O Internato escrita por Rain


Capítulo 17
Dezessete


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, como estão? Me desculpem pelo pequeno atraso pra postar. me enrolei um pouco com a revisão.
Uma Boa leitura pra vcs.



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Era quase a hora de realizar minha tarefa de detenção. Eu ia para o refeitório animado, pois finalmente poderia conversar com Sebastian. Trocamos olhares durante todo o período de aula, mas Sebastian resiste em se aproximar, isso me deixa extremamente frustrado. Não me aproximo por que todas as vezes que tentei antes, Sebastian se afastou. Então permaneço na minha, dói, mas dói ainda mais ser rejeitado.

Entro na cozinha, aviso a cozinheira chefe que cheguei e sou recebido com um aceno de descaso. Franchesca me manda falar com um outro cozinheiro. Este mais educado, me manda cortar os legumes junto com Sebastian, que já estava sentado no mesmo canto de ontem concentrado no trabalho.

— Oi. — digo sentando-me de frente para Sebastian.

— Oi.

— O que temos que cortar hoje?

— Eu vou picar as cebolas, você pode cortar esses pepinos em rodelas e depois as cenouras. — Sebastian para de cortar as cebolas e me encara – Seu dedo… não estou pedindo muito?

— Não. Eu estou usando os Band-Aid´s que você me deu.

Sebastian sorri.

Tudo estava correndo bem. Sebastian e eu conversamos mais frequentemente que ontem, ainda ficávamos em silêncio por vários momentos, mas Sebastian não hesitava mais em falar comigo como fazia antes. Isso me deixou feliz. Tudo estaria perfeito se não fosse por uma voz grave entrando na cozinha gritando. Era o treinador.

— Vidal! Faltar no treino um dia já é ruim, mas dois dias é inaceitável! — disse invadindo a cozinha.

Levanto-me rapidamente.

— Treinador. Me desculpe é que…

— Que bagunça é esta na minha cozinha? — questionou Franchesca se aproximando.

— Este meu aluno, ele virá comigo, temos um campeonato chegando e eu não permitirei que meu melhor nadador perca mais dois dias nesta cozinha. — o trenador estava nitidamente irritado, suas veias do pescoço estavam saltadas e suor escorria por sua testa.

— Este aluno está aqui pra cumprir uma tarefa, não posso permitir que ele saía até que cumpra o que foi definido pelos monitores.

— Eu não quero saber…

— Treinador, se acalme.

Interrompo o treinador, pois ele estava muito alterado e estava quase partindo pra cima de Franchesca com o dedo apontado para ela. Não podia permitir que ele agisse assim com uma mulher.

— Este aluno não tem permissão para sair até que alguma autoridade da escola venha revogar a detenção. — Franchesca se manteve firme.

— Eu irei agora falar com a vice-diretora. Enquanto a você, Vidal. Pro ginásio agora!

O treinador saiu andando a paços largos. Eu o segui, pedindo desculpas para Franchesca, e, antes que saísse da cozinha, encarei Sebastian com um olhar de desculpas, ele acenou positivamente e gesticulou para que eu prosseguisse.

Ao chegar no ginásio sou recebido com zoações por parte de todo mundo do time. Rafael vem até mim e pega no meu pulso.

— Deixa eu medir pra ver se ele tá vivo mesmo, galera. — falou em voz alta para que os outros ouvissem.

— Não sei como o treinador não esganou você lá mesmo. — brincou Carlos de dentro da piscina.

— É que vocês não viram, foi assustador. Eu achei que ele fosse bater na cozinheira chefe. — falo sério, mas todos levam como brincadeira e riem.

O treino prosseguiu normalmente. Eu treinei minha modalidade — nado crowl — e continuei fazendo o mesmo tempo. Não estava atingindo o mesmo tempo que eu havia atingido na última temporada, mas estava bom. Terei chances de medalha se manter esse desempenho. Ao final, quando eu já estava trocado e pronto pra voltar ao dormitório, o treinador me chama para uma conversa em particular.

— Toni, seu desempenho está bom, mas preciso que você tenha 100% de comprometimento nesta reta final. A competição já é semana que vem, e aquele lugar no pódio é seu, tenho certeza.

— Me desculpe, treinador, não tive a intenção de perder treino; simplesmente aconteceu e…

— Conversei com a vice-diretora e ela dispensou você da detenção. Só foque no treino e apenas nisso.

Sinto muita raiva por ter sido dispensado da detenção. Era uma droga ter que descascar legumes, mas era a única oportunidade que eu tinha para falar com Sebastian. Agora voltaremos a nos distanciar. Que droga.

