Não Tão Estranha Assim escrita por Débora SSilva


Capítulo 14
Capítulo 13 — Oi, escola, tudo bom?




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Capítulo 13
Oi, escola, tudo bom?
Blair Montello

— Ah, eu não acredito que ela está dormindo no dia em que chegamos! — escuto alguém resmungar.

Me viro na cama antes de eu mesma pular correndo com dor nas costas após ser pisoteada por patas animais. Coço as costas já em pé no meio do meu quarto, quando reparo nos dois pares de olhos me mirando atentamente.

— Gente! — grito correndo para pular em cima deles.

— Até que enfim percebeu que estamos aqui! — minha mãe me abraça apertado.

— Não vi nenhum café da manhã magnânimo nos esperando! — é meu pai dessa vez que, com uma mão nos envolve e com a outra faz um carinho no focinho de Sun Hee.

— É pra já! — eu pulo empolgada e desço as escadas para ouvir as novidades de meus pais e poder finalmente me sentar a mesa com eles ao meu lado.

Eu já sabia que estava com saudades, mas tê-los do meu ladinho, podendo sorrir e brincar com eles é maravilhoso. É nesses momentos que eu me pergunto se cresci o suficiente para poder ir para uma faculdade distante, talvez uma do outro lado do oceano me separando tanto das pessoas que amo. Virar adulta é uma coisa tão dura! Olho para trás, por cima do ombro, enquanto meus pais se juntam a mim e me dão mais um abraço forte e quente.

***

— Você sabe que pode ficar em casa, não é?! — minha mãe pergunta ao ajeitar meu cabelo para trás das orelhas enquanto eu termino de comer minha panqueca doce.

Já era o dia das voltas ás aulas e das tentações. Minha mãe me provoca dessa forma desde meus oito anos de idade, quando eu já era excessivamente preocupada com meus estudos. É claro que brinquei muito, me diverti como qualquer criança, mas tive meus momentos de preocupação, e, com a idade, só aumentou! Então ela começou a me convidar a ficar em casa quando eu quisesse, faltar sempre que eu tivesse vontade, simples assim!

Mas eu era rigorosa demais comigo mesma e sempre virava a cara para ela, recusando sua preciosa oferta, o que a fazia formar um biquinho de criança nos lábios. Ela arrumou a xícara de chocolate a minha frente e cruzou os braços quando, mais uma vez na vida, recusei sua oferta de ficar em casa.

— A menina precisa estudar, mulher — meu pai diz, se arrastando até nós na mesa. Ele ainda mantém os olhos meio fechados após acabar de acordar.

Tomo o último gole de chocolate e suspiro. Um bom café da manhã antes de retornar a escola era tudo que eu precisava.

— Eu vou esperar o Carter lá fora, ele já deve estar chegando — digo, verificando a hora, era por aquele horário que ele sempre passava para me buscar.

— Boa aula, querida — meu pai me deseja assim que eu beijo sua bochecha e ele a minha testa.

— Tenha cuidado e mande um abraço para seus amigos — minha mãe também me dá um beijo no rosto antes que eu me vire para sair de casa.

Assim que fecho a porta atrás de mim, percebo o carro antigo de Carter estacionado no meio fio. Estranho o horário e o motor desligado, parece que ele já estava aqui faz algum tempo. Quando dou a volta e percebo Carter dormindo no banco da frente sentado, com os braços cruzados, eu já sei mais ou menos o percurso de sua chegada adiantada aqui.

Me agacho e bato de leve no vidro da janela, o que é o suficiente para acordá-lo. Ele abaixa o vidro e me encara, piscando os olhos vagarosamente.

— Bom dia — ele fala, voltando a encostar a cabeça no banco.

— Madrugou aqui, foi? — questiono, ainda agachada ao lado da janela e ele assenti — Por quê?

— Queria ar fresco! — Carter dá de ombros e eu continuo com o olhar firme pra cima dele. Meu amigo suspira antes de revelar tudo para mim. — Ela chegou meio louca ontem, eu simplesmente peguei Lily  fiquei no meu quarto até hoje cedo, então passeei com ela antes de leva-la a escola e depois estacionei aqui.

