Um dia. escrita por keemi_w


Capítulo 5
Mudanças.


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa, leitores ♥ como estão? Mais um capítulo quentinho saindo do forno para vocês! Boa leitura!



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Ouça: Logo agora (Mar Aberto)

     Oi, rainha deste mundo inteiro!
            O que aconteceu ontem? Pa-
            pai falou quase nada desde que
            você foi embora, até a Amanda
            estranhou...

                Princesa Annaju às 10:25h

 

     Bibi, não sei o que houve, mas
            vou ter uma feira da faculdade
            no próximo domingo e seria óti-
            mo se você fosse.

            Dedé às 11:03h

 

    Queria saber o motivo desses
            olhos tão lindos estarem incha-
            dos em plena sexta-feira. Hoje é
            dia de alegria, monamour. Passo
            aí na sua sala agora na hora do
            almoço, tá? Trouxe uma comida
            maravilhosa!

            Thiaguinho às 11:27h

Por mais que me doesse, eu não queria responder Annaju e André no momento. Eu sei que eles não têm culpa nenhuma, mas às vezes é necessário ficar longe de todo mundo para ter espaço em sua própria mente.

Parece que Thiago estava adivinhando que eu ia fugir dele no almoço e iria comer fora, provavelmente com minha mãe, pois assim que meu último paciente da manhã saiu pela porta ele adentrou.

— Macarronada vegetariana com molho de lentilhas!

— Você quem fez? – perguntei rindo.

— Não, foi mamãe! – ele brincou. – Eu, com jeitinho, consegui convencê-la a consumir menos carne animal. Ela se empolgou em transformar receitas comuns em receitas vegetarianas. Vamos esquentar?

Assenti e fomos até uma salinha que temos na Clínica com café, microondas e uma mesa para refeições. Sentei-me enquanto ele colocava os marmitex para esquentar. Era uma sala pequena, porém aconchegante.

— Estou preocupado com você – disse sem rodeios.

— Não fique.

— O que aconteceu?

— Não quero falar sobre isso, Thiago – rebati já ficando nervosa.

Ele deu de ombros e tirou a comida que já estava quente, colocou uma na minha frente e foi pegar os talheres. Ele poderia simplesmente ignorar minha existência, mas o conhecendo do jeito que conheço não haveria descanso até entender tudo tim tim por tim tim.

— Foi o Benjamin, não é?

Dei uma colherada no macarrão.

— Agradece sua mãe por mim, ficou uma delícia!

— Fabiana, para com isso! – ele exclamou se sentando de frente para mim e me olhou incisivamente.

Desde a faculdade Thiago era assim. Balancei a cabeça ao me lembrar de um fato interessantíssimo: em um dia de aula, o professor de biologia deixou no ar que havia saído de São Paulo no final de semana, todos se esqueceram desse comentário menos quem? Thiago, é claro! Após a aula, o professor não somente contou para meu querido amigo para onde tinha ido como as principais rotas para chegar lá. Thiago conseguiu descobrir também, que esse professor tinha ido acompanhado de uma outra professora do nosso curso e, a partir dali, especulações sobre o relacionamento dos dois começaram a surgir. Cerca de um semestre depois, os dois assumiram um namoro.

Então, como não iria me livrar de sua insistência tão facilmente, decidi ser breve:

— Benjamin surtou de ciúmes com o primeiro beijo da Anna, fui defende-la, acabei levando esporro sem motivo... Enfim, foi uma briga séria, não quero me prolongar no assunto e você poderia respeitar um pouco meu espaço.

Thiago respirou fundo.

— É que você chegou com os olhos inchados de quem passou muito tempo chorando no dia anterior...

Foi ali que eu explodi, não foi Thiago que decidiu entrar no assunto? Pois é, minha cabeça não tinha esfriado completamente.

— E VOCÊ QUERIA O QUÊ? – Ele se assustou. – Eu dediquei a bosta da minha vida para essa família e fui destratada! Uma desconhecida conseguiu ser mais sensata do que o cara por quem eu sempre fui apaixonada, Thiago! A Amanda foi incrível, me defendeu, falou um monte para o Benjamin... – Em um ataque de raiva peguei vários sacos plásticos de ração e comecei a amassar com força. – A Anna gritou para o pai parar de falar daquele jeito comigo. Então eu tive a brilhante ideia de dar uma oportunidade para ele se explicar, mas só falou merda mais uma vez – Peguei todos os sacos amassados e joguei no chão. – E quando eu falo que não posso ter filhos, adivinha? Remorso! Para mim aquilo não adianta de bosta nenhuma – Comecei a pisar nos sacos com vontade, nem sei da onde aquele acesso de raiva estava brotando. – E sabe por que o remorso, Thiago? Porque ele disse em alto e bom som que não sou mãe do André e da Anna! E é claro que não sou! É óbvio! Mas Benjamin quer deixar isso MUITO claro, como se eu não soubesse disso!