Volto para o dormitório sozinho desta vez. Haviam muitos alunos pelo caminho voltando de seus clubes. O tempo estava muito agradável hoje, continuava frio e ventando, como todos os dias. Mas eu havia me adaptado a temperatura fria de Nova Alvorada. Estava com meu blazer jogado para trás do obro e segurando com a mão direita pra não cair. A gravata folgada na camisa e os primeiros botões desabotoados. Meu cabelo meio bagunçado e ainda molhado. Nem me arrumei muito, pois logo tomaria banho, não tinha necessidade. Quando cheguei na frente do dormitório, avisto Alice de longe, encostada na parede do dormitório lendo um livro. Fui até ela.

— Oi. O que está fazendo aqui?

Alice tira os olhos do livro e me olha de cima abaixo por um bom tempo, sem nem disfarçar. Fiquei sem graça.

— Oi. — disse. — Eu preciso falar com você, é importante.

— Ok. Mas você sabe que pode levar uma detenção estando aqui não sabe?

— Você é muito certinho, Toni. — disse de forma descontraída.

Pego na mão de Alice.

— Me siga.

Conduzi Alice para a lateral do alojamento. Aonde ficavam as carteiras e cadeiras quebradas. Ninguém vinha aqui, então não seríamos ouvidos.

— O que de tão importante você tem pra falar a ponto de correr o risco de tomar uma detenção?

— Eu hackeei o computador da Valentina.

— Sério? Uau. — não escondo a surpresa.

— Pode parecer que não, mas eu entendo de computadores. E Valentina deixar o computador dela sem proteção nenhuma facilitou muito.

— As vezes você me dá medo.

Alice ri.

— Não sou apenas um rostinho bonito, Toni. Sei usar muito bem as armas que tenho. “As operações secretas são essenciais na guerra”.

Alice faz uma citação de um livro que eu conhecia muito bem.

— A arte da guerra. — digo.

Alice sorri e acena com a cabeça em um gesto positivo.

Eu nunca me canso de ver o quanto Alice é incrível. Além de ser muito linda, também faz uso de sua inteligência. Sempre observando e estando um passo a frente de todos. Até mesmo em pequenas coisas do dia a dia. Ela sabe muito sobre mim, e eu não sei quase nada sobre ela. Alice é um grande enigma a ser desvendado, um enigma frágil, que eu me interessava cada vez mais em desvendar.

— Bom, vamos ao que interessa. — disse Alice pegando seu celular de dentro do blazer. — vasculhando o computador de Valentina, eu descobri que esses leilões não são feitos de modo aleatório.

— Como assim?

Chego mais perto pra poder ver o que Alice lia no celular.

— É simples. Os interessados pelos leilões traçam o perfil da mercadoria que querem e assim o grêmio seleciona os alunos bolsistas que tenham as características. É um tipo de oferta e procura.

— Isso é terrível.

— Sim. E não foi só isso que eu achei. Encontrei também os alunos que foram vendidos este ano e o plano de vida de cada um deles, incluindo o seu. Além de você, existem mais 13 alunos na mesma situação.

Um arrepio percorre todo o meu corpo.

— Você sabe cada um deles?

Alice acena de forma positiva.

— Quer ver?

Estou realmente curioso pra saber quem passa por essa mesma situação, mas o que eu ganharia por saber a identidade deles? Eu não poderia chegar em cada um deles e falar “Ei eu sei que você foi vendido num leilão humano, eu também fui. Mas não se preocupe, pois eu darei um jeito nisso, não conte a ninguém”. Já é arriscado demais para mim fazer o que estou fazendo, não quero que se torne um risco para eles também.

— Acho melhor não. Eu só preciso que você me mande todas essas informações. Isso são provas suficientes pra dar um fim nisso tudo?

— Sim, são provas. Mas, Toni, um esquema como este está enraizado há muito tempo, tem políticos e parte da elite do país envolvida, coisas como essas não são fáceis de derrubar. Valentina é só o peão que seleciona os alunos. Temos que derrubar a pessoa que comanda de cima. Temos que acabar com tudo.

— E vamos fazer isso.

— Tem certeza que o Deputado vai ajudar? Nada pode dar errado, Toni. Se não é o fim, pra nós dois.

— Eu não confio nele, mas é a única ajuda grande que tenho, além de você. Recebi um contato por e-mail. Amanhã irei me encontrar com o motorista dele. Receberei informações sobre as pessoas que comandam o esquema.

— Você precisa de uma medida de defesa. Algo que garanta que o pai de Victor não deixará você na mão.

