Longo Caminho Para Casa escrita por ShelbyMinerva


Capítulo 4
Mercy Falls


Notas iniciais do capítulo

Alguém?



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— Shelby, acorde - escutei.

— Ah, só mais cinco minutinhos - pedi, me enrolando ainda mais nos cobertores.

— Coragem, levanta, você consegue.

— Não consigo.

— Vamos, levanta!

— Não...

— Em nome de Jesus levanta!

Abri meus olhos lentamente.

— Bom dia - murmurei.

— Corre tomar banho - disse Beck.

Obedeci em partes. Fui para o banho, mas sem correr.

No meio do banho, os curativos de minha barriga se soltaram. E eu pude enfim ver o estrago que haviam feito comigo.

Havia hematomas por todo meu corpo. Minha barriga estava completamente encaroçada. E doía. Eu não havia dito a Beck, mas nunca havia parado de doer.

Terminei o banho, me vesti e penteei meus cabelos loiros. Em minha bochecha, havia um hematoma quase maior que os que haviam em meus braços e pernas, um de meus olhos estava roxo e meu lábio estava cortado. Era por isso que eu queria evitar o espelho pelo máximo de tempo que pudesse.

Sai do banheiro, desanimada.

— Aquela senhora tem razão - digo - eu estou muito feia.

— Eu não acho - disse Beck - eu acho que o que você tem no rosto são sinais de coragem. Você tomou o remédio já?

— Qual deles? Quer que eu decore aqueles nomes? Você foi na farmácia e comprou quatro tipos de remédios para eu tomar por dez dias, mais um para febre e outros dois se eu tiver dor e ainda quer que eu saiba qual é e em que horário?

— Está com dor? Olha, a estrada é longa. 

— Nunca para de doer.

— O que?

— O meu coração.

Isso era a mais pura verdade.

Então partimos. Eu fui sentada no banco de trás, onde poderia deitar caso me sentisse enjoada.

Mas depois de quatro horas de viajem, eu estava entediada.

— Só mais cinco horas de viagem - prometeu Beck.

— Cinco horas?!

— Se não pegarmos trânsito. Ah, o sol, como eu amo o sol. Que cara é essa? Shelby, qualquer coisa me avise. Eu sei que a febre pode voltar a qualquer momento. Tem um cobertor aí.

Peguei o cobertor e me cobri.

Depois de mais uma hora de viagem, paramos para comer.

— Não estou com fome - murmurei.

— Você precisa comer - disse Beck - e depois tomar seus remédios.

Até hoje não sei se é impressão minha ou aquela sopa estava levemente verde.

Depois, fui obrigada a engolir os comprimidos. E ainda tomei remédio para dormir.

Dormi boa parte da viagem. Quando acordei, perguntei:

— Já estamos chegando?

— Não - disse Beck.

— E agora?

— Não.

Uns cinco minutos depois...

— E agora?

— Não! Não estamos chegando! Ainda temos duas horas de viagem porquê pegamos transito mas você não viu pois estava dormindo.

— Desculpa.

— O que?

— Eu ser tão irritante.

— Não é irritante. 

O resto da viagem demorou para passar, mas enfim, chegamos a Mercy Falls.

— É aqui, Shelby - disse ele, ao estacionar em frente a uma bela casa - chegamos em casa!

Ele me ajudou a sair do carro e então entramos.

Parei na porta.

— Eu tenho medo de não gostarem de mim - murmurei.

— Não precisa ter medo - Beck me estendeu a mão - vamos?

Segurei na mão dele e entramos.

Ao chegarmos na sala, eu os vi pela primeira vez: Paul, Ulrik e Sam.

— Shelby, esses são Sam, Paul e Ulrik - disse Beck - pessoal, essa é a Shelby. Ela agora é uma de nós.

— Oi, Shelby - disse Paul.

— Oi - murmurei.

As lembranças vieram sem serem convidadas.

As surras, os estupros... Por um momento, pensei que fosse desmaiar.

— Shelby - ao escutar meu nome, voltei a realidade.

— Me desculpem - pedi.

— Não tem problema - disse Beck - pessoal, eu peço que vocês deem tempo a ela, e atenção também. Explicarei tudo mais tarde. Eu acho que de todos nós, ela é quem está mais quebrada. Sam, sabe aquele quarto perto  do seu que está desocupado? É óbvio que sabe. Então, leve Shelby para lá. Ah, as coisas do armário agora são dela!

— Claro - disse o garoto, que devia se chamar Sam - vem, Shelby.

Ele se levantou e foi. O segui, mancando um pouco.

— Bem vinda a Mercy Falls - disse ele - sabe, eu vejo que você não é daqui, por causa do seu sotaque. De onde você veio?

— De uma ilha no Sul - respondi.

— Era legal lá?

— Não.

— Por que?

— Não quero falar sobre isso.

— Ah, eu entendo. E o seu rosto? O que ouve?

— O que você acha que ouve, seu idiota? 

— Ta, desculpa. Nervosinha...

Chegamos no meu quarto.

Lá havia uma cama, uma escrivaninha, um espelho, o armário e uma janela. Minha cama ficava ao lado da janela.

— As suas roupas estão no armário - explicou ele - assim como lençóis e toalhas. Sabe, essas roupas que você provavelmente vai usar eram da esposa de Beck. Os lençóis e toalhas também. Beck guardou tudo aqui. Tem esse computador velho também. Sabe usar?

— Mais ou menos. Sei o básico, pois vi minhas irmãs postiças fazendo e ajudei uma vez minha irmã postiça mais nova a fazer um trabalho.

— Então senta aí que eu te explico.

Sam me explicou como funcionava o computador e eu aprendi rapidamente. Nunca demorei para aprender coisas novas.

— O banheiro é no final do corredor - explicou ele -  é a última porta a esquerda. O meu quarto é a quinta porta a direita. O de Beck é na frente do meu. O de Paul e Ulrik são as terceiras portas, um de frente para o outro. Debaixo da escada tem o porão. Não vá lá, é assustador. Descendo a escada a direita tem a cozinha, a sala você já viu onde é. E tem também o escritório de Beck. Mas ele só abre para quem ele quer. Então nunca entre sem permissão. Todo o inverno você vai morar lá fora porquê será um lobo. 

— E um dia não voltarei mais a essa casa. Serei lobo para sempre. Sabe, eu acho que terei um longo caminho até chegar em casa.

— Você está em casa agora, Shelby.

E então eu ouvi Beck gritando o que eu mais detestava ouvir:

— SHELBY! HORA DO SEU REMÉDIO!

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem! Deixem suas opiniões, por favor!!



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