Um dia. escrita por keemi_w


Capítulo 3
A tal loirinha fã dos Beatles.


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Um capítulo maiorzinho pra vocês ♥ um personagem super importante para a história aparece neste capítulo! Espero que vocês gostem porque eu amei escrever esse novo personagem ♥ Ahhh, fantasminhas, apareçam! É tão bom ler o review ♥ deixem mais!!



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Ouça: Segredos (Frejat).

 

Oi, Fabi! O André e Ju falaram que você passaria
aqui ontem à noite. Aconteceu alguma coisa? Precisa de algo?
Ou só estava cansada e preferiu dormir longe da bagunça
desta casa mesmo? Quero te contar algumas coisas, bem que
 você podia passar aqui depois da Feira de hoje...

Benjamin às 09:47

Benjamin deveria ter um rastreador para saber exatamente quando quero me afastar e fazer o impossível para que isso não aconteça. Não era possível que em pleno sábado pela manhã ele estivesse me mandando mensagem... Não era de seu feitio.

Decidi não o responder e me arrumar para a Feirinha de adoção. Abri o guarda-roupa e, assim que perceberam movimentação em casa, Pipoca e Thor desencostaram a porta e já vieram me lamber.

Ambos eram adotados, Pipoca era um Golden Retriever que veio de um canil que, não só exploravam as fêmeas, mas também maltratavam todos os cachorros matriz. Thiago e eu recebemos uma denúncia anônima e resgatamos cerca de pelo menos 25 filhotes que viviam numa situação devastadora. Canis deveriam ser proibidos, inclusive. Aí Pipoca se apaixonou por mim e não me desgrudava, a paixão era recíproca e decidi ficar com ele.

Já o Thor estava no meio da Marginal Tietê sem conseguir andar direito e com a pele totalmente ferida. Por ironia do destino, também estava no carro com Thiago naquele dia e o mandei parar bruscamente para resgatar aquele cachorrinho. Não costumo fazer isso, senão um dia terei que ter um sítio só para cachorros e meu dinheiro de hoje não me possibilita isso... Mas no caso de Thor, eu tive que fazer.

Hoje eles eram os dois amores da minha vida inteira. Consegui salvar a vida de Thor e agora ele exibia seus pelos pretos maravilhosos por onde quer que passa. Todos me perguntam sua raça e eu não faço ideia de qual seja... Talvez uma mistura de pastor-alemão com Husky. Ele é lindo demais.

Decidi que iria leva-los comigo assim não precisariam ficar sozinhos, apesar do meu apartamento ser relativamente grande e ter uma varanda espaçosa para brincarem.

Entrei no carro, coloquei a coleira de segurança nos dois, liguei a música alta e abri um pouco o vidro para eles observarem o mundo. Quando cheguei à Clínica para buscar Thiago ele riu alto ao ver a cena dos dois cachorros animados no banco traseiro.

— Oi, garotões! – ele fez carinho nos dois que lambiam sua mão com vontade.

— Eu sempre os perco para você! – revirei os olhos fingindo estar brava.

— Eles não resistem a um cara tão legal quanto eu, monamour!

Dei risada e engatei o carro.

— O pessoal já está lá com os cachorros?

— Então, estou tentando falar com o Luciano desde que acordei – ele começou a digitar em seu celular. – Acredito que sim, senão a Carol já estaria nos procurando.

Lancei um sorriso para Thiago. Ele sempre ficava muito preocupado com as Feiras com medo de que não conseguisse fazer com que pelo menos a maioria dos animais fossem adotados. Com uma mão segurei no volante e com a outra peguei sua mão.

— Fica tranquilo, Thi. A gente sempre conseguiu, não foi?

Ele sorriu de volta para mim.

— Tem razão.

O local da Feira era o estacionamento de um Shopping que fechava parcialmente para nós. Conseguimos uma parceira com um grupo de Resgate que eles traziam os animais para se tratarem na nossa Clínica e, em dias de Feiras, nós éramos divulgados pelo trabalho e também coordenávamos os eventos. O Resgate tinha como dever proporcionar um local seguro para os bichinhos e dar comida.