— O que exatamente?

Alice fica em silêncio por um momento. Ela claramente estava pensando em alguma estratégia que pudesse me ajudar. Seu pé direito dava pequenas batidas no chão, era um tique dela. Já tinha percebido esses movimentos involuntários antes, mas não tão forte como agora. Alice estava concentrada, dando tudo de si, para achar um plano competente. Até que, enfim, o pé para de bater no chão e ela dá um pequeno sorriso de canto. Plano feito.

 

 

Anoitecia ao meu redor. Sentado numa mesa de cafeteria, eu seguia o plano. “Haja naturalmente.” era o que dizia em negrito no fim do e-mail. E cá estou eu, tomando cappuccino acompanhado de um salgado bem gorduroso e sentado na cafeteria mais famosa da cidade em pleno por do sol. Não tinha como ser mais natural que isso. Já estava quase na hora do encontro, então fui ao balcão pagar minha conta e depois seguir para o ponto de encontro. Mas eu não contava com uma jogada do universo para dificultar meu plano.

Vejo entrando pela porta da cafeteria a única pessoa que eu não esperava e nem queria encontrar neste momento. Sebastian. Seus olhos se encontram com o meu e ele vem até mim.

— É… oi.

— Oi. O que faz por aqui uma hora dessas? — tento disfarçar meu nervosismo com uma estúpida pergunta.

— Otávio mandou eu vir comprar café pra ele. Enfase no mandou. — disse descontraído.

A atendente devolve o meu troco em seguida já atende Sebastian. Ele faz o pedido e rapidamente e volta a falar comigo de novo.

— Toni… — Sebastian hesita, mas rapidamente toma coragem e prossegue – Você está bem? Quer dizer… você parece tenso. Espero que não seja por minha causa.

— Não! Eu jamais ficaria nervoso por estar perto de você, Sebastian. É que tenho um compromisso agora. Preciso ir.

Saio em passos rápidos, pra evitar mais perguntas. Agora só tinha um lugar para ir. O encontro com o mensageiro do diabo. O local de encontro ficava a duas quadras da cafeteria. Era em frente a uma pequena loja infantil que a essa hora provavelmente já estava fechada. Não é um lugar muito escondido, mas também não chama muita atenção de quem passa no local.

Viro a esquina e saio na rua da loja. Já conseguia ver de longe um carro preto encostado. Não era a Mercedes que trouxe Victor quando ele fugiu do seu pai durante as férias. Era um Volkswagen Jetta preto com insulfilme nas janelas e no vidro traseiro. Vou me aproximando devagar, e quando chego perto da porta a porta se abre. Eu entro.

— Você é o Antônio? — perguntou o motorista sentado no banco do motorista me olhando de cima a baixo.

— Sim, sou eu.

— Aqui está o pacote que o senhor D´Angelo mandou te entregar.

Ele me entrega um envelope. Eu abro para verificar se realmente tinham infirmações dentro. Dei apenas uma rápida foleada e pude ver nomes, fotos e informações. O pai de Victor realmente cooperou. Me sinto até culpado de fazer o que estava prestes a fazer.

— Eu não entendo. Por que o Deputado está perdendo tempo ajudando uma criança como você?

— Creio que o que estou fazendo é do interesse dele também.

Olho melhor o motorista. Ele era jovem ainda. Usava roupas casuais, uma jaqueta de couro preta, com uma camiseta branca por dentro e calça jeans. Os cabelos escuros. É muito bonito, até a pequena cicatriz que havia no canto da boca caía bem e lhe dava um ar mais másculo.

— Entendo. O senhor D´Angelo realmente não faz nada por bondade. Ele sempre tem que ganhar algo. Tome cuidado garoto.

— Eu vou tomar. Mas antes eu preciso ter certeza.

O motorista me olha confuso. Ele parecia pensar se estava esquecendo de algo.

— Certeza do que? — questiona.

— De que o Deputado D´Angelo não me deixará na mão nem em situação de risco. — eu estava fazendo de tudo para citar o nome do deputado na conversa.

— Você não tem muita escolha.

— Sei que não tenho. Por isso estou filmando esta conversa.

— O que?! Você está de sacanagem comigo garoto? — falou me pegando pelo moletom e me encarando de perto. Não tinha muito espaço no carro, então o cara se virou como pode pra me intimidar. — Aonde está a câmera? Me dê! Ou eu vou fazer você sumir.

— Não. É uma microcâmera, e se eu te der será inútil. É uma transmissão ao vivo. Você pode sumir comigo, mas já está tudo gravado e tenho um conhecido com autorização para divulgar caso algo aconteça comigo por culpa do Deputado D´Angelo.

