Capítulo 12
Em breve
Max Jerson

Assim que Carter sai pela porta de casa, Blair se levanta recolhendo as xícaras sujas, não hesito em ajudá-la. Termino levando até a pia os pratos que sujamos e os talheres.

— Hey, obrigada — ela agradece quando deposito tudo na pia, dou de ombros e ela dá um sorriso de lado.

— É o mínimo que posso fazer depois de você me alimentar, e pelo jeito — monto uma careta e sacudo os ombros —, sem nem mesmo saber que eu estava vindo pra cá.

— Ah, não — Blair dá uma risada e suas bochechas começam se colorir — Eu tenho uma péssima memória, o Carter me avisou, mas eu realmente esqueci.

— É por isso que você compra muitos post-its? — pergunto, me lembrando da vez em que nos encontramos no mercado antes de a levar para minha casa. — Você anota tudo neles?

— É — ela responde arqueando uma das sobrancelhas e cruzando os braços, como se já me perguntasse como lembrava dos post-its, dou de ombros. Antes que ela continue a falar, escutamos Amélia pigarreando.

— Eu vou atender um telefonema ali — fala apontando para a porta da cozinha que imagino que leve até ao jardim.

— Não escutei seu celular tocar — Blair observa.

— Detalhe — Amélia diz e sai pela porta, assobiando para chamar Sun Hee, que corre atrás dela.

Blair ainda olha por onde ela saiu, empurrando os óculos mais para cima com as pontas dos dedos. É engraçado como eu observo a cena, suas bochechas se inflando rapidamente e o óculos voltando a escorrer um pouco. Os fios do cabelo dela ainda estão despenteados e quero rir de como Blair não se importa em ser tão natural. Ela não está impecável, bem pelo contrário, o cabelo arrepiado, uma pequena mancha de pasta de dente na blusa e o óculos que cisma em escorregar. É apenas ela, e é isso que mantem meus olhos presos.

— Para — Blair diz, tampando o rosto quando repara que a observo.

— Desistiu de me encarar de volta? — questiono com um sorriso, deixando meu quadril encostado na ilha da cozinha em frente a pia.

— Não — ela abre os dedos, ainda com as mãos sob o rosto, mas permitindo que eu veja seus olhos —, pode me encarar que eu vou encarar de volta, mas não fica olhando pro meu rosto, é estranho!

— Vou tentar — sorrio ao cruzar os braços, ela por um instante desvia os olhos para meus braços e eu rio. — Mas, é claro, você precisa fazer o mesmo.

Ela tira as mãos do rosto e se volta para a pia com o rosto ainda completamente vermelho.

— É melhor eu ficar quieta lavando minha louça, sabe — exclama abrindo a torneira. Ela aponta para o canto da cozinha, onde vejo panos pendurados — E você seca, odeio secar a louça.

******

— Pelo amor de Deus, Sun Hee, para — Amélia grita quando a cadela que dão banho se sacode mais uma vez, espirrando água para todo lado.

Lily e Blair riem, deixando a cachorrinha ainda mais empolgada. Pulando pelo jardim, ela vem até mim, que estou sentado num tipo de degrau do jardim da casa da Blair. Faço carinho em sua cabeça e ela sai correndo de volta na sua dona, a quem derruba no chão com um pulo.

— Se acalma, garota — Blair ri enquanto recebe lambidas no rosto.

A pequena menina continua esfregando o pelo de Sun Hee com o sabonete líquido, fazendo mais espuma ao seu redor. Blair e Amélia voltam a se posicionar ao redor da cachorrinha e continuam ajudando a dar banho nela.

— Acho que a minha irmã é a mais focada — Carter pontua vendo que sua irmã continua concentrada enquanto as duas mais velhas estão conversando.

— Ela tem um objetivo — digo e ele dá risada.

Desde ontem reparei que Carter fala bem mais da irmã e tem um olhar muito mais preocupado do que qualquer outro irmão mais velho que já conheci. É claro que todo irmão tem seus momentos, mas o cara ao meu lado respira isso. Não sou curioso a ponto de perguntar alguma coisa, mas é impossível não reparar nisso.

— Você, que olha mais de fora — ele começa a dizer e se vira pra mim —, a Lily parece feliz, certo?!

Volto meu olhar pra menininha que ri de algo que Amélia sussurrou, ela gargalha e pula, e continua molhando a cachorrinha.

— Ela parece muito feliz — retorno a encará-lo, ele franze os lábios assentindo. — Relaxa, ela tá muito bem.

— Você já ouviu alguma fofoca? — questiona, dessa vez focando no que está a sua frente.

Dou de ombros e nego. Ouvi boatos apenas sobre Blair vindos de Jake e seu bando, mas imagino que não seja sobre isso que ele esteja falando. Percebo que seu rosto parece mais duro agora e que suas feições não transparecem a idade que penso que ele tem.

