Um dia. escrita por keemi_w


Capítulo 4
Estradas.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Gente, espero que gostem desse novo capítulo! Acho que vai dar para entender mais um pouco sobre o relacionamento de Ben e Fabi... Um tanto quanto complicado/complexo? Talvez? Com certeza! ahahahah Enviem seus feedbacks, eu amo ler! Boa leitura!!



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Ouça: Não olhe pra trás (Capital Inicial)

Eu tomo decisões, mas me esqueço das consequências. Por mais que tenha dito que viveria minha vida, eu não conseguia deixar de ver Annaju e Dedé. Eles eram meus amores da vida! Por isso que estava, em plena quinta-feira, jantando com eles.

— Nossa, não vejo a hora que a viagem para Disney chegue logo! Parece que esses dois meses serão os mais longos da minha vida! – Anninha disse, obviamente, com muito drama em sua voz.

— Serão os dois meses mais necessários da sua vida! Porque o passaporte ainda nem chegou! – Benjamin ralhou.

A menina sorriu sapeca.

— Olhando por esse lado...

Dei risada por mudar tão rápido de pensamento. Ela era uma figura! Fazia todo mundo rir desde pequena com sua espontaneidade. Discretamente, tirou um pedaço de sua pizza e jogou no chão para Black comer. Repreendi-a pelo olhar.

— Eu tenho certeza de que será a melhor viagem da sua vida! – disse. – Imagina só nossa foto com o Pateta? E pode parar de dar comida para esse pidão, viu? Senão depois vai me leva-lo até a Clínica com intoxicação alimentar.

— Que fique claro que estou indo para essa viagem por obrigação! – Dedé reclamou. – Queria fazer um mochilão na Europa, isso sim!

Benjamin riu com gosto.

— Coitadinho de você! Ter que ir para Disney... Comer em dólar, falar inglês... Eu não sei como você poderia sofrer mais do que isso! – o homem ironizou e todos acabamos rindo.

Apesar de querer muito arcar com os gastos da minha passagem e hospedagem, Benjamin se recusou a aceitar meu dinheiro. Ele sabia qual era a situação da Clínica e, por mais que fosse melhor do que nos anos anteriores, ainda não dava para esbanjar. Por isso, depois de muito relutar, aceitei que ele pagasse apenas esses gastos. Todo o resto seria por minha própria conta.

Annaju e André se levantaram e começaram a retirar a mesa. Já que eu era uma convidada para o jantar, prontifiquei-me em lavar a louça e foi isso que eu fiz apesar de ser uma das tarefas que mais odeio no mundo! Os dois saíram rapidinho da cozinha e fiquei sozinha, como fiquei tantas vezes.

Ben entrou e fechou a porta atrás de si.

— E aí, Fabi? – ele se encostou na pia.

— Tudo bem? – perguntei evitando contato visual. Meu coração se acelerava só de senti-lo tão próximo.

— A Annaju já deve ter te contado, né?

— Contado o quê?

— Que estou namorando.

Nesse momento eu sentia meu coração querendo saltar pela boca. Olhei em seus olhos que tanto me fisgavam.

— Ah... S-Sim! – respondi. – Sim... Mencionou isso. – Peguei outro prato e o ensaboei. – Espero que dê certo.

Benjamin soltou o ar pela boca.

— Eles não têm aceitado muito bem, devo dizer. Não sei o que acontece, mas eles não são eles mesmos perto dela. E quando chegamos em casa, nenhum mencionou nadinha! Nem que gostaram nem que não gostaram. Acho que têm feito isso para me dar algum tipo de “apoio”, mas ao mesmo tempo não estão me apoiando, não.

Suspirei e me encostei na pia do mesmo jeito que ele estava.

— Deve ser difícil para caramba para eles, Ben. Eles devem querer muito o seu bem, mas querendo ou não é uma mulher desconhecida, por melhor que ela seja. Ela já conquistou sua confiança, falta conquistar a deles.

— Ela é incrível, mesmo... – ele começou. – Mas acho que também está nervosa com o fato de ser uma nova mulher numa casa com duas crianças já crescidas.

Tá legal, a conversa está tomando um rumo do qual não quero nem pensar. Pode parar de falar dela, Benjamin! Agora!

Nesse mesmo instante meu celular vibrou no meu bolso.