Terminei de pisar, chutar e dar gritos de nervoso e me sentei novamente na cadeira, exausta. Talvez agora eu tenha sentido um pouco de vergonha do que acabei de fazer. Tampei meu rosto com as mãos sem acreditar que tinha desabafado tudo que estava sentindo.

— Você não pode ter filhos, Fabi? – Thiago sussurrou.

— NÃO! – gritei com raiva. – Aqueles dois foram o mais próximo que tive e vou ter disso. E agora, não tenho mais nada.

Thiago se levantou com calma e pegou todos os plásticos do chão, colocou-os no lixo e puxou uma cadeira do meu lado. Já estava esperando o maior discurso de amor próprio, de como sou maravilhosa, de como ele queria arrebentar a cara do Benjamin (coisas que ele sempre dizia em situações como essa), mas Thi apenas me puxou para o seu colo delicadamente e ficou acariciando meus cabelos.

— Para de ter pena de mim – eu disse mais calma.

— Não tenho a menor pena de você – ele rebateu no mesmo tom.

— Então por que está agindo assim? – eu ri e fiquei um pouco emocionada com seu gesto.

— Porque sou um cara lindo, gostoso e cheio de amor para dar.

Nem Thiago se aguentou porque em menos de cinco segundos nós dois tínhamos caído na maior gargalhada.

— Você é uma gracinha – eu disse sentando de volta na cadeira e terminando de comer o almoço.

— Eu já te falei: teria sido muito mais fácil ter se apaixonado por mim, e não por aquele... Protótipo de ser humano – Thiago deu de ombros e colocou uma quantidade incrível de macarrão em sua boca.

Tenho que concordar com ele, ter se apaixonado por Thiago teria sido mil vezes mais fácil.

— Eu te amo – eu disse e dei um beijo em sua bochecha. – Obrigada!

***

Annaju apareceu em casa para jantar. Sim, meu porteiro liberava automaticamente a entrada não só dela, como de André, mamãe, Thiago e, também, Benjamin. E, sim, todos eles tinham a chave do meu apartamento. Não, nenhum de nós tínhamos privacidade.

— Eu comprei bolo de chocolate, Fabi! – Annaju saltitou em minha direção e me deu um abraço.

Sorri pelo gesto. Ela era uma menina de ouro, uma gracinha mesmo!

— Meu favorito! – exclamei animada indo me sentar à mesa.

— E também vim dizer que talvez Andrei e eu comecemos a namorar em breve – seus olhos estavam grandes e brilhantes. Uma clássica adolescente apaixonada. – Papai entendeu que eu realmente estou na idade que provavelmente vou me apaixonar e namorar... Isso não é ótimo?

Andrei... Esse nome não me era estranho! Sei que já ouvi falar dele, mas não era coisa boa.

Pensei por um instante e me lembrei! Ele era o cara que, há mais ou menos um ano, tinha destratado e humilhado a minha Anna! Como eu poderia ter me esquecido disso no dia anterior? Ele tinha dado o primeiro beijo dela!

— Anna – tentei arranjar um jeito não muito rude de perguntar –, não foi esse mesmo cara que fez aquelas coisas ruins no passado?

Ela ficou super sem graça!

— Ah, foi – deu de ombros. – Mas já faz tanto tempo...

— Tem certeza? – perguntei novamente. – Porque, tá, é legal que você comece a namorar, nada contra. Mas tem que ser com ele? Poxa, o Juliano é seu amigo de tanto tempo... Vocês se conhecem, confiam um no outro, tem ser com o cara que foi um estúpido?

Acho que aquilo deixou Anna um pouco irritada. Ela tinha algumas explosões nervosas quando as coisas não caminhavam do jeito que ela gostaria.

— Ele está totalmente diferente, Fabi – ela foi mais seca. – Inclusive, a gente poderia marcar de você conhece-lo! Nem vou comentar nada a respeito do Juca porque você sabe que somos melhores amigos desde sempre e isso seria super estranho.

Decidi que não era hora de me intrometer mais naquele assunto, ela parecia bastante decidida a respeito e não veio pedir minha opinião, só veio me comunicar. Por isso, comentei sobre a feirinha de adoção e que precisaria de voluntários, pois seria em um grande campo aberto, muito maior do que o estacionamento do shopping do qual estávamos acostumados.

— Quer ser voluntária lá?

Ela abriu um enorme sorriso.

— CLARO! Aliás, acho que o Juliano vai querer ir também, Fabi, ele tem me falado que gostaria de participar de mais trabalhos voluntários! Vou chamar, vai ser muito legal!

Sorri satisfeita por ela não estar mais na defensiva, então fiz uma tentativa:

— Aliás, como foi o primeiro beijo? Lógico, sei que depois que seu pai apareceu foi um grande desastre...

