O Internato escrita por Rain


Capítulo 2
Dois




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Segunda-feira, meu celular desperta às oito horas. Levanto e faço minha higiene matinal. Ao voltar para o meu quarto começo a sentir meu estômago formigar. É hoje que começa minha sentença no colégio interno.

Vou até minhas malas que nem estavam desfeitas e pego a primeira muda de roupa decente que encontro. Visto uma calça jeans e uma camiseta regata branca com uma camisa xadrez verde, calço meu par de All Stars e desço para a cozinha para tomar café.

— Bom dia — disseram meus pais em coro como se tivessem combinado enquanto eu não descia.

— Eu gostaria de saber o que tem de bom no dia de hoje? — respondo sentando-me na mesa e enchendo minha xícara de café.

Meu humor de manhã não é dos melhores, e hoje ele vem acompanhado da ansiedade da mudança então ele está ainda pior que o normal.

— Estou vendo que acordou super animado pra estudar — ironiza minha mãe.

Ignoro suas palavras e continuo tomando meu café em silêncio.

Após tomar o café, subo ao quarto e pego minha mala de roupas. Deixei a outra em casa pra quando voltar não precisar trazer nada. Dou um beijo em minha mãe, ela me abraça forte falando que vai sentir muito minha falta. Ela não iria comigo ao colégio porque ainda tinha muita coisa pra organizar em casa e meus pais só tinham uma semana pra colocar a casa em ordem antes de começarem a trabalhar.

Entro no carro com meu pai e caímos na estrada em direção ao colégio.

— Está nervoso? — perguntou meu pai depois de algum tempo dirigindo. — Suas pernas não param quietas. — completou.

— To um pouco, eu nunca estudei numa escola assim antes. Por que não me colocaram numa escola normal?

— Essa é uma oportunidade única, filho, você irá se acostumar. É apenas por um ano. Tudo vai dar certo. Sei que não é fácil começar do zero numa escola nova, ainda mais no último ano do ensino médio, mas eu sei que você se sairá muito bem. Você é o meu campeão.

— Obrigado pai, vou dar o meu melhor.

Eu gostava muito de conversar com meu pai, sempre contei tudo pra ele, desde namoradas até problemas mais sérios. Por mais que eu amasse minha mãe, fico feliz em estarmos só nós dois aqui, porque meu pai sempre sabe o que falar na hora certa, ele me entende e temos uma relação muito boa.

Chegamos ao colégio, ele era bem afastado da cidade, ficava numa região montanhosa e bem fria. O clima de Nova Alvorada era bem gelado, nesses dias desde que cheguei não vi o clima passar de 20°C.

Meu pai estaciona o carro. Deseja-me boa sorte enquanto pego a mala no banco de trás e depois que eu entro pelo portão da escola ele vai embora. A portaria era bem moderna e tinha dois seguranças vigiando. Enquanto um checava meus dados pra permitir minha entrada, o outro vigiava as câmeras de segurança pela tela do computador da guarita.

Minha entrada é liberada.

Respiro fundo e caminho em direção a secretaria. Observo a propriedade do colégio enquanto caminho, é realmente muito grande. Havia Ipês rosa pelo caminho e muitas flores no chão, por estarmos no outono, formando um contraste muito bonito de se ver.

Chego finalmente em frente ao prédio principal depois de caminhar por alguns minutos. Havia uma mulher jovem que aparenta ter menos de 30 anos de pé no topo da escadaria me esperando, eu não fazia ideia de quem era, mas estava prestes a descobrir. Subo as escadas observando o quanto ela era bonita e bem estruturada mesmo sendo velha.

— Bom dia, você é o Antônio Vidal? — perguntou a mulher me encarando séria.

— Bom dia, sou eu mesmo. — respondo educadamente.

— Bem-vindo ao colégio Elite, eu sou a vice-diretora, por favor, me chame de senhorita Helena.

