O Internato escrita por Rain


Capítulo 18
Dezoito




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Acordo no hospital sentindo muitas dores pelo corpo. Eu vestia roupa de hospital e uma tipoia imobilizava meu braço esquerdo. A luz estava apagada e minha mãe estava deitada numa poltrona ao lado da minha cama. Tento levantar, mas sinto uma dor imensa vinda do braço. Sento-me na cama colocando todo o peso do corpo no braço direito que estava bom, mas não consigo evitar dar um pequeno gemido de dor.

Minha mãe acorda no mesmo instante.

— Toni. Como você está? Sente alguma dor?

— Não, quer dizer, sinto. Mas estou bem.

— Você saiu sem nos falar nada e de repente recebemos uma ligação de Sebastian falando que você estava hospitalizado. Nos deu um baita susto.

Minha mãe levanta da poltrona e me dá vário beijos por todo o meu rosto.

— Meu filho. Você me assustou. Quando vi o estado que você estava… — os olhos de minha mãe se enchem de lágrimas.

— Tudo bem mãe. Eu estou bem agora, não chore.

— Eu te amo muito filho, se algo acontece com você neste assalto eu não ia me perdoar. Não saí da cidade grande pra perder você pro crime numa cidade pacata como esta.

Assalto? Sebastian. Ele deve ter mentido sobre a noite anterior. Um rápido flashback passa em minha mente: lembro-me de estar no carro com o motorista do deputado D´Angelo, e depois ser seguido pelos dois jogadores de basquete, até ser salvo por Sebastian. O envelope! Aonde está o envelope? Também preciso saber onde estão a câmera e a escuta de Alice. Péssima hora de vir parar num hospital.

Minhas roupas estavam dobradas num canto do quarto, a câmera ainda deve estar lá. Mas aonde está o envelope e as escutas? Preciso ver Sebastian agora mesmo.

— Mãe, eu preciso falar com Sebastian. Ele está aqui?

— Está sim. Ele passou a noite inteira aqui, mesmo eu falando pra ele ir para casa. Vou chamá-lo. E vou aproveitar pra avisar o médico que você acordou.

Mamãe sai pela porta. Em poucos minutos vejo Sebastian entrar sozinho.

— Oi. — sorriu — Como você está?

— Bem, na medida do possível. — sorrio de volta — Como você sabia onde eu estava?

Sebastian ficou sério. Ele queria dizer algo, mas hesitava.

— Eu senti que tinha algo errado no momento em que te vi na cafeteria. Então te segui. Ainda bem que segui. Quando você começou a correr eu perdi vocês por alguns minutos, mas consegui te encontrar quando ouvi você gritar.

— Obrigado por me salvar.

Seguro sua mão com a minha mão boa. O momento estava bom, mas eu preciso saber se o envelope está com Sebastian.

— Vou ser direto com você, Sebastian. Eu tinha um envelope comigo, está com você?

Sebastian tira o envelope de dentro das calças. Estava escondido no mesmo lugar que eu tinha escondido quando estava comigo.

— Eu abri o envelope, não pude evitar. Toni eu preciso que você me explique o que está acontecendo, sem mentiras. — vozes soaram pelo corredor — Mas não agora, a polícia está lá fora. Eu dei um depoimento que você foi espancado por assaltantes. Falei que quando encontrei você eles fugiram e deixaram você caído. Eles vão querer falar com você também, por favor confirme a história. Na sua casa a gente conversa melhor. Temos muito o que conversar pelo jeito.

Aceno positivamente.

Minha mãe entra no quarto acompanhada de um médico. Sebastian guarda o envelope tentando discretamente, sem que os dois que estavam entrando no quarto percebessem.

O médico começa a falar sobre meu estado. Enquanto ele falava eu só conseguia pensar em como explicar toda a situação a Sebastian. Não vai ser fácil. Sinto medo que ele se afaste de novo, ou pior, que ele se machuque por minha causa. Fico mergulhado em meus próprios pensamentos, mas o médico diz algo que, enfim, me tira dos meus devaneios.

— Você terá que ficar em repouso por um bom tempo. — disse ele.

— O que?! Não. Eu tenho competição de natação. Não posso deixar minha equipe na mão.