Annaju sorriu envergonhada. Eu estava morrendo de curiosidade! Queria saber tudinho, se tinha sido bom, se ele tinha sido fofo e educado, se ela tinha se sentido constrangida e também ia contar minha experiência com meu primeiro beijo. Mas tudo que consegui foi:

— Eu conto outro dia, tá? Tenho que ir. A Amanda vai lá em casa e até que estou começando a gostar dela. Aquela mulher disse poucas e boas para o meu pai, tenho que admitir que a atitude foi admirável.

Era normal sentir muito ciúmes depois do que ela disse? Porque eu senti muito. Muito.

Nando me respondeu a mensagem confirmando a saída de sexta-feira. Ele parecia ser muito divertido e educado, de um jeito ou de outro acabei me sentindo próxima dele e até quase atraída. Nando era realmente muito bonito. Enfim, talvez fosse bom ter alguém leve e feliz como companhia para tentar abstrair tudo.

***

Talvez para uma mulher madura eu estivesse agindo igual uma criança. Mas eu não conseguia atender aos telefonemas de Benjamin. Simplesmente não conseguia. Acabava rejeitando todos eles.

Meu relacionamento com a Anna também não estava dos melhores, desde o dia que ela apareceu lá em casa não conversamos mais. Também não procurei, ela deveria estar ocupada com as provas na escola e o André com a própria vida. Permiti que todos começassem a se virar um pouco sem a minha presença, eu só não sabia o quanto me magoaria vê-los tão bem sem mim.

Pois eu teria de me acostumar, então.

***

— Por que para sair com o tal de Nando você se arruma tanto e quando é comigo mal toma banho? – mal entrei no carro e já estava sendo recepcionada da melhor maneira.

Dei risada e soquei seu ombro. Aquilo era mentira em tantos níveis... Mas um bom amigo sabe como encher seu saco.

— Eu não estou saindo com o Nando. Estou saindo com amigos – respondi dando de ombros. – E nem vem que eu sei que seu interesse está naquela tal de Mari que você tanto fala.

Thiago riu com gosto.

— Só existe espaço para você no meu coração... Mas eu gosto de me dar bem de vez em quando, certo? Certo.

— Você tá caidinho por ela, Thiago! Eu vi que só apareciam mensagens dela no seu celular durante o almoço! – argumentei fingindo incredulidade.

— Ei! – ele olhou diretamente para mim e depois deu partida no carro. – Nós estávamos falando a respeito de você e do “Nando”. Como foi que você inverteu os papéis tão rápido? Aliás, estou muito feliz que você está se permitindo sair com outro cara depois de tanto tempo, Fabi. Você merece o melhor! E esse cara parece ser muito gente boa.

Ri com gosto e me recostei no banco. Pela primeira vez em muito tempo eu me sentia leve, me sentia sem enroscos. Benjamin e as crianças estavam bem, mesmo sem mim. Eu estava bem, mesmo sem eles. Eu me sentia desejada pela primeira vez em muito tempo mesmo, e aquilo era ótimo.

Chegamos ao bar e Thiago não perdeu tempo, já mandou mensagens para Mari. Ela respondeu que já tinham chegado e ia se encontrar com a gente na porta.

— Eiii, você! – ouvi uma voz familiar e dei de cara com uma Mari (Marina? Mariana? Mariane? Marilda?) muito sorridente. – Oi, “loirinha do Nando”.

 

— E... Está prontíssima! – Clara abriu o maior sorriso ao terminar de fazer minha maquiagem para sair em meu primeiro encontro.

Olhei-me no espelho e fiquei eternamente grata por ter uma melhor amiga com tanto dom para esse tipo de trabalho. Eu estava deslumbrante como nunca estivera. Talvez dezesseis anos seja o ápice de beleza de uma garota mesmo.

— Clarinha, você é demais! – abri o maior sorriso do mundo e a abracei. – Tá, mas vamos treinar o que pode acontecer nesse encontro.

Minha amiga riu com gosto e pegou o perfume da minha estante para borrifar em mim.

— Não dá pra treinar esse tipo de coisa, Fabi – ela explicou. – É natural, tem que deixar rolar. Sabe quando você planeja muitas vezes o roteiro de uma viagem, vira noites pesquisando a respeito e quando chega ao lugar descobre algo que nunca citaram nas agências nem nos blogs? Pois é. É assim que tem que ser seu primeiro encontro.

Suspirei. Estava muito nervosa. Talvez mais nervosa ainda porque Clara não estaria comigo. Como éramos mais novas, sempre que queríamos sair com algum menino, chamávamos a outra e um grupinho de amigos para não ser tão óbvio. Mas daquela vez era tão diferente... E Clarinha era tão confiante ao passo que eu era tão insegura.

— Se eu estragar tud...

— Shh! – ela tampou minha boca com as mãos e sorriu novamente. – Você está perfeita, é legal, inteligente e, principalmente, talentosíssima em fazer as pessoas se sentirem bem. – Senti que minhas mãos pararam de tremer. – Tudo que você tem que fazer é chegar lá e ser você mesma, pois assim já estará mostrando tudo que tem de mais maravilhoso dentro de você.


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Notas finais do capítulo

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