Luciano e Carol eram os donos da ONG e eram um dos melhores casais que já tinha visto na vida. Eles davam a vida pelos animais, alugaram um sítio grande para todos eles, gastavam horrores com a limpeza e higienização do local, compravam comida praticamente todos os dias para se certificarem de que não faltaria para ninguém... Enfim, era uma parceria que fazia questão de levar por muito tempo.

— Você trouxe seus filhos! – Carol comemorou abraçando Thor que pulava em sua frente. De pé ele era do tamanho dela.

— Passei a semana inteira muito ocupada, não queria que eles ficassem sozinhos novamente – respondi dando de ombros.

Luciano sorriu para mim e me abraçou.

— Você tá bem, Bibi?

— Estou ótima – retribui o abraço. – E o Biel? Como está? Por que não está desde agora fazendo parte das nossas Feiras épicas?

Carol deu um sorriso triste para Luciano.

— Acredita que, por ironia do destino, ele é alérgico a pelo de gato?

Minha animação murchou. Isso significava que eles não poderiam mais abrigar gatos no Resgate. Apesar de morarem longe do Sítio, Lu e Carol tinham muito contato com os bichinhos, iam lá todos os dias, religiosamente. Uma hora ou outra acabariam levando pelos para dentro de casa, por mais que tomassem todo o cuidado do mundo.

Luciano abraçou a esposa pelos ombros.

— Então essa é nossa última Feira com gatinhos – Luciano completou.

Carol afastou algumas lágrimas que iam cair.

— Não é culpa de vocês, Ca... – tentei animá-los. – Conseguiram falar com algum abrigo de gatinhos?

— Sim, já está tudo certo. É que a Carol é muito apegada a todos – Lu explicou.

— Eu imagino! – Thiago disse apertando o ombro da amiga. – Pode contar comigo se precisarem, viu? Minha casa não é grande, mas consigo ficar temporariamente com algum bichano.

— Obrigada, pessoal – Carol agradeceu. – Uma ONG aceitou trocar os gatinhos por cachorros. A ONG deles ainda é pequena e os cachorros dão muito mais despesa que gatinhos, né? Aí nós só estamos providenciando a papelada de cada um e tudo mais. É pelo bem do Biel, né?

Todos nós concordamos com a decisão deles. Dava para ver que eles estavam bem tristes com a notícia... Além de tudo, estavam planejando adotar um gato agora que o filhinho deles já estava com dois aninhos.

Olhei para Pipoca e para Thor... Não queria nem pensar numa vida sem aqueles dois.

Começamos os preparativos. Vesti meu jaleco e prendi o cabelo. Thiago e eu começamos a monitorar os animais e colocar a papelada em ordem para as adoções. Deixei Pipoca e Thor num cercado perto de onde ficaríamos o dia inteiro dando baixa.

As primeiras pessoas começaram a se aproximar assim que o shopping abriu as portas. Algumas estavam lá só de curiosas, mas muitas começavam a fazer perguntas sobre os animais com a intenção de realmente adotá-los. Não só isso, também telefonavam para seus familiares para saber se a decisão teria apoio. Eram cenas lindas de ver... Cada pessoa criando uma afetividade com os animais, normalmente elas já chegavam apaixonadas por algum deles.

— Está querendo fugir da gente, é? – ouvi uma voz que conhecia muito bem vindo em minha direção.

Abri o maior sorriso ao ver a minha princesa Annaju correndo para me abraçar.

— Jamais, meu amor! – retribuí o abraço com força.

Estava com tantas saudades dela.

— É o que parece! – Benjamin apareceu atrás dela fazendo meu coração palpitar.

— Desculpem, está muito corrido para mim! – exclamei. – Cadê o Dedé?

— Está apaixonado por um cachorrinho – Benjamin revirou os olhos. – Parece que voltou aos cinco anos quando cismou que queria um.

Sorri me lembrando daquela cena, ele prometeu lavar a louça todos os dias pelos próximos oito anos se ganhasse um cachorro. Já até tinha escolhido o nome: Tum-tum.