— Garoto você deslocou o ombro, precisa descansar. Se você nadar ou fazer qualquer tipo de esforço, pode prejudicar ainda mais seu ombro.

Meus olhos enchem de lágrimas. Eu estava ansioso para competir. Queria sentir de novo a sensação de nadar com outras pessoas, conhecer nadadores tão bons ou até melhores que eu e sentir a adrenalina que só uma competição pode proporcionar. Eu não ligo pra ganhar, mas amo sentir a emoção de estar em uma competição. Seria minha última competição antes de abandonar a natação de vez, e isso foi tirado de mim de forma brutal. Eu odeio Valentina ainda mais agora.

— Tudo bem. Eu quero ficar sozinho por uns minutos. Posso?

— Minha mãe me deu um beijo na testa. E saiu junto com o médico e Sebastian, mas antes que ela fechasse a porta, um policial entrou.

— Bom dia, Atonio. Eu sou o delegado Ravel. Posso ter uma palavrinha com você? Pra entender o que houve na noite passada.

— Não é uma boa hora agora, eu quero ficar sozinho. — digo tentando segurar as lágrimas que estavam quase caindo.

— Será rápido, eu prometo.

Numa completa falta de bom senso, o delegado começa a me interrogar. Eu repito a mesma história de Sebastian, como combinado. Deixo fora as identidades de Gabriel e Natan, e confirmo que fui espancado numa tentativa de assalto.

O interrogatório termina.

Não sei se fui convincente o suficiente, mas não estou nem aí. Só queria ficar sozinho e chorar em paz. Mas isso não aconteceria tão cedo. Logo após o delegado ir embora, o treinador entra no quarto. O treinado foi muito mais compreensível do que eu achei que seria. Falou para eu comer alimentos ricos em cálcio e descansar. Disse também que tinha muita esperança que eu levasse o primeiro lugar na minha modalidade, mas que imprevistos acontecem.

— Treinador, Carlos é um ótimo nadador, ele dará conta de me substituir.

— Eu sei que é, o problema de Carlos é a falta de confiança. Mas enfim, espero que você apareça nos treinos para dar apoio moral aos seus colegas.

— Eu irei.

— E cuide deste braço, Toni. Você ainda tem um futuro brilhante pela frente como nadador se quiser.

O treinador sai do quarto. Finalmente deixo as lágrimas saírem. Queria não ser tão fraco, mas não posso evitar. Mas isso não vai ficar assim. Estou cansado de sofrer por causa da tirania de Valentina, eu vou dar um fim de uma vez por todas nisso.

 

Nunca senti tanta falta do meu quarto quanto estava sentindo agora. Tudo bem que este não é um quarto pelo qual eu tenha algum apego emocional. Eu mal dormia nele, mas depois de passar quase um dia inteiro num quarto de hospital, só de ter um lugar aconchegante eu já estava feliz.

Deito-me acomodado na cama, Sebastian me ajuda a ficar na posição mais confortável possível. Apesar de tudo o que aconteceu, estou feliz que Sebastian está aqui comigo. Minha mãe desce para preparar alguma coisa para o jantar e meu pai foi ajudá-la. Eles tem esse hobby de cozinhar juntos. Após me acomodar, Sebastian fecha a porta do quarto e tranca pra garantir que não seremos interrompidos na nossa conversa.

— Agora me diz, Toni. O que significa isso? — ele mostra o envelope — E porque Natan e Gabriel estão perseguindo você? Sem mentiras, por favor.

Conto sobre o plano de vida e sobre os alunos bolsistas que são vendidos em leilões. E que desde então venho sofrendo ameaças dos dois jogadores de basquete, e que estava fazendo um plano pra acabar com tudo isso. Conto que tinha ido ver um contato do deputado D´Angelo ontem e foi ele quem me entregou o envelope. Quando conto tudo, Sebastian cai no choro.

— Toni… não acredito que você passou por tudo isso e eu não estive do seu lado pra te proteger. — disse entre fungadas e muito choro. — Isso é culpa minha.

— Sebastian, você não tem culpa de nada. Eu sou o único culpado, por ter violado essa regra idiota de hierarquia, e mesmo assim eu não me arrependo.

— Não, Toni. É minha culpa sim. Valentina fez isso pra te afastar de mim.

— Por que ela faria isso?

