O Internato escrita por Rain


Capítulo 3
Três




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O sinal da última aula toca. Eu finalmente poderia ir para o quarto pra evitar ser o centro das atenções. Os alunos vão saindo e se dispersando no corredor. Sebastian para ao lado da minha carteira.

— Vamos? — diz abrindo um sorriso de canto.

Olhei meio surpreso porque não esperava que ele voltasse a falar comigo depois do intervalo. Saímos da sala e caminhamos pelo corredor. Novamente, todos os olhares estavam sobre mim, quer dizer, sobre nós, as pessoas olhavam para Sebastian também.

— Eu realmente espero que isso passe logo. — digo.

— Relaxa logo eles arranjam outra fofoca pra espalhar por aí.

Caminhamos para fora do prédio escolar e seguimos para o alojamento. Eu sabia que agora seria a hora que os clubes começavam a funcionar. Como não me inscrevi pra nenhuma atividade ainda, voltei para o dormitório sem medo. Mas Sebastian provavelmente teria que comparecer. Mesmo assim ele continua me seguindo para o alojamento.

— Você não tem nenhuma atividade pra fazer? — pergunto rompendo o silêncio entre nós.

— Por quê? Quer que eu deixe você?

— Não. É que eu não quero te prejudicar.

— Eles nem vão sentir a minha falta.

Chegamos ao alojamento, alguns alunos saíam com roupa esportiva, outros com instrumento nas mãos. Todos nos encaravam ao passar por nós. Nunca acostumarei, sempre estive acostumado com as pessoas me olhando, mas não como aqui, parece até que eu tinha feito algo errado.

Subimos as escadas do lado direito e fomos pelo corredor F, paramos em frente ao meu quarto.

— Valeu pela companhia, nos vemos depois?

— Não quer ir ao meu quarto? — perguntou. — Você vai ficar sozinho pelas próximas duas horas até o pessoal voltar. Vamos, assim a gente se conhece melhor.

— Ok. Vamos lá.

Subimos a escada e entramos no corredor D. Chegamos em frente ao quarto 35. Sebastian abre a porta e entra acendendo a luz, eu entro também. O quarto era do mesmo tamanho que o meu, havia duas camas também. Uma estavam bem-arrumada enquanto a outra estava mal arrumada. O dono da cama deve ter apenas pegado os cobertores e jogado por cima com tudo bagunçado embaixo.

Sebastian se senta em uma das camas arrumadas, e me chama pra sentar também. Passamos um bom tempo conversando sobre a escola, sobre minha vinda pra cá, e muitos outros assuntos. Começo a ouvir vozes altas no corredor, provavelmente os alunos estão voltando das atividades dos clubes.

— Sebastian, eu preciso ir. Eu dei um perdido no meu colega de quarto e ele deve estar doido atrás de mim.

— Tudo bem, a gente se vê depois. — disse.

Saí do quarto de Sebastian e fui para o meu. Entrando no meu quarto, encontro Victor deitado na cama sem camisa mexendo no celular.

— E aí cara? Onde você se meteu? Esperei você aparecer no futebol. — falou Victor se sentando.

— Foi mal, eu não estava curtindo os olhares do pessoal sobre mim e dei uma fugida.

— Onde você estava?

— No quarto de um garoto da minha sala, ele é bem gente boa.

— Sebastian? Eu ouvi as pessoas comentando que vocês estavam andando juntos pela escola toda.

— Estavam falando disso?

— Você não viu nada ainda. — Victor ria — A rede de fofocas dessa escola é mais rápida que a velocidade da luz.

— É horrível ser o novato.

— Depois você acostuma. — Victor se levanta, pega uma toalha que estava pendurada na janela. — Eu vou tomar banho, depois disso a gente sai por aí pra você socializar um pouco com o pessoal.

Ele sai do dormitório me deixando sozinho. Deito em minha cama pra tentar descansar do meu primeiro dia de aula. Foi difícil, mas eu consegui sobreviver a ele, amanhã vai ser mais fácil. Eu espero.

Depois de alguns minutos Victor entra apenas de toalha e segurando a roupa que estava usando na mão.

— Cara você ainda está de uniforme? Depois que o horário de aula acaba você já não é mais obrigado a ficar de uniforme. Bora socializar com uns amigos meus, levanta dessa cama.

Victor foi até seu guarda-roupa e começou a se trocar. Eu fiquei bem sem graça dele ficando nu na minha presença, mas ele não demonstrou vergonha. Então só ignorei sua presença e fui até o meu guarda-roupa tentar organizar minhas rcoisas. E lá vou eu de novo organizar minhas coisas no meu segundo quarto.

— Vamos? — disse Victor já vestido e pronto pra sair.

— Hum… Pode ir na frente, eu vou dar uma arrumada nas minhas coisas. Te vejo na hora do jantar, pode ser?

— Beleza. Vou te esperar no jantar.

Victor sai do quarto e eu volto a me concentrar na arrumação. Depois que termino vou para o refeitório, pois estava faminto. Chegando lá, avisto Victor em um grupo de amigos, quando me vê faz um sinal para que eu me aproximasse, peguei meu jantar e fui lá falar com ele.

— Finalmente chegou. Galera esse é o Toni. Toni, essa é a galera.

Conversamos durante o jantar, os amigos de Victor eram bem legais, Bruno e José eram irmãos, e não paravam de falar. Eva era mais calada, mas ainda participava da conversa. Já Roberta não parava de me observar e eu novamente queria sumir dali. Todos eles tentavam agir naturalmente falando comigo, mas eu podia sentir um certo desconforto em seus gestos.