— E você não acha que está na hora de terem um? – sugeri. – Olha, aqui só tem cachorro que realmente está precisando de um lar. Nos canis você incentivaria uma prática super cruel, então a melhor opção é adotar!

Annaju fez um “joinha” discreto me apoiando e Benjamin suspirou.

— Eu não creio que você vai me convencer a ter um cachorro – ele choramingou.

Nesse instante André veio correndo com um filhotinho bem preto na mão. Era de uma cadela que estava sofrendo na rua e quando foi resgatada descobrimos que estava grávida. Esperamos seus filhotinhos completarem três meses de vida antes de serem colocados para adoção, mas agora estavam muito saudáveis.

— É este! – ele disse acariciando seu pelo pretinho. – Será que esta pequena bola um dia fica grande igual o Thor?

— Se puxar a mãe vai sim!

— Ele é tão lindo! E tem uma manchinha aqui no focinho! – Anna comentou fazendo carinho nele.

 Senti alguém chegando por trás e colocando a mão no meu ombro.

 - Está convencendo a família a adotar? – Thiago perguntou rindo, como sempre.

 - Isso mesmo! – respondi orgulhosa. – Me ajuda aí que vou atender aquele casal, Thi.

 Fiquei conversando com o casal e com uma das minhas pessoas favoritas em todo mundo (a Juju é claro) e nem percebi o horário passando. Quando olhei o relógio já eram 14:30h e eu não tinha comido nada além de um pão com requeijão às sete da manhã.

— Bibi, minha flor favorita! – Thiago sempre reaparece e desta vez tinha um pacote em mãos, como se tivesse lido minha mente. – Gosta de um bom temaki?

Ele empurrou o pacote para as minhas mãos e se sentou em uma das cadeiras para abrir seu próprio pacote.

— Sério, Thi? – quase vibrei de felicidade. – Obrigada! Você leu meus pensamentos, estava já indo comprar alguma coisa para comer.

Ele sorriu com a boca cheia e alguns pedaços de alga apareceram em sua boca. Gargalhei com a cena.

— Se eu não te trago nada acontece igual da última vez que eu bem sei!

— O que aconteceu da última vez? – perguntou Annaju curiosa e se sentou ao lado de Thiago para beliscar uma porção de hot roll.

— Essa moça ficou sem comer até o último cachorrinho ser adotado. Estava quente demais aquele dia e ficamos bem embaixo do sol. Quase caiu desmaiada no meio da rua – ele deu de ombros. – A sorte dela é que tem um amigo muito forte, bom e fiel do lado dela.

Dei risada, mas era verdade. Pela adrenalina do momento acabei me esquecendo de comer, mas o sol era muito forte e quando deu mais ou menos umas 17h acabei me sentindo tonta pela falta de qualquer alimento em meu organismo, Thiago conseguiu me segurar antes que eu atingisse o chão e me empanturrou com tudo que tinha na sua bolsa. Pois é, ele pode se esquecer das chaves, documento, carteira, mas nunca te enfiar comida na mochila.

— Fabi! – Annaju me repreendeu. – Que irresponsável!

Nem argumentei, apenas dei de ombros, estava concentradíssima em comer aquele temaki delicioso! Thiago me conhecia muito bem.

— E aí, vão levar o cachorrinho? – Thiago perguntou.

— Não sei, papai está um pouco irredutível falando que ele não tem tempo de cuidar de um... Além do mais o Dedé está terminando a faculdade e a rotina está apertada... Enfim – ela suspirou.

Revirei os olhos. Benjamin era mais teimoso que uma porta. Cachorros dão trabalho, mas para quem cuidou de dois filhos, ele conseguiria lidar tranquilamente com um cachorrinho. Além do mais, seria ótimo para Annaju e André criarem mais responsabilidade. Não que eles não fossem responsáveis, mas cuidar de uma outra vida era completamente diferente.

Peguei um hot roll da porção do meu amigo e sócio, pois estava morrendo de vontade e os temakis não foram o suficiente dentro do meu estômago. Assim que fiz isso, ele revidou jogando uma bolinha de papel em mim.