Vice diretora? Ela era muito jovem pra já ocupar um cargo tão importante. Na minha mente, diretores eram pessoas de meia idade ou já velhas que adoravam dar um jeito de ferrar com nossa vida. E não uma mulher que aparenta ter acabado de sair da faculdade. Helena era muito bonita, a pele clara e os cabelos negros amarrados em um coque, óculos de grau, usava uma saia social preta que chegava ao joelho e uma camiseta social azul-escuro, calçava sapatos de salto agulha pequeno.

— Obrigado, é um prazer te conhecer.

— Me siga eu vou entregar seu cronograma de aulas, o número do seu dormitório e o seu uniforme escolar.

Sigo a vice-diretora, mas enquanto caminhávamos algo me chama atenção. Um garoto sentado perigosamente no corrimão, bem no topo da escada do lado oposto aonde estávamos. Eu não havia prestado atenção nele até agora, mas ele me observava. Estava uniformizado, deve ser aluno do colégio. Nos encaramos durante boa parte do meu percurso para dentro do prédio, até que somos interrompidos por uma voz grossa gritando.

— Senhor Ferraz! Volte para a aula. Se eu pegar você vagando pelos corredores ficará em detenção!

O garoto pula do corrimão. Pude ver de longe que ele caiu perfeitamente em pé e saiu correndo contornando o prédio administrativo. Fiquei esperando Helena tomar alguma atitude, mas não, a vice-diretora observou tudo calada.

Chegando ao escritório, sento-me na cadeira de frente para Helena que sentava atrás de sua mesa. Entrego-lhe alguns documentos que não poderiam ser enviados online e ela me entrega o cronograma, meu uniforme escolar e a chave com o número do meu armário. Depois disso, ela permanece alguns minutos em silêncio lendo a minha ficha.

— Vejo que você é atleta medalhista. — falou Helena — Isso é bom. Você foi medalhista de ouro no campeonato nacional de natação e no infantil regional, participou do mundial do ano passado, e, também ganhou várias competições escolares individuais e por equipe. É um aluno campeão.

— Eu me esforço. — digo tentando não soar arrogante.

— Não seja modesto, nós do Elite gostamos de alunos bem-sucedidos. Em nossa escola tem uma equipe de natação, alguns alunos são medalhistas. Tenho certeza que com você entrando na equipe será ainda mais benéfico para a equipe.

— Desculpe vice-diretora, mas eu me aposentei da natação no momento que me mudei. Não pretendo entrar na equipe. — respondo sério.

Helena sorri desafiante e acena de forma positiva.

— É uma pena. Bom, estamos enrolando demais aqui, e você terá aula ainda hoje. Pode ser meio difícil pra você acompanhar as matérias por ter chegado no meio do segundo bimestre, portanto não hesite em pedir ajuda aos professores e aos seus colegas de classe. As regras do colégio são bem rígidas. Sem celular durante o período de aula e o uniforme é obrigatório durante todo o período de aula. Sem contado corporal excessivo com o sexo oposto, entrar no dormitório feminino também está proibido. — Helena fala mais um monte de regra e, por fim, finaliza – Qualquer descumprimento das regras acarreta em detenção. Alguma dúvida?

Várias, porém aceno negativamente.

— Vou chamar um monitor pra te acompanhar até o seu dormitório para que troque de roupa e depois te acompanhar até a sala de aula.

Levantamos.

Helena chama um monitor enquanto eu pegava minha mala e tentava dar conta de levar tanto a mala quanto o uniforme que estava em minhas mãos. Quando o monitor chegou, pediu para que eu o acompanhasse. Saímos pelo prédio e descemos a escadaria que eu tinha subido anteriormente para me encontrar com a vice-diretora.

— Aluno novo? — perguntou o monitor

— Sim — respondo tentando arrumando a alça da mala que estava em meu ombro.

— Está pesado? Deixa-me levar pra você. — disse já pegando a mala de mim. — A propósito, seja bem-vindo ao Elite.

— Obrigado. Meu nome é Antônio, mas pode me chamar de Toni — falei simpático, era o mínimo que podia fazer como agradecimento pelo altruísmo.

— O meu é Juliano. — disse ele ainda sorrindo — Bom saber seu nome. Nós somos obrigados a chamar vocês pelo sobrenome, eu odeio isso.

