Longo Caminho Para Casa escrita por ShelbyMinerva
Notas iniciais do capítulo
Alguém?
— Shelby, acorde - escutei.
— Ah, só mais cinco minutinhos - pedi, me enrolando ainda mais nos cobertores.
— Coragem, levanta, você consegue.
— Não consigo.
— Vamos, levanta!
— Não...
— Em nome de Jesus levanta!
Abri meus olhos lentamente.
— Bom dia - murmurei.
— Corre tomar banho - disse Beck.
Obedeci em partes. Fui para o banho, mas sem correr.
No meio do banho, os curativos de minha barriga se soltaram. E eu pude enfim ver o estrago que haviam feito comigo.
Havia hematomas por todo meu corpo. Minha barriga estava completamente encaroçada. E doía. Eu não havia dito a Beck, mas nunca havia parado de doer.
Terminei o banho, me vesti e penteei meus cabelos loiros. Em minha bochecha, havia um hematoma quase maior que os que haviam em meus braços e pernas, um de meus olhos estava roxo e meu lábio estava cortado. Era por isso que eu queria evitar o espelho pelo máximo de tempo que pudesse.
Sai do banheiro, desanimada.
— Aquela senhora tem razão - digo - eu estou muito feia.
— Eu não acho - disse Beck - eu acho que o que você tem no rosto são sinais de coragem. Você tomou o remédio já?
— Qual deles? Quer que eu decore aqueles nomes? Você foi na farmácia e comprou quatro tipos de remédios para eu tomar por dez dias, mais um para febre e outros dois se eu tiver dor e ainda quer que eu saiba qual é e em que horário?
— Está com dor? Olha, a estrada é longa.
— Nunca para de doer.
— O que?
— O meu coração.
Isso era a mais pura verdade.
Então partimos. Eu fui sentada no banco de trás, onde poderia deitar caso me sentisse enjoada.
Mas depois de quatro horas de viajem, eu estava entediada.
— Só mais cinco horas de viagem - prometeu Beck.
— Cinco horas?!
— Se não pegarmos trânsito. Ah, o sol, como eu amo o sol. Que cara é essa? Shelby, qualquer coisa me avise. Eu sei que a febre pode voltar a qualquer momento. Tem um cobertor aí.
Peguei o cobertor e me cobri.
Depois de mais uma hora de viagem, paramos para comer.
— Não estou com fome - murmurei.
— Você precisa comer - disse Beck - e depois tomar seus remédios.
Até hoje não sei se é impressão minha ou aquela sopa estava levemente verde.
Depois, fui obrigada a engolir os comprimidos. E ainda tomei remédio para dormir.
Dormi boa parte da viagem. Quando acordei, perguntei:
— Já estamos chegando?
— Não - disse Beck.
— E agora?
— Não.
Uns cinco minutos depois...
— E agora?
— Não! Não estamos chegando! Ainda temos duas horas de viagem porquê pegamos transito mas você não viu pois estava dormindo.
— Desculpa.
— O que?
— Eu ser tão irritante.
— Não é irritante.
O resto da viagem demorou para passar, mas enfim, chegamos a Mercy Falls.
— É aqui, Shelby - disse ele, ao estacionar em frente a uma bela casa - chegamos em casa!
Ele me ajudou a sair do carro e então entramos.
Parei na porta.
— Eu tenho medo de não gostarem de mim - murmurei.
— Não precisa ter medo - Beck me estendeu a mão - vamos?
Segurei na mão dele e entramos.
Ao chegarmos na sala, eu os vi pela primeira vez: Paul, Ulrik e Sam.
— Shelby, esses são Sam, Paul e Ulrik - disse Beck - pessoal, essa é a Shelby. Ela agora é uma de nós.
— Oi, Shelby - disse Paul.
— Oi - murmurei.
As lembranças vieram sem serem convidadas.
As surras, os estupros... Por um momento, pensei que fosse desmaiar.
— Shelby - ao escutar meu nome, voltei a realidade.
— Me desculpem - pedi.
— Não tem problema - disse Beck - pessoal, eu peço que vocês deem tempo a ela, e atenção também. Explicarei tudo mais tarde. Eu acho que de todos nós, ela é quem está mais quebrada. Sam, sabe aquele quarto perto do seu que está desocupado? É óbvio que sabe. Então, leve Shelby para lá. Ah, as coisas do armário agora são dela!
— Claro - disse o garoto, que devia se chamar Sam - vem, Shelby.
Ele se levantou e foi. O segui, mancando um pouco.
— Bem vinda a Mercy Falls - disse ele - sabe, eu vejo que você não é daqui, por causa do seu sotaque. De onde você veio?
— De uma ilha no Sul - respondi.
— Era legal lá?
— Não.
— Por que?
— Não quero falar sobre isso.
— Ah, eu entendo. E o seu rosto? O que ouve?
— O que você acha que ouve, seu idiota?
— Ta, desculpa. Nervosinha...
Chegamos no meu quarto.
Lá havia uma cama, uma escrivaninha, um espelho, o armário e uma janela. Minha cama ficava ao lado da janela.
— As suas roupas estão no armário - explicou ele - assim como lençóis e toalhas. Sabe, essas roupas que você provavelmente vai usar eram da esposa de Beck. Os lençóis e toalhas também. Beck guardou tudo aqui. Tem esse computador velho também. Sabe usar?
— Mais ou menos. Sei o básico, pois vi minhas irmãs postiças fazendo e ajudei uma vez minha irmã postiça mais nova a fazer um trabalho.
— Então senta aí que eu te explico.
Sam me explicou como funcionava o computador e eu aprendi rapidamente. Nunca demorei para aprender coisas novas.
— O banheiro é no final do corredor - explicou ele - é a última porta a esquerda. O meu quarto é a quinta porta a direita. O de Beck é na frente do meu. O de Paul e Ulrik são as terceiras portas, um de frente para o outro. Debaixo da escada tem o porão. Não vá lá, é assustador. Descendo a escada a direita tem a cozinha, a sala você já viu onde é. E tem também o escritório de Beck. Mas ele só abre para quem ele quer. Então nunca entre sem permissão. Todo o inverno você vai morar lá fora porquê será um lobo.
— E um dia não voltarei mais a essa casa. Serei lobo para sempre. Sabe, eu acho que terei um longo caminho até chegar em casa.
— Você está em casa agora, Shelby.
E então eu ouvi Beck gritando o que eu mais detestava ouvir:
— SHELBY! HORA DO SEU REMÉDIO!
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Espero que gostem! Deixem suas opiniões, por favor!!