Oi, loirinha! Eu insisti para a Mari tentar conseguir seu número com seu amigo Thiago depois que vi o vídeo do vexame de ontem. Primeiro queria te pedir desculpas, caso eu tenha te constrangido ou alguma coisa do tipo, juro que não sou de beber, foi meu primeiro porre. Segundo, queria te chamar para sair com a gente de novo, você parece legal. Além disso, caramba, tu é muito linda!

                            Desconhecido às 20:55

Aquela mensagem me desestabilizou. Nunca que eu imaginaria que ele sentiria vontade de conversar comigo depois de ver o vídeo dele cantando Jorge e Matheus para mim. Isso normalmente causaria tanta vergonha na pessoa que provavelmente nunca mais ia querer a outra nem pintada de ouro. Mas mesmo assim ele queria me ver e ainda fez um elogio bem espontâneo (?). Sorri e me tranquilizei um pouco do meu ataque de ciúmes de antes.

— Pode ser – virei-me novamente para a pia para terminar de lavar as louças restantes.

— Você ia gostar de conhece-la – Benjamin continuou.

— Pode ser – concordei indiferente.

Terminei de enxaguar o último copo e saímos da cozinha. Benjamin me olhava de canto de olho um pouco desconfiado.

— Quer almoçar com a gente no sábado? – ele convidou. – Acho que ela vai também...

— Acho melhor não, muito obrigada – respondi prontamente.

Não, eu ainda não estou preparada para conhece-la! De repente voltei a ficar brava por ele continuar insistindo no assunto Amanda.  

Seu olhar ficou confuso e eu sustentei. Não desviei.

— Fabi, tem algo de errado com você? – ele perguntou me puxando pela mão e eu senti seu perfume.

— Não. Na verdade, vê se vocês param de dar comida humana para o Black, faz mal – brinquei e coloquei minha bolsa nos ombros. – DEDÉ, ANNAJU! DESÇAM PARA O MEU BEIJO! – gritei da escada.

Ouvi passos na escada e me virei uma última vez para ver Benjamin concentrado me olhando. E de braços cruzados! Eu o achava tão lindo com essa expressão confusa... Mas no momento não podia me concentrar nisso, pois ele tinha namorada.

— Já vai? – Annaju perguntou triste e me abraçou.

— Já, meu amor – ela me acalmava de uma maneira surreal. Encostei sua cabeça em meu peito e dei um beijo estalado em sua testa. – Nunca se esqueça...

— De que amo você – completamos em uníssono.

Sorri verdadeiramente para aqueles olhos castanhos e Dedé veio logo atrás dela.

— Tchau, Bibibi – ele brincou, mas em seu caso já estava muito maior que eu e ele que me abraçou forte me tirando do chão.

— Tchau, grandalhão.

Passei por Ben e lhe dei um abraço. Ele me seguiu até a porta e, quando teve certeza de que André e Annaju já estivessem no andar de cima, me puxou para perto.

— Você sabe que pode me contar de algo estiver acontecendo de errado, não é?

— Sei – falei um pouco sem graça pelos meus ciúmes e desviei o olhar.

— Você acha que eu apresentei a Amanda muito cedo para eles? Porque eu também achei... E você sempre fica com essa cara quando reprova alguma atitude minha.

— Ben, confie em você. Tenho certeza de que tomou e vai tomar atitudes certas – tentei mudar o rumo da conversa. – Então, estou indo, pois Pipoca e Thor estão sozinhos o dia todo.

Ben estava tão feliz, ele abriu um sorriso de orelha a orelha e me abraçou. Senti seu perfume... Aquilo só podia ser tortura! Como sou uma fraca que não consegue se livrar desses sentimentos terríveis que me fazem passar noites mal dormidas, abracei-o de volta temendo, pois quando nos soltássemos ele seria totalmente de Amanda. Era como se fosse até um abraço de despedida.

— Se cuida, tá? – ele disse segurando minha mão com força.

Assenti e fui embora. Talvez já devesse ter me acostumado, mas não.

 

Oi, cowboy! Está livre na sexta-feira? Thiago e eu íamos sair para um happy hour no Loirão de novo, leva sua turma. Vocês parecem ser ótimos!
Seu sorriso é uma gracinha.

Eu às 21:08

 

***

 

Aquela sexta-feira tinha um clima pesado. Não só por estar frio e nublado, mas também porque bichinhos chegavam em situações críticas e Thiago e eu não estávamos dando conta de todos.