Ela só pode ser sua mãe, o que quer dizer que teve uma péssima noite de sono. Todos ao redor de Carter já sabem que, a cada dia que passa, ele fica mais cansado de tudo isso. No inicio do ano ele completou seus vinte anos, e entrou com os papeis para legalmente ser responsável por Lily. A audiência está se aproximando e ele nos proibiu de comparecer, diz que é algo que somente ele pode fazer. Eu posso apenas ajudar no que puder e torcer para que tudo dê certo.

— Bem, você deveria ter entrado para tomar café da manhã — digo me levantando, tentando afastar os vestígios de uma péssima noite. Dou a volta no carro e entro, me sentando nos bancos de trás.

— Foi bom, é? — pergunta, ligando o carro.

— Panquecas! — respondo e ele bate no volante, fazendo o som da buzina se reverberar pela vizinhança. Eu só posso rir de sua reação esfomeada.

Enquanto seguimos pelas ruas em direção a casa de Amélia, digito uma mensagem rápida para ela, mandando preparar um café da manhã para Carter. Ela me pergunta do porquê, mas me limito a digitar em negrito para que seja rápida no preparo e pergunte depois ela mesma para o namorado.

Quando sinto Carter estacionar, olho para frente, estranhando o quão depressa chegamos a casa de Amélia. Mas as casas não são realmente as que me lembro.

— Santo Deus — digo assim que olho pela janela e vejo Max e Dan vindo na direção do carro. — O que quê isso, Carter? — sussurro chutando o banco dele repetidas vezes.

— Ai — reclama passando as mãos nas costas. — O Max pediu carona, só isso. Esqueci de avisar, foi mal!!

Certo, sem problemas com o Max. Mentaliza, mentaliza! Por que, é obvio que eu não esperava, numa segunda-feira, lidar com Max tão cedo assim. Ele caminha como se fosse um bad boy em direção ao carro, com ombros largos e um sorriso de lado ao cumprimentar Carter pela janela. Já Dan é despojado, dá apenas um cumprimento com a cabeça para meu amigo e entra no carro com um sorriso aberto.

— Blair! — diz ao se sentar ao meu lado, mas não consigo me concentrar em mais nada quando vejo sua blusa, branca com um desenho que amo estampado.

 — Que camisa é essa? — toco na camisa tentando enxergar o desenho que agora se mantém amassado. — Onde você comprou esse tesouro?

Antes que ele responda, sinto ser um pouco apertada do outro lado. Max acabou de entrar e está todo encolhido em seu lado. Passo uma perna por cima da outra, e fico reta tentando dar mais espaço para ele que me lança um sorriso em agradecimento.

Eu sendo alta e os dois ao meu lado mais altos que eu, torna o espaço, que já é escasso, um cubículo! Normalmente eu vou que nem um defunto jogado no banco de trás enquanto Amélia tagarela na parte da frente, mas vida que segue superando a desgraça do pouco espaço. Pelo menos é melhor do que ir de ônibus para a escola.

 — Bom dia — Max me cumprimenta e eu lhe lanço um sorriso com meus lábios. — Foi mau o aperto, é que a Reneé ainda não chegou de New York e minha mãe vai sair quase agora para o trabalho, então... — ele para apontando para seu local e escuto a risada dos outros meninos.

— Devo imaginar que a Reneé é o seu carro, certo?! — tento confirmar, franzindo a testa.

— Isso! — ele levanta as mãos no ar e olha para mim agradecido. —Obrigado.

— Por que você parece estar comemorando? — com um riso no final da frase, espero sua reposta.

— Até agora você foi a única garota que entendeu a coisa dos nomes.

— Ah, é que o carro do Carter se chama Lucinda. — justifico.

— Ela dá nome pra tudo, Max, ela se identificou. — Carter desembucha e eu chuto novamente seu banco, mas dessa vez ele deve ter achado que foi apenas um solavanco do carro. — Ela já deu o nome de Limãozinho para um grampeador e os ursinhos dela se chamam...

— Ok, parou! — encerro o papo dando um tapa no ombro de Carter, mas as risadas já estão altas dentro do carro, o que me faz virar novamente para Dan que está se acabando ao meu lado em risos. — Certo, já pode me responder onde comprou a blusa.