Por sorte o horário do jantar estava acabando e Victor e eu voltamos para o nosso quarto. À hora do jantar acabava 20h30min e o toque de recolher era às 21h30min. Tínhamos mais uma hora pra poder andar pelo colégio, mas eu só queria ir pra minha cama. Victor me acompanhou. Disse que também estava cansado. Chegamos ao quarto, Victor foi mexer em seu notebook e eu deitei em minha cama. Peguei meu Ipod pra ouvir umas músicas até dormir.

No dia seguinte acordo bem antes da hora programada para o despertador tocar, Victor ainda dormia. Levantei e fui tomar um banho, o corredor F estava vazio. Fui para ao vestiário que também estava vazio e tomei um banho rápido e fiz minha higiene matinal. Quando voltei, Victor ainda dormia profundamente. Agora faltavam poucos minutos para o despertador tocar, visto meu uniforme. E aguardo a hora do café lendo um livro.

O despertador toca e Victor se levanta. Depois que ele se arruma nós partimos para o prédio escolar. Primeiro vamos ao refeitório tomar café e depois pra aula. A primeira aula de hoje seria de física. Entrando na sala avisto Sebastian, nos cumprimentamos, mas logo o professor entra não dando espaço para diálogos. Seu nome era Torres, quer dizer, esse é o sobrenome dele. Essa regra idiota de todos sermos chamados pelo sobrenome, odeio as formalidades deste colégio. O senhor Torres era muito jovem, isso só dificultava chamar ele de “Sr. Torres”, pois de senhor ele não tem nada. Pelo visto a direção do colégio gosta de contratar funcionários belos e com uma aparência jovial. O professor é muito bonito, assim como Helena e Juliano, tinha estatura mediana, usava óculos e tinha uma barba saliente que espera por um gilete há, pelo menos, uns três dias.

O professor Torres foi muito educado e atencioso comigo, mas infelizmente ganhei uns exercícios extras pra fazer, pois teríamos prova na semana que vem e eu teria que dominar o conteúdo até lá. Esse é o azar de entrar no meio de um semestre numa escola com sistema totalmente diferente da minha antiga.

O sinal bate e vamos para a sala de geografia, novamente me deparo com uma professora muito jovem e bonita, mas diferente do Torres, a professora de geografia não era tão agradável. Eu até entendo, deve ser difícil ser uma professora bonita. Eu olhava ao redor e os garotos gesticulavam uns paro os outros sobre o belo corpo da professora que mesmo vestida de forma respeitável não escapava dos comentários idiotas dos garotos.

A aula termina, Sebastian sai na minha frente. Confesso que senti uma pontada de tristeza, ele havia sido legal comigo ontem, e hoje durante as aulas, achei que tinha feito mais um amigo além de Victor.

Saio em direção ao refeitório para comer mais um lanche e tentar fazer os exercícios de física durante essa uma hora de intervalo.

Não havia variedade entre o café das 8 e o das 10 horas, eram as mesmas opções só que frescas. Peguei duas bandas de mamão, uma porção de batata-doce e pra dar uma variada, um sanduíche de presunto. Sentei sozinho numa mesa de quatro cadeiras que havia no meio do refeitório. Percebi que todo mundo passava me encarando, mas ninguém sentava na mesma mesa que eu. O refeitório estava cheio e apenas a minha mesa permanecia vazia. Finalmente Victor vem ao meu encontro e se senta de frente pra mim.

— Cara você ta isolado. Ainda bem que eu estou aqui pra te fazer companhia. — disse rindo.

Eu rio também, aliviado de finalmente não estar sozinho. Victor rouba uma batata do meu prato. Eu na verdade não gostava que ele roubasse minha comida, mas achava legal que ele agia como se já nos conhecêssemos a mais tempo do que realmente nos conhecíamos. Voltamos a comer em silêncio, mas instantes depois sou surpreendido por uma mão me estendendo um copo de cappuccino das máquinas de café que tinham espalhadas pela escola. Era Sebastian.

— Trouxe pra você. — disse sentando-se ao meu lado. Sinto cheiro de cigarro de canela mais forte vindo dele. Tenho vontade de questioná-lo e perguntar se ele fuma, mas não me sinto no direito de fazer isso já que ainda não somos próximos.

— Por que não trouxe um pra mim também? — questionou Victor.

— Eu só tenho duas mãos, e não fazia ideia de que você desrespeitaria as regras e estaria aqui. — respondeu Sebastian num tom despreocupado.

— Você também está desrespeitando. — rebateu Victor.

Regras? Que regras? Será que eu sentei em alguma mesa que não deveria e por isso estavam todos olhando pra mim?

Sou afastado dos meus pensamentos quando Victor pega meu cappuccino e toma um gole.

— Ei!

— Só um gole, coisa feia não dividir com seu brother.

Os alunos ao redor continuavam nos olhando sem parar. Até quando isso de ficar encarando o novato vai continua? Porque são dois dias e eu já não aguento mais.

— Que tal sairmos daqui? — sugeriu Victor.

— Acho uma ideia ótima. Já to cansado de ser observado pela plateia. — diz Sebastian.

Nós três nos levantamos e caminhamos até a saída, mas uma mesa em especial chamou minha atenção. Era uma mesa de seis cadeiras, mas duas delas estavam vagas. André estava sentado nessa mesa e ele falava no ouvido de uma garota que olhava em minha direção.

Sebastian interrompe meu contato visual puxando-me pra perto de si e envolvendo seu braço sobre os meus ombros. Nós três caminhamos em direção a saída.

 


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal, estão gostando da história? Comentários e críticas (construtivas) são sempre bem vindas.
Abraço a todos. :)



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