Nosso hospital veterinário era referência, porém nunca foi de grande porte. Apareciam animais a cada vinte minutos com algum tipo de doença que necessitava de muita atenção e cuidado. Um pug lindo e gordinho acabou não resistindo ao câncer e, querendo ou não, isso acabou com o meu dia e com o dia do meu companheiro. Thiago disse que daria a notícia por mim e eu decidi tomar um ar fora daquela loucura da clínica.

Já eram cinco da tarde e meu estômago roncou de fome, porém não tinha apetite. Acho que não estava passando por semanas muito boas e estava fingindo para todo mundo que estava bem, quando não estava. Fiquei algum tempo lá respirando fundo, sentindo o ar entrando e saindo dos meus pulmões e observando o movimento ao meu redor. Pronto, agora é hora de voltar, Fabi!

— É tão triste, né? – Thiago perguntou passando a mão pelo seu cabelo rebelde. – Acho que nunca vou me acostumar.

— Não vamos falar sobre isso, por favor – pedi me sentando esparramada na cadeira.

— Tem razão – ele concordou e não sorriu desta vez. – Estarei na sala ao lado, Bibi.

— Obrigada, Thi.

Decidi verificar meu celular enquanto não chegavam mais pacientes.

    Bibi, eu sei que você não vive pela gente,
            mas acho melhor vir para cá... A Anna pre-
            cisa de você.

                                            Dedé às 17:20.

Suspirei. Pelo visto ainda teria que resolver mais alguma confusão em que Annaju tinha se metido. Só achei estranho que ela não me mandou mensagem nem citou nada que poderia se transformar em um mal entendido.

Como sempre, larguei tudo e fui correndo ver o que havia acontecido. Por mais que eu tivesse decidida a não me envolver emocionalmente mais do que já estava envolvida, era impossível uma vez que André me mandou aquela mensagem.

Passei na sala de Thiago só para avisar que estava saindo, ele franziu a testa porque normalmente eu era a última a sair de lá. Ele assentiu e eu me despedi de mamãe que estava tão entretida com seu jogo de Pokemon que nem me perguntou para onde eu iria.

Dirigi curiosa até a casa de Benjamin, André não deu uma pista sequer do que tinha acontecido. Isso só me deixava mais nervosa, pois sabia que havia algo errado.

Entrei em sua casa sem tocar a campainha – sempre tive a cópia da chave. Desde o corredor conseguia ouvir vozes alteradas da sala. Cheguei mais perto e consegui escutar o que era, afinal.

— Beijar, Anna? Você quer me convencer de que agiu certo? – perguntou decepcionado.

— Sério! Foi a primeira vez que eu gostei de um garoto, pai!

— E daí? Não muda o fato de que você é muito nova para sair por aí beijando! Principalmente num raio de 50 metros da escola! Você não tem ideia de como isso é perigoso? Eu levo minha filha para a escola achando que ela está estudando quando na verdade está flertando e quando sai de lá vai direto para uma praça se agarrar com um moleque que nunca vi na minha vida! – Benjamin se alterou, ficou até vermelho. – Isso foi de extrema irresponsabilidade.

Irresponsabilidade? Annaju tinha quinze anos, isso era natural! Já comecei a ficar brava ao saber para onde aquela briga iria parar...

— Ben, chega – uma voz feminina disse.

Meu coração começou a palpitar ao ligar os pontos: Amanda estava lá também. Eu poderia chegar agora com os dois pés no peito de Benjamin e mandar ele parar de ser um pai ciumento e se controlar um pouco, porém isso talvez causasse um clima esquisito já que Amanda estaria lá. Ou eu poderia ir embora e fingir que nunca presenciei a cena.

Ouvi o choro magoado de Annaju. Ela não era de chorar. Percebi que Benjamin tinha ferido seus sentimentos de verdade, principalmente quando a chamou de irresponsável. Ela era uma das garotas mais inteligentes que já tinha conhecido e muito estudiosa, nunca deixava de entregar nada na escola. Benjamin apelou demais com seu discurso.

— P-pai... Foi só uma vez – sua voz saiu baixinha.

 

— Pronto, Ben, deixa ela – Amanda também disse baixinho. Espiei pela porta e vi uma cabeleira loira de costas para mim pousando a mão no ombro de Benjamin. Seu corpo era maravilhoso.

Respirei fundo e decidi intervir, pois vi que Annaju, apesar de ter defeitos como todo mundo, naquela situação estava sendo injustiçada.

— Boa noite, gente – cheguei fingindo não saber de nada e parei ao ver aquela cena. Todos viraram a cabeça para mim. – O que está acontecendo?

