POV. Linda

Já tô há 10 minutos aqui na biblioteca e nem sinal do Henry Finn. É sério isso? Eu ofereço ajuda e ele fura comigo? Eu nem devia ter me preocupado com ele pra começo de história, devia ter ignorado que ele tava triste e... Ah, lá vem ele!

— Se perdeu tentando encontrar a biblioteca? — Eu pergunto.

— Essa escola é muito grande, eu ainda não me adaptei totalmente... Desculpa o atraso!

Ah, eu tinha feito uma piada, mas ele se perdeu mesmo... Bom, menos mal.

— Sem problema — eu falo e percebo que a minha raiva sumiu quase totalmente. — Bom, vamos começar.

— Eu trouxe a minha prova. Você podia dar uma olhada e me ensinar a partir do que eu errei.

— Boa ideia.

Eu pego a prova dele e percebo que ele está meio constrangido, acho que pela quantidade enorme de erros. Começo pelo assunto da primeira questão errada. O Henry veio bem preparado pra esse estudo! Trouxe o livro, o caderno, um atlas e até outro livro de geografia do irmão mais velho dele. Quando eu estudo com a Ashlyn, sempre sou eu que levo tudo...

Pelo que percebi, os problemas principais do Henry na matéria são o fato de ter sido transferido no meio do ano letivo e os conteúdos estudados na outra escola serem um pouco diferentes e, é claro, o fato do nosso professor de geografia ser péssimo! Apesar de eu entender as explicações dele, ele dá os conteúdos de um jeito muito confuso, fica falando de mil coisas ao mesmo tempo...

— Você explica bem melhor que o professor — O Henry diz. — Agora até tá parecendo que a matéria faz sentido!

Eu rio e respondo:

— Obrigada.

— Já pensou em ser professora?

— Na verdade, não. Eu sempre quis ser escritora... Mas, pensando bem, até que não é má ideia...

— Eu acho que você devia ser.

Talvez ele só tenha dito isso por falar, mas o comentário fica na minha cabeça bom tempo... Eu realmente gosto de ensinar, me sinto muito bem fazendo isso, mais do que quando estudo sozinha. Em casa eu converso com o meu pai sobre o assunto, coincidentemente, ele é professor e fica muito feliz ao saber que tem possibilidade de eu seguir a mesma carreira que ele. Ele diz que já gostou "desse tal de Henry" mesmo sem conhecê-lo e eu não sei muito bem o que responder... Afinal, eu não gosto do Henry.

No almoço de sexta-feira, as meninas se questionam sobre a proximidade da Fran com o jogador Kyle e a Ashlyn diz:

— Ah, é! Eu esqueci de contar pra vocês: a Fran ficou a fim dele desde uma festa em que a gente foi, quando ela esbarrou nele sem querer e ele não reclamou. Ela me fez guardar segredo, mas acho que agora a escola inteira já percebeu, então não tem problema eu falar, né?

— Nossa! — A Sarah exclama. — Mas o Kyle é um idiota...

— Pois é, eu falei pra ela, mas o coração não manda nessas coisas, né?

— Sabem o que isso significa? — A Ray fala. — Que a Fran não trocou a gente só pela popularidade, mas também por homem.

— Sinceramente? Nada mais me surpreende vindo dela... — Diz a Liv, com indiferença (mas eu sei que no fundo ela liga).

— E como tão as coisas com o Henry, Sarah? — A Ashlyn muda de assunto.

— Que coisas? Eu não falei com ele a semana toda. Acho que vou dar uma passadinha naquele abrigo de cães amanhã, porque só assim...

— Eu sei como você poderia falar com ele aqui na escola — eu falo.

— Como?

— É só chamá-lo pra biblioteca, como nenhum dos populares vai lá, ele não ia recusar. Foi assim que ele aceitou as minhas aulas particulares — as cinco olham pra mim, intrigadas. — Que foi?

— Desde quando você dá aulas particulares pro Henry? — A Kimi pergunta.

— Desde terça... Eu não contei pra vocês?

— Não! — Elas respondem juntas.

— Ah, é! Foi pro meu pai que eu contei, acho que me esqueci de falar pra vocês...

— Bom, mas voltando ao assunto — a Sarah diz —, a sua ideia pode ser boa pra aulas particulares, Linda, mas não pra conversas normais. Ele ia achar muito estranho se eu marcasse um encontro na biblioteca do nada... Ah, já sei! Tive uma ideia genial: por que você não fala de mim pra ele?

— O quê? — Eu pergunto, surpresa. Não esperava que ela fosse pedir uma coisa dessas...

— É, você pode achar um tempinho antes ou depois das suas aulinhas pra dizer pra ele como eu sou uma amiga legal e tal...

— Você quer me usar de cupido?

— Claro que não! Eu sei que ele tem namorada e não pretendo roubá-lo de ninguém, só queria que você me ajudasse a... me aproximar dele. O que você acha?

— Eu não sei, não...

