Ele e Eu escrita por Thay Chan


Capítulo 24
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal! Finalmente mais um capítulo! Espero que gostem! ;)



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Não sei quanto tempo fico olhando os dois aos amassos. Eles estão próximos do carro, a garota sentada no capô. Sasuke está preso entre as pernas dela, beijando-a como se quisesse arrancar pedaço. A garota não fica atrás, parece querer deixá-lo careca de tanto que puxa o cabelo dele para ter melhor acesso a boca. Depois de alguns minutos disso, me canso e decido cronometrar.

Olho para o despertador na mesa de cabeceira. Dez minutos, é o tempo que eles levam para se afastarem e respirarem. Sete segundos, é o tempo que leva para eles voltarem a se unir. E finalmente, trinta e um minutos, é o tempo que leva para eles pararem de fato. O que soma incríveis quarenta e oito minutos de pura pegação adolescente.

Observo a garota. Ela é alta e bonita. Rosto fino e delicado, cabelos ruivos que vão até o final das costas, corpo perfeito dentro das roupas de líder de torcida. Ela parece o tipo de garota que qualquer garoto quer. E Sasuke Uchiha foi o que ganhou o bilhete premiado. A primeira impressão que tive dele estava certa, Sasuke era um garoto bonito e comum, uma pessoa especial do tipo normal.

Os dois estão conversando, a garota está falando animadamente sobre alguma coisa quando Mikoto sai da casa verde-limão munida de uma colher de pau e de um avental rosa bebê amarrado na cintura. Ela fala alguma coisa para os adolescentes e a garota ruiva se levanta do capô, arruma a saia roxa, abraça Mikoto e os três entram.

E eu permaneço na minha janela por mais uma hora no Tik Tok, e mais uma vez pensando se o Sarutobi tinha razão.

 

Faz tempo que não durmo bem. Desde a segunda noite depois que nos mudamos, para falar a verdade. Eu nunca consigo dormir por mais de três horas. Não sou fã de maquiagem, mas Anko costumava me presentear com objetos do tipo no Natal, algo que veio a calhar. Tenho escondido minhas olheiras com base e pó, que eu aprendi a usar com alguns vídeos na internet.

 Hoje minhas olheiras parecem mais profundas do que nunca. Há duas bolsas abaixo dos meus olhos, ambas envolvidas por dois círculos escuros. Parece que entrei numa briga de bar. Desta vez, vou ter que passar corretivo também. Decido fazer o truque das rodelas de pepino mais tarde.

Quando saio do quarto, ouço uma voz masculina que não é a de papai, mas que reconheço sem dificuldades, principalmente por que vem exibida de empolgantes pontos de exclamação.

Chego no alto da escada e vejo Billy, todo grandão, dentro de suas roupas de lenhador. Camisa listrada e boné de beisebol a postos.

— É sério, cara! É o melhor time que já existiu! Pergunta a qualquer um daqui! Você tem planos para hoje?! Que tal assistir um jogão deles lá em casa, tomar uma cerveja, conhecer a Mandy?!

— Não sei, não, Bill. Preciso trabalhar...

— Não, cara! Você tem que dar uma relaxada também! Você só sabe trabalhar?!... Não é possível! Você tem que se divertir um pouco, cara...! Só trabalhar não é vida...! – Billy diz, e parece estar pronto para convencer papai a qualquer custo, o tsunami de argumentos prestes a engolir tudo se necessário.

Há uma pausa breve. E então papai fala:

— Mas a Sakura...

É quando deixo que saibam que estou presente. Desço a escada, preparada, assim como Billy, a convencê-lo. Papai e Billy me olham. Tento não pensar no fato da atenção de todos na sala estarem em mim.

— Oi – eu digo, tímida, para Billy quando chego no andar de baixo. Tento me concentrar na minha missão de hoje, e pressionar as unhas na palma da mão ajuda a manter o foco. Olho para papai e ignoro a presença de Billy tanto quanto consigo. Papai me olha preocupado, provavelmente esperava que Billy já estivesse fora quando eu descesse. Concentre-se. — Você p-precisa ir... – gaguejo.

Os olhos de papai se arregalam um pouco, não esperava que eu falasse com Billy ali entre nós. Normalmente, teria me escondido no quarto até que nosso vizinho estivesse longe. Foco, fale o que precisa. — Eu-eu vou ficar b-bem. – aperto a unha do indicador no dedão tão forte que sinto a pele afundar em meia-lua. — Vou maratonar O Senhor do Anéis – tento um sorriso, mas não espero que papai responda, praticamente corro para a cozinha, os braços tensos colados ao corpo.

Sento-me em uma das banquetas do balcão enquanto ouço o término da conversa de papai e Billy. Então por que se tornou de mais, cubro meus ouvidos com os punho fortemente cerrados. Não quero ouvir. Todo o momento, a presença de outra pessoa tão próxima, tudo é de mais para mim. Só quero que passe, que acabe, logo! Acaba, acaba, logo! Logo!

