Não Tão Estranha Assim escrita por Débora SSilva


Capítulo 17
Capítulo 16 — Tipos de amor




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Capítulo 16
Tipos de amor
Max Jerson

— Acorda, Max — senti meu ombro ser sacudido e levantei a cabeça, desorientado. —Tenho boas  notícias! 

Olho para a mesa do computador que fica entre minha cama e a de Dan, que ainda está adormecido, e o relógio de seu laptop ligado marca 4h da manhã.

— Mãe, que notícia incrível é essa que vale esse horário da manhã? — eu me voltei pra parede tapando os olhos com o braço. Não queria ignorar minha mãe, mas era cedo demais apenas para notícias boas, precisavam ser notícias extraordinárias.

— Ela tá lá embaixo! — minha mãe sussurrou. Me virei tirando o braço de um dos olhos, levantando a sobrancelha.

— Ela? — questionei, querendo saber se é real.

— Sim! — ela sorriu dando pulinhos.

— Naaaaão! — neguei.

— SIM! — ela gritou.

— O quê? — Dan perguntou sonolento e eu o ignorei, correndo pelo corredor e descendo os degraus pulando alguns deles.

Assim que consegui chegar ao hall e abri a porta de casa pude vê-la.

— Ah, Renée! — eu disse aliviado, indo até meu carro e abraçando o teto. — Eu tô de volta no jogo, baby!

— Isso foi por causa do carro? — Dan apareceu na porta e eu concordei com um aceno ainda abraçando meu carro. — Cara, agora eu tô com fome.

— Vamos tomar café da manhã, assim podemos conversar melhor sobre a escola de vocês — minha mãe disse me chamando. 

Lancei uma piscadela para meu carro e entrei para dentro de casa.

— Ontem não tivemos tempo de conversar porque cheguei tarde, mas hoje posso falar com vocês!

— Dan tá apaixonado — disse apontando para meu irmão.

— Mas o quê? — Dan sussurrou para mim, dei de ombros. Ele levantou uma sobrancelha e riu, apontou para mim e foi ao ataque — O Max quer casar com a Blair.

— Que merda é essa? — questionei, enrugando a testa.

— Você me jogou na fogueira, só te arrastei — ele deu de ombros se sentando à mesa.

— Ok, eu acho então que meus filhos estão tendo bons relacionamentos por aqui — minha mãe larga as xícaras onde estavam e se senta conosco. — Tá na hora de ter aquela conversa.

— Oh-oh — deixo escapar fazendo uma careta.

— Não com a senhora, obrigado! — Dan negou balançando as mãos e se levantando.

— Bom, mas eu preciso dizer que um bom homem — ela iniciou colocando o queixo apoiado na mão, fazendo Dan parar — ele respeita a si mesmo e a uma mulher. E o pai de vocês foi um bom homem.

Minha mãe abre um sorriso nostálgico, daqueles que me faz lembrar do nosso lar quando meu pai ainda era vivo. Fazia um tempo, desde cheguei a Mont Alba que não sentia essa pontada dolorida no peito. A mulher que fez de tudo para manter esse lar sorri para mim, e depois encara Dan da mesma forma.

— Não crio vocês para serem idênticos ao pai de vocês, eu quero que vocês sejam homens respeitadores, de bom caráter e tudo mais — diz balançando a mão e soltando uma risada. — E isso seu pai tinha de sobra!

Assinto e olho para baixo, mas sei que Dan faz o mesmo.

— E também, não quero ninguém engravidando nenhuma mulher por aí antes do casamento, não foi isso que os ensinei! — Levanto a cabeça com suas palavras, ela bate na mesa e ainda lança uma sobrancelha erguida para nós. — Estão achando o quê? Que só porque todos fazem vocês também precisam? Vocês não são menos homens por esperarem a garota certa!

— Essa conversa tava indo tão bem — resmungo e Dan revira os olhos concordando.

 

******

 

— Max, vamos? — Dan me pergunta enquanto ainda estou com o celular no ouvido escutando a secretária eletrônica me atender novamente.

— Eu não consegui falar com Carter — enrugo a testa, pois acho isso a coisa mais estranha. 

