Não Tão Estranha Assim escrita por Débora SSilva


Capítulo 12
Capítulo 11 - A Baba, a ração de cachorro e o guarda roupa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773368/chapter/12

Capítulo 11
A Baba, a ração de cachorro e o guarda roupa
Blair Montello

Algo áspero e grudento rasteja pelo meu rosto, ele some e reaparece. O nervoso da sensação de acumula dentro de mim que termino vencendo o sono para abrir os olhos. Encontro o focinho de Sun Hee quase dentro de meu olho. Ela está apoiada nas patas dianteiras em minha cama, lambendo meu rosto para chamar minha atenção.

— Tudo bem, garota, já entendi — me afasto dela, sentando na cama e evitando colocar os pés no chão.

Não lembro exatamente quando dormi, e nem como, a única certeza que tenho é de que meus óculos estão jogados em algum lugar e já basta a perspectiva de que minha cachorrinha pisou nele, então coloco a cabeça para fora da cama procurando um embaçado vermelho, e comemoro quando o acho no carpete lilás que cobre meu quarto.

Assim que coloco os óculos, encontro Sun Hee sentada em minha atual leitura.

— Você tem que aprender a cuidar dos bebês, Sun Hee! — exclamo para ela, que não parece entender nada de minha revolta. Me levanto e puxo o livro de sua bunda, ele está com um amassado na capa, mas não é nada irrecuperável.

Vou em direção ao banheiro e após fazer minha maior necessidade matinal, começo a realizar a segunda, escovar os dentes. Ainda que eu faça um cafuné na cabeça de Sun Hee, ela continua lambendo minha mão e dando mordidinhas na barra de minha grande blusa. Termino não resistindo e dou o primeiro passo para fora do banheiro, a fazendo latir forte e correr escada abaixo a minha frente. Vou até seu pote de ração, o lavo e coloco mais uma porção, o que a faz abanar o rabo de felicidade. Aproveito para trocar também sua água enquanto troco a escova de lugar na boca e escovo mais um pouco os dentes.

Abro a porta para o jardim e verifico se esta completamente limpo, porém lembro que ontem antes de dormir limpei tudo, então retorno conseguindo equilibrar toda a espuma do creme dental dentro da boca e forro jornal em um canto do quintal onde Sun Hee sempre faz suas necessidades. Volto para a cozinha, lavo as mãos e acaricio a minha cachorrinha que ainda come. Olhando agora para baixo vejo um post-it colado em minha blusa. O desgrudo de mim e o leio.

Não esquecer de dar banho na Sun Hee ^-^

— Então era isso que eu precisava lembrar — olho para baixo onde minha cachorrinha já está bebendo água. — Hoje você não me escapa, Sun Hee!

Sinto o creme dental e a saliva escorrer pelo meu queixo, com a mão livre a impeço de ir mais longe e com a outra volto a colar o post it em minha blusa. Corro para o banheiro do corredor de baixo e cuspo todo o creme branco na cuba de vidro. Volto a escovar os dentes, dessa vez sem interrupções, até que escuto a campainha tocar.

Vou caminhando até a porta com Sun Hee em meu encalço, verifico pelo olho mágico e vejo meu casal favorito parados, abraçados de lado, na minha porta. Carter sussurra por cima do ombro algo, provavelmente para que eu não ouça, e depois cola a boca no olho mágico, me sinto esmagada e enojada, assim abro com rapidez a porta, o que faz com que ele cambaleei para dentro de minha casa.

— Minha babona favorita — Carter diz assim que ajeito sua postura e bagunçou meu cabelo.

— Meu Deus, Blair, já esta colando post its em si mesma para não esquecer seu nome? — Amélia zombou do papel de cor rosa néon em minha blusa.

— Que seus filhos não herdem seus genes do esquecimento — Carter orou por meus herdeiros e eu levanto minhas duas mãos para o alto.

Deux che oucha — falo terminando por sair toda a frase com um péssimo chiado graças a minha escova de dentes que eu mantinha na boca.

Amélia entra na casa deixando uma risada sonora escapar. Não me passa despercebida a sacola de papel que carrega nas mãos. Oba, pãezinhos de graça!, é tudo que consigo pensar com meu estomago roncando. Fecho a porta, porém não consigo e agora reparo em Sun Hee olhando raivosamente para fora.

Olho para o chão onde a porta não anda mais e encontro um tênis parado, impedindo que a porta prossiga seu caminho para a tranca. Empurro um pouco mais forte a porta, ainda verificando o tênis que não me deixa avançar. Então, com meu pé na meia vermelha que uso, piso no tênis duas vezes rápido e então que escuto uma risada, rouca e tremendamente familiar. AH, DROGA!

— Blair, eu trouxe o Max pra tomar um bom café da manhã aqui, lembra?! — faço uma careta me virando para Carter. — Te disse ontem a noite, por mensagem!

Eu já disse como odeio esquecer as coisas? Pois é, eu odeio!

