Longo Caminho Para Casa escrita por ShelbyMinerva


Capítulo 1
Minha Infância


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Quando ela me bateu, doeu.

Quando ela me xingou, também doeu.

Mas quando você morreu, meu pai, doeu mais ainda. Doeu como nunca havia doído.

Eu vivia com meus pais, Luisa e Jack. Mas a minha mãe nunca gostou de mim. Desde muito pequena, ela me fazia trabalhar: lavar a roupa, limpar a casa, cuidar do jardim, fazer a comida, cuidar da filha do vizinho, resumindo, fazer tudo. Menos brincar.

E se eu fizesse algo errado, ela me batia. Me batia muito.

Meu pai me defendia. Sempre. Foi graças a ele que tive uma boneca.

Mas quando eu tinha cinco anos ele morreu. Ninguém sabe o motivo. Apenas um dia eu fui procurar ele de manhã e o encontrei. Morto.

Ela não esperou muito e se casou novamente com um homem chamado Otávio. E ele tinha três filhas, as gêmeas de oito anos, Anna e Anne. E uma menina de três anos, Alma.

Eu pensei que elas seriam minhas amigas. Mas pelo contrário. Alma era pequena demais para entender e as gêmeas me tratavam como lixo.

Um dia, quando eu tinha seis anos encontrei um livro. O nome do livro era Cinderela e eu decorei a história de tantas vezes que li, pois meu pai havia me ensinado a ler antes de morrer.

Uma vez, eu estava no jardim, cuidando das roseiras, quando Anna chegou e me empurrou.

— Você estragou as rosas - acusou ela.

— Mas foi você que me empurrou! - revidei.

— Olha bem como fala, sua pirralha insuportável.

— Não me chama assim! 

— Eu te chamo como eu quiser. Não gostou? Então corre contar para o seu papai. Ah, me esqueci, você não tem pai. Seu pai morreu...

Juntei toda minha força e a empurrei na lama. Então sai correndo;

A noite, eu estava dormindo, agarrada a minha boneca - que eu chamava de Gabbie - quando senti que alguém me puxava para fora da cama e me jogava no chão.

— Mamãe? - murmurei.

— Cala-da, Shelby - ela ordenou - você empurrou Anna na lama. E agora vai pagar.

Então ela me bateu. Me bateu muito. Muito mesmo.

E a partir dai as coisas só pioraram.

Eu tinha o triplo de serviço. E também tinha que cuidar de Alma. 

A cada dia, eu ficava mais acabada. 

E assim eu cresci, cuidando da casa, enfrentando as surras da minha mãe, as humilhações, as ameaças. E eu comecei a dormir encolhida num canto da cama, enrolada nos cobertores.

Eu já tinha catorze anos quando Anna e Anne me arrastaram para o sotão e trancaram a porta.

— Luisa nos deu carta branca para fazermos o que desejarmos com você - disse Anna - por isso, eu ordeno que você pegue aquele rato.

Peguei o rato, assustado.

— Mate ele - ordenou Anne.

— Não! - me recusei.

— Então beija ele.

Beijei. 

— Agora fica aí, quietinha, menina dos ratos - disse Anna - logo papai virá te ver.

E então elas saíram. 

Quando Otávio chegou, eu já sabia o que ele ia fazer.

Não vou descrever como tudo aconteceu. Foi nojento e dolorido. Em outras palavras, ela passou a abusar de mim sexualmente. E na época, eu nem sabia o que era isso.

Comecei a passar muito tempo calada. Não queria mais falar com ninguém.

E essa foi a minha infância. Abusiva, triste, sem amor e sem atenção.

Mas uma noite, eu estava em meu quarto, agora com quinze anos, sentada na cama, arrumando minha boneca como se ela fosse um bebê. E então, Alma entrou em meu quarto.

— Shelby - perguntou ela - você está bem.

Balancei a cabeça negando.

— Posso fazer algo? - perguntou ela, sentando ao meu lado. Então eu vi que ela tinha sua boneca nas mãos. Enquanto a dela era perfeita, nova, vestida com um belo vestido, a minha era de pano, vestida com trapos.

— Não - murmurei.

— Podemos brincar.

— Brincar?

— Sim. Sabe, as minhas irmãs dizem que já são adultas e não podem ficar brincando de bonecas. Quer brincar?

— Quero. 

— Como é o nome da sua boneca?

— Gabbie. 

— A minha se chama Valéria. 

Então brincamos. Foi o dia que eu mais me diverti em toda a minha vida.

Mal eu sabia o que me aguardava nos próximos dias...

Naquela noite sonhei com lobos. E senti que minha vida ia mudar.


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Notas finais do capítulo

Deixem seus comentários, por favor, quero saber o que ficou bom e o que preciso melhorar. Eu prometo que os próximos capítulos serão mas felizes.
Beijos e até o próximo!



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