Carter parece sempre estar com o celular por perto por causa de sua irmã mais nova, mas dessa vez ele não lê a mensagem e nem atende o celular. Dou de ombros decidido a passar em frente a sua casa. Eu pretendia apenas falar que iria em meu próprio carro hoje para a escola, mas ele não ter respondido e nem atendido o celular anda cutucando minha mente.

— Vamos — falo para que Dan entre no carro comigo. 

Minha mãe já saiu para o trabalho faz poucos minutos. Ainda ficamos um longo tempo conversando e comendo, mas agora a falta de sono me traz alguns bocejos. Assim que passo pela décima quadra para seguir direto para a rua de Carter, a morena de óculos caminha por sua varanda e desce a calçada correndo com sua mochila sacudindo nas costas. Buzino e Blair olha para trás, com o óculos escorregando pela ponte do nariz. Acelero até onde ela está, e paro o carro ao seu lado. 

 — Vocês podem me levar até a casa do Carter? — ela pergunta, parecendo meio desesperada.

— Entra — balanço a cabeça indicando o banco de trás e ela entra no carro tirando a mochila das costas.

— O Max tentou ligar pra ele — Dan diz assim que volto a acelerar o carro — Você sabe o que aconteceu com ele?

— Ele me mandou uma mensagem dizendo que não iria pra escola — Blair responde, olho para ela pelo retrovisor e a vejo suspirar, arrumando o óculos no rosto.

Parece nervosa e desconfortável. Talvez ela não curta o assunto. Então relembro o que Carter me disse e respiro fundo. Uns têm a sorte de ter os pais, outros não. Mesmo que eu tenha dito o meu por tempo determinado, eu o tive de verdade e não uma falsificação de um pai ou mãe, cujo trabalho que seu nome carrega não é bem feito. 

— Amor e respeito, Max, sempre vão ser um começo adequado para um bom ser humano ou qualquer coisa que você queira ser — meu pai sempre dizia quando me encontrava mentindo sobre algo ou quando queria apenas nos incentivar em nossos sonhos.

Acelero um pouco mais e não demora a chegar até a casa de Carter. Blair é a primeira a sair do carro, deixando a mochila em meu carro. Desligo o motor e olho para Dan, ele se acomoda um pouco mais no assento.

— Não vem? — pergunto, levantando uma sobrancelha.

— Eu ouvi as fofocas — ele diz, olhando pela janela para Blair que aperta a campainha da casa de seu amigo. — Eu não estou tão pronto para lidar com mães loucas que não dão valor aos filhos.

Concordo e saio do carro. Vou até onde Blair está e aperto novamente a campainha, ela me encara mordendo o lábio inferior. 

— Eu tô com medo — ela sussurra, suspirando —, faz muito tempo que nada de ruim acontece nessa casa, e eu tô nervosa. 

Escutamos algo se quebrar dentro da casa e passos vindo na direção da porta. Puxo o pulso de Blair e a coloco às minhas costas. Ela segura em meu braço, o apertando demonstrando o quão desesperada está começando a ficar. É então que a porta à nossa frente se abre. Uma mulher de cabelo castanho curto e olhos escuros está de frente para mim. Ela está com um terno amarrotado e a maquiagem borrada, mas ainda permanece em seus saltos. Ela me olha de cima a baixo, e depois repara em Blair, que sai de trás de mim e fica ao meu lado.

— Bom dia, senhora Jonhson — Blair pronunciou-se, levantando a cabeça ao nível da mulher.

— Saia da minha frente — ela diz e passa pela Blair a empurrando, eu a seguro em pé e ela dá de ombros, adentrando a casa. 

Assim que olho para dentro da casa vejo Blair abaixada perto de Carter. Ele está sentado em um dos últimos degraus da escada ao canto do hall, está cheio de cacos de vidro pelo chão, muitos mesmo. E um deles parece ter tido contato com o rosto de Carter que tem agora um machucado, um pequeno rasgo perto de seu olho esquerdo que Blair já está verificando.

— Você pode ir falar com a Lily? — Carter pergunta e ela parece hesitar, olhando para o corte de Carter. — Não é nada.

— Vou telefonar pra Amélia — ela diz se levantando. — Vou falar com a Lily depois e…

— Eu vou pegar o kit de primeiros socorros, fica aonde? — pergunto, e Carter olha para mim surpreso como se só tivesse reparado minha presença agora.