— Não venha defender coisa errada, Fabiana! Nem tirar minha autoridade como você já fez muitas vezes!

E isso porque nem tinha me posicionado nem nada... Benjamin conseguia me irritar de uma maneira...

— Eu beijei um garoto – Annaju contou. – Só uma vez. Na praça perto do colégio.

Pela primeira vez Amanda e eu nos entreolhamos. Ela sorriu sem graça e eu decidi não ser motivo para ela ter ciúmes de mim apesar de eu estar morta com farofa com aquela beleza e desejar muito estar no lugar dela.

— Oi, meu nome é Fabi. Eu sou a madrinha do André e da Anna – dei um beijinho nela. Virei-me para Benjamin que estava nervoso e vermelho de raiva. – Eu nunca quis tirar sua autoridade, mas me fala: é motivo para gritar e fazer sua filha chorar desse jeito encolhida no sofá? É normal, Benjamin! Jovens se interessam uns pelos outros e se beijam! O que você deveria estar perguntando para ela são outras coisas: Ele te respeitou? – Ela assentiu. – Ele fez qualquer coisa que você não queria? – Ela sacudiu a cabeça. – Ele tocou alguma parte do seu corpo que te fez sentir desconfortável? – Ela sacudiu a cabeça novamente. – Era isso que você deveria estar fazendo. E orientando! Não fazendo a menina se sentir culpada por dar um beijo.

Annaju parou de chorar e eu me senti aliviada por isso. André estava no canto da sala e fez um sinal positivo para mim quando acabei de falar.

— Ela tem razão, Ben – Amanda voltou a dizer, mas com a voz insegura.

Que droga, eu queria odiar essa mulher.

Benjamin revirou os olhos e passou a mão pelo rosto tentando se acalmar.

— Ela é minha filha, beijos elevam para outras coisas e eu nem quero pensar nisso!

— Ela é uma menina muito esperta. Sabe muito bem a hora de parar! Nós já tivemos essa conversa antes, Ben. Não é, Ju?

Annaju assentiu, mas ainda estava um pouco assustada.

— É, eu sou um péssimo pai mesmo! Só a Fabiana tem razão. – Ele sacudia a cabeça inconformado, mas olhou bem nos meus olhos para pronunciar as próximas palavras: – Você não tem filhos, você não é a mãe deles!

Nossa, pegou pesado, meu amigo! Talvez eu tenha me desapaixonado um pouco depois do que ele disse. Eu tinha duas opções: ou eu chorava (que era o que queria fazer) ou eu saía por cima da situação. Por isso, engoli em seco para não derramar uma lágrima sequer.

— NÃO FALA ASSIM COM ELA! – Annaju gritou e eu fiz sinal para ela ficar quieta.

— Que horror, Benjamin! – Amanda exclamou arqueando suas sobrancelhas perfeitamente delimitidas. – Não é essa a mulher que vocês mencionaram que foi essencial na criação dos meninos? – Benjamin olhou para Amanda assustado com sua reação e depois confirmou com a cabeça. – Então você deveria ter o mínimo de respeito por ela, e não agir desse jeito porque está com ciúmes da sua caçula! – A loira realmente estava brava. – Se nem por alguém que passou a vida inteira te ajudando sem ter a mínima obrigação de tal coisas você age com respeito, imagina comigo que acabei de chegar na sua vida!

Fiquei boquiaberta. Pensei que ela ficaria muda ou sussurrando pelo resto do tempo, não imaginaria que tomaria uma posição tão decisiva.

— Eu amo a Fabi, Amanda! – Benjamin exclamou. – Só não gostei da atitude dela, ela sempre defende a Annaju e...

— E eu concordo cem por cento com ela! – André arregalou os olhos impressionado com o que estava vendo. – Peça desculpas para essa mulher e para sua filha! Nenhuma menina merece ver o pai falando assim com outra mulher.

Meu coração palpitava cada vez mais forte. Essa mulher era demais!

— E-eu fiquei com ciúmes – Benjamin decretou. – Como um garoto ousa beijar a minha menininha? E como a Fabi ousa entrar aqui e conseguir se dar melhor com você do que eu? Eu fui irracional, mas não pude deixar de me sentir passado para trás.

Annaju abraçou o pai bem forte e disse:

— Eu sempre vou ser sua menininha! Eu te amo, meu velho!

André fez sinal que ia vomitar e eu ri.