— Como é a escola? As pessoas são agradáveis? Eu to bem nervoso — tinha esperança de receber uma prévia sobre a escola.

— Olha, eu sou apenas um monitor, não posso falar com tanta propriedade, porém aqui é como uma escola qualquer, tem os alunos populares, os excluídos, alguns são agradáveis comigo e outros superar rogantes, a diferença é que aqui a maioria tem grana.

— Entendi. — isso não aliviou minha ansiedade.

Chegamos no alojamento onde ficam os dormitórios. O prédio era enorme, mas não em questão de altura e sim de largura. Haviam duas escadas grandes uma de cada lado. Abaixo das escadas um corredor com vários quartos. Haviam mais dois corredores no andar térreo, todos muito grandes. No prédio do ensino médio há três andares, meu quarto fica no último andar.

Subimos as escadas do lado direito. O prédio estava totalmente vazio, provavelmente estão todos em aula. Quando chegamos ao terceiro andar seguimos para o corredor E até paramos em frente ao quarto 42.

— Chegamos — disse Juliano abrindo a porta.

Entro no quarto, avisto uma cama bagunçada e uma perfeitamente arrumada. Coloco meu uniforme sobre a minha nova cama e Juliano me imita com a mala.

— Muito obrigado pela ajuda.

— Imagina, vou deixar você sozinho para se vestir.

Juliano sai do quarto.

Vesti o uniforme rapidamente e fui para frente do espelho que tinha no canto do dormitório.

Sabe aqueles uniformes de internatos que a gente vê em filmes? Era bem parecido. Camisa branca, calça preta, blazer vermelho vinho, com um pequeno emblema da escola desenhado nele, e ainda tinha uma gravata, da mesma cor do blazer e com listras azul-escuro e brancas, que eu não tinha ideia de como fazer o nó. Por sorte o tênis não era padrão e eu poderia usar meus pares de All Stars mesmo. O uniforme ficou muito bem em mim, valorizou minha silhueta. Nunca fui muito alto, tenho 1,70 de altura e minha baixa estatura nunca me incomodou. Cabelo liso e preto, olhos castanhos, corpo atlético graças à natação, mas nem um músculo exagerado. Sempre me achei bonito, e as pessoas faziam questão de enaltecer a minha beleza mesmo eu não gostando muito.

Juliano entra no quarto perguntando se eu já estava pronto. Quando vê minha gravata toda desarrumada em volta do meu pescoço, se aproxima para arrumá-la. Juliano era alto, ombros largos e corpo musculoso, cabelo bem cortado e olhos castanhos. Sua aparência era muito jovem.

— Pronto, agora está com cara de aluno do Elite — disse se afastando.

Pego minha mochila e o sigo em direção ao prédio escolar.

O Elite era uma mistura do clássico e do moderno, os prédios eram lindos e bem antigos, mas muito bem conservados. Eu ficava observando cada detalhe maravilhado. Pelo que eu tinha visto na placa da entrada da escola, o colégio existe desde 1912. Meu coração de futuro arquiteto pulava de alegria ao ver obras tão lindas feitas pela mão do homem.

Chegamos à sala de aula. Juliano bate na porta e entra comigo para avisar o professor que sou um novo aluno, me dá tapinhas discretos de encorajamento nas costas e sai da sala.

— Antônio Vidal, 16 anos, veio de São Paulo… Interessante. Seja bem-vindo ao Elite, Senhor Vidal, eu sou professor de biologia — disse o professor de meia idade que me observava de cima a baixo, provavelmente me analisando pra saber se sou de família rica, ou milionária. — Sente-se naquela carteira vazia ali no fundo.

