Brilho da manhã e a chuva ingrata escrita por Lostanny


Capítulo 5
E x t r a — entre manhã e noite o espaguete de frio azul;


Notas iniciais do capítulo

Espero que tenham gostado da história até aqui! :3



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Como espaguete de frio azul, como uma neve que se desfazia em seus ossos, a relembrança era uma dura moradia, mas também tinha poucas motivações para se desacomodar dela. Também, sem ela, nada começaria ou poderia de alguma forma ser feito a partir de peças desajustadas ou faltantes. Cabia a ele, ao encontrá-la, ao explorá-la, essa relembrança.

Antes de jeito inocente, sem entender as implicações que sua curiosidade traria. Quando descobria pouco a pouco aquelas informações encobertas, não compreendia em totalidade, mas o desassossego estava ali. Mas, apesar de tudo, além de tudo, vital. Por isso, perdurava a sua estadia. Fria, fria, e não era de conforto.

Não o bastante. Não poderia.

Em algum ponto não conseguia mesmo descansar. Ou, então, o que restaria era ficar à mercê de um complemento que era imprevisível de chegar — algo que já acontecia de certa maneira, antes que viesse a perceber. Queria descansar, sim, mas era difícil quando cabia a ele. Querendo ou não, admitindo ou omitindo.

(Não era algo que gentileza, ou bravura, ou conhecimentos profundos poderiam resolver. Aquela criatura, quando aparecia, só se movia por um instinto pleno. Era destruir porque podia: roubar, amassar, rasgar, transformar em poeira. Cabia a ele buscar ser o injusto a injustiça)

A noite só se fazia mais branda para Sans quando estava bastante frio, a ponto de que sentidos pudessem estar confusos. Por isso, de todos os lugares que poderiam se instalar, ficaram em Snowdin. Para seu jeito despreocupado, antes de tudo e tudo, o frio de início se apresentou mais como uma obrigação que um pedido que poderia fazer.

Como descartar a ideia de morar em um lugar tão aconchegante para se tirar uma soneca?

Ah, mas preferia tão mais não ter que carregar aquela raiva, rancor, level de violência, (por quê? Quando tudo o que buscavam eram sentimentos positivos? O que eles teriam feito, afinal?) eram sentimentos tão custosos, carregados.  Preferia permanecer cômico.

E, sim, para que tivesse aquela certeza, a criança daquela vez teria que esperar.

Papyrus ficou surpreso ao vê-lo em seu posto e acordado, para então reclamar de seu trabalho de artesão.

— Sans! O que é isso!? — Ele apontou para o que o irmão tinha nas mãos.

— Cachorro quente. — Sans disse como se fosse a coisa mais natural. Ele cuidadosamente preguiçosamente desenhou uma linha encurvada de ketchup na salsicha do cachorro quente. — Hoje estão custando 30 g, mas para você é por conta da casa.

Ali estava, o cachorro quente foi estendido na direção do irmão mais novo, com uma piscada de um dos olhos de Sans como cobertura final. Papyrus entrecerrou os olhos desconfiado.

— Você sabe muito bem que eu, o Grande Papyrus, só se alimenta dos pratos mais finos! E esse não é um deles!

— Bem, é o que temos para hoje. É pegar ou pegar. — Sans disse com um sorriso.

— Eu não tenho opção de recusar!? — Papyrus disse surpreso.

— Não. — Sans disse com o mesmo sorriso.

— Certo. Só porque o Grande Papyrus não pode recusar... — Papyrus disse contrariadamente aproximando a boca do cachorro quente.

Até que algo chamou a atenção de Papyrus, um barulho de pegadas na neve. A alma de Sans deu um pulo entre as costelas.

O irmão logo começaria aquele número em que olharia para ele confuso, voltaria a olhar para humano, então para ele de volta — até ficar tonto de tanto girar —, e perceber que aquela criança era o que estava procurando em meio a seus intermináveis e rotineiros patrulhamentos.

E então, depois de cumprir sua missão, entregando o humano, Papyrus ficaria popular, popular e popular! Mas indo contra as ações que vinha realizando em outras linhas do tempo, Sans agiu rápido.

Aproveitou que Papyrus estava próximo dele, por ter tentado dar uma mordida no cachorro quente oferecido, para abraçar o irmão pelos ombros, puxando no processo o rosto do outro na sua direção. A exclamação de Papyrus de surpresa e alguma revolta foi abafada pela forma como tomava a boca do outro com uma concentração rara para seu ser.

Pelo menos, o que geralmente se esperava de Sans. E um olho azul intimidador foi o suficiente, na direção da criança caída (estagnada onde estava pela surpresa de presenciar aquela cena), para que o humano apressasse os passos para longe de seu ponto de vigia.

Encontro inevitável adiado, mais uma vez, por enquanto. Mas como preço ganhou um problema tão ou maior que antes.

Ou não?

— Sans! Você não precisa tentar limpar meus dentes, eles não estão sujos?? — Papyrus disse, confuso, com uma das mãos enluvadas na boca, tentando disfarçar alguma coisa.

Mas a alma era tão honesta como o dono comumente era. Dessa forma, fez com que as regiões dos ossos — onde estariam prováveis bochechas humanas — se aquecessem a ponto de um alaranjado ser notável.

— É, mas é sempre bom garantir. — Sans disse, com aquele constrangimento atingindo um pouco ele também.

Mas não tanto para não se sentir tentado a repetir a experiência. Contudo, deixaria Papyrus desviar o assunto. Por enquanto, claro.

Um pequeno suspiro interno.

Mais do que tudo, o que realmente lhe importava saber era quanto tempo aquele tipo de paz iria durar. Queria pelo menos conseguir escutar algo um pouco mais claro de Papyrus daquela vez, mesmo que viesse a doer... já estava bastante frio, mas nunca tanto assim para que quisesse deixar aquele calor ir embora.

Não, nunca.


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Notas finais do capítulo

Até!



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