Volto a apontar para sua camisa. Espero que ele consiga parar de rir e agradeço internamente que Beth Girafa e Matilda Coruja não foram denunciadas como meus ursinhos que receberam nome.

— Então você gosta desse webtoon? — me pergunta levantando uma sobrancelha e concordo, com um sorriso.

— Acompanho desde o inicio, foi uma amiga que me apresentou!

— Legal, é um prazer conhecer uma fã — diz com um sorrisinho e eu fico estática.

— Quê? — sacudo a cabeça e ergo as mãos, tentando raciocinar.

— Ele que criou o webtoon chamado A Chave para Dakota — Max sussurra para mim, as ainda estou viajando nisso tudo.

— Nossa, amei! — me manifesto depois de alguns segundos em silencio. — Eu tô muito chocada, eu amo essa história, muito mesmo!

— Obrigado — ele agradece, passando a mão pela nuca, parecendo sem graça pela primeira desde que nos conhecemos. — É muito legal ter meu trabalho reconhecido dessa forma, de verdade.

O carro estaciona novamente e dessa vez é Amélia que entra carregando um saco de papel, com o que deve ser o café da manhã de Carter. Ele me olha pelo retrovisor e sorri para mim, enquanto dá algumas mordidas no sanduiche.

— Bom dia, pessoal — Amélia finalmente se vira para nós com um sorriso.

— Saca — Me impulsiono para frente, ficando mais próxima de minha amiga —, o Dan que escreve aquele webtoon que eu acompanho! — declaro dando um empurrão no ombro dela pela emoção que sinto.

— Mentira! — Amélia se vira no banco e Dan sorri em sua direção.

E vamos numa conversa empolgada até a escola, tudo isso é bom demais porque evita que eu perceba, até chegarmos a escola, que Max me observou durante todo o percurso e que eu me sai muito melhor do que esperava ao encontrá-lo.

****

— Bem vindos ao lar dos aflitos estudiosos — Amélia abre os braços, apresentando o espaço escolar para os recém chegados.

Dou de ombros quando os meninos me olham interrogativos pela empolgação que escutam na voz da loira. Apenas giro o dedo perto da cabeça, como se indicasse que ela é louca.

— Precisamos passar na secretária da escola e depois deixar nossos livros nos armários — Max aponta para a mochila no seu ombro que parece abarrotada e Dan concorda com a mochila da mesma forma que a do irmão.

— Nossos armários ficam próximos da quadra, no prédio B — Carter explica e eles concordam antes de partirem.

— Será que eles vão saber se encaminhar por aqui? — pergunto a meus amigos.

— O Max tinha me dito que recebeu um mapa da escola e os horários, e também já tinha conhecido a escola. — Carter me conta, balanço a cabeça em entendimento ainda vendo os dois irmãos sumirem pela entrada e recebendo olhares de algumas pessoas.

— Vamos entrando — Amélia entrelaça seu braço no meu e eu concordo, Carter vai para o outro lado da loira e adentramos o prédio B da escola. Não demora muito para sermos interrompidos na caminhada.

— Senhorita Montello — a inspetora Annabeth firmou os pés a nossa frente, impedindo que passássemos, todos nós três tropeçamos com a parada brusca.

— Bom dia, inspetora — Amélia cumprimenta, fazendo a mulher ruiva de estatura mediana em cima de seus saltos agulhas a olhá-la com as sobrancelha erguida, claramente dizendo que tinha algo errado naquela frase. — Quer dizer, bom dia, senhora inspetora Annabeth.

O cumprimento floreado com todo tipo de coisa é satisfatório para nossa inspetora. Não me entenda mal, nossa inspetora é responsável e mantém sempre tudo em ordem, mas a cada frase que dirigida a ela temos que enfeitar a coisa toda.

— Bom dia — ela retorna o cumprimento. — Senhorita Montello, infelizmente reparamos em algumas coisas de muito mal tom coladas em seu armário, pegamos os infratores, mas não tivemos tempo para limpar seu armário. Sentimos muito por isso, porém tudo já foi devidamente resolvido.

— Tá bem, obrigada — concordo e ela ergue novamente a sobrancelha. — Obrigada senhora inspetora Annabeth.

