Consegui a minha tão esperada férias, tudo que eu precisava, fazia duas semanas que estava em casa com Matteo e Florence, que na verdade nem ficava mais tanto em casa, por Aidam resolvi não viajar e afastar Matteo dele, mas ainda assim estava curtindo o máximo Matteo nesse tempo. O tempo que eu tinha escolhido ter sem ninguém, não deu muito certo, Aidam continuava vindo e ficando cada vez com mais frequência, mas ainda insistíamos que não era nada demais, quando já sabíamos que era sim. Com o tempo Florence pareceu estar se acostumando mais na ideia de eu estar com Aidam, mas eram dias bons e outros nem tanto, mas estávamos todos em perfeita sintonia, mas acho que hoje não seria um desses dias.

Florence entrou batendo a porta, Matteo e eu brincávamos na sala quando ela passou por nós bufando, e subiu. Olhei para Matteo que olhava a tia e o peguei no colo, e enquanto subia a escada a ouvi bater à porta do quarto também. Coloquei Matteo no quarto dele, no berço e fui até o quarto de Florence.

— O que está acontecendo que você acha que tem o direito de ficar batendo as portas assim de casa? – Perguntei com um tom de voz exaltado, abrindo a porta e se deparando com minha irmã chorando. – O que aconteceu?

— Nada. – Ela disse limpando o rosto já vermelho e com a voz chorosa. – Me deixe sozinha Camille, não tem que sentir dó de mim, sou uma inútil.

— Não fala assim, você está indo tão bem, está tão bem. Tem um emprego e logo vai conquistar suas coisas, nem sempre tudo é maravilhoso mas porque se menosprezar assim? – Tentei consola-la.

— Camille, eu preciso do seu apoio, você vai me apoiar em tudo? – Ela perguntava em lagrimas, impossível não concordar. – Preciso de você, da minha irmã que foi minha mãe também. Independentemente de qualquer coisa.

— Você está me assustando Florence, o que foi que você fez. – Eu falei preocupada, sentando ao seu lado e abraçando ela.

— Estou gravida Camille, quando contei ao pai do bebê, ele disse que sou louca. Que não era possível, que nunca tivemos juntos para eu engravidar. – Ela falava aos prantos, e eu engoli seco, e abracei ainda mais forte, já estive na pele dela, e agora é minha vez de dar o apoio a ela.

— Vamos dar um jeito, não precisei do Aidam para ter o Matteo e vamos cuidar desse anjo também. – Ela não conseguia nem falar. – Preciso saber quem é o pai do seu bebê, para que eu converse com ele e coloque juízo na cabeça dele.

— Não vai adiantar de nada Camille, ele acha que não é dele. Mas eu juro que não estive com mais ninguém. – Ela suspirava e eu apenas a abraçava era o máximo a fazer.

— Logo Aidam chega e ele vai nos ajudar. – Eu comentei tentando dar apoio, mas tudo que fiz foi piorar, ela chorava que parecia que que estava realmente morrendo, escutamos um bater forte na porta, Aidam também parecia estar estressado, escutei os passos pesados nas escadas e Florence se encolheu em mim quando Aidam bateu na porta a escancarando o que fez até eu pular. – Hey, o que está acontecendo aqui?

— Essa sua irmã, doente Camille. Isso que está acontecendo. – Ele gritava incrédulo. – Acho que não adianta o que eu te falar vai parecer confuso, só sei te dizer que ela está louca independente do que ela te falou.

— Ela não me falou nada de você Aidam, o que está acontecendo aqui? – Fiquei em pé entre os dois e olhava os dois, Florence encolhida na cama e Aidam bufando na porta.

— Essa louca me ligou no hospital... – ele não conseguia falar e apenas suspirava e tentava se concentrar. – E me disse que está gravida.

— Sim Aidam, foi isso que ela me disse. – Cruzei os braços já brava com toda situação.

— Ela disse que o filho é meu Camille. – Ele disse incrédulo e eu senti meu chão sumir, acho que naquele momento eu arregalei os olhos e me virei para Florence, ela tremia tanto, e senti o sangue sumir do meu corpo.

— Como assim? – Olhei para Florence que não saia a voz. – Florence, quando isso aconteceu?

— Não aconteceu Camille. – Aidam tentava me corrigir. – Não tem como ser meu, nunca encostei na sua irmã.

— Acho que preciso respirar, Aidam e preciso que você vá embora até eu conseguir processar o que está acontecendo. – Eu disse exaltada, Florence só chorava e tremia, não falava mais nada desde que Aidam chegou. Aidam apenas sabia se defender, mas naquela altura não sabia de mais nada.