— Tem uma coisa do meu passado que eu não contei a você, Toni. Eu e Valentina já namoramos. Faz muito tempo, eramos muito novos e eu realmente gostava dela, mas fui percebendo que Valentina não era uma pessoa… normal. Ela era controladora demais, ciumenta demais, beirava o doentio. Então eu terminei o namoro.

Está revelação me pegou de surpresa. Jamais poderia adivinhar que Sebastian já havia se envolvido com Valentina. Os dois eram tão diferentes. Completamente opostos, entendo o porque de não ter dado certo.

— Eu… eu não sei o que dizer. Jamais imaginei que vocês tivessem algo no passado.

— Sim, mas isso não é tudo. Pouco tempo depois, fomos para o primeiro ano e ela assumiu a presidência do grêmio, de uma forma misteriosa que até hoje ninguém sabe. Dispensou todos os outros membros antigos e formou um novo grêmio estudantil, apenas com alunos da elite. Implantou o sistema de classes e o colégio virou essa ditadura social que você conhece hoje. E não para por aí, toda pessoa que eu me aproximava, Valentina dava um jeito de me separar dela, seja namoro ou amizade. Todos que se aproximavam de mim ela dava um jeito de machucar ou expulsar, pra me manter longe de mim. Não sei isso foi uma vingança ou se ela ainda tem sentimentos, mas não queria que ninguém mais se machucasse por minha causa. Então passei a me isolar de todos. Foi assim durante o ensino médio inteiro. Até eu conhecer você. Você era diferente de todos que eu conhecia, era inocente, sonhador, inteligente. Eu queria conhecer você, estar perto de você. E acabei baixando a guarda, não devia ter feito isso. Agora Valentina te enfiou nessa coisa de plano de vida. Ela sabe que machucando você, também estará me machucando.

— Então você se arrepende de ter se tornado meu amigo?

— Não! Jamais me arrependeria. Eu… eu gosto de você, Toni. Não como amigo, estou apaixonado por você. — Sebastian toca em meu rosto e me acaricia. Ele ainda chorava. — Mas se eu tivesse ficado longe, nada disso teria acontecido.

— Você… gosta de mim? — não consigo conter um sorriso.

— Sim. No começo achei que estava ficando maluco, por que nunca tinha gostado de nenhum garoto antes, mas o seu jeito, seu charme, sua beleza, você é tão frágil e delicado. Me apaixonei por você. Tentei ficar com garotas pra ver ser meu sentimento não era apenas confusão, mas na festa da Anna. Quando vi você indo embora todo irritado. Quando você me viu com outra garota… doeu. Foi ali que tive certeza que não estava ficando maluco, era amor.

Eu levanto num impulso e beijo Sebastian. Sinto uma onda de dor por ter levantado bruscamente, mas nada importava. Eu só queria me entregar ao beijo que ansiava há tanto tempo, antes mesmo de sequer saber dos meus sentimentos, meu corpo já ansiava por Sebastian. Por tê-lo ainda mais próximo do que já esteve. Seu beijo era lento, suave, doce. Era perfeito.

Afastamo-nos. Senti um pequeno constrangimento, de ambas as partes. Eu não tinha ideia do que dizer e Sebastian também não. Ele acaricia meu rosto e toca meus lábios com seus longos dedos.

— Eu também gosto de você, Sebastian. — digo sorrindo.

— Por que nunca falou nada? Nunca nem demonstrou gostar de mim.

— Eu achei que você não curtisse, sabe. E eu também nunca tinha gostado de outro garoto antes, você é o primeiro.

Sebastian sorri.

— Estou honrado em ser o primeiro garoto de sua vida. Prometo não decepcionar você. E prometa que nunca mais vai esconder nada de mim. Não vamos esconder nada um do outro.

— Prometo.

Sebastian me beija, seu beijo era ainda mais caloroso agora. Eu estava tão feliz que nada neste momento importava.

Alguém bate na porta.

Nos separamos rapidamente assustados. Sebastian foi destrancar a porta. Ele andava tentando se arrumar pra parecer que não estávamos fazendo coisas que casais fazer. Ele abre a porta. Era meu pai. Ele entra.

— Toni. Você tem mais visitas. Victor e uma garota muito bonita estão lá embaixo. Peço pra eles subirem ou você vai recebê-los na sala?