— Claro, nenhum mal a nenhum aluno será tolerado! — ela arruma seu terninho e se vira. — Tenham um bom dia.

— Que doido — Amélia resmunga quando retornamos a caminhar pelos corredores da escola — Já não faziam esse tipo de coisa há muito tempo, desde o verão que o Carter bateu no seu armário e disse “é melhor pararem com a palhaçada”.

— Bem machão! — concordei enquanto Carter revirava os olhos e passava o braço pelos ombros de Amélia.

— Deve ser porque o Max não deu atenção para eles e sim para a Blair, eles são carentes, vocês sabem. — o moreno comenta quando chegamos aos armários.

Nos concentramos nos bilhetes maldosos colados em meu armário até ouvirmos uma voz feminina as nossas costas.

— Eles já foram melhores — nos viramos para encontrar a menina branca de longos cabelos negros mascando um chiclete ao lado do namorado que, assim como ela, se veste todo de preto. — É sério que eles insinuaram que você é um unicórnio?!

— Eles sabem que isso não é um xingamento, né?! — Amélia pega o bilhete indicado e se vira para todo o corredor ouvir. — Unicórnios são seres bem fofos!

— Seriam, se existissem — a garota de cabelos longos diz, caminhando em seus coturnos em minha direção. Ela me dá um abraço apertado e eu retribuo, e essa é a Stella, a única garota que conheço que consegue ter todo o guarda roupa em cor preta. — Como vai, gatinha?

— Eu tô bem, e você?

— Vivendo — ela afirma revirando os olhos, e se vira para me armário enquanto eu vou até David, seu namorado, lhe dar um abraço.

— Que saudade dos seus abraços quentinhos — digo sendo envolvida pelos braços de David que, apesar de usar cores escuras, varia um pouco entre o cinza e o preto.

— Eu também senti falta dos seus abraços — ele confessa beijando minha testa.

Os dois seres de preto encerram nosso grupo de amigos. Eles viajaram com a família de Stella para Seattle durante as férias, algumas vezes nos mandaram fotos. Me mantenho abraçada de lado a David enquanto as meninas tiram todos os bilhetes e jogam na lixeira ao lado. Vou até meu armário e pego os livros que preciso, enquanto meus amigos, que tem os armários próximos dali, fazem o mesmo.

— Parece que meu armário ficou bem distante daqui — ouço a voz de Max e me viro, já com os livros que preciso nas mãos. O garoto está logo atrás de mim, ainda lendo algo no papel que segura. — Tá aqui que fica no corredor três.

— É no próximo corredor — Stella diz estourando uma bolinha com seu chiclete. — Quem é você para se dirigir a Blair?

— Max — eu mesma respondo com um sorriso aos olhos confusos do garoto. —, essa é a Stella e o David, e esse é o Max. Conhecemos ele durante as férias.

— Sei — ela concorda, e continua mastigando seu adorado chiclete.

— Qual a sua primeira aula? — Carter chega até onde estamos e pergunta a Max.

— Literatura com o professor Hudson.

— É a primeira aula da Blair — Amélia diz, e eu me encolho.

Que legal, primeira aula do dia com o Max. Pulos de alegria....eeeê! Sério, sem problemas com o Max, mas eu sei que quando estamos sozinhos conversamos mais à vontade e nos soltamos de uma forma única nos sorrisos, e eu tô nervosa por antecedência. Essa é a única aula que eu fazia sozinha, e agora tenho a companhia dele, cara...não tô preparada psicologicamente pra isso.

— Bom, vou deixar meus livros no armário — Max diz me encarando e eu concordo, o mirando em resposta. Mas ficamos nessa, por alguns segundos, até receber um cutucão na costela vindo da Amélia.

— Tá, te encontro no corredor. — digo e ele concorda, se despedindo dos outros com um aceno.

— Da onde ele surgiu? — Stella me pergunta, depois que Max se distancia,  mas a loira ao meu lado é mais rápida.

— Não importa, o que importa é que ele é o crush da Blair, e eu tô shippando.

— Calada, Amélia! — resmungo, seguindo pelo corredor atrás de Max.

Que comece meu dia lindinho na escola.


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