— Não me coloque para fora daqui assim, prometi a Matteo ver um filme com ele e colocar ele para dormir. – Ele falava entrando atrás de mim no quarto e fechando a porta. – Acredite em mim Cami, eu te amo e jamais teria algo com sua irmã.

— Então prova, vamos fazer um exame de DNA. – Eu trinquei os dentes para falar, estava magoada, furiosa, pensando que iria explodir a qualquer momento.

— Tudo bem, eu faço esse exame. – Ele tentava me acalmar e abaixar o tom de voz dele. – Só não deixe a loucura da sua irmã interferir em nós de novo, isso é só mais uma loucura dela. Te garanto. – Ele se aproximou e me abraçou e eu me afundei no peito dele, chorando.

Permiti que Aidam ficasse por Matteo que gostava de ter o pai por perto, mas eu estava distante, tomei um banho e me deitei, minha cabeça parecia uma zona de guerra. Eu realmente acreditava que Aidam não tivesse ficado com Florence, mas não conseguia entender de onde vinha esse filho que ela falasse que fosse dele. Entrei em contato com Craig e o deixei a par te toda situação e pedi um apoio sobre o exame de DNA, ele me indicou um laboratório e o exame recomendado que não fosse invasivo para Florence e o bebê, antes levaria ela para Craig examinar e liberar o exame obviamente, mas meus pensamentos eram tão confusos que não conseguia raciocinar, Aidam se deitou e eu estava de lado, não me mexi, e ele não fez questão de se aproximar achando que eu já tinha pegado no sono, mas eu apenas chorava em silencio, ou pelo menos tentava.

Quando amanheceu eu não tinha dormido nem duas horas, meu corpo doía, minha cabeça latejava, sentia meu peito partido em dois. Aidam dormia, levantei arrumei o café da manhã para todos, liguei para a babá para que viesse e logo ela estava na minha porta, Florence não descia, Aidam terminava o café com Matteo quando ela resolveu aparecer, de pijama e todos a olhamos e ela parou próxima a escada.

— Tome café, precisa comer. – Comentei seca, era a primeira vez que falava de manhã. Nem com Matteo tinha falado ou com a babá que ficou me vendo cozinhar em silencio. – Depois se arrume, vamos ir ver Craig.

Ela preferiu não retrucar pelo meu tom de voz, apenas se sentou de frente para Aidam que estava interagindo com Matteo e comeu de cabeça baixa. Tomei um café em pé encostada a pia, Aidam se aproximou e me deu um beijo na testa saindo para o hospital, Matteo foi brincar com a babá e Florence terminava de comer, quando subi para tomar um banho e me trocar. Novamente cai em lagrimas em baixo do chuveiro, não conseguia me conter, meu peito queria explodir, estava magoada, me sentia traída, mas precisava se colocar no lugar de Florence também e ver como ela se meteu nessa roubada. Precisava ajuda-la e cuidar dela antes de qualquer coisa, independente de quem fosse esse bebê ele não tem culpa de nada. Esperei Florence alguns minutos com Matteo no colo e logo ela apareceu, ainda desanimada e eu ainda frustrada com tudo, quando partimos em direção ao hospital.

Entrei no hospital e todos me olhavam, acho que pensaram que tinha acabado minha licença, mas fui em direção ao consultório de Craig, que me esperava, quando entrei ele tentou dar um sorriso mas viu meu olhar e apenas foi cordial.

— Então, antes de fazermos uma ultrassonografia, quero fazer umas perguntas tudo bem? – Ele engolia seco e sempre me olhava para ver minha reação. – Quando foi sua última menstruação?

— Bom, sou bem desregulada. – Ela sorria sem graça. – Mas creio que a mais ou menos uns 35 dias atrás. – Craig pegou o calendário e começou a fazer as contas e anotou.

— Nesse período teve relações sem preservativo, obvio. – Ele parou e me olhou sem reação e totalmente sem graça do comentário, comentei sobre a gravidez, mas ainda não tinha falado sobre quem era o suposto pai. – OK, Florence se troque e deite na mesa de exames que vou fazer uma transvaginal em você, pelo tempo no ultrassom normal, não aparece. – Ele apontou para a mesa e ela assim fez, logo ele estava coma ajuda de uma assistente se preparando para a ultrassom, quando Florence se deitou e ele a ajeitou e colocou o aparelho nela, imediatamente apareceu aquele serzinho pequeno, indefeso e inocente na tela. – Aqui está seu bebê. Essa é a bolsa gestacional. – Ele apontou explicando para ela. – E no meio dela seu bebê. – Ele novamente aponto e eu não me contive e comecei a chorar que o fez me olhar, caí em prantos e sai do consultório.