— Qual o seu problema? – exclamei fingindo estar brava. – Egoísta.

— Eu te comprei dois temakis grandes! Onde você estoca tanta comida?

Dei risada, mas logo paramos a brincadeira, pois um Benjamin contrariado chegava com um filhotinho nas mãos e um André vitorioso ao lado.

— Vamos levar este camarada – André contou.

Annaju gritou de felicidade e correu para abraçar o pai.

— Obrigada! Esse é o melhor presente da minha vida!

Benjamin riu.

— É bom vocês dois cuidarem do Black, pois ele não é um brinquedo.

— Ah, que bonitinho! – comentei e fui acariciar o cãozinho. – Já tem até nome! Que especial, hein? Black, você estará em boas mãos nessa família linda!

Benjamin sorriu para mim e eu sorri de volta. Que saco!

Fui fazer a documentação do Black, mas Carol chegou bem na hora e disse:

— Vi que você estava comendo, Bibi. Vai lá terminar que eu cuido disso aqui, depois você só entrega a carteirinha de vacinação.

Sorri em agradecimento.

— Desculpa, Fabi, se eu soubesse teria esperado um pouco... – Benjamin se justificou. – É que hoje a noite iremos sair...

Só pelo jeito desconcertado de falar eu tinha certeza de que ele se referia a mulher que tomaria um lugar muito especial naquela família. Era o dia que André e Annaju conheceriam Amanda. Eu não estava pronta para aquele momento... Nenhum pouco.

Nem respondi, apenas me dirigi ao Pipoca e ao Thor que agora descansavam um pouco enquanto eu terminava de comer o hot roll que Thiago dividia comigo.

Aqueles dois cachorros eram o mais próximo que eu teria um dia de uma coisa chamada família. Relacionamentos nunca davam certo comigo, filhos não poderia ter nem se quisesse muito, com tudo isso só tenho minha mãe e dois cachorros. Nunca me senti tão solitária.

— Acho que hoje acabaremos mais cedo – Luciano disse me abraçando pelos ombros. – Só faltam dois cachorrinhos e um gato. Ainda são três da tarde!

— Que ótimo, Lu! Da última vez não tivemos tanta sorte, né? Acho que Pipoca e Thor trouxeram sorte.

Luciano se sentou no chão para acariciar os dois bobões que estavam já cansados de brincar o dia inteiro. Terminei de comer em silêncio e fui buscar a carteirinha de vacinação do Black. Expliquei alguns cuidados básicos dos primeiros dias para Benjamin, André e Annaju. Após isso, eles se despediram e foram embora. Annaju prometeu me enviar mensagens já que não nos veríamos hoje à noite e eu concordei apesar de não saber o que seria melhor: evita-los ou continuar em suas vidas mesmo que não passasse de uma amiga da família. Suspirei cansada e me sentei em uma das cadeiras.

Ficamos só mais uma meia hora para ajudar a desmontar a Feira que, com sorte, tinha feito com que os 28 animais tivessem encontrado um lar. Sorri satisfeita e terminei de guardar as cercas juntamente com Carol e Luciano. Não era um trabalho de obrigação minha, mas sempre gostei de ajuda-los.

Levei Pipoca e Thor até o carro e dirigi sem pressa até minha casa. Não estava muito animada para ir ao bar principalmente com colegas da faculdade, mas estava indo por consideração ao Thiago que sempre foi um amigo e tanto para mim.

***

— Fabi, linda como sempre! – Bruno me cantou como em todas as vezes que nos encontramos.

Revirei os olhos como eu sempre fazia. Ele nunca se cansava mesmo. Thi me olhou de escanteio e eu dei de ombros, nem adiantava discutir com alguém como o Bruno.

Fui cumprimentar o resto das pessoas. Gabriella estava exuberante, na verdade, exuberante era pouco. Ela sempre foi linda, mas o seu cabelo preto até a cintura estava cheio de brilho e ondas, seus olhos azuis cintilavam e ela usava uma maquiagem que só reforçava sua beleza natural, usava roupa colada que ressaltava sua cintura e seu corpo escultural além de um belo de um salto alto fino. Senti até vergonha de estar usando uma camiseta dos Beatles, calça jeans, bota e uma jaqueta por cima. Dei um beijo rápido nela para evitar ficar mais constrangida do que já estava.