— Na lavanderia, final do corredor — Blair é quem responde e Carter me segue com o olhar.

— Vá ver a irmã dele — sussurro para Blair quando passo por ela, em contrapartida a morena segura meu braço e dá um fraco sorriso em minha direção, formando um obrigado sem som com os lábios.

Vou rapidamente até a lavanderia, ela está empoeirada e parece não ser usada há muito tempo, mas acho o kit de primeiros socorros na segunda prateleira acima da máquina de lavar. Retorno ao hall, e dessa vez Carter está olhando para a porta que permanece aberta.

 — Foi mal a Blair ter te arrastado pra isso aqui — Carter coça a cabeça e me encara, dou de ombros.

— Não fui arrastado, só vim conferir um amigo — Ofereço minha mão a ele. Ele sorri e aceita a mão, eu o levanto ele resmunga vendo o tanto de vidro quebrado no chão.

— Toma — entrego a pequena caixa para ele. — Se você acha que vou remendar suas feridas, tá me confundindo seriamente.

— Valeu — ele ri, mas deixa a caixa de lado na escada e abre uma porta à nossa esquerda, da onde tira duas vassouras. — Me ajuda antes com isso.

Concordo e começamos a varrer. Em silêncio, escuto os suspiros dele, é quando o olho e o vejo pega uma embalagem do chão. Parecia ser a embalagem onde copos estavam, então imagino que seja a embalagem onde os copos, agora quebrados, estavam. Copos recém comprados.

— Quando eu acho que as coisas estão prestes a melhorar, isso acontece — Carter se senta novamente no degrau que antes estava. — Faz alguns anos que não ligo mais para o que ela pensa ou faz, mas a Lily liga. Ela se importa com cada palavra que sai da boca daquela mulher, é bem deprimente.

— Ela é pequena, ainda se importa muito com os adultos — falo ainda varrendo —, principalmente os que estão dentro de casa.

— É disso que eu tenho medo — Carter confessa pondo as mãos na cabeça. — Agora ela é jovem, eu posso conseguir a tutela dela, mas e se depois a Lily quiser ficar com ela? Eu não posso impedir!

— Não, não pode — Assenti, indo até o armário

— Tá ajudando bastante, cara — ele responde com a voz séria e dou de ombros. — Você tá começando a me irritar.

— Você já está irritado — digo enquanto varrendo os cacos para dentro da pá. — O problema é você deixar essa irritação dominar o futuro. Não faça da sua mãe a vilã para Lily, mas mostre a ela o certo, o correto — O encaro e ele deixa os ombros caírem. — Sua mãe é a vilã sozinha, Lily vai descobrir isso sozinha um dia, mas dê a oportunidade dela fazer a sua própria escolha. Você está a criando bem, e ela fará a escolha certa.

Ele ainda me encara durante alguns segundos, depois olha escada acima e sorri, parecendo decidir que aquilo tudo vale a pena.

— Tu tem uns momentos filosóficos, né — ele diz, voltando a ficar de pé.

— Aprendi com meu pai — esclareço e ele concorda — , faz parte do charme dos Jerson’s.

— Cee-erto — ele concorda, coçando a bochecha e fazendo uma careta de nojo.

 Assim que acabamos de varrer todo o hall escutamos um grito vindo da porta e olhamos assustado, é Amélia paralisada em frente a porta olhando para o rosto de Carter.

— Você tá bem? — ela chega até ele segurando seu rosto e ele concorda, já a envolvendo em um abraço.

— Eu vou chamar as garotas — anuncio subindo as escadas, Amélia ainda olha para mim concordando.

Subo as escadas rapidamente, tiro o celular do bolso e aviso a Dan que talvez não fossemos para a escola, estava sendo um momento conturbado ali, ele manda apenas um ‘ok’ e volto a pôr o celular no bolso da calça jeans. Me aproximo da última porta que está entreaberta e ergo a mão para bater nela com o nódulo dos dedos dobrados quando escuto uma risada e paro no meio do caminho.

— Eu não vou contar pro Max — diz a voz infantil de Lily —  O Carter sempre fala com ele, e quando eu tô na pizzaria ele aparece por lá e divide a pizza comigo, mas não nos falamos muito, eu só como a pizza.