Peguei uma água e me sentei na recepção, todos me olhavam chorando, mas logo estava conseguindo me acalmar. Quando Craig saiu do consultório e sentou ao meu lado, sem entender o que me deixará daquele jeito.

— Ela está se trocando. – Ele comentou engolindo seco. – O que está acontecendo Camille?

— Só preciso que me indique um bom laboratório, seguro que não irá fazer mal ela e ao bebê. – Eu comentei e ele apenas afirmava com a cabeça, percebendo meu tom de voz seco em relação a isso.

— Claro indico, mas preciso que esperem mais duas semanas para dar um resultado mais preciso ela está de muito pouco tempo  nem um mês, não terá problema nenhum e nem será risco para ela e o bebê, teste de DNA na gravidez não invasivo analisa milhares de fragmentos de DNA do feto que estão disponíveis no sangue da dela.
Utilizando uma tecnologia moderna, estes fragmentos de DNA fetal são isolados e analisados para se obter dessa maneira o perfil genético da criança. Leve ela nesse laboratório que eles faram o exame para vocês. – Ele me entregou um cartão e sorrio tentando me consolar. – E porque ficou assim quando viu que ela estava realmente gravida?

— Ela jura que esse bebê é do Aidam. – Terminei o copo de água e ele estava com um olhar apavorado. – Não acho que ele tenha ficado com ela, bom não sei o que pensar. Ela já tentou pular nele bêbado, então não sei o que ela possa ter feito, e se ele realmente cedeu. – Suspirei. – Olha para Florence, ela é linda, uma verdadeira Barbie, ficaria surpresa que isso não tenha acontecido antes.

— Tudo bem que ela é linda, mas é perturbada. – Ele comentou baixo, mas auditivo e por um minuto eu sorri. – Não fique assim Camille, vai ser um engano e mais uma tramoia dela, esse bebê existe, mas Aidam fez tanto para arruinar nosso relacionamento que não acho que ele ficaria com sua irmã. – Ele tentou me animar e conseguiu por um instante, até Florence se juntar a nós.

— Bom já vamos, obrigada pelo exame e pela indicação. Depois me mande o dia da próxima consulta, vai acompanhar o pré-natal dela. – Respirei fundo e consegui sorrir para Craig e beijei seu rosto. – Vamos, vou te deixar no seu trabalho. – E assim, Florence me acompanhou e a deixei na boutique.

Estava me adaptando a ideia de Florence estar gravida e tentando me preparar para o exame com o melhor  pensamento possível, aceitação, essa era palavra que eu tentava encontrar dentro de mim. Cheguei em casa e pude dispensar a Norma, pagando a ela o dia por vir ficar com Matteo, o dia se arrastou, quando Florence chegou ainda calada, pegou uma garrafa de água e subiu para o quarto, tudo que eu conseguia pensar era o quanto estava aliviada pelo silencio, não saberia o que falar, como lidar com o drama dela, sendo que estava vivendo meu próprio drama interno.

Preparei o jantar e dei para Matteo, logo Florence desceu e finalmente começou a falar.

— Estou procurando um lugar aonde eu possa ficar. – Ela disse enquanto cortava sua carne.

— Como assim? – Encarei ela de forma tentar entender o que se passava com ela.

— Compreendo que após o resultado der positivo e esse bebê for do Aidam, não me queira mais aqui. – Ela respirou fundo e sorrio de forma sarcástica, será que ela melhorar, a terapia e todo tratamento não estava surgindo o efeito necessário? – Até porque sei que Aidam vai querer uma família de verdade, uma mulher de verdade e poder acompanhar o nascimento do filho.

— Você tem razão, ele vai querer que seja tudo de verdade. – Suspirei. – Caso ele não queira seu conto de fadas de verdade, estarei aqui para te apoiar, porque se esse filho for dele e ele não te quiser vou ter que segurar você e seu mundo, por ser sua irmã e tia desse anjo.

— Não banque a moral Camille, agora é hora de se conformar e parar de ser a boazinha. Colocar na cabeça que você perdeu. E Aidam finalmente vai arruma o melhor motivo para ficar comigo. – Ela sorrio de forma maldosa, não estava conseguindo acreditar. Florence saiu da mesa sem terminar o jantar, eu estava vendo o quanto Florence consegue apenas pensar em ter o Aidam, ela está gravida e deveria sentir que agora deveria se importar apenas com o filho, mas começo a suspeitar que minha irmã não consegue sentir nada além de ambição.