Segui para o meu lugar calado. Noto que todos me observavam. Um pequeno grupo de garotas sentadas do outro lado da sala cochichavam entre sim e sorriam, já os garotos apenas me observavam calados. Sentei-me na penúltima carteira da fileira do canto, olho de relance para o garoto que estava atrás de mim e o reconheço imediatamente. Era o garoto que tinha visto mais cedo fugindo do monitor. O professor voltou a escrever no quadro e eu aproveito o momento para observar a sala de aula, não havia muitos alunos, contei vinte e dois, dez garotas e doze garotos comigo incluso. Dava pra ver em seus rostos que eram todos cheios de grana, isso me intimidava. Meus pais ganhavam bem como veterinários, e passariam a ganhar melhor ainda com o novo emprego, mas eu não sou rico, sou quase um bolsista. Será que ao saberem disso eles vão me excluir?

Balanço a cabeça para afastar o pensamento da mente e acabo olhando de relance para trás de novo. Percebo que o garoto estava me observando. Volto-me para frente, mas não resisto em olhar novamente para trás, e lá estava ele ainda me observando. Tento disfarçar perguntando a data do dia, ele apenas sorri e aponta para o quadro na direção onde estava a data escrita. Eu aceno em agradecimento e me concentro nas anotações. Poucos minutos depois o sinal bate anunciando o fim da aula. Os alunos pegam seus materiais e saem da sala, eu os imito e ao sair percebo que eles estão se dispersando pelo corredor cheio de alunos.

Não faço ideia de onde ir, não conheço nada nesse lugar e ninguém veio em meu auxílio. Sinto vontade de chorar por estar num lugar como este sozinho. De repente sou surpreendido por um cara alto usando moletom esportivo.

— Você que é o Antônio Vidal? — pergunta.

— Sou eu mesmo.

— Eu sou o treinador do time de natação do colégio, pode me chamar de Fernando. — disse me cumprimentando — Garoto você é o campeão que eu estava precisando no meu time.

Nossa conversa atrai a atenção de alguns alunos, um pequeno grupo específico que agora nos observava atentamente. E o tom alto com o qual o professor falava fazia com que eles entendessem perfeitamente o assunto falado.

— Desculpa professor Fernando, mas não estou interessado em voltar a competir. Agradeço o convite. — respondo educadamente.

— A vice-diretora havia me dito, mas eu tive que vir conferir por mim mesmo. Um atleta se aposentando aos dezesseis anos. — falou incrédulo — O convite continua de pé, se mudar de ideia me procure, não precisa nem fazer teste para o time, você já está 100% dentro. — Completou dando de ombros e saindo.

Novamente fico sozinho e sem saber para onde ir. Observo o pequeno grupo de alunos que prestava atenção na minha conversa com o técnico Fernando, eles se dispersam sobrando apenas um garoto. Ele vem em minha direção.

— Olá, Antônio né? Eu sou André, prazer em conhecê-lo — falou o garoto me estendendo à mão.

— Olá, pode me chamar do Toni — estendendo a mão e o cumprimentando.

— Você veio de São Paulo né? O que o traz aqui?

Eu estava achando o questionamento muito estranho, mas ainda sim respondi.

— Meus pais se mudaram a trabalho.

— Hum… O que o treinador de natação queria com você? — questionou novamente.

Antes que eu pudesse responder outro garoto aparece. Ele é alto, olhos castanhos claros, assim como o cabelo liso, raspado dos lados e em cima comprido penteado para trás, de forma que, na frente ficasse mais alto. Bem a par dos cortes modernos de hoje em dia. O rosto era harmonioso, exceto pelo nariz que mesmo empinado, era um pouco grande demais, como dos Italianos. Corpo atlético.

— André? O cara mal chegou e vocês já estão perturbando ele. — falou.

— Não se meta, D´Angelo. Não é dá sua conta. — André ficou irritado.

— Vamos deixar o questionamento pra depois, agora eu preciso falar com o meu brother. — o garoto envolveu seu braço em meu ombro e me puxou com ele.

Confesso que mesmo sem conhecê-lo, fiquei muito agradecido, a forma como André veio me questionando não foi nada amigável e eu estava mesmo querendo sumir de lá.

— Desculpa por isso, cara. Está com fome? — falou enquanto caminhávamos pelos corredores da escola.

— Tudo bem. Na verdade eu deveria te agradecer, aquilo foi… estranho. E sim, eu estou faminto. Seu nome é…?

