégica.

— Você deve ter alguma habilidade com um descascador de batatas — a aviso, e ela forma um biquinho nos lábios, me fazendo rir.

— Mas, diz aí — ela se achega a mim ao passo em que eu abro os armários em busca de comida — eu acertei, né? Você ficou meio nervosinha, mas eu te interpretei direitinho, você tá caidinha por ele.

— Não — nego em meio a uma risada.— Você interpretou tudo errado.

Ela monta um bico maior ainda em seus lábios, me observando de rabo de olhos. Mas, para falar a verdade mesmo, nem eu mesma havia me interpretado corretamente. Só sabia que toda vez que pensava no tal garoto, meu coração se acendia e dava cambalhotas no peito, me enchendo de sensações novas.

****

— Prometo que amanhã eu te levo para passear, tudo bem, garota?! — acaricio a cabecinha de Sun Hee entre minhas mãos antes de abrir a porta da cozinha que dá para nosso estreito jardim, o que já é o suficiente para minha cachorrinha se alegrar e correr.

Me sento na ponta da varanda de concreto observando a lua e sentindo o arzinho gelado se infiltrar pela noite. Carter e Amélia haviam ido para suas casas assim que Lily dormiu no sofá, ao redor de doces e muita besteira. Havíamos jogado de tudo um pouco, de jogos de tabuleiro a games, com a menininha fofa e a feito sorrir bastante.

Meu celular começa a vibrar no bolso de meu short e a tocar uma de minhas músicas mais amadas do Personal Side, uma banda que se tornou conhecida mundialmente bem recentemente, um dos integrantes é primo de Amélia, por isso eu tinha ainda mais conhecimento de seus últimos lançamentos, ainda que eles não morassem mais nos Estados Unidos no momento, pelo que entendi cada integrante era de uma nacionalidade diferente. Pego o celular para ver a foto de meus pais na tela. Sorrio e corro o dedo pela tela.

— Alô! — os cumprimento e recebo um abraço de vozes me perguntando como me encontro e se estou me alimentando bem e todas essas coisas de pais preocupados. — Hey, uma coisa de cada vez! Eu estou ótima e comendo muito bem, e vocês?

— Ah, querida, você nem vai acreditar! — minha mãe exclama com aquela voz que sorridente, de verdade, parecendo alegre sempre.

— Deixa eu pensar — levanto as sobrancelhas, já rindo do que se trata —, está participando de um sorteio!

— Sim, e para um cruzeiro, acredita? — Ela suspira de contentamento e eu abro um sorriso.

Minha mãe é a louca dos sorteios e promoções. Ela realmente participa de qualquer sorteio que for, mesmo que ela nem curta o prêmio. Nunca me esqueço da vez que fomos comprar ração para Sun Hee e ela achou que deveríamos levar ração para gato também porque estava em uma promoção imperdível. Foi hilária a cena e boa para recontá-la ao meu pai.

— Estamos morrendo de saudades, querida — foi a vez de meu pai se manifestar. — O que andou fazendo?

Então narro para eles tudo que aconteceu desde a última ligação, ontem cedo, deles. Deixo de fora o que senti quando falei e olhei para o Lindão. Isso não são coisas que quero falar abertamente com meu pai, minha mãe eu tenho certeza que falarei em algum momento. Mas o momento nem é muito oportuno para isso. Muito menos para voltar a pensar naquele protetor de tela com aquele sorrisinho, aff!

— Bastardo! — é o que meu pai fala após todo o relato.

— Joy, que coisa horrível de se dizer — minha mãe briga com ele e escuto um curto estalo, como de um tapa que ela deve ter dado em seu braço. Mas, admito que com a espontaneidade do momento, eu mesma ri. — Querida, fico verdadeiramente feliz que ele tenha se desculpado, e nunca demitiríamos Jane, ela tem ótimas referencias e é uma boa profissional. Só achei bem fofo a preocupação dele com a família.

— É — concordo com um murmuro porque eu mesma achei fofinho da parte dele.

— E, também, fico feliz de você ter feito mais um amigo — ela confessa e eu caio na gargalhada e aproveito para olhar ao redor e achar Sun Hee cavando no gramado novamente.

— Amigo? — meu pai interrompe minha gargalhada — Que amigo? Ela já tem aquele casal apaixonadinho e os malucos sinistros de preto.

— Meu Deus, pai — volto a soltar risada em como meu pai se refere aos meus amigos. Eu até entendo mesmo que Carter e Amélia são apaixonadinhos, mas, qual é, Stella e David só são meio darks e não tão sinistros...eu acho!

— Para com isso, Joy, nossa filha precisa de mais amigos, oras — retorque minha mãe e eu nego com a cabeça com a discussão que se inicia.

— Gente, eu não fiz nenhum amigo, vamos com calma — esclareço e escuto o bufo de minha mãe e um "eu te disse" de meu pai. — Mas vamos falar de coisas divertidas, o que andaram fazendo?

Meus pais me contam de pontos turísticos, de comidas originárias do Havaí que experimentaram e de algumas horas em que meu pai passou no banheiro após isso, fazendo uma amizade sincera com a privada. Rio e faço piada de mais algumas coisas que me contam até que desligamos com uma despedida cheia de saudade.

Assim que volto a guardar meu celular no bolso, Sun Hee está tampando o buraco que fez no gramado. Me levanto e caminho em sua direção.

— Eca, Sun Hee — me abaixo a seu lado e vejo o que desenterrou. O sapato brilhante de uma das garotas que invadiu minha casa. — Você precisa se livrar disso — cutuco com o dedo o sapato e ela me encara com a língua pra fora —, deve ter veneno de cobra!

Sun Hee não dá atenção e abana o rabo e pega com a boca o sapato o balançando no ar e se divertindo.

— Tudo bem, mas não vai dormir na minha cama toda suja assim — sentencio e, por incrível que pareça, ela parece entender e me lança um de seus olhares pidões com um choramingo.

 


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Notas finais do capítulo

MAIS UM HOJE, ESSE FOI PRA LINDA DA CARINA QUE ME ACOMPANHA DESDE O PRIMEIRO NTEA HAHA TE LOVE!



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