Amanda sorriu para a cena e eu observei melhor seu rosto. Ela era exuberante: tinha olhos verdes, bochechas rosadas (não usava maquiagem!) e lábios saudáveis. Provavelmente os meus já estavam totalmente rachados pelo frio que já se iniciara, mas eu não tomava vergonha na cara para passar um hidratante neles.

Minha missão estava cumprida e eu estava feliz por ter ajudado aquela linda criatura que realmente era o amor da minha vida, apesar de magoada com Benjamin. Por isso, como senti que estava sobrando naquela sala, resolvi pegar minha bolsa que tinha jogado no sofá e ir embora.

— Fique para o jantar – André disse quando me viu pegando a bolsa.

Todas as cabeças se voltaram para mim e eu fiquei sem jeito.

— Pipoca e Thor estão esperando por mim – eu disse dando de ombros e mandei beijos de longe pra todos. – Até mais, gente.

Virei-me de costas e saí andando me sentindo extremamente pesada, apesar de ter cumprido minha missão de ajudar Annaju. Ben era uma ótima pessoa, mas quando estava com ciúmes da filha – e isso acontecia frequentemente – perdia um pouco a cabeça. Fiquei triste também, pois saí sem que Anna me contasse como que tinha sido o primeiro beijo dela. Afastei esse pensamento da minha cabeça, ela com certeza ia me procurar quando a poeira abaixasse.

Já estava na calçada procurando a chave do carro quando uma mão tocou meu braço e eu já sabia de quem era.

— Fabi – fechei os olhos, pois não queria escutá-lo no momento –, nossa, eu nem sei por onde começar.

— Não comece – alertei. – Não quero falar com você tão cedo.

Continuei de costas procurando as malditas chaves que não apareciam!

— Acho que pedir desculpas mil vezes não será o suficiente – ele disse baixinho. – Eu agi muito, muito mal.

— Se você está aqui só porque a sua namorada mandou pode dar meia volta e ir embora, Benjamin, pois no momento estou muito irritada.

Então o moreno me virou para ele e eu pude fitar seus olhos castanhos que pareciam decepcionados. Não consegui sustentar o olhar e mirei para uma árvore que tinha lá perto.

— Eu não estou aqui porque ela pediu, Fabi – ele continuou. – Eu falei uma merda que eu não acho que tenha como apagar...

Respirei fundo. Estava a um passo de começar a gritar, chorar e fazer um escândalo. Não era a primeira vez que ele dizia aquilo, nem a segunda vez que ele pronunciava aquelas palavras que ainda ecoam dentro de mim: “Você não tem filhos”. Parecia que ele queria realmente me machucar com aquele argumento.

— Não tem mesmo – concordei. – Olha, Benjamin, eu vou me afastar, tá? – seus olhos se arregalaram. – Eu amo muito você e sua família, mas agora vocês não precisam mais de mim. Vocês têm a Amanda que, olha só, é incrível! Tenho certeza de que estão em boas mãos. Além disso, o André e a Ju podem se virar muito bem sozinhos... Sério, não se preocupe.

Benjamin agarrou minhas mãos, mas eu estava irredutível. Aquilo tinha sido a gota d’água.

— Por favor, não faça isso!

— Para de cena, Ben! – exclamei. – Não é a primeira vez que você faz questão de afirmar que não tenho filhos para invalidar toda e qualquer atitude que eu tome! E sabe, você tem razão! Porque eu não posso ter filhos, sabia? O André e a Annaju foram o mais próximo que eu tive disso – decidi tirar tudo isso de dentro de mim de uma vez por todas e seu semblante mudou na mesma hora. – Quando a sua filha tinha cinco anos e me pediu para ver a apresentação de Dia das Mães da escolinha você também argumentou dizendo que eu não era mãe! E eu não sou mesmo, a Clara era. E eu não sou burra, eu sei muito bem disso. Quando seu filho pediu para eu dançar a valsa de formatura dele junto com as mães da turma você também deu um jeitinho de deixar muito claro, mais uma vez, que eu era apenas a madrinha. Qual a necessidade disso? – Uma lágrima escorreu do meu rosto, mas eu a limpei prontamente. – Você deveria ficar feliz de alguém amar tanto os seus filhos, pois eu daria minha vida pelos dois!

 Benjamin estava com cenho franzido e eu nunca o vira tão desorientado. Ele perdera a fala completamente, mas ainda agarrava minha mão com força.