Movo em concordância a cabeça e abro mais a porta, vendo Sun Hee dar dois passos em direção a Max, movo as mãos para que ela não faça nada de estúpido. O bonitão...o Max entra em minha casa e sorri para mim e se abaixa na altura de minha cachorrinha. Ele queria levar uma mordida na cara? Quando vi que Sun Hee avançava para ele, me agachei junto e me joguei na louca de pelo caramelo quando me dei conta que agarrei o ar.

Deus, eu iria ser presa. Minha cachorra já deveria ter estraçalhado o rosto do coitado. A pele branca e macia se foi, os olhos azuis foram comidos. Deus, eu criei uma carnívora de sangue ruim. Tenha piedade, tenha piedade.

— Boa menina!

— Mas o quê? — pergunto nem ligando com a baba que esta escorrendo da minha boca.

Quando me viro vejo Sun Hee se deliciando com uma pastinha nas mãos de Max, comida de cachorro em sachê. A traidora me trocou por comida em sachê. Agora quem iria me proteger e Max já que Carter e Amélia trouxeram o inimigo para o meu território? Eu preciso rever a mensagem de ontem de Carter e saber cada mínimo detalhe de como eles do nada, viraram best friends forever, tá sem exageros. Mas eu ainda preciso saber.

— Eu vou no meu quarto — digo-me levantando e vendo Sun Hee deitando no chão e fazendo sons de alegria com o carinho que recebia de Max.

Subo a escada olhando sempre por cima do ombro e confirmando a cena de traição. Entro no meu quarto e fecho a porta, corro para o banheiro e termino de escovar meus dentes, lavando o rosto e me olhando no espelho, o post it continua grudado em minha blusa e tenho vontade de chorar. Não que eu queira me mostrar diferente para alguém, mas o ritmo de intimidade com Carter e Amélia é completamente diferente com Max. Com eles eu posso babar creme dental como se estivesse com raiva e aparecer com um post it até mesmo na testa. Mas na frente do Max, obvio que não. Vejo no espelho minhas bochechas ficarem vermelhas e sacudo a cabeça. Vergonha on.

Volto para o quarto arrancando a blusa pela cabeça e a jogo de lado, cato em meu armário algo menos vergonhoso que a anterior onde tinha escrito “A questão não é qual comida vai me alimentar, é quanto eu aguento comer” e pego uma apenas de estampas. Vou até meu laptop e leio os post its que deixei na tela.

Max vai vir tomar café da manha (?). Carter vai trazê-lo!!!!! SOCORRO

NÃO CHAMAR O LINDÃO DE LINDÃO.  MAX É O MAX, E NÃO LINDÃO!!

— Esse aqui que você deveria ter colado na testa, retardada! — exclamo arranco o sobre o café da manhã, o amasso na pequena lata de lixo do banheiro.

Dou uma olhadela na minha calça de moletom e tudo bem, estou pronta para o ataque. Desço os degraus e os encontro na cozinha. Sun Hee corre em minha direção com a língua de fora, mas estou tentada a ignorá-la, traidorazinha!

— Bom dia, pessoal — exclamo com um sorriso, fitando todos que estão ao redor da mesa. Carter me lança uma piscadela e Max acena com um sorriso de lado nos lábios.

— Já fritei ovos e estou terminando com o bacon — Amélia diz quando a alcanço no fogão, a abraço de lado e aproveito que os meninos estão conversando para sussurrar em seu ouvido.

— Como isso foi acontecer?

— Estamos no mesmo barco — responde baixo, ela vira o bacon na frigideira, o que faz certo barulho com pouco de olho que ali contem. — Eu não faço isso como a gente foi parar nisso. Ontem a gente estava te zoando e bum, estamos tomando café como pessoas responsáveis e pais de família.

— Não exagera! — falo com um sorriso, indo pegar quatro xícaras no armário de cima, próximo ao fogão. Me recordo que dessa vez temos alguém diferente a mesa e que eu não sei como fazer café — Er...Max.

Me viro em sua direção da onde estou na pia da cozinha e ele já me encara, como se já estivesse nessa faz um tempo, apenas esperando ser chamado. Crispo meus lábios e ele dá um de seus singelos sorrisos em minha direção, aguardando.

— Eu não sei fazer café, na verdade eu não mexer na cafeteira, mas você pode fazer o seu bem aqui — aponto para a cafeteira cheia de botões e indicações que me confundem só de eu olhar.

— Tudo bem, eu bebo chocolate.

— Mentira — falo deixando meus ombros caírem e ouvindo a risada do casal ao lado. — Então esse eu sei fazer, pode deixar.

— A gente também é contra a cafeína, Max — Amélia justifica e o escuto concordar.

Vejo que minha amiga já terminou como bacon e também havia colocado água para esquentar, pego a panela e derramo seu conteúdo nas xicaras já com chocolate e leite em pó.

— Então — começo, devagar, terminando de mexer bem o chocolate na última xícara —, como isso aconteceu?

