O Internato escrita por Rain


Capítulo 9
Nove




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Após a aula, fui para o treino de natação. Cheguei no ginásio, tirei a roupa e fui me aquecer, como de costume. Pratiquei nado crawl – que é sempre a modalidade que eu compito— e também revezamento medley com Rafael, Júnior e Pedro. Era a primeira vez que treinava revezamento na nova equipe e mesmo sem entrosamento conseguimos nos sair bem. Rafael me poupou das piadinhas hoje e isso me deixou mais tranquilo.

No final, o treinador reuniu a equipe para um comunicado.

— Pessoal como vocês sabem, esse é o nosso último treino antes das férias. O campeonato regional está chegando, então eu dei um jeito e consegui alugar o ginásio de natação de Nova Alvorada as terças e quintas durante as férias.

— O que? Vamos ter que treinar durante as férias? — questionou Rafael.

— Sim senhor Hattori, e não haja como se essa fosse a primeira vez que você treina nas férias.

— Mas você não avisou antes. Eu tinha viagem marcada com a minha família.

— Eu sugiro que você desmarque a viagem e fique na cidade para treinar. Vocês precisam praticar se querem ter chance de ganhar medalha. Principalmente você Toni. Você não está entrosado com a equipe ainda. Tenho pouco tempo pra deixar a equipe pronta.

— Então tudo isso é por causa do novato? Por que não deixa ele praticar sozinho então? — disse Rafael.

— Chega, Hattori! Eu sou o treinador, não questione minhas ordens. Ou você permanece na cidade ou está fora da equipe. Isso serve pra todos vocês!

O treinador nos encarava sério.

— Depois eu mando o endereço do ginásio para os que ainda não sabem onde é por e-mail. E já sabem, quem não for ao treino na próxima terça-feira está fora. Dispensados.

Fomos para o vestiário.

Eu sabia que aquilo ia sobrar para mim, então apenas me sequei rapidamente e vesti o uniforme por cima do calção de natação mesmo. Peguei minha mochila e fui embora para o dormitório.

Mais tarde eu ouço alguém bater na porta do meu dormitório. Abro pensando ser Sebastian, mas era Rafael.

— Podemos conversar? — disse.

— Claro.

Fecho a porta atrás de mim e acompanho Rafael pelo corredor. Fomos até um canto isolado ao lado do prédio do alojamento. O lugar estava cheio de carteiras velhas e quebradas e dava pra ver a estrada através das grades do colégio.

— Olha Rafael, se você quer me xingar ou me ameaçar de novo deixe pra fazer isso terça-feira. Eu odeio ter que treinar nas férias tanto quanto você. — começo falando, pois sei que ele queria descontar a raiva em mim.

— Eu não vim falar isso.

— Não? Veio falar o que então?

Rafael que estava sentado numa das carteiras se levanta.

— Você realmente não se lembra de mim?

— Uma das coisas que mais quero, é lembrar quem é você, mas desculpe, eu não lembro.

— Há sete anos nós competimos no mesmo campeonato, você foi o primeiro colocado e eu o segundo. Se lembra agora?

Após a revelação de Rafael um flashback em minha mente desperta. De repente eu estava de volta na competição, sete anos atrás.

Estava na competição nacional de natação. Mantinha minha concentração, esperando o soar da largada. Não olhava pra nada além da piscina em minha frente.

É soada a largada.

Salto na piscina e começo nadar. Meu salto não havia sido dos melhores, mas eu conseguiria me recuperar facilmente na volta. A sensação de estar na água era maravilhosa. A adrenalina tomava conta de mim e cada músculo do meu corpo trabalhava intensamente a cada movimento. Perto dos cinquenta metros, diminuo minha velocidade para fazer a volta. Quando faço a volta, me recupero assumindo a primeira posição e me mantive nela até o fim. Quando cheguei ao final, um alívio preenche o meu ser. Eu consegui, eu venci.

Tudo aconteceu muito rápido e quando dei por mim, estava no lugar mais alto do pódio comemorando minha primeira conquista importante, enquanto um garoto asiático chorava ao lado segurando uma medalha de prata.

Como eu pude me esquecer dele? Rafael foi meu primeiro rival num campeonato nacional. Agora entendo porque ele tem raiva de mim.

— Era você! Não acredito.

Rafael sorriu.

— Finalmente você se lembrou. Sabia que eu amargo aquela derrota todos os dias?

— Desculpe, deve ter sido difícil pra você. Mas estamos na mesma equipe agora. Podemos ser amigos.