— Tudo bem — Blair solta uma risada e eu respiro fundo, porque parece que toda vez que essa menina ri uma lembrança ainda mais feliz surge dentro da minha mente. Bato na porta e a risada para.

— Ah! — Blair deixa escapar quando abre o restante da porta.

— A Amélia já chegou — Aponto para trás e Lily se empolga, correndo do quarto.

— Oi, Max — Lily grita e corre pelo corredor e escada abaixo.

Blair pega a mochila de Lily da cama e volta até a porta, ela a tranca com chave o que acho estranho e observo.

— O Carter mantém o quarto deles trancado, caso ela queira roubar algo deles, sabe — ela esclarece quando me vê a olhando. — Ela não tem força o bastante pra tentar arrombar.

— Entendo. — concordo e abro a boca para começar a falar, mas ainda a encaro e suas bochechas estão vermelhas. Ela levanta o olhar arrumando os oculos.

— Fofoqueiro — ela sussurra e eu sorrio imediatamente. 

Ela sabe que eu escutei, não sabe o quanto escutei e sou perverso o suficiente para não esclarecer que na verdade não ouvi nada de relevante realmente. Blair fica com o rosto ainda mais vermelho, eu apenas pego de sua mão a mochila, me aproximando um pouco de seu rosto, e ainda estou sorrindo.

— Você é ridículo — ela exclama e não paro de sorrir. Talvez mais tarde eu diga a ela a verdade.

Dou as costas para ela e sigo o corredor com uma mochila de fada nas costas. Ela me passa, batendo o pé e com os lábios numa careta. Descendo as escadas vemos Amélia e Carter junto de sua irmã abraçados na sala. E Blair desce mais alguns degraus aplaudindo.

— Eu quero é ver barba nessa tua cara, Carter, vira logo pai de família — ela grita para eles recuperando o sorriso no rosto.

— Se eu deixar a barba crescer você gama em mim, minha jovem — Carter declara, apontando para ela.

— Vamos pra escola, então, você já está atrasada — Amélia diz e eu levanto as mãos em interrogação.

— Achei que iríamos ficar o dia todo vadiando e comendo pizza — digo tirando a mochila do ombro.

— Oba! — Lily bate palmas e eu aponto para ela.

— A criança quer! — concordo e Carter dá risada enquanto as meninas me fuzilam com o olhar.

— Garoto — Blair me analisa com um olhar perplexo, mas com uma risada prestes a escapar dos lábios —, o que te ensinavam em New York?

— A vadiar e comer pizza?! — tento, para saber se é a resposta certa.

— Cala a boca — Amélia manda, subindo alguns degraus até pegar a mochila de Lily comigo. — Pode comer pizza depois da escola, que tal? — ela olha para Blair e depois para Lily. — Vamos passar o dia com Carter, hein?

— Legal, pizza — Lily comemora e eu sorrio.

Saímos da casa de Carter, ele tranca tudo e nos viramos quando o som alto de uma buzina bate contra nós. Dan está batendo na buzina do carro, quando o encaramos ele abre os braços, como se não entendesse nada. Blair dá um grito nele e Dan coloca a cabeça para fora da janela.

— Achei que iríamos vadiar e comer pizza — ele exclama e eu aponto para ele, como resposta.

— O que vocês têm? — Amélia pergunta e Blair se vira para a amiga, rindo.

— É o charme dos Jerson’s — Carter responde, levando a namorada para o carro, enquanto Lily os segue.

Blair, no entanto, olha para eles e sorri, indo em direção ao meu carro.Dou uma rápida caminhada para alcançá-los.

— Não vai com eles?

— Vou com você — ela se vira para mim, vermelha —, fofoqueiro.

Ela entra no carro e começa uma conversa com Dan, eu sorrio. Blair com certeza falou algo comprometedor naquele quarto com Lily, mas não é por isso que ainda estou que nem um idiota olhando para ela e sorrindo abertamente, é porque ela veio no meu carro apenas para dar espaço a seus amigos, porque sabia que eles precisavam disso.

Gosto disso, gosto do entendimento em um só olhar, do que as palavras não precisam expressar e quero isso, com ela!


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Notas finais do capítulo

Juro, eu que escrevi, mas o Max me conquistou de novo nesse capítulo!!!



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