— Pede pra eles subirem pai. Estou meio indisposto. — digo pra ganhar tempo.

Sebastian me olha meio sem graça, meio aliviado. Sua expressão dizia “essa foi por pouco”. Eu dou risada. Ele sai pra lavar o rosto e se recompor enquanto Victor e Alice subiam. Por que a garota acompanhando Victor só podia ser Alice, não tinha como ser outra.

Minhas visitas entram no quarto. Alice corre na minha direção e me abraça com tanto entusiasmo que eu dou um pequeno gemido de dor.

— Ai meu deus. Desculpe-me, Toni. Não foi minha intenção te machucar. Mas eu estava tão tensa com isso tudo. Nós só conseguimos permissão para sair do colégio agora.

— Cara você está horrível. — disse Victor se aproximando. — Mas estou feliz que está tudo bem contigo. Mas o que houve com você?

Alice e eu nos encaramos. Como se um estivesse esperando que o outro falasse.

— Ele sofreu uma tentativa de assalto. — a voz de Sebastian soou da porta.

Eu agradeço em silêncio.

— Esta cidade não era perigosa assim. — disse Victor.

— Tenho certeza que o Elite é muito mais perigoso. — disse Sebastian entrando no quarto.

Victor riu. Todos forçamos uma risada para não deixar apenas Victor rindo sozinho, mas apenas Victor não havia percebido que Sebastian estava falando sério.

— Filho o jantar está pronto. Chame seus amigos para jantar conosco. — gritou minha mãe do andar de baixo.

— Vocês vão ficar para jantar. Minha mãe não vai aceitar não como resposta, vou logo avisando.

— Bem, já que ela insiste tanto. — disse Victor colocando a mão no ombro de Alice.

Sebastian me ajudou a levantar. Passei meu braço bom por cima de seu ombro e ele me segurou pela cintura. Me deu apoio nas escadas e me ajudou a sentar na cadeira. Ele foi tão cuidadoso que todos pararam pra observar. Fiquei morrendo de vergonha, mas achei fofo.

O jantar foi muito agradável. Era a primeira vez que meus pais viram Alice e eles adoraram ela. Encheram ela de elogios e até sugeriram que éramos algo a mais do que amigos, deixando nós dois sem graça. Sebastian ficou sério e nem disfarçou o ciúme. Eu segurei sua mão por baixo da mesa, e só depois disso que ele voltou a interagir como antes.

Eu estava feliz. Era a primeira vez que eu estava reunido com meus amigos. Só faltou Rafael para estar todos aqui. Senti falta dele. Mas ele está focado na competição. Não poderia desconcentrar ele. A reunião completa de amigos teria que ficar pra depois.

No fim do jantar, meus pais iam lavar louça, mas Sebastian e Victor insistiram em lavar. Eu aproveitei o momento de distração de todos para ir falar com Alice em particular. Subimos para o quarto.

— O que aconteceu ontem? Eu fiquei tão preocupada e você não me respondia. Eu só ouvia tudo em pânico. — indagou Alice.

— Gabriel e Natan, eles me seguiram e me agrediram, de novo. E dessa vez Valentina pagou pra eles quebrarem meu braço. Apontei para o braço imobilizado.

— Você podia ter me dito algo, eu poderia ter ligado pra polícia.

— Eu não podia. Ninguém sabe o que estamos fazendo. Eles não podiam saber que eu tinha escutas, muito menos o seu nome.

— Entendo. Aonde estão as informações? Vou guardá-las em segurança.

Peguei o envelope embaixo da minha cama, pego também a micro câmera e a escuta e entrego tudo a Alice. Ela guarda em sua bolsa.

— Eu vou olhar todas essas coisas e ver o que podemos tirar de bom para o nosso plano. Tome muito cuidado, Toni. E vamos manter todos fora disso, ok? Apenas eu e você. Será melhor assim.

Eu já tinha contado pra Sebastian. Conhecendo ele como eu conheço, jamais que me deixaria nessa sozinho. Mas decido omitir esta informação de Alice por enquanto.

— Ok. Apenas nós dois. — digo.

Alice sorri.

— Perfeito. Hora de pôr um fim nessa droga de plano de vida.


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal, como estão? Gostaram do capítulo de hj? rs. O próximo saí na sexta feira. Um grande abraço pra todos :)



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