Estendo a mão em direção a Rafael. Ele estende a dele e nos cumprimentamos.

— Ok. Amigos então.

 

 

 

Sexta feira, último dia de aula. As aulas correram normalmente, as notas estavam todas no sistema online e por sorte eu havia passado em todas as matérias. Tive um pouco de dificuldade por ter chegado no meio do bimestre, mas Sebastian me ajudou a estudar.

Estávamos na aula de Literatura – última aula do dia – a professora insistia em fazer um debate sobre o Naturalismo e Realismo mesmo no último dia de aula. Eu mantinha-me calado vendo os alunos expressarem suas ideias sobre tais escolas literárias e contava os minutos pra aula acabar. Ao fim da aula saí apressado em direção ao meu quarto para fazer minhas malas. Logo depois Victor chega ao quarto.

— Ah como vai cara? Animado pra voltar pra casa? — disse também fazendo as malas.

— Voltar pra casa será bom. E você?

— Eu não estou muito animado, vou ter que ouvir meu pai falando o quanto sou inútil durante 30 dias. Vai ser um saco.

— Poxa, Victor, isso é ruim. Se quiser pode ficar na minha casa durante as férias.

Seria legal passar as férias com Victor. Ele é um bom amigo.

— Valeu pelo convite, Toni, mas eu preciso voltar pra casa. Vai ter uma reunião de família e meu pai faz questão de manter a aparência de família perfeita e feliz.

Victor esvaziou sua a mochila que estava com os materiais escolares, pegou algumas mudas de roupas e colocou dentro. Sem nem trocar de roupa se despediu de mim e foi embora. Minutos depois recebo uma mensagem de Sebastian avisando que o irmão dele tinha vindo buscá-lo e que depois ele recompensaria por ter que me deixar.

E então fico sozinho.

 

 

 

Primeiro dia de férias. Acordo animado, é bom estar em casa. Finalmente posso relaxar, não preciso me preocupar com os alunos do grêmio me encarando sempre que passavam por mim. Com o tempo os alunos do Elite se acostumaram com a minha presença, mas o grêmio continuava monitorando meus passos, mesmo que de longe. Parei de me importar, mas estar finalmente longe dos olhos de todos é um alívio.

No café da manhã mamãe serviu panquecas, disse que abriria uma exceção da nossa dieta pra comemorarmos a minha volta.

— Estou muito feliz que você vai ficar um mês inteiro aqui, filho. — falou ela.

Meu pai sorria enquanto encarava o jornal. Parava algumas vezes pra dar uma golada em seu café e depois voltava a ler. Após o café, voltei para o quarto. Deito na minha cama e ao pegar meu celular vejo uma mensagem de Sebastian.

Oi. Não esquece q hj tem a festa da Anna. Passo aí as oito pra te buscar. Tenha um ótimo dia ;)

Largo o celular de lado, não estava muito animado pra ir nessa festa. Queria ficar em casa e apenas assistir algum filme com Sebastian de novo, mas ele estava animado, eu não podia deixar ele ir sozinho. Sacrifícios que fazemos pelos amigos.

Passei o resto do dia enfurnado em meu quarto sem fazer nada além de dormir e revirar para lá e para cá. Minha mãe vinha ao meu quarto algumas vezes e pedia pra eu sair, mas eu apenas ignorava e continuava deitado. Sei que devia estar na rua aproveitando minhas férias, mas, na verdade, eu sentia falta de casa, bem, não essa casa, mal tive tempo de usar meu quarto direito. Eu sentira falta da afetividade do lar, de sentir o cheiro dos meus cobertores e do amaciante que minha mãe usava pra lavar roupa, de tomar café da manhã com meus pais e os ver falar de casos que ocorreram no trabalho, senti falta do conforto que só um lar pode oferecer.

Ao anoitecer recebo uma ligação de Sebastian.

“Alô, Toni. Já está pronto?”

— Oi Sebastian, é… quase.

“Cara eu não acredito que você não está pronto ainda. Eu to no caminho pra sua casa.”

— Como você sabe que não estou pronto ainda?

“Porque você hesitou. Você hesita quando mente.”

— Ok, me desculpe. Vou me arrumar rápido enquanto você não chega.

“É bom você já estar pronto quando eu chegar aí. Prometi a Anna que chegaria cedo.”

Desligo o celular. Embora Sebastian estivesse claramente irritado, ele ainda mantinha um tom calmo enquanto falava. Senti uma pontada de culpa, eu realmente já deveria estar pronto, mas também não podia deixar de sentir raiva. Por que ele faz tanta questão de fazer as vontades da Anna?