— Você está brincando com fogo.

— Eu sei. Mas eu não posso correr o risco. Eu não posso falhar. Este vídeo é só uma garantia de que eu terei ajuda do seu chefe até o fim. Apenas isso. Depois que tudo isso acabar eu jogo fora a gravação. Não tenho intenção nenhuma de fazer algo contra o deputado.

O motorista me solta. Ele respira e debruça no volante do carro. Depois se volta pra mim.

— Tudo bem. Eu direi a ele o que você fez. Pode ter certeza que o deputado não quebrará o acordo. Mas assim que você expor tudo, terá que nos dar essa gravação.

— Eu não planejo ficar com ela.

Saio do carro sentindo um peso enorme nas pernas. Coloco o envelope entre a calça jeans e a cueca e cubro com meu moletom cinza. Em poucos minutos o carro dá a partida e eu fico sozinho na rua. Sinto uma estranha sensação de ser observado. Olho em volta, mas não vejo ninguém. Sigo caminho sentindo cada músculo do meu corpo tremendo. Eu realmente ameacei o pai de Victor. Meu deus o que eu tenho na cabeça pra fazer isso?

— Alice? Está me ouvindo?

“Estou”

Alice responde na escuta que há em meu ouvido.

— O que a gente acabou de fazer? Isso foi insano. — eu mantinha meu tom de voz baixo, pra ninguém achar que eu estava falando sozinho.

“Eu sei, mas saiu exatamente como planejado. Agora você tem uma vantagem sobre o deputado e ele não tem nenhuma sobre você”

— Você é brilhante sabia?

“Eu ouço muito isso” — se gabou Alice — “Agora tome cuidado com esse envelope. Deixe ele em segurança até que possamos avaliar juntos e formar um novo plano pra expor tudo.”

— Pode deixar. — Mas e aí, o que fazer agora, após a nossa pequena vitória?

“Já que eu não estou aí pra comemorar com você. Terei que tomar minha garrafa de vinho sozinha enquanto edito a gravação pra ficar só a parte que nos interessa.”

— Parece divertido. Uma pena eu não…

Novamente sinto ser observado. Olho em volta, dessa vez vejo duas pessoas um pouco mais atrás de mim. Eu não conseguia ver seus rostos. Comecei a adar mais rápido. A rua estava vazia, exceto por mim e pelas duas pessoas atrás. Tinha que chegar a uma rua mais movimentada por garantia.

“Uma pena o que?”

Ouço Alice falar.

— Desculpa, é que… deixa pra lá, é bobagem.

Eu comecei a andar mais rápido, mas as duas pessoas começaram a andar rápido também. Isso não podia ser coincidência. Saio correndo. Eles correm também.

— Alice? Alice?

“Oi, estou aqui.”

— Estou sendo perseguido.

Viro a esquina, numa outra rua vazia. Péssimo lugar para estar agora.

“Sai daí, Toni. Tenta achar um lugar seguro, vá para alguma rua movimentada.”

— É o que estou tentando fazer.

As duas pessoas, que agora eu já conseguia ver que eram dois homens altos, estavam chegando cada vez mais perto. Eles eram muito mias rápidos que eu. Mas eu não desistia. Corria sentindo a adrenalina tomar conta do meu corpo. Eu corria como se minha vida dependesse disso, e de fato, ela dependia. Estava chegando perto da esquina de uma das ruas mais movimentadas da cidade. Faltava pouco, só mais um pouco. Mas o cansaço estava me vencendo, eu sentia a parte inferior da minha costela doer por causa da respiração desregulada. Estava quase chegando.

Sinto uma mão puxar meu moletom para trás, me derrubando no chão. Tarde demais, fui pego.

— Ele até que é rápido. — disse uma voz que eu reconhecia muito bem, graças as ameaças que vinha recebendo ultimamente.

— O que vocês querem? Me deixem em paz.

— Não estamos afim. — disse Natan, o brutamonte jogador de basquete.

— Dessa vez Valentina está nos pagando muito bem pelo serviço. E nós ainda poderemos te bater pra nos divertir. — disse Gabriel.

“Toni?! Toni! Me responde, eu to ouvindo você falar. Que droga, Toni, fala comigo!”

Eu não podia responder Alice. Se os dois idiotas estão aqui por ordens de Valentina, eu não poderia correr o risco de expor o nome dela. E em hipótese alguma poderia deixar eles pegarem o envelope.

