O amor e a coroa escrita por Tamariskqueen


Capítulo 7
Anna


Notas iniciais do capítulo

Olá gente!
Acabei demorando bastante pra postar esse capítulo, mas vou tentar escrever o outro logo.
Espero que gostem!!❤



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Eu estava completamente encharcada. Enquanto corria, tentava ao máximo me equilibrar, pois meus pés escorregavam sem parar nos sapatos já cheios d’água. Quando chegamos à torre tudo o que eu pensava era em sair daquela chuva e me sentar. Meus pés já doíam por causa das vezes que escorreguei e eu já respirava com certa dificuldade. Peter fez um pouco de força para abrir a porta que parecia emperrada, até que, finalmente, conseguimos entrar.

O lugar parecia completamente abandonado. Há muito tempo aquela torre não era mais utilizada. Havia uma quantidade grande de pedaços de madeira e algumas outras coisas que eu não conseguia ver direito já que estava escuro lá dentro. Fechei a porta para que a sala não se alagasse e continuei observando os raios pelos buracos na madeira velha. Peter acabou encontrando, entre as tralhas, uma vela e alguns panos meio sujos. Enquanto ele a acendia, eu tentava me secar ao máximo. Sentar naquele chão só me fez sentir mais frio, mas nós não tínhamos outra opção. Peter sentou do meu lado e logo me perguntou:
— Você está bem? – Parecia preocupado. Seus olhos me rodeavam para ter certeza que nada havia acontecido – Se machucou?
— Não. Só me cansei um pouco e aqui está bem frio, o que não ajuda muito.
— Vou dar um jeito nisso, então. – Ele se aproximou.
— Ah é? Que jeito?

Ele passou o seu braço por trás de mim e me abraçou forte enquanto movia as mãos na tentativa de espantar o frio.
— Calor humano! – Falou rindo

Apoiei minha cabeça em seu ombro enquanto olhava para a porta. Pequenas farpas brotavam aqui e ali na madeira escura, a água lá fora atingindo-a impiedosamente.
— Por que veio comigo? - a pergunta escapou de meus lábios antes eu eu pudesse impedi-la.
— Como assim?
— Você poderia ter ficado lá no seu quarto e se livrado da Lady Froyer ao invés de estar aqui comigo. – Era realmente uma escolha não muito inteligente.

Observei o cenho de Peter se franzir,parecia achar a ideia absurda. Senti seus braços me puxando para mais perto, firmando o abraço.
— Eu não te deixaria vir sozinha pra cá.
— Por quê?
— Porque você é importante pra mim. - Ele falou com tanta naturalidade que meu estômago se revirou. Quantas pessoas poderiam escutar aquelas palavras vindas do futuro rei?

Essas palavras me confortaram. Era muito bom saber que existia alguém que se preocupava tanto comigo. De seus cabelos loiros caiam pequenas gotas de água. Seus olhos castanhos fitavam os meus, fazendo com que eu me sentisse segura naquela tempestade. Mas num súbito momento, tudo muda. Seu rosto estava a poucos centímetros do meu, o que nunca me pareceu estranho, mas naquele momento, seu olhar me constrangia um pouco. E assim, do nada, numa rápida aproximação, seus lábios tocaram os meus. Fiquei simplesmente sem reação. Ele me beijou? O que estava acontecendo? Na minha mente estava tudo confuso. Eu não conseguia entender o que acontecera. Quando nossos rostos se afastaram, eu ainda não sabia o que estava sentindo. Não conseguia olhar nos seus olhos novamente. Não tive outro reflexo a não ser me levantar e sair daquele lugar. Eu preferi não olhar para trás e andar rápido. Na minha mente as perguntas martelavam. “Como?” “Por quê?” Enquanto isso as gotas de chuva se chocavam com a minha pele. Continuei andando sem saber pra onde ir ou o que eu estava fazendo. Cada gota de chuva me trazia uma pergunta e um sentimento diferentes... Não demorou muitos segundos para que eu ouvisse a voz de Peter me chamando.
— Anna, espere!