Havia cerca de quinze pessoas na nossa rodinha, mas fiquei conversando mais com Nathália e Gabriel. Eram as duas pessoas mais próximas de mim depois de Thiago, mas ele tinha engatado em uma conversa muito animada com Aline e Júlia por isso deixei-o em paz.

Fabi, essa mulher tem pernas muito longas,
um sorriso meio estranho e nada acolhedor,
além de que parece se esforçar muito para
que o Dedé e eu gostemos dela! É errado estar
com muito ciúme dela na nossa família?

Princesa Annaju às 20:32

     Não vou negar que fiquei muito feliz de saber que Annaju não estava lá aprovando a nova namorada do pai. Fiquei feliz, sim, minha parte egoísta vibrou com a novidade. Como ele nunca havia me notado em meio a todas as mulheres do mundo? Eu fazia parte de seu dia-a-dia. Agora havia uma completa estranha que não acompanhou as principais fases dos filhos lá... Ocupando o espaço que era de Clara.

    Lembrei-me de Clara e me senti culpada quase que instantaneamente por desejar ser notada por Benjamin. Eu era uma pessoa horrível, egoísta e que não se importa nenhum um pouco com a pessoa que chamava de melhor amiga.

Respira fundo. Seja legal! Seu pai merece
uma chance de se relacionar com alguém
novamente, ok? Agora vai aproveitar o
 momento e a comida, é claro!
Te amo mais que o infinito.

Eu às 20:43

       Apesar de estar rodeada de pessoas, eu me sentia sozinha. Minhas pernas não paravam de batucar para cima e para baixo, estava inquieta e impaciente. Por isso, pedi licença e decidi dar uma volta pela rua do bar onde havia muita gente fumando e, também, se beijando.

     Sentei-me em um dos bancos que estava vazio. Eu pensava em tudo: em como Benjamin fazia de tudo para provar que nunca me olharia com outros olhos, na Clarinha que se foi me deixando sem amiga e me sentindo ultra sozinha, na Annaju e no Dedé que estavam conhecendo a nova mulher de Benjamin... Fiquei imaginando sua forma, com certeza ela seria deslumbrante, com pernas longas (como Annaju descrevera), unhas bem feitas (olhei para as minhas e constatei que precisava urgente lixá-las e tirar a cutícula), provavelmente estaria com seu cabelo encaracolado a deixando mais linda ainda... Suspirei, não adiantava de nada ficar imaginando tudo aquilo, às vezes ela poderia ser só uma pessoa comum também.

      Estava absorta em pensamentos quando senti Thiago se sentando ao meu lado.

      - Desconfortável em estar aqui?

      - Talvez.

      Ficamos em silêncio.

      - O que houve? – ele perguntou.

   - Ah – passei a mão pelo rosto, estava incomodada com toda a situação. – Problemas do coração, sabe?

     - Sei, também sofro disso – confessou e nós rimos – Mano, você é muito maravilhosa, se quisesse qualquer cara ele ficaria aos seus pés.

     Ri alto. Então Thiago realmente me achava maravilhosa? Sério?

   - E você acha que com você seria ao contrário? – perguntei. – Se você se permitir, nesse bar mesmo tem um monte de mulher te desejando.

  - Ah, mas não é assim né, Fabi! Eu quero casar, construir uma linda casa cheia de quadros vintage e tudo mais, saca só! E eu quero aquela cozinha americana, três filhos correndo para lá e para cá e alguns cachorros também. Eu não quero só passar uma noite, já superei essa época da minha vida.

   - Graças a Deus, porque era cada uma que ia te procurar lá na clínica no dia seguinte... – Nós rimos nos lembrando.

 Ele me encarou com aqueles olhos verdes de Golden Retriever.