Billy foi embora, sei disso porque papai está aqui agora. Dizendo calma, calma, passou, passou... enquanto aperta meus ombros. Meu coração começa a desacelerar. Voltar ao normal, tum-tum tum-tum. Devagar abro as mãos e as tiro dos ouvidos.

— Você está bem?

Assinto e me encolho. Cruzo os braços sobre o balcão como se isso fosse me proteger de todas aquelas emoções turbulentas.

— O que você respondeu para o Billy? – eu pergunto.

Papai suspira, se afasta, abre a geladeira, a fecha. E então se recosta nela e me olha com o que parece ser uma mistura de orgulho e tristeza.

— Você não fazia isso a muito tempo. Agir espontaneamente mesmo com medo – ele fala. — No começo, você costumava se esforçar para interagir com os outros, sempre que Anko ia lá em casa você costumava levar biscoitos e leite para ela mesmo que ela não pedisse, você era só uma criança de cinco para seis anos. Mas com o tempo isso mudou. Você parou de lutar contra o seu medo, até que passou ao ponto de Anko só te ver no Natal, isso porque é Anko e ela não aceita um não como resposta.

— O que Anko tem a ver com isso? – pergunto, por que não entendo onde ele quer chegar.

— Anko é só um exemplo.

— Você fala como se eu não falasse com ninguém. E os professores particulares?

— Você só interage com eles por que estudar te acalma e te distrai. Mas se você tivesse que lidar com eles em um outro momento, você provavelmente fugiria.

— Você está dizendo que a culpa é minha? – pergunto, sem ter certeza se quero uma resposta. Minhas mãos apertam meus braços com força.

— Por Deus, Sakura! – papai diz, exasperado. — É claro que a culpa não é sua. Não é culpa de ninguém. Só estou dizendo que estou... feliz, é isso que quero dizer.

Eu desvio os olhos para fora, para a janela meio aberta. A brisa da manhã entra em leve e gelada. É um começo de dia frio.

Não quero olhar para papai. Por que, mesmo sem querer, mesmo entendendo muito bem o que ele está querendo dizer, ainda me sinto magoada. Um estorvo, é isso o que sou, o que eu sempre soube que era. Isso nunca vai mudar.

— Sakura – papai chama.

— Oi? – respondo, sem olhá-lo. Tenho que ficar sozinha antes que a primeira lágrima caia.

— Não é culpa de ninguém.

— Eu sei – concordo, por que parece o melhor a fazer.

 

Pensando sobre o que aconteceu naquela manhã, posso dizer que não estou pronta para me enfiar no meio de um monte de adolescentes da minha idade, presa em salas não grandes o suficiente e em corredores estreitos o bastante para que uma pessoa redonda como Billy ficasse entalado como sardinha enlatada. E sinceramente, não sei se algum dia estarei.

Agora, parece que tudo o que Sarutobi dissera não passou de baboseiras, assim como pareceram no momento em que as ouvi. Agora tudo parecia tão surreal, tão inalcançável, que o simples esforço em manter minha educação parece desnecessário, a simples ideia de cursar uma faculdade parece um sonho impossível. O tipo de sonho que nem todo o empenho e dedicação do mundo é capaz de tornar realidade.

Essa parece a hora perfeita para desistir, para apenas me manter sobrevivendo. O que eu deveria dizer a papai? O que o faria concordar comigo? Eu deveria só dizer o que estava pensando agora? Que as aulas particulares eram insuficientes? Que eu não queria fazer mais nada além de esperar o dia da minha morte? Eu...

— ... Sakura?

Olho para a porta, e papai está com a cabeça enfiada para dentro, esperando algo.

— Sim, papai?

— Estou te chamando há uns dez minutos. Não ouviu?

— Não...

— Você está bem?

— Sim.

— Que tal a maratona do Senhor dos Anéis?

— O senhor não vai ver o jogo com Billy?

Papai abre a porta totalmente e se recosta no batente.

— Prefiro assistir uma das melhores sagas de todos os tempos com a minha querida filha – ele diz.

Não me convenceu. E mesmo que ele esteja falando sério, já viramos noites maratonando do filmes antes. Mas não lembro de vê-lo sair com um amigo há anos.

— Papai, por mim, aceita o convite de Billy. O sr. só tem trabalhado, seres humanos também precisam se divertir de vez em quando. Além do mais, estou em um daqueles dias que preciso ficar sozinha.

Papai parece receoso, até culpado, por talvez ter dado a impressão de que na verdade ele queria ir assistir ao jogo de baisebol com Billy.

Olho para ele, confiante. Aceno para encorajá-lo e acalmá-lo.

— Prometo que qualquer coisa, ligo – indico o celular ao meu lado na cama.

Sua expressão começa a suavizar.

— Promete?

Sorrio. E então faço uma cruz com os indicadores e a beijo.

— Palavra.

Papai pondera e, finalmente depois de um momento, também sorri e diz:

— Combinado então.


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Me falem, please *-*



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