— Ah desculpe minha falta de educação, nem me apresentei, sou Victor, Victor D´Angelo e, você é meu novo colega de quarto. Quando Juliano me avisou eu vim correndo falar com você. Seu nome é?

— Antônio Vidal, mas me chame de Toni.

Viramos o corredor.

— Prazer Toni, veio de onde?

— São Paulo, e, por favor, sem mais questionários.

— Tudo bem. Mas o que você fez pro grêmio já estar te perturbando?

— Eu? Nada. Espera grêmio estudantil ainda existe?

— Aqui existe e é um saco, não se meta com o grêmio, eles nunca chegam em novatos sem segundas intenções.

Chegamos ao refeitório, e meu coração se enche de vigor ao ver o balcão cheio de lanches. O refeitório era grande, aparentemente era tanto para os alunos do ensino médio quanto para os do fundamental. Fomos em direção ao balcão e uma merendeira simpática nos desejou bom dia, a cumprimentamos de volta e pegamos nossa bandeja de café da manhã. Fomos em direção a uma das mesas e nos sentamos. Coloquei minha mochila no banco vazio ao meu lado, abri e peguei meu cronograma de aulas.

O Elite não funcionava como as escolas normais, as aulas começavam às 8 horas, havia duas aulas e depois um intervalo de uma hora, mais duas aulas e outro intervalo de uma hora, depois mais uma aula e os alunos seguiam para alguma atividade proposta pela escola. Havia os clubes de teatro, moda, coral, música (provavelmente instrumentos), futebol, basquete, vôlei, natação, handebol, judô, atletismo e muitas outras. Ou seja, a aula de educação física das escolas normais, aqui era substituída por alguma atividade específica e de interesse do aluno. No cronograma dizia que era obrigatório o aluno escolher pelo menos uma atividade. Confesso que ao ver a natação na lista meu coração aqueceu, mas eu tinha decidido parar e não estava disposto a voltar atrás em minha decisão.

— Não vai comer? — perguntou Victor roubando algumas rodelas de batata-doce do meu prato.

— Vou. Estava dando uma olhada no meu cronograma. — respondi voltando minha atenção para a comida.

Eu havia pegado pão integral, batata-doce e uma maçã.

— Já escolheu que atividade fazer?

— Na verdade eu não estou animado com nenhuma.

Victor ri.

— Cara, teu prato é o típico prato de um atleta que não come qualquer coisa pra não sair da dieta de proteínas, tinha várias coisas melhores pra escolher no balcão como baguete e croissant, mas você nem cogitou pegar aquelas delicias. Fala logo qual esporte você pratica.

— Eu pratico natação, mas não estou a fim de voltar a praticar. Tem alguma atividade pra me sugerir?

— Bem, tem atividade que só são permitidas a entrada se passar no teste como a natação, o vôlei, o judô e o atletismo, são atividades em que o colégio é muito prestigiado e sempre participam de competições. Outros clubes são apenas frequentados por meninas, como o de moda e o do coral. Os outros são abertos a todos que quiserem entrar. Já que você não está a fim de entrar no de natação vem me fazer companhia no de futebol.

— Fechado!

— É assim que se fala garoto! — Victor bagunçou meu cabelo.

Terminamos o nosso café e saímos, Victor me apresentaria à escola. Andamos pelos corredores e ele me mostrava cada sala. Passamos por alguns clubes como o de música e havia alguns alunos tocando instrumentos clássicos, o de moda a porta estava fechada, mas dava pra ouvir vozes femininas vindo dele. Andamos por todo o prédio da escola e pude perceber que por várias vezes os alunos me observavam. Alguns cochichavam entre si, outros só passavam me observando. Era o lado ruim de ser novato.

Victor falava sem parar. Ele foi muito atencioso durante todo o percurso, até me falou das meninas mais fáceis de pegar. Depois de tanto andar eu só queria um lugar a céu aberto para poder respirar. E foi quando Victor voltou ao refeitório pra pegar mais uma baguete que eu vi a oportunidade de dar uma escapada.