Tomei um banho rápido e vinte minutos depois já estava pronto. Vesti uma camiseta vinho de manga comprida, porque estava meio frio, e uma bermuda jeans branca. Difícil foi decidir qual par de All Star usar. Eu tinha quatro pares e decidir qual usar sempre era um dilema. No fim optei pelo preto.

Sebastian me chama no portão. Dou um beijo rápido em minha mãe avisando que ia numa festa e depois vou ao encontro de Sebastian no portão. Ao me ver ele sorri. Sebastian estava lindo, usava uma calça jeans, camiseta preta com uma jaqueta jeans por cima. Ao abraçá-lo senti o mesmo cheiro de cigarros de canela misturado com perfume de sempre.

— Oi, desculpe por não estar pronto na hora que combinamos. — digo.

— Tudo bem. Você se trocou a tempo.

Seguimos caminho. A casa de Anna era um pouco longe, mas fomos conversando então a sensação foi de quem não demoramos para chegar. Chegamos numa rua silenciosa, as casas eram grandes e bem estruturadas, deve ser o bairro nobre da cidade. Uma coisa que percebi desde que cheguei é que Nova Alvorada é uma cidade muito bem desenvolvida, e, grande parte das pessoas que moram aqui tem boa condição financeira. Passamos por uma casa grande com portões enormes e fechados. Era bonita, mas mal dava pra ver a casa já que os grandes muros cobriam meu campo de visão e eu não era a pessoa mais alta da face da terra.

— Essa é a minha casa. — disse Sebastian apontando exatamente para a casa que me chamou atenção.

— Sério? É linda.

— Um dia desses eu trago você pra conhecer. A gente vai nadar na piscina, juntos.

— Combinado.

Eu estava mais animado do que deveria.

Chegamos à casa de Anna. A casa ficava no fim da rua e era bem grande assim como as outras. Entramos. Havia em torno de trinta pessoas espalhadas por todos os lados. Alguns rostos me eram familiares do colégio e outros eu nunca tinha visto antes. São provavelmente amigos de Anna que não fazem parte do megalomaníaco colégio Elite. Não demorou muito tempo até Anna aparecer com dois copos na mão.

— Sebastian! — Anna dá um abraço em Sebastian que demora mais que o normal — Está atrasado.

— É que eu fui buscar o Toni, ele não sabia onde era.

— Então está aqui o culpado do seu atraso. — me cumprimentou com um beijo no rosto — Bem-vindo, Toni. Fique à vontade.

Anna entregou um copo para mim e outro para Sebastian, depois saiu para dar atenção para outros convidados. Sebastian avista um grupo de conhecidos e me avisa que voltaria rápido. Foi falar com os amigos me deixando sozinho. Dou uma volta pela casa na esperança de encontra algum conhecido no colégio, e, por fim, encontro Rafael na sala sentado com alguns amigos da natação. Quando me vê, sinaliza para eu me aproximar e assim faço. Converso com Rafael e os outros por um tempo. De repente alguns garotos da natação saem alegando que iam atrás de garotas, ficam apenas Rafael e eu.

— Não esperava encontrar você aqui. — disse.

— É… Eu conheci Anna há poucos dias. E na verdade ela deve ter me convidado mais por consideração a Sebastian do que por gostar de mim.

— Por quê? Anna é bem legal.

— Nada demais, só uma impressão mesmo. Mas e aí, já se conformou em ter que ficar na cidade pra treinar? — mudo de assunto.

— É aquela coisa, a gente não aprova apenas aceita.

Rimos.

— Bom, eu vou voltar. Sebastian deve estar me procurando. A gente se vê por aí.

— Claro, vai lá.

Andando atrás de Sebastian encontro Camila. Eu realmente não queria e nem esperava encontrar pessoas do grêmio na festa, mas lá estava Camila conversando com Anna. Eu não conseguia ouvir a conversa por causa do barulho, mas elas pareciam bem próximas. Dei meia volta na esperança de não ser visto por Camila e quando ia saindo do cômodo a ouço gritar.

— Toni! Você aqui? Que bela surpresa.

— Hum… Oi, Camila, como vai?

— Eu vou muito melhor agora. Anna por que não me falou que o Toni vinha?

— Eu não fazia ideia de que vocês se conheciam.

— Claro que a gente se conhece. Somos íntimos não é Toni?