— Por favooooor?!?!?!

Enquanto isso, as outras meninas só observam e comem.

— É que assim, Sarah, diferente do que você deve tá pensando, eu não fico batendo papo com o Henry nem antes nem depois das nossas aulas, eu só dou as aulas e pronto. Seria muito estranho se, do nada, eu começasse a falar de você, sei lá...

— Tá, tudo bem. Eu entendo.

— Mesmo?

— Humhum. Acho que eu tô um pouco... desesperada demais! Nem devia ter te pedido isso, eu sei como é estudar com você, você é muito concentrada!

— Desculpa não poder ajudar!

Acho que a Sarah entendeu mesmo e ela não parece estar com raiva nem nada. As outras meninas não ligaram muito pra esse pequeno diálogo entre nós duas e logo começaram a falar de outras coisas. A não ser a Kimi. Não sei se foi impressão minha, mas ela pareceu me olhar de um jeito meio desconfiado enquanto eu falava com a Sarah... No que estaria pensando? Bom, agora não faz mais sentido perguntar, já que o assunto acabou...

~~

POV. Henry

A Linda foi muito gentil em me oferecer aulas particulares, mas eu confesso que tô um pouco apreensivo. Ela geralmente olha pra mim como se eu fosse um burro e certamente agora não vai ser diferente, a não ser pelo fato de que eu também vou me achar burro, afinal, olha a nota que eu tirei! Eu nem consigo imaginar como deve ser uma aula dela, mas essa menina não tem cara de ser muito paciente... Pra piorar ainda mais a situação, eu chego atrasado. E acho que ela ficou brava. Eu me desculpo, tiro os materiais que eu trouxe da mochila e começamos a aula.

Ao contrário do que eu pensei, a Linda não é nem um pouco impaciente e em nenhum momento tá me tratando como se eu fosse burro. Além de explicar muito bem! Ela não tá parecendo aquela menina antipática da aula de geografia... Acho que tá mais pra menina legal que lê pra órfãos. Desde que a Sarah me contou isso, eu nunca consegui imaginar a Linda fazendo uma coisa dessas, mas acho que agora eu consigo.

Em determinado momento, eu digo que ela explica bem melhor que o professor e pergunto se ela já pensou em ser professora. Ela responde que não, mas fica pensativa. A expressão dela é muito interessante: ela fica olhando meio pro lado, meio pra cima, provavelmente se imaginando na profissão, parece bem sonhadora e quase dá um sorriso... e os olhos azuis dela brilham. Sempre achei que ela tivesse os olhos bonitos, mas nunca percebi que eram tanto! Depois um tempinho ela se recompõe e voltamos ao estudo.

Antes que eu perceba, a aula termina. Não conseguimos estudar tudo, é claro, mas vamos continuar nas próximas vezes. Acho que as minhas notas vão ser bem melhores de agora em diante!

Como foi possível perceber, não aconteceu nada do que a Claire disse que ia acontecer. Eu conto pra ela no dia seguinte e ela fica bem aliviada.

— E pode ficar tranquila porque a Linda não gosta de mim. Nem desse jeito, nem como amigo. Ela foi bem legal na aula de ontem, mas hoje nem tá olhando na minha cara.

— Hum... E vc se incomoda com isso? — Ela diz, com um sorriso malicioso, mais afirmando do que perguntando.

— Não...

— Henry, eu preciso que você entenda uma coisa: eu não fiquei com ciúme quando você me contou das aulas, só fiquei com medo que acontecesse alguma coisa, alguém visse, fofocasse e eu ficasse com fama de chifruda na escola, já que supostamente a gente namora. Isso iria acabar totalmente com a minha popularidade!

Ah, isso faz bem mais sentido do que ela ter ciúme do namorado falso!

— Nossa! E eu ia ficar com fama de mulherengo.

— Não, você ia ficar com fama de pegador, o que é ótimo pra um garoto. A vida é muito injusta! Mas enfim, eu sou sua amiga e você pode me contar se tiver a fim da Linda, eu não vou ligar. Só espere a gente terminar antes de fazer qualquer coisa!

— Eu não tô a fim dela. Aliás, quando é que a gente vai terminar, hein?

— Quando eu encontrar alguém pra ser meu namorado de verdade, é óbvio. Mas até lá, continuamos com os nossos encontros. Falando nisso, não esquece de caprichar na atuação no cinema de sexta, hein? A Fran e o Kyle não podem achar que a gente não tem química!

Eu começo a rir e ela pergunta o motivo, dizendo que o assunto é muito sério.

A Claire não precisava ter se preocupado com isso porque, agora que a gente tá aqui no cinema, dá pra ver que mais química que a Fran e o Kyle a gente com certeza tem! Tá na cara que ele não gosta dela, só aceitou esse encontro porque ela é gata e anda com a Crystal. Pior que, do jeito que ele é, provavelmente vai ficar iludindo a coitada ao invés de dar logo um fora...