— Vamos te dar uma chance desta vez, Toni. — disse Gabriel. — Você pode se levantar e ter a chance de se defender.

— Eu sozinho, contra vocês dois? Muito justo.

— Não reclame. Já é mais do que você merece.

Me levanto rapidamente. Pra tentar ter a chance de me defender. Embora eu saiba que não posso contra os dois ao mesmo tempo.

Natan tenta me dar um soco, mas eu esquivo dando alguns passos pra trás. Dessa vez quem se preparava para atacar era Gabriel. Ele me acerta com um soco muito forte no rosto e eu caio pra trás sentindo meu rosto latejar de dor. Natan se aproxima para me dar um chute, mas eu me adianto e o chuto na coxa. Ele cai. Gabriel me acerta um chute nas costas, me fazendo perder o fôlego por alguns segundos e me desorientando totalmente. Natan me levanta pelo moletom e acerta um soco no meu estômago seguido de outro no rosto. Gabriel que continuava de pé, começa a me dar vários chutes e logo Natan imobiliza meu braço direito atrás das costas, me fazendo ficar completamente imóvel de dor. Eu sei o que eles querem fazer.

— Não! Por favor!

Pela primeira vez eu imploro por clemência. Desde que tudo isso começou, eu nunca senti tanto medo quanto agora.

Natan apertava ainda mais meu braço sobre minhas costas. Até que ele afunda meu rosto no asfalto. Um pé me segurava no chão e ou outro ele usava de apoio. Meu ombro estava prestes a ser deslocado. Lágrimas caíam dos meus olhos e Gabriel ria. Ele gritava insultos como eu ser uma criança chorona. Mas eu não estava nem aí. Tudo o que eu queria, era que um milagre acontecesse.

Natan se preparava para o ato final e eu continuava chorando. Até que, por fim, ele faz. Pressiona meu ombro até ouvir um pequeno estralo e eu sentir uma dor insuportável. Os dois garotos gargalhavam e zombavam de mim jogado no chão. Eu gritava de dor, mas não apenas de dor, também gritava de raiva de mim mesmo, por não ser capaz de lutar contra os dois e sair dessa situação. Neste momento eu me odeio por ser fraco.

— Isso foi muito divertido. — disse Gabriel — Eu quero quebrar o outro agora. Será que ela nos paga um bônus?

— Vale a pena a tentar. — disse Natan.

Gabriel chega mais perto e faz a mesma posição que Natan estava para deslocar meu ombro esquerdo. Eu novamente pedia, suplicava pra ele não fazer isso, mas era inútil. Ambos estavam fazendo isso por puro prazer, o dinheiro era um bônus. O pagamento maior era me torturar.

Quando Gabriel estava prestes a deslocar meu outro ombro, eu vejo alguém derrubá-lo no chão. Era Sebastian. Sebastian dava socos no rosto de Gabriel. Natan foi pra cima dele, mas Sebastian se levantou rapidamente e bloqueou o soco e o acertou com um contra-ataque. Depois deu uma joelhada no nariz que eu pude escutar se quebrando daqui. Na mesma hora o nariz começou a jorrar sangue, muito sangue. Natan foi para trás impossibilitado de lutar pela dor e pelo sangue escorrendo pelo rosto. Gabriel ia se levantando, mas Sebastian não deixou. Ele acertou Gabriel com um chute no rosto e o nocauteou.

— Vá embora daqui! Leva esse babaca junto e nunca mais cheguem perto do Toni. Se não eu mato vocês!

Natan tentava dar conta de estancar o sangue jorrando de seu rosto e de carregar o amigo desacordado. Sebastian não facilitou para os dois, ele podia ter matado os dois jogadores de basquete. O ódio que irradiava dos seus olhos deixava claro que era isso mesmo o que ele queria fazer.

Ele corre até mim.

— Toni! Toni por favor fala comigo. Toni!

Toco em seu rosto com a mão esquerda. Eu tentava falar, mas palavras não saíam da minha boca. Eu só sentia uma dor sufocante. Muita dor. Mas ainda conseguia ouvir. Sebastian ligava para a ambulância. Depois que terminou a ligação ele se voltou para mim.

— Fica comigo, Toni. Não perca a consciência, por favor. Fica comigo.

Eu só ouvia Sebastian falar. Eu queria dizer algo para ele, dizer que estava tudo bem. Queria poder abraçá-lo. Mas a dor era muito grande. E aos poucos foi ficando insuportável de aguentar. Num segundo eu estava sentindo dor, no outro eu não sentia nada.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo sai na terça- feira. Uma grande abraço a todos e obrigado pelos comentários :)



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