— Só pra você ouvir da fonte — ele suspira e faz uma careta —, minha mãe é alcoólatra, eu que sustento a casa. É por isso que Lily sempre está comigo, com uma senhora que nos ajuda ou com elas — ele aponta para sua namorada e Blair. — Sou mais velho que vocês, na época que repeti decidi trocar de escola para não me atrasar muito, já que a Maria Keent Public School são apenas três anos de ensino. De qualquer forma, se não fosse pelas meninas eu não teria aguentado na escola por tanto tempo.

Ele bufa e coça a cabeça, quando se volta pra mim novamente, estampa um sorriso no rosto, deixando de lado qualquer cansaço ou vergonha que parecia carregar a segundos atrás. Carter é mais um dos que se levantaram para batalhar por si mesmo. Me sinto um pouco envergonhado pelo que fiz minha família passar quando meu pai morreu, mas me dou o crédito de ter conseguido me reerguer. Já o cara ao meu lado sorri e alegra aqueles ao redor como se fosse imbatível.

— Carter, pode pegar uma toalha na área de serviço, por favor? — Blair pergunta Carter se levanta em um pulo.

— Agora, dona mandona — ele sussurra enquanto caminha para dentro de casa.

— EU OUVI! — Blair grita cruzando os braços.

Termino soltando uma risada e ela parece se dar conta de minha presença. Talvez durante a conversa com sua amiga e a distração com Lily e Sun Hee, ela tenha esquecido de que eu estava o tempo inteiro ali a observando. Ela balança a cabeça e se volta para sua cachorrinha que chama a sua atenção ao pendurar as patas dianteiras em cima dela.

  Carter volta com a toalha e com um celular na mão, indicando para Blair que esteve tocando. Ela seca as mãos na toalha e corre para dentro de casa com o celular na mão, ela espalha água por onde passa, mas não me importo quando me molha um pouco e depois pede desculpas, eu concordo com a cabeça e me volto para frente.

Amélia e seu namorado começam a secar a cachorrinha animada junto de Lily, ela se sacode algumas vezes, fazendo o cara resmungar sobre roupas molhadas e resfriados, o que causa risadas até mesmo em mim.

— Isso não vai servir — Amélia reclama depois de um tempo. — Max, você pode pedir para a Blair trazer mais algumas toalhas? É que todos já estamos meio molhados.

— Claro — concordo e me levanto, entrando pela porta da cozinha e encontrando Blair de costas.

Ela está encostada na pia, a minha esquerda, caminho até ela para chamá-la, quando paro ao escutar que está no telefone.

— É isso mesmo que a senhora ouviu, mãe — ela fala com uma risada, ela remexe a ponta do pé no chão e sorri.

 Me sinto desconfortável ouvindo sua conversa, então giro nos calcanhares e dou passos para sair da casa.

— É ele tá aqui, pai, o Max mesmo — paro quando ouço essas palavras.

Agora é uma merda não saber se ouvir meu nome saindo da boca dela para os pais é uma coisa ruim ou muito ruim. Saio da casa novamente e faço sinal para o casal de que Blair está no telefone, eles concordam e voltam a conversar entre si. Aproveito a distração deles para olhar para dentro novamente e o que vejo é o sorriso aberto de Blair e um carinho diferente envolvendo seu olhar perdido.

Volto a olhar para frente e quem me encara é Lily, bem a minha frente, junto de Sun Hee.

— Acho que você gosta da Blair — ela entorta a cabeça para a direita ao falar isso e sorri, saindo correndo e sendo acompanhada por Sun Hee que late de alegria.

Ah, que droga! Ser pego no flagra por uma criança é o fim do mundo, só fico pedindo a Deus que ela não seja uma das que fala pro mundo inteiro o que viu e deduziu. Esfrego meu rosto com calma, porque lá no fundo estou um pouco aflito.

— Perdi alguma coisa? — ouço a voz de Blair atrás de mim e olho por cima do ombro.

Ela ainda esta toda molhada em seu camisetão e descabelada, no final reparo que só a vi desse jeito, então sorrio e nego.

— A Amélia só pediu mais toalhas. — declaro, me virando para ela.

— Ah, tudo bem!

— Espera — digo antes que ela retorne para casa e busque o que precisa —, só queria dizer que não vai precisar se preocupar com esbarrões comigo pela cidade até o dia das aulas.

— É? — ela cruza os braços — Achei que você iria agora viver na casinha da Sun Hee a paparicando — ela aponta com a cabeça para o lado e vejo uma casinha de cachorro ali.

Solto uma risada barulhenta, a fazendo rir também.  Movimento meus ombros, eu não pensei que ela lançaria um tipo de piada dessa para cima de mim, mas esse tipo de coisa, sem tanta maldade como eu esperava, um flerte tranquilo, é bom para minhas bochechas que já não se movimentavam com o riso forte há algum tempo.

— Não, sinto muito!

— Ah, poxa — ela estrala os dedos e ri novamente.

— Vou resolver algumas coisas na minha antiga cidade — termino explicando sem motivo algum. — Mas vou ser breve, prometo.

— Tudo bem — ela diz, mas vejo um brilho no seu olhar e eu gosto dele.