  - Se você quer saber, dona Fabi... Se você não fosse minha melhor amiga e estivesse tão descaradamente apaixonada por outro cara seria minha primeira opção! – ele piscou para mim me deixando embasbacada.

    Eu não estava pronta para ouvir aquilo! Definitivamente. Thiago deveria ter bebido além da conta para me dizer algo daquele tipo.

    - Para, Thiago. Não gosto desse tipo de brincadeira – fiquei séria repentinamente.

     - Não estou brincando não, Fabi. Parece que não me conhece! Se você me deixasse entrar em sua vida já estaria apaixonado há muito tempo. Só que não estou porque sei que você é devota ao Ben, mesmo ele não sendo... Digamos, recíproco.

      Engoli em seco.

      - Eu não estou apaixonada por ele.

      - E eu não tenho uma gravata do Bob Esponja!

     Dei risada com o que ele disse. Thiago realmente era um cara muito legal e talvez eu tivesse passado minha vida toda desperdiçando minhas chances com esses caras realmente legais por causa de Benjamin. E, realmente, ele não era nenhum pouco recíproco para comigo.

      - É tão difícil, você nem faz ideia! – desabafei. – Apesar de amá-lo eu me sinto em conflito diariamente por causa...

      - Da Clara.

      Ele me entendia como ninguém!

      - É bom saber que eu seria sua paixão, Thi – confessei sorrindo. Aquilo foi bom pro meu ego.

    - Qualquer hora, madame! Assim que largar esse Ben é só me procurar – ele apontou para seu próprio peito e eu ri. – Agora, vamos voltar?

     Levantei derrotada, mas obedecendo o que ele me sugerira. Já estava lá mesmo.

    Por isso, decidi que de agora em diante eu aproveitaria minha vida. Eu não precisava mais passar o dia cozinhando para os pequenos que agora não eram mais tão pequenos, eu não precisava largar meu próprio trabalho para cuidar deles enquanto Benjamin trabalhava. Eu não precisava fazer mais nada porque todos já estavam crescidos e sabiam muito bem se virar.

   E se Benjamin quisesse namorar e se casar com a Amanda... Muito bem! Eu encontraria alguém que substituísse seu lugar no meu coração.

   Estávamos voltando para a nossa mesa do bar quando trombei com um homem de camisa xadrez e chapéu de cowboy. Sem querer derrubei a cerveja de sua mão na roupa dele. Eu tinha que deixar um rastro de destruição em massa por onde quer que eu passasse, não era possível!

 - Desculpa! Mil desculpas! – pedi colocando a mão no rosto, envergonhada por ser tão desastrada.

   O cowboy me olhou e abriu o maior sorriso. Acho que fiquei com uma cara meio esquisita porque Thiago começou a rir do meu lado.

  - Você gosta dos Beatles, loirinha! – ele exclamou e seus amigos que estavam por perto começaram a gargalhar. – E de Jorge e Matheus também?

   Aquilo foi totalmente espontâneo e aleatório.

  - Gosto, sou eclética – nem sei porque respondi, eu nem o conhecia e ele parecia meio alto.

  Então uma menina chegou ao meu lado e disse:

  - Desculpa, é a primeira vez na vida que esse cara tá levando um porre de bebida.

  - Eu estou perfeitamente bem! – o cowboy respondeu quase gritando. – E totalmente apaixonado por essa loirinha fã dos Beatles. – Então, vejam bem, ele se ajoelhou na minha frente e começou a berrar em plenos pulmões: - Se quer cinema eu sou par perfeito, quer curtir balada? Já tem seu parceiro.
Ou ficar em casa amando o dia inteiro, dividir comigo o seu brigadeiro...

  Ao mesmo tempo que tudo isso acontecia, os amigos do cowboy começaram a tirar fotos e mais fotos do momento. Eu só fiquei estagnada rindo daquele momento aleatório. Ninguém nunca tinha se apaixonado por mim tão rápido...

    - Eu nunca vou deixar o Nando se esquecer desse momento – a castanha que estava ao meu lado disse também filmando aquela cantoria.

