Ele e Eu escrita por Thay Chan


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, pessoal. E aí, como vcs estão? Então voltei rapidinho né? Espero q gostem das novidades! Enfim, aproveitem e n tenha um infarte, povo meu ;-;



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Sr. K

O som da ovação da torcida podia ser ouvida de fora da casa. A TV estava ligada no máximo. Era um horário em que todas as famílias vizinhas provavelmente estavam jantando, mas os homens sentados na poltrona macia não se importavam com isso. Eles queriam aproveitar tanto quanto possível. O maior tinha acalmado o menor dizendo que todos os amantes de beisebol assistiriam aquele jogaço. O que certamente era verdade.

Quando o jogo finalmente começou, o barulho se intensificou. Só se ouvia o interlocutor hábil narrando a partida de dentro de cada residência daquele bairro. É claro que isso só animou ainda mais os dois homens apaixonados pelo esporte. O maior, Billy ou Bill, o que você preferir, gritava a todos os pulmões quando o seu time acertava um passe. Seu boné azul e branco toda hora era mudado de posição conforme a empolgação do dono.

Já o menor, Kisashi Haruno, ou Sr. K para os íntimos, estava menos eufórico, mas não menos animado. Entre goladas demoradas de sua cerveja extremamente gelada, ele grunhia ou suspirava de alívio conforme o desenrolar do jogo. Era uma partida épica! Há tempos não via uma equipe jogar assim. Bill não estava brincando. E ele estava mesmo órfão de time desde que saiu de Rockford. Então por que não?

Enquanto assistia ao jogo, de vez em quando sentia vontade de olhar para Bill e observar suas reações. Era interessante por que ele era o típico homem rústico do interior do sul, do tipo que corta lenha, constrói a própria casa e caça animais na floresta. Bill era grande como um leitão, tinha braços tão grossos quanto troncos, barba cheia e extensa e usava roupas velhas de gente de fazenda que trabalha duro. Quem não o conhecia, deveria pensar que nos fins de semana Bill tinha como diversão puxar briga em bares de beira de estrada.

Mas Bill não era assim. Bill era tão dócil quanto um filhote. Gostava de jogar xadrez na praça com os amigos. Tinha uma criação de codornas americanas no quintal, as quais vendia os ovos à vizinhança. Amava tanto a esposa, Mandy, e os dois filhos, Ted e Blue, que qualquer um podia ver que ele era capaz de qualquer coisa por eles.

O Sr. K conheceu Mandy naquela noite, quando chegou a casa de Bill carregado de monte de guloseimas para acompanhar as bebidas. O primeiro pensamento do Sr. K foi que ela era mesmo baixinha, como seu amigo tinha dito. O segundo foi que ela tinha mesmo uma presença intimidadora. Apesar da baixa estatura, Mandy tinha braços definidos, os quais só de olhar dava para perceber que eram exercitados diariamente. Ela estava usando um colete de couro preto sobre uma uma blusa de mangas branca, lotado de broches de bandas de rock. A bandana azul na cabeça, cobria os cabelos loiros que iam até um pouco abaixo dos ombros. Mandy deveria ter uns 40 anos, mas apesar das rugas envolta dos olhos ela ainda parecia enérgica, como uma treinadora de cães.

Mas as crianças não estavam em casa, eles iriam passar a noite na casa de um amigo. Noite dos caras, Bill dissera. E de fato fora. O Sr. K não pensou que seria tão divertido. Há anos não fazia algo do tipo, por isso esqueceu de como era a sensação. Era algo comum para a maioria das pessoas, mas não para ele. Estava sempre preocupado e ocupado, não sobrava muito espaço para outros sentimentos dentro dele.

Sakura era sua prioridade, tinha que pensar nela primeiro. Ela era o que mais importava em sua vida. Sem Sakura, ele não seria nada. Agradecia por sua filha existir, por dar um sentido a sua vida. O Sr. K só era como era hoje por causa da existência de Sakura. Mas até mesmo quando se era grato por algo, não significava que era fácil. Ele nunca pensou em desistir da filha, mas as vezes se sentia muito cansado, como se estivesse carregando um piano nos ombros. Foi assim desde o primeiro surto da menina.

Quando aconteceu, ele sentiu desespero, no mínimo. Não fazia ideia do que fazer. Agiu por impulso. Ver a sua criança agachada no chão sofrendo, chorando, foi demais para ele. O Sr. K nunca gostou de vê-la chorar, nunca. Desde bebê, ele fazia de tudo para evitar que ela caísse no choro, cantava cantigas, fingia que tinha levado um tombo ou uma topada, fazia aviãozinhos com ela estendida em seus braços. Mas aquela vez foi diferente, diferente de um jeito muito pior, por que ela realmente não estava bem. E isso acabou com ele.

O Sr. K só a levou. Correu abrindo caminho por entre a roda de pessoas, a pegou no colo, a aconchegou em seu peito, sentindo a camisa dele ficar imediatamente molhada pelas lágrimas dela na hora, e a levou direto para Dorothy. Não soube como chegaram em casa, ele só sabia checar o estado dela pelo retrovisor ao longo do caminho, Sakura continuava chorando, o rosto molhado e inchado. Ele queria dizer para a menina ficar calma, que agora ela estava segura, mas não conseguia dizer nada. Estava apavorado.

Demorou um pouco até o Sr. K pedir ajuda profissional. No começo, ele ficou dizendo a si mesmo que qualquer outra criança teria tido a mesma reação que ela ao ver que perdeu os pais de vista. E era claro que ele tinha razão, mas desde o incidente Sakura foi dando sinais de que era diferente, como sempre preferir ficar sozinha e ter dificuldades em esboçar sentimentos. Foi difícil para o Sr. K por muito tempo até começar a entendê-la.

Hoje, ele ainda não entendia como era para ela, mas a conhecia, e isso o ajudava muito. Sakura ainda era muito introvertida e emocionalmente isolada, mas ela tinha melhorado muito desde quando recebera o diagnóstico. Mesmo com suas limitações, ela ainda tentava interagir com o Sr. K, que se sentia feliz com isso.

Quando chegou em casa naquela noite, encontrou a sua menina sentada no chão, com as almofadas do sofá em torno dela. Ela estava concentrada no terceiro filme da saga Senhor dos Anéis. Sakura amava aquele filme. O Sr. K então caminhou até ela e afagou seus cabelos. Ela olhou para ele e, assim que o reconheceu, abriu o sorriso lentamente.

— Está se divertindo? – perguntou para ela. Sakura acenou com a cabeça devagar. Os efeitos colaterais do remédio retardando suas reações.

O Sr. K sorriu, e se sentou no sofá, disposto a ver o restante da saga com a filha. Sakura se desvencilhou dos dedos em seus cabelos, que o Sr. K sabia que a incomodava na maioria das vezes, e permaneceu sentada, encolhida e absorta nas falas de Frodo, seu personagem preferido.


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Notas finais do capítulo

E então? O q acharam? *-* Bjs, e ate a próxima!



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