Longo Caminho Para Casa escrita por ShelbyMinerva


Capítulo 2
Os Lobos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo!



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Levantei cedo naquele dia. Estava nevando.

Eu adorava a neve. Me sentia livre quando estava lá. Como se, ninguém fosse me achar se eu me vestisse de branco, deitasse na neve e ficasse lá, quietinha. Mas sempre havia uma parte de meu corpo que não se misturava com a neve. Os hematomas sempre estavam lá.

Naquele dia, vesti meu vestido de inverno azul e minhas botas velhas. Fiz uma trança em meus cabelos loiros e sai do quarto.

— Bom dia Shelby - disse Alma, quando eu sai do quarto.

— Bom dia, Alma - eu disse.

— Lembra daquela noite em que brincamos?

— Lembro. Foi semana passada.

— Hoje podemos brincar de novo? Podemos?

— Claro.

— Então vá buscar sua boneca enquanto eu peço para a mamãe se podemos ir lá fora.

— Te espero lá.

Peguei minha boneca e corri para fora.

Brincamos boa parte da manhã. Depois fiz as tarefas de casa.

Porém, no final do inverno, enquanto lavava a louça da janta, quebrei um prato. 

— SHELBY! - gritou Luisa.

— Me desculpe - pedi.

Ela me acertou com a colher. E então eu agarrei Gabbie e declarei:

— Vou dar uma volta.

Sai de casa e bati a porta. Já sabia que iria apanhar depois, mas não me importava mais. Esses anos de dor me fizeram a aprender a não ter medo. E eu sabia de uma coisa, que ninguém nunca ia precisar me dizer: eu era uma sobrevivente.

Fui para a floresta. E então ouvi uivos. Parei. O medo tomou conta de mim. Lobos na região não era apenas uma lenda contada por Nina, a senhora que mora perto da minha casa?

— Tem alguém aí? - perguntei.

E então eles me atacaram. Eram quatro ou cinco. Um me derrubou no chão. O outro me atacou primeiro, seguido pelos outros.

Eu gritei por socorro. Mas ninguém veio. Eu gritei de dor. Gritei de medo. Chamei meu pai. Chamei até mesmo Luisa.

— PAPAI! - eu gritava e me debatia.

Eu só queria morrer. Doía muito mais do que as surras da Luisa, doía muito mais do que o estupro. Só não doía mais do que a morte de meu pai. 

Então alguém apareceu. Era um homem alto que já devia ter mais de quarenta anos. Ele falou como se conhecesse os lobos:

— Lauro! Gabriel! Lia! Deixem essa garota em paz!

E os lobos o obedeceram. 

Ele se abaixou ao meu lado e tocou meu pescoço.

— Não me machuque - pedi, com um fiapo de voz.

— Tudo bem, pequena, fique calma, eu estou aqui. Onde estão seus pais?

— Papai... Morto... Mamãe... Não... 

— Sua mãe morreu?

— Não... Bater...

— Ela te bate?

— Sim... Salve... Me... 

— Você mora na casa aqui perto?

— Sim...

Então, com muito cuidado, ele me pegou no colo.

— Gabbie - murmurei.

Ele não escutou e seguiu em frente, deixando minha companheira na neve.

Ao chegarmos em minha casa, eu estava quase inconsciente, mas ouvi Luisa e o homem bonzinho conversarem:

— ... Ela mereceu - era a voz de Luisa.

— A senhora maltrata sua filha? - perguntou ele.

— Ela merece.

— Nenhuma criança merece. Não, não posso deixar ela aqui.

— Pois a leve. Eu nunca a quis e não é agora que vou querer ela.

Ele começou a se afastar da casa. Ouvi os gritos de Alma:

— SHELBY! SHELBY!

Mas eu nunca mais vi aquela casa.

Ele me levou para o carro dele e me colocou deitada no banco de trás.

— Segure isso na sua barriga - pediu ele, colocando um pano na minha barriga - para estancar o sangramento. Vamos para um local mais quente, onde eu irei cuidar de você.

Ele foi para o banco do motorista e ligou o carro e o ar quente. Por um momento eu esqueci da dor. Mas então doeu novamente.

— Doí... - murmurei.

— Eu sei que doí - disse ele, enquanto dirigia - eu passei pela mesma coisa. Assim que você ficar bem, eu lhe contarei tudo, garota. 

— Sangue...

— Está escorrendo mais sangue?

— Corpo todo...

— Sim, eu sei que há ferimentos no seu corpo todo, mas o pior é aí. Sabe, menina, eu tenho observado você a dias. Na verdade, desde que cheguei aqui para visitar um amigo. Eu vi o que sua mãe e seu...

— Padrasto.

— Faziam com você. Mas afinal, já me cansei de te chamar de garota. Mas me diga, você tem nome?

— Tenho.

— Eu também. Me chamo Beck. Pronto, agora você sabe meu nome. Mas eu não sei o seu. Como é?

— Shelby. 

— Que nome bonito. Pronto, agora já nos conhecemos. 

A neve ficou para trás.

— Iremos parar em um hotel-fazenda - explicou ele - e depois iremos para Mercy Falls. 

Eu já não tinha mais forças para responder. E o mundo começou a girar e depois disso, não vi mais nada.

Quando acordei, estava deitada em uma macia, coberta por vários cobertores. Não doía mais tanto. Beck estava colocando um pano frio em minha testa.

— Oi - disse ele.

— Oi - murmurei - onde estamos?

— Fique tranquila. Estamos no hotel fazenda. Shelby, eu preciso que você seja muito forte. O que eu vou te contar pode ser difícil de acreditar, mas é real.

Então ele me contou sobre os lobos. Da matilha, de como nos transformamos todo o inverno, de como vivem. E contou que fora a cidade que eu morava para checar como andavam os bandos de lá, já que tinha voltado a forma humana mais cedo. E por isso me encontrou.

E eu pensei que graças aos lobos, poderia deixar meu passado para trás.


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Notas finais do capítulo

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Se a história estiver muito triste, avisem para que eu possa deixar ela mais alegre!



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