Saí pela porta de vidro que pelo visto ficava sempre aberta e fui andando sem rumo. Faltava uns vinte minutos para o fim do intervalo então procurei um lugar pra me sentar. Avisto um banco afastado dos alunos de frente para uma linda fonte que jorrava água por uma estátua. Olhando para trás não via nenhum aluno no meu campo de visão. Andei apressado até lá, até que tropeço em algo, não em algo, mas em alguém. O garoto que eu tinha visto na entrada da escola e que sentava atrás de mim na sala de aula.

— Me desculpe, eu não te vi. — digo observando se não tinha machucado ele.

— O céu está lindo hoje, não acha? — disse ele ignorando as minhas desculpas.

— Por que está deitado no chão?

— De onde mais eu poderia ver uma vista tão bonita? Deite-se e aproveite esta visão comigo.

Acabo me deitando ao seu lado e observando o céu. Estava azul bem claro, mas com algumas camadas escuras que vinham das montanhas, era uma vista realmente bonita.

— Seu nome é Antônio né? — perguntou ele. — O meu é Sebastian.

— Prazer.

— Ouvi muito sobre você nos corredores. É verdade que foi medalhista olímpico de natação?

— O que? Não! — eu ri — Competi em um campeonato mundial ano passo, mas não fiquei nem entre os 10 melhores.

— Foi o que imaginei — Sebastian me encarava sorrindo. Seu sorriso era muito bonito e ele cheirava a cigarro de canela misturado com um perfume muito bom. — As pessoas aqui têm mania de aumentar muito as fofocas. Sinto muito por não ter conseguido ficar entre os melhores.

— Tudo bem, já passou. Eu sinceramente não cômpito pra ganhar, apenas gosto de estar na água, consequentemente vou bem. Estava tão feliz em estar naquela competição e de poder ver astros da natação que eu admirava que eu não ligava pra que posição ficasse.

— Entendo. Bem que podiam existir mais pessoas como você por aqui.

— Mas espera quem está falado de mim por aí?

— Todo mundo. Você é o assunto do momento por ser novato e medalhista de ouro nas olimpíadas. — Ele sorria, como se sorriso era bonito. Seus dentes eram perfeitamente alinhados mas meio amarelados.

— É uma pena decepcionar todo mundo. — brinco.

— Eu não to decepcionado, se sente melhor?

Nos encaramos por alguns instantes.

O sinal bate. Eu levanto imediatamente, mas Sebastian continua no chão.

— O sinal bateu, não vai voltar pra aula?

— Aqui está tão bom, a vista é tão linda… — disse levantado o braço direito em direção ao sol em movimentos delicados.

Ele se levanta devagar. A lerdeza dele me deixa meio preocupado porque não quero chegar atrasado a nenhuma aula logo no meu primeiro dia. Começamos a caminhar de volta para a sala de aula.

— Que aula temos agora mesmo? — me pergunta num tom despreocupado.

Eu pego novamente meu cronograma da mochila, tenho uma memória péssima.

— Aula de Literatura.

— Adoro literatura. — falou sereno.

Fiquei em dúvida se ele estava falando sério ou não. Mas deixei pra lá.

Caminhamos lentamente de volta ao prédio da escola e eu já estava ficando agoniado com a demora do percurso. Até que chegamos ao prédio e por sorte a sala de literatura não era muito distante da entrada. Entramos na sala e a professora chamou nossa atenção pelo atraso. Era tudo o que eu queria, uma chamada de atenção na frente da turma toda por causa de um atraso logo no primeiro dia. Percebi que os alunos se sentavam nos mesmos lugares que o da sala de biologia, então os dois últimos lugares da fileira do canto estavam vagos, nos sentamos.

A professora continuou a aula, eu tentava prestar atenção, mas parece que todos estavam me encarando e quando eu olhava ao redor eles disfarçavam.

Meu desconforto era real.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal, aqui é o Rain. Estão gostando da história? Seu feedback é muito importante pra mim.
Estava pensando em postar um capítulo novo a cada dois dias, o que acham? Então domingo sai capítulo novo.

Abraço a todos :)



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