— Por que você também está aqui? – pergunto para papai.

— Nós precisamos conversar sobre algo com você, Sakura – Kakashi fala.

Nós estamos em seu consultório. Ele está sentado de frente para papai e eu. Papai, pálido como papel. A questão é: por quê?

Kakashi endireita a coluna e coloca uma das pernas sobre o joelho, sua postura imponente. Mas não é ele quem continua a conversa, é papai. Ele segura minhas mãos e me olha seriamente.

— Eu e Kakashi decidimos que você retornará à escola – ele fala.

Como sempre, levo algum tempo para processar a notícia. Mas quando começo a entender, pavor se esgueira pelas minhas terminações nervosas.

— O-o que você quer dizer? – pergunto num fio de voz. A essa altura, minha nuca está suada e fria.

Papai está culpado, está me olhando como se quisesse retirar o que disse, mas não o faz. Eu o olho com olhos marejados.

— Você começará a frequentar a escola de ensino médio de Toms River – Kakashi repete, e me pergunto por que ele está se intrometendo em um assunto que não é da sua conta. Mas, ah, é o trabalho dele.

Ignoro Kakashi e, com a primeira lágrima descendo pela bochecha, exclamo para papai, a tristeza mesclando com a raiva:

— Não pode fazer isso comigo. O senhor prometeu!

Estou me sentindo traída, o que certamente fui. Papai tinha dito várias vezes que eu nunca precisaria ficar em um lugar se eu não quisesse. E agora lá estava ele, me obrigando a fazer exatamente o contrário. Hipócrita traidor.

A boca dele abre e fecha várias vezes. Ele está me olhando com pesar e vergonha, até que finalmente fala, e, apesar da sua voz sair como seu olhar, não é que eu espero escutar:

— Sinto muito, Sakura. Mas a decisão já está tomada.

Assim que chego em casa, vou direto para o quarto, o rosto molhado. Ele quis conversar durante todo o caminho para casa, mas eu só queria ficar o mais longe possível dele e, assim que saí de Dorothy, agarrei a oportunidade.

Me jogo na cama como se fosse um peso de boxeador e escondo minha cabeça sob o travesseiro. Escuridão é tudo o que quero ver. E-S-C-U-R-I-D-Ã-O. Isso me faz lembrar da festa na casa de Sasuke; o desastre que tinha sido, o meu pequeno descontrole, as pessoas provavelmente fofocando sobre o que tinha acontecido depois.

Estava na cara que eu não podia conviver em sociedade. Onde ele estava com a cabeça? Onde eu estava com a cabeça? Até ontem eu estava cogitando a mesma ideia. Até voltar ao mundo real, que ele claramente tinha abandonado.

A questão agora é: o que vou fazer?

Batidas na porta me acordam mais tarde naquela noite. É ele. Não espera uma resposta, o que normalmente não faz. Ele abre a porta um segundo antes de eu pensar em trancá-la.

— Posso entrar?

Quero dizer um "não" bem grande, mas ele é mais rápido e, novamente, me surpreende:

— Sei que você ainda não está pronta para conversar comigo. Só vim dizer que as aulas começarão na quarta.

O quê?

Além de esquisita, eu ainda serei a esquisita que começou no meio da semana. Ele e Kakashi queriam mesmo acabar com o resto da minha vida.

Eu não o olho, deixo suas palavras vagarem pelo recinto como fumaça. Mas ele não sai, só fica me observando durante algum tempo. Então finalmente diz:

— Fiz isso para o seu bem.

Não acredito no que está dizendo. Como me enfiar na toca dos leões seria para o meu bem? Era por isso que eu evitava o máximo de pessoas possíveis, por que sabia que elas eram como leões e iriam me devorar como tais. Kakashi tinha feito uma lobotomia nele, como queria fazer em mim.

Eu só fico em silêncio, como se não houvesse ninguém além de mim naqueles metros quadrados.

— Espero que possa entender e me perdoar um dia.

Eu não consigo evitar, apesar de achar que a ausência de qualquer som expressaria melhor o que eu sinto no momento.

— Pois não fique esperando por esse dia, porque isso nunca vai acontecer.