Os Lordes de Ferro escrita por valberto


Capítulo 11
Capítulo 2 – O Oráculo




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O condado da Ponte Alta tem esse nome por conta da sua fortaleza guardiã, construída anos antes dos aquimagos erguerem a suntuosa cidade de marfim. Mantida por uma poderosa e feroz família de separatistas, a pouco mais de trinta anos o território tornou-se independente das terras de Amag. A batalha foi tão sangrenta que ainda hoje feudos de sangue teimam em estourar entre Amag e a Ponte Alta, manchando de sangue o frágil tecido de paz erguido entre as duas terras.

Devido à sua natureza guerreira as terras da Ponte Alta são perfeitas para que se consigam bons guerreiros e mercenários de todos os preços e lealdades. Protegidos pelas cartas de corso e pela proteção pessoal da prórpia senhora da Ponte Alta, muitos piratas infestam as águas do mar de água doce, em troca da cândida propina de uma parte de seus butins.

— E então, alguma sorte? – perguntou Espartano, jogando-se para fora da estaca que ajudava a formar o cais onde o escritório central das embarcações residia.

— Nada. Descobri que sim, existe um exercito mercenário sob o comando de um homem misterioso que atende pelo nome de "rei". Eles usam uma versão invertida do nosso símbolo. E chamam a si mesmos de bando do corvo. Mercenários que fazem tudo por dinheiro. Eu ouvi histórias lá dentro... – o Elfo não pode deixar de sentir um calafrio percorrer sua espinha enquanto ele se lembrava das palavras do contramestre que administrava aquele cais do porto. – Se metade do que eu ouvi for mesmo verdade...

— Bom, e por acaso nesse seu bate-papo de filme de terror com o contramestre, ou seja lá como ele se chama, você não aprendeu nada de útil? – perguntou exasperada Artêmis que tentava, sem sucesso, pescar alguma coisa do alto daquele cais. Usava como isca o restinho de comida que tinham e se não pescasse nada logo passariam fome.

— Bem, eles não guardam registros da direção que os navios tomam. Alguns registros são bem completos, é verdade. Mas quando se trata de piratas mercenários os homens do contramestre são mais maleáveis. – respondeu o Elfo tomando a varinha de bambu improvisado das mãos de Artêmis e jogando a isca para mais uma tentativa. – Mas ele deixou claro que se quiséssemos trabalho mercenário ele tinha bons contatos para nós.

— Que mané mercenário o quê! – exasperou-se Espartano, chutando um balde velho de alça de corda partida na direção da rua. – Eu quero é ir pra casa. Esse lugar... – ele fez uma pausa longa e seu rosto transfigurou-se num segundo numa expressão de desalento, para sumir mais uma vez em meio a sua expressão carrancuda de sempre – Esse lugar tá mexendo com a gente de um jeito que eu não gosto.

— Bom pelo que eu entendi o tal bando do corvo é bem conhecido nesta região. Quem sabe se a gente sair perguntando por aí, a gente encontra alguma pista sólida. – argumentou Artêmis.

— Claro... por que não vamos sair por aí perguntando sobre o grupo de piratas sanguinários mais perigosos do mundo? Quem sabe alguém pense que estamos querendo prender eles ou coisa pior... – disse Espartano, pura frustração.

— Um problema de casa vez. – disse o Elfo puxando do rio um peixe que parecia com um salmão, mas pelo menos quatro vezes maior – Primeiro vamos arrumar um lugar para assar essa beleza e depois, de barriga cheia decidimos o que fazer.

Os amigos concordaram. E mesmo que não quisessem, não demorou para chamarem a atenção das pessoas à sua volta. Afinal de contas um peixe daquele tamanho era raro de se ver tão perto do porto, ainda mais pescado por um elfo. A maioria das pessoas jamais tinha visto uma cavala-real de perto... quanto mais pescada por uma criatura que deveria habitar apenas os livros de histórias infantis e a própria cidade de marfim. Logo a historia de um elfo que havia pescado a maior cavala-real de todos os tempos se espalhou e dezenas de curiosos passaram acompanhar o grupo de amigos. Por fim os três perceberam que valeria mais à pena vender o peixe do que procurar um lugar sossegado para assá-lo.

— Será que fizemos um bom negócio? – perguntou Espartano, observando a reluzente moeda de cinco paus na sua mão, como se fosse um especialista no assunto.

— Acho que sim. Afinal de contas quando aquele homem ofereceu 70 paus pelo peixe todo mundo se espantou. Eu julgo que foi muito. – disse o Elfo, sentindo o peso das moedas nos sacos com bolsa de seu cinturão.

— Eu achei que a divisão das moedas não foi assim tão igualitária... Quer dizer, por que você fica com trinta moedas e nós dois ficamos com 20 cada um? – questionou Artêmis.

— Deixa eu ver... Fui eu que pesquei, fui eu que negociei o preço e fui eu que fechei o negócio. Acho que é por isso. – disse o Elfo subitamente incomodado com o questionamento da amiga.

Mal viraram a viela em busca do que parecia uma praça cheia de carroças com comidas prontas (wagon-foods, talvez) e deram de cara com quatro homens cercando uma mulher.

Dois deles tinham adagas curvas nas mãos e um terceiro trazia o que parecia um cassetete. Um quarto, que parecia o líder, extorquia a mulher.

— Olha dona, não me importo se você é sacerdotisa de que templo dos doze divinos. Todo mundo que passa pelo beco dos gatos tem que pagar um pedágio... De um jeito ou de outro. – disse o homem estalando a língua de satisfação.