Eu estava muito sem graça com a situação. Camila dava em cima de mim e nem disfarçava.

— Viram Sebastian?

— Ele eu não vi, mas eu estou aqui de pé na sua frente. — Camila mordia o lábio inferior.

— Ele está na pista de dança, Toni. — Anna disse por fim. Nem ela deve estar aguentando esse momento constrangedor.

Faço um pequeno aceno em agradecimento e saio à procura de Sebastian e o encontro. Ao vê-lo dançar todo atrapalhado não pude deixar de rir, seus movimentos eram todos desengonçados e ele fazia careta enquanto dançava. A música muda e sua forma de dançar também. Dessa vez a música era mais sóbria e sensual, e da mesma forma era sua dança. Fiquei surpreso, seus movimentos suaves e sua postura exalavam sensualidade.

Seria uma coisa normal ver meu amigo dançando e rir se não fosse pelo fato de eu ter ficado excitado vendo sua dança sensual. Agora não sei como esconder a ereção na bermuda. Procurei algum lugar pra sentar, mas antes que pudesse encontrar senti as grandes mãos de Sebastian me puxando pelo ombro.

— Aonde vai? Vem dançar. — disse.

— Agora não, Sebastian, mais tarde, talvez.

— Nada disso. Vem dançar comigo.

Fomos pra pista de dança. Eu estava torcendo para que ninguém reparasse no volume da minha bermuda. A luz neon dificultava a visão e isso me tranquilizava um pouco, mas ainda me sentia desconfortável dançando com o cara por quem meu pau estava duro. O pior era saber que isso estava acontecendo justo com meu melhor amigo. Eu me sinto um pervertido quando isso acontece. Primeiro os sonhos eróticos com Sebastian e agora isso, definitivamente essa amizade estava mexendo comigo mais do que o normal.

Depois de muitos minutos dançando, decidimos procurar um lugar para sentar. Enquanto eu sentava, Sebastian buscava mais bebida pra gente. Com a bebida em mãos começamos a conversar. Falamos sobre diversos assuntos, inclusive as garotas da festa. O assunto me deixou desconfortável, eu não tinha costume de conversar sobre garotas com Sebastian. Era Victor quem fazia o papel do amigo com desejo sexual insaciável. Depois da conversa de garotas resolvi ir ao banheiro.

Quando voltei, Sebastian tinha sumido de novo. Vou novamente a procura dele. Vou à cozinha ver se ele tinha ido atrás de alguma bebida específica que poderia ter acabado na sala. Mas em vez de encontrar Sebastian, acabo encontrando Alice.

— Olá, Toni. Está procurando alguém? — disse ela de modo despreocupado enquanto enchia um copo com cerveja.

— Oi. Na verdade eu estou sim.

— É eu percebi pela forma como você entrou a cozinha, estava examinando todos os cantos e rostos.

Dou um sorriso sem graça.

— Como você está? Não esperava te encontrar aqui.

— Eu vim acompanhando Camila, mas ela me deixou sozinha.

— Eu não sei se fico com pena ou se fico aliviado por você. — brinquei.

Alice riu. O sorriso de Alice é lindo, assim como seus belos e longos cabelos loiros. O nariz arrebitado e seus olhos azuis ficavam perfeitamente bem em seu rosto delicado, o corpo magro e com curvas perfeitamente acentuadas. O jeito misterioso de quem está sempre escondendo algo. Alice é a garota que todos os garotos do Elite sonham em se casar e ter filhos um dia.

— Ela não é tão ruim assim.

— É porque ela não dá em cima de você a todo o momento.

— E isso é ruim? Camila é uma garota bonita. — Alice sorriu sugestivamente.

— Ela é linda, mas faz parte do grupo do mal.

— Eu também faço, e mesmo assim você está aqui comigo.

— É porque eu não te acho do mal. Você é uma pessoa boa que anda com as pessoas erradas.

Alice deu um sorriso sem graça, fazendo eu me arrepender de soltar tais palavras.

— É… Eu preciso ir. A gente se vê.

Volto a procurar Sebastian.

Voltei à pista de dança pra ver se ele havia voltado pra lá, e nada. Andei em todos os cantos acessíveis da casa procurando e não o encontrei. Até que desisto. A festa estava meio abafada, então decidi sair para tomar um ar fresco. Saio pelo portão que estava aberto e levo um susto ao me deparar com Sebastian aos beijos com uma garota.


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Notas finais do capítulo

Olá queridos leitores. O próximo capítulo sai na sexta-feira.
Um grande abraço a todos :)