     - Eu nunca vou me esquecer do cara que se declarou apaixonado por mim antes de sequer conversarmos! – declarei e de repente a menina apontava a câmera na minha direção.

    - Que foi, loirinha do Nando? Você é linda, não tenha medo da câmera. Ela te ama! – a castanha sorriu por trás do celular e, por incrível que pareça, eu não a odiei por estar me filmando sem nem nos conhecermos. Eles pareciam ser um grupo super legal de amigos.

   - Pois é! Eu tento falar isso para ela sempre! – Thiago concordou com a menina ao meu lado.

   - Oi, eu sou a Mari! Prazer – ela disse mostrando novamente seu lindo sorriso e meu amigo, que não é nada bobo, já foi apressado se apresentar.

   - O que mais que você gosta de ouvir? – o cowboy retornara e eu desatei a rir. – Eu gosto de um pouco de tudo! Sabe, pode ser desde funk pesadão até o rock mais clássico possível. Vamos cantar Yellow Submarine juntos?

   Continuei rindo da cena onde tinha me metido. Thiago e Mari conversavam animadamente mais afastados e eu não tinha muito para onde correr. Até que um amigo deles veio ao meu encontro e disse:

     - Nando, hora de ir para a casa, amigão – ele abraçou o amigo pelos ombros.

    - Mas ela ia cantar comigo... – o cowboy fez um biquinho. Mas, gente, ele era lindo! Só agora eu havia reparado, antes estava ocupada demais rindo de sua bebedeira.

    - Cara, ela não tá nem um pouco interessada em cantar. Ela só se desculpou por ter derramado cerveja em você. Aliás, você tá exalando álcool em cada poro do seu corpo. Vamos embora.

     O amigo deles, que eu não sabia o nome, sorriu para mim como se desculpasse da situação.

      Eles já estavam indo embora, quando corri até eles num ímpeto de coragem e disse:

      - Ei, cowboy, quando você estiver sóbrio a gente pode cantar juntos, tá?

    Ele deu o maior sorriso em minha direção e gritou (não sei porque, afinal eu estava do lado dele, do lado!):

     - LOIRINHA, EU VOU TE FAZER MUITO FELIZ AINDA.

    Ri e voltei para onde Thiago estava. Ele parecia exultante e então descobri que conseguira o número de telefone da tal Mari. Dei um tapinha em seu ombro.

      - Se deu bem, hein?

      - Maior gatinha, né? – riu-se.

 

      — E então a gente estava dançando bem juntinho assim – Clara me pegou pela cintura para simular como tinha sido seu primeiro beijo com Benjamin. – Aí ele olhou em meus olhos e disse: “Você tem algo que me encanta” – ela o imitou com a voz grossa nos fazendo rir. – E eu respondi com um beijo daqueles, Bibi!

     Nós rimos com a encenação da Clara. Minha amiga estava exultante, na verdade exultante era muito pouco comparado com a euforia em que ela se encontrava.

     - Espero que dê certo – eu disse de coração.

    - Não vejo a hora da gente sair de casal! – ela bateu palmas animada. – Trate de arranjar um namorado para ontem!

    Rimos novamente só que desta vez um pouco mais alto que o normal. Clarinha estava dormindo na minha casa e já se passava da meia-noite. Minha mãe abriu a porta do nosso quarto e alertou um tanto quanto mau-humorada:

    - Tem uma dona Theresa querendo dormir, suas molecas! Vocês deveriam seguir meu exemplo porque eu trabalho amanhã e as duas vão acordar cedo para ir para a faculdade! Não se esqueçam de que terça-feira não é sábado!

      E com essas palavras bateu a porta com força.

    Clara e eu nos entreolhamos novamente e caímos na risada. Acho que minhas lembranças favoritas de nossa amizade eram de quando dormíamos uma na casa da outra e muitas vezes virávamos a noite conversando e sonhando juntas.


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Notas finais do capítulo

E esse cowboy aí, hein, gente? :P
Comentem o que acharam dele!
Quem aí queria um Black, um Thor ou um Pipoca na vida? EUZINHA IA QUERER!

Beijossss!
Comentem!



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