— Vem cá, todo homem que eu encontro neste lugar é mesmo um porco machista? – gritou Artêmis, sacando a sua espada e colocando o escudo à frente de seu corpo, sedenta por ação.

Os quatro homens olharam para a menina, depois olharam para o companheiro dela, o Espartano, que já tinha sacado uma espada de duas mãos, tão impressionante que parecia ser capaz de partir um cavalo em dois. Mas quando seus olhos caíram sobre o Elfo, os quatro se entreolharam e soltaram suas armas ao chão, imediatamente.

— Perdão milorde elfo. Eu não sabia que nossas ações incomodavam o senhor ou seus empregados. Se vossa graça permitir, estaremos seguindo o nosso caminho bem distante do seu, para que nossos destinos não se cruzem mais. – disse o homem que parecia ser o líder do bando, curvando-se e se afastando a cada passo. Dois de seus colegas acharam que não seria boa ideia esperar e dispararam em corrida para becos diferentes. Então, antes que qualquer dos meninos pudesse acenar com alguma atitude, os bandidos sumiram pelos entroncamentos irregulares de becos, como se nunca tivessem estado ali.

A moça, entretanto não correu. Ela puxou o capuz da cabeça revelando uma cabeleira negra e ondulada, terminando numa pele clara – quase pálida. Os olhos eram apertados e quase rasgados no rosto, lhe conferindo traços de descendência oriental e a boca de lábios finos e vermelhos ficava pouco abaixo de um nariz de batatinha, um tanto empinado. Ela virou-se para os jovens e deu dois passos, fazendo uma longa reverência.

— Obrigado pela intervenção meus senhores. Eu sou Wel. Sweldma Arantes. Eu sou uma sacerdotisa peregrina. Estou em transito para o afastado mosteiro do Vale do Crepúsculo.

— Orra velho... por que é que todo mundo aqui pensa que a gente é empregado teu? – Perguntou Artêmis, fuzilando o Elfo com os olhos, guardando a espada na bainha e pondo o escudo para descasar em suas costas, tal como fosse uma mochila escolar.

— Tem certeza que está tudo bem com você, irmã? - perguntou o Elfo despejando charme extra enquanto tomava a mão da sacerdotisa e a beijava delicadamente. As faces da sacerdotisa enrubesceram mais rápido do que ela pode puxar a mão de volta – meus amigos me chamam de Elfo. Esses são Artêmis e Espartano. Não são meus empregados. – fez questão de frisar o jovem –   São meus irmãos de armas.

A sacerdotisa pareceu confusa. Não ficou claro se estava confusa com o tom galanteador do rapaz, ou com o fato de um cavaleiro elfo chamasse humanos de "companheiros de armas". Mas por fim ela se recompôs. Respirou fundo e limpou alguma coisa de sua capa creme.

— Está sim. Obrigada mais uma vez. Mas eu acredito que nosso fortuito encontro não foi por acaso. Como eu disse, estou indo para um mosteiro afastado, chamado mosteiro do vale do Crepúsculo. Lá eu devo me consultar com a sacerdotisa chefe do templo. Ela tem uma revelação importante para fazer sobre o meu destino.

— Tá bom tia, e o que a gente tem a ver com isso? – perguntou Espartano, aproximando-se de onde a menina falava.

— Para falar coma sacerdotisa eu tenho uma carta de apresentações e duas safiras dos sonhos. A safira permite a sacerdotisa do templo entrar em um transe místico e ver as coisas da existência. Do passado ou do futuro. Escritos ou não. Eu só preciso de uma safira para cumprir a minha missão, mas eu sei que vocês podem usar a outra para saberem sobre a vida de vocês. – disse ela, abaixado a cabeça um tanto envergonhada perante os olhares inquisitivos dos três amigos. – Eu... eu sonhei com nosso encontro. Sonhei que na minha jornada eu correria grande perigo e que eu seria salva por três heróis que não eram dessas terras. E para pagar pelo seu heroísmo eu deveria lhes oferecer a safira dos sonhos.

— Orra mano, com ela podemos tentar descobrir o paradeiro do tal do rei... Ou de todos os nossos companheiros... da Rebeca... – balbuciava Artêmis enchendo o rosto de sorrisos a cada palavra.

— Podemos voltar para casa. – o rosto do Elfo iluminou-se.

— Ou saber se o correto é bolacha ou biscoito. – comentou o Espartando, recebendo imediatamente os olhares de crítica dos dois amigos. – Mas vai... vocês nunca quiserem saber disso não?

— Então parece que nossos destinos estão seguido pelas mesmas trilhas.

— Para onde vamos? Você sabe chegar nesse templo? – perguntou o Elfo.

— Sim. Eu sonhei com a estrada também. O templo fica numa região afastada. Depois de Amag. Temos que seguir pela floresta do rio alagado e depois continuar até o Engenho das Velhas. De lá ainda temos uma boa estrada a seguir.

— Então vamos pegar mantimentos e seguir por esta floresta que você falou – respondeu Artêmis, ânimo revigorado. – Vamos pessoal, tenho quase certeza que o mercado fica naquela direção.

Os jovens seguiram pelas vielas, afastando-se com rapidez. Pouco depois de sua partida uma figura pequena e atarracada chegou no lugar onde estavam. O anão coçou a barba encaracolada e farejou o ar, como se fosse perdigueiro em busca de sua caça.

— Bem, parece que temos uma lista forte dessa vez. Vamos ver se conseguem me levar até a verdade.

O anão apanhou um anel do bolso e olhou demoradamente para ele antes de pô-lo no dedo. Num instante sua imagem foi desvanecendo até sumir no ar.


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