Longo Caminho Para Casa escrita por ShelbyMinerva


Capítulo 3
Cuidados de Beck


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo...



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Não consegui dormir naquela noite. Os ferimentos doíam muito.

— Qualquer coisa me chame - pediu Beck.

Ele dormia do lado oposto do quarto. E eu nunca havia dormido sem Gabbie. E não conseguia me encolher num canto da cama.

No meio da madrugada, eu ainda não havia dormindo. Estava com medo. E então, começou a ventar e eu fiquei com calafrios.

— Beck - chamei.

Ele se levantou rapidamente, como se estivesse esperando esse chamado desde que se deitou. Beck segurou minha mão e se sentou em uma cadeira ao lado da minha cama.

— Está se sentindo bem? - perguntou ele.

— Não - respondi.

— O que está sentindo?

— Dor. Muita dor. E frio.

— Com licença. 

Ele retirou minhas cobertas e ergueu a camiseta que eu vestia, deixando minha barriga a mostra.

— Os ferimentos estão piorando - disse ele - e eu não posso te levar ao médico. Vamos nos meter num problema enorme. Vou ir até uma farmácia aqui perto, que eu acho que fica aberta a noite. Mas, eu terei que deixar a senhorita aqui sozinha um tempo. Acha que pode ficar?

— Tenho medo. Muito medo. Não me deixe sozinha.

— Shelby, minha linda, você está ardendo em febre. Eu tenho um remédio para dormir aqui. Você vai tomar e dormir. Então eu irei até a farmácia, comprarei remédios e curativos para você. Pode ser?

— Pode. Beck?

— Eu.

— Obrigada. Por tudo. 

— De nada, minha linda. Um dia você vai me contar o que faziam com você?

— Mas achei que você soubesse...

— Eu só sei que você era obrigada a trabalhar e sua mãe te espancava. Tem mais?

— Tem. 

— Outra hora você conta?

— Conto.

Tomei o remédio, mas mesmo assim não consegui dormir até o dia amanhecer.

Dormi depois que Beck saiu e acordei bem na hora em que ele volto.

— Voltei - declarou ele, sentando ao meu lado e colocando a mão na minha testa - Shelby, você está queimando em febre.

Não respondi. 

Ele removeu mais uma vez os cobertores e pediu:

— Com todo respeito, posso tirar sua camiseta?

Respondi que sim com um resmungo.

Ele tirou a camiseta que eu usava (e eu nem me lembro de como acabei de calça e camiseta) e começou a tratar dos ferimentos.

Apertei o braço dele, pois doía muito.

— Tranquila, tranquila - pediu ele - já está acabando.

Pode ter demorado só meia hora, mas para mim foi uma eternidade.

Tomei os remédios e dormi.

Alguns dias depois já estava melhor. Já conseguia sentar encostada nos travesseiros, quase conseguia comer sozinha e também já estava quase conseguindo levantar da cama.

Chovia forte quando decidi contar sobre Otávio.

Beck estava escovando meus cabelos quando eu decidi falar. Na mesma hora, ele largou a escova e segurou minhas mãos.

— Eu confesso que não sei ao certo o que era - confessei - mas doía bastante.

Contei a ele sobre o estupro, sobre como eu era forçada a me deitar com Otávio várias vezes, mas contei em minha inocência, sem saber o era.

Mas quando fiquei sabendo que era aquilo, tive nojo de mim mesma. Chorei, chorei como nunca havia chorado antes. Diferente de todas as pessoas que conheci, Beck deixou que eu chorasse em seus braços.

— Já passou - sussurrou ele - você está protegida agora. Ele nunca mais vai te fazer mal.

Três dias depois me levantei da cama pela primeira vez em dias e tomei um banho. Beck havia tido a bondade de comprar para mim uma blusa rosa e uma calça preta. 

— Em Mercy Falls - explicou ele - você terá roupas novas. E também pode usar as da minha falecida esposa, mas eu duvido que irão te servir. Você é muito pequena.

Ele decidiu que naquele dia íamos tomar café da manhã no refeitório e que no dia seguinte iriamos para Mercy Falls.

— Quem é a garota, Beck? - perguntou uma senhora, quando chegamos ao refeitório.

— Essa é minha amiga dona Laura - cochichou ele em meu ouvido. Depois falou para a mulher: - Essa é Shelby, minha filha.

— Sua o que? 

— Isso mesmo que você ouviu. Minha filha.

— Mas eu... Ah, adoção! Mas um menino não lhe seria mais útil?

— Não. Eu tenho Sam.

— Dois filhos adotados, quem merece. Mas por que quis uma filha?

— Pois eu acho que aquela casa precisava de mais alegria e Sam precisava de uma companhia se sua idade, ou dois anos mais nova, e minha esposa sempre quis uma menina. Já que ela não está mais entre nós, decidi que adotar uma menina seria a melhor decisão. 

— Bom argumento. Mas por que essa menina? 

— Pois ela é especial.

 

— Percebe-se. Mas nunca fará um bom casamento. É feia e sem graça. 

— Mas nunca foi minha intenção obter vantagem através do casamento. E eu também sempre tive vontade de ter uma filha. 

— Ta, mas poderia ter escolhido melhor. Sabe como ela ficou órfã?

— Sei.

— Então me diga: o pai era um vagabundo que largou a mãe dela, que não a quis?

— NÃO DIGA ISSO DO MEU PAI! - gritei - FALAR MAU DE MIM ATÉ TUDO BEM, MAS DO MEU PAI NÃO!

— Ainda por cima é grossa! Beck, sinto lhe informar. Essa menina foi a pior escolha que fez em sua vida. 

— A senhora nem me conhece - revidei - não sabe de nada sobre a minha vida.

— E você também não deve saber.

— Eu sei mais do que a senhora.

— Sabe o que? Que sua mãe era uma prostituta e seu pai um vagabundo? Sabe que jamais terá uma família de verdade? Já se olhou no espelho, garota? Olhe só para você! É de se estranhar que Beck te queira! Eu se fosse ele, já a teria mandado para o lugar de onde veio, criança imunda!

A essa altura, eu já estava chorando. 

— A senhora dobre a língua antes de ofender minha filha - disse Beck - ela tem razão. A senhora não a conhece. A mãe dela não era uma prostituta e o pai não era um vagabundo. O pai dela deve ter sido um grande homem, pois tudo o que ela sabe aprendeu com o pai. Morreu quando ela era pequena. A mãe dela a maltratava. E Shelby é a criança mais perfeita que eu já vi nesse mundo. Com licença! Vamos, Shelby.

Ele pediu para uma garçonete levar o café da manhã no quarto e subimos.

— Shelby, calma - pediu ele, me abraçando - não de ouvidos aquela fofoqueira. Olha pra mim. Eu quero que saiba de uma coisa: se eu pudesse escolher uma entre todas as garotas do mundo, eu escolheria você.

— Mas era mesmo sua intenção ter uma filha?

— Cá entre nós, era a minha ambição secreta.

E assim, com os cuidados de Beck, eu fui melhorando a cada dia. Porém, meu espirito continuava ferido.

 


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