— Desculpa, Fabi, por favor – seu queixo tremeu um pouco e eu me desvencilhei dele. Apalpei a bolsa em busca da chave e finalmente a encontrei. – Não vai, eu não queria...

— Dê a minha passagem para a Disney para a Amanda – eu disse buscando toda a maturidade dentro de mim e entrei no carro. – Ela merece ir com vocês.

— Não! Você que vai com a gente! Já estava tudo combinado! – ele gritou fora do carro e eu abaixei o vidro.

— A Annaju e o André sabem onde me encontrar quando bater a saudades... – pensei um pouco.

Ben passou a mão pelo rosto, nervoso, e eu dei partida. Ele colocou sua mão em cima da minha que estava no volante e nossos olhares se encontraram. Não vou mentir dizendo que não senti uma corrente elétrica passar pelo meu corpo com aquele toque.

— Desde quando você sabe isso?

— Não importa agora – decidi cortar o assunto.

— Você foi nossa fortaleza, Fabi – ele disse calmamente. – Sem você eu nem sei se estaria aqui hoje para esses dois. – Ben respirou fundo e eu senti seu hálito fresco, tive até que fechar os olhos. – Eu preciso que você fique.

Era tão difícil! Eu não queria virar as costas para essa casa onde passei os últimos quinze anos. Eu não queria virar as costas para Benjamin e as crianças. Mas aquilo estava me fazendo muito mal, não só pela briga de poucos minutos atrás, mas por tudo que acontecia recentemente.

— Ben, eu preciso ir – disse contendo minhas lágrimas. – Isso não muda o amor que sinto por vocês, jamais! Mas está me fazendo mal.

Ele fechou os olhos entendendo.

— Desculpe novamente, Bibi – ele disse carinhosamente e passou a mão pelos meus cabelos como costumava fazer.

Decidi que era hora de engatar a primeira. Ele não disse mais nada, apenas dirigi sem olhar para trás, senão eu voltaria correndo assim que meus olhos se encontrassem com os dele.

 

— Bibi – Benjamin me chamou com um tom de voz cansado. Saí da cozinha onde estava terminando de guardar as louças e fui em direção a sua voz. – Eu juro que não quero abusar da sua boa vontade, mas preciso de um favor.

Observei o homem que se apresentava à minha frente. Olheiras fundas, olhos vermelhos, cabelos castanhos desgrenhados, barba por fazer e roupas amassadas. Aquele não era nem de longe o Ben que conhecia. Mas para ser sincera, eu também não era a mesma Fabi. Não mesmo! E cobrar que um de nós dois voltássemos a ser o que éramos antes apenas quinze dias após ela partir era cruel e injusto.

— Você nunca estará abusando da minha boa vontade – forcei um sorriso. – Do que precisa?

— Eu estou passando pouco tempo com o Dedé – ele contou preocupado e passou a mão pelo rosto. – Eu só queria te pedir, por favor, para dar banho na Ju e a colocar para dormir.

— Claro – respondi.

Ben subiu as escadas para procurar por André. Nos últimos dias tudo que o meu pequeno garoto queria fazer era assistir desenhos. Algumas vezes ele descia e pedia algo para comer, mas na maioria das vezes éramos nós que invadíamos seu quarto para que comesse algo.

— Vamos lá – fui em direção ao berço de Annaju que no momento se encontrava na sala. A casa estava uma bagunça total, por isso não estávamos nos preocupando, no momento, onde ficaria o berço. – Olha que menina linda que está aqui!

Observei Annaju tão quietinha em sua cama. Peguei-a no colo e a neném sequer reclamou. Abracei-a bem juntinho ao meu peito e subi as escadas para dar banho naquela criança tão pequena. Ao colocar Ju na banheira senti muito medo de que algo acontecesse, como se ela pudesse escorregar das minhas mãos feito sabonete e se estraçalhar no chão. Por isso, segurei-a com mais firmeza. Era tão estranho Clarinha não estar comigo naquele momento dentro de sua própria casa!

Respirei fundo e comecei a lavar o corpinho da minha Anna. Lavei cada dobrinha, cada lugarzinho e curvinha. Parecia tão frágil, mas no fundo sabia que seria um furacão de emoções, grandeza e força assim como a mãe. Eu tinha toda a certeza do mundo que Annaju seria brilhante onde quer que colocasse seus pés.

Talvez... Só talvez, ser mãe fosse assim.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Eu amo essa lembrança da Fabii cuidando da Anna, e vocês?



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