— Isso o quê? — Max foi para o meu lado e me encarou, levando duas das xícaras para a mesa, enquanto eu levava as outras.

— Não me levem a mal, mas até ontem você e o Carter não eram amigos, certo?!

— Certo — Carter afirma apontando para mim quando Amélia lhe entrega um pão e ele dá uma mordida na comida. — Ontem ele me deu uma ajudinha no trabalho.

— Ah — digo olhando de lado para Max que até agora não comeu nada, preparo um pão para ele e o entrego.

Esse gesto poderia ser uma coisa simples, afinal ele esta na minha casa e fui educada entregando comida, certo?! Errado! O olhar de Max não fala isso, não é algo simples. Na frente dele é mais complexo. É como se fosse algo mais importante com seu olhar azul do mar sobre o meu, com aquele brilho intenso.

— Já disse pra parar — termino falando com um sorriso de lado, relembrando nossa conversa de ontem.

— Eu avisei que não iria — responde pegando o pão de minha mão.

— Estamos atrapalhando? — Amélia me cutuca com o ombro aproveitando que estamos sentadas lado a lado na mesa redonda. — Porque se estivermos — ela levanta junto com Carter devagar e pegam o prato onde os ovos e o bacon estavam.

— Larga esse prato! — mando e, com um sorriso, eles se sentam novamente. Por baixo da mesa sinto Sun Hee se deitar entre mim e Max. — Veja só, se não é a traidora.

Sun Hee levanta o focinho até minha mão e eu acaricio.

— Traidora? — Max questiona e eu volto para preparar um pão para mim dessa vez.

— Ela me deixou por um sachê de ração e agora está se arrastando por carinho — respondo finalmente dando uma mordida no bacon e bebericando meu chocolate, ah, já senti meu humor elevando níveis em sua felicidade.

— Certo, mas qual foi da ajuda no trabalho? — dessa vez é Amélia que pergunta.

— Estávamos sem carro na pizzaria e ele estava por lá, Diana ofereceu desconto nas pizzas por uma ajudinha. — Carter explicou e sorriu antes de beber tudo que tinha em sua xícara. — A fofoca está na festa em que fomos entregar as pizzas.

— Que festa?

— Festa na casa da Luce — Carter me responde, o que é o suficiente para fazer Amélia tremer a mão e derramar um pouco de seu chocolate na toalha branca que cobre a mesa.

Arranco a xícara de sua mão com delicadeza e pego alguns guardanapos para limpar o estrago. Uma coisa que sempre reparei no casal ao meu lado é a extrema confiança, mas falar o nome Luce era algo proibido. Antes deles começarem a namorar, Carter esteve envolvido com Luce em um rolo, e a garota sempre irritou Amélia com tal coisa, as vezes dando em cima de Carter ou inventando alguma fofoca. Amélia sabia que Carter não a trairia, mas sobre a outra garota, nunca se sabe.

— C-calma, linda — Carter a confortou a abraçando de lado, mas eu reparei na sua voz tremida com medo da fúria de Amélia. Tampei a boca para a risada não escapar.

— O que essa Luce tem? — Max sussurrou em meu ouvido e eu tremi um pouco, virei um pouco a cabeça em sua direção.

— Namoro antigo, garota maluca, ciúmes — resumi em um sussurro e ele concordou com a cabeça.

— Mas ela deu em cima do Max e depois vomitou nele — isso reavivou Amélia e ela olhou para o garoto ao meu lado junto de mim.

Ao que Amélia disse:

— O que ela fez?

Eu disse:

— Eca, que nojo! Ela estragou sua roupa?

— Ela só falou qualquer coisa e depois vomitou — ela fala para Amélia e completa: — E, não, ela não conseguiu sujar tanto quanto eu imaginei meu tênis, mas obrigado pela preocupação.

— Ah, a fofoca não é tão boa assim — Amélia diz e eu dou risada.

O telefone de Carter toca e eu o vejo levantar para conseguir tirar o celular do bolso e o atende. Eu olho para Amélia e ela já sabe o que estou perguntando quando Carter se afasta.

— Lily está vindo para cá, ficou na casa da Sra. Dolts ontem a noite — ela explica e eu concordo terminando de comer meu pão.

— Ótimo, vou dar banho na Sun Hee, ela vai gostar da bagunça.

— A irmã do Carter? — Max questiona e eu assinto. — Ouvi sobre ela quase a noite toda.

— Você não ajudou em apenas uma entrega? — arregalo os olhos e ele sorri.

— A gente só dormiu durante umas duas horas e o Carter ficou na minha casa.

— Ah, meu Deus — Amélia ri e eu balanço a cabeça.

— Eu não exagerei — digo rindo. — Você já são bff’s!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hey, galera!!! Quem achava que o Max iria levar uma mordida perdeu, viu, pois a Sun Hee é uma traidora.....ou esperta até demais hahahaha



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não Tão Estranha Assim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.