Eu não queria conversar. A única coisa que eu desejava era que aquilo não tivesse acontecido. Ele continuava a me chamar até que chegou perto o suficiente para segurar o meu braço e me fazer parar de andar.
— Por que você está fugindo? – Me perguntou olhando em meus olhos – Me deixe explicar, por favor.
— Então explique! – Retruquei logo, enquanto tentava fazer com que ele soltasse o meu braço. – Apenas me diga o que foi isso porque, de verdade, eu não sei mais o que está acontecendo.
— Eu... Eu não sei bem o que dizer. Só sei que ultimamente eu estou pensando em você a todo o momento e não sei como parar com isso.
— E você quer me convencer de que, do nada, você se apaixonou por mim? Sinceramente, eu não consigo acreditar em você.
— Eu não estou mentindo. Desde aquele dia em que eu fugi da Lady Froyer e fui ao seu quarto, eu...
— Espera! – cortei-o antes que terminasse de falar e dei um passo para trás – Agora eu compreendo tudo. Quer dizer que eu sou a sua nova conquista?
— O que? Claro que não! Você não está entendendo.
— Não! Muito pelo contrário. Eu entendi tudo! Você se enjoou da Lady Froyer e foi atrás de mim. Se eu não sou a sua próxima vítima, o que eu sou pra você?
— Você é tudo pra mim! – Essas palavras vieram como uma outra pancada – Foi por isso que eu não consegui me segurar. Eu não sei o que está acontecendo comigo. Eu nunca senti isso por ninguém.
— Agora vai tentar vir para cima de mim com essa conversa de príncipe encantado que é apaixonado pela princesa? Eu pensei que você fosse meu amigo!
— Mas não é conversa! – disse tentando chegar mais perto e enquanto eu me afastava.
— A questão aqui é que você fez algo sem nem pensar no que isso significa pra mim ou pra a nossa amizade, que eu nem sei se ainda vai existir! Você jogou isso fora só por mais uma garota na sua lista!
— Você não é, nem nunca foi só mais uma!
— Mas foi dessa forma que você acabou de me tratar. – Me virei para ir embora. Numa tentativa de me segurar logo ergueu o braço. Desviei e disse logo, enquanto as lágrimas já caiam – Só... Só me deixe ir embora. Não me siga, por favor.

Comecei a andar com pressa. Não queria mais continuar naquela conversa ou olhar para ele. Minhas lágrimas se misturavam com as gotas de chuva e continuavam caindo sem parar. Eu só queria ir logo para o meu quarto. Ainda não sabia o que pensar. Só sabia que vê-lo não era uma opção.

Corri pela parte de trás do castelo até a ala dos empregados. Eu me sentia cansada e em choque. Meus pés, deslizando nos sapatos, já latejavam de dor, mas me mantive firme até chegar à janela de meu quarto. Escorreguei algumas vezes antes de conseguir, finalmente, saltar e entrar no cômodo escuro. Ainda cambaleava até chegar ao candelabro e acendê-lo. A luz feriu um pouco meus olhos já cheios de lágrimas, mas me recuperei rápido e procurei algo para me secar.

Enquanto tirava as roupas encharcadas, a cena que acabara de acontecer se repetia em minha mente. De novo, de novo e de novo... queria me livrar daquilo mas não conseguia. Os sentimentos não paravam de me atordoar. Após vestir outra roupa, limpei as feridas em meus pés e as cobri com faixas de tecido. A dor era mínima, mas tentei continuar pensando nela para que não fosse bombardeada com outros pensamentos. Decidi me deitar para que pudesse dormir e ter a incrível ilusão de que aquilo fora apenas um sonho. Porem, era impossível fechar meus olhos. Eu me sentia agitada e desconfortável. Imaginava como seria nossa amizade depois do que acontecera. Ainda não sabia se ela ainda existia, mas se fosse o caso, eu temia que não seria a mesma coisa de antes. Olhava para os lados a todo o momento. Gastei alguns minutos fitando minha boneca de pano – a única que eu havia guardado após a infância – enquanto pensava. Eu olhava em seus olhos feitos com botões pretos e era como se me levassem de volta aos meus 11 anos, quando eu passeava em sua companhia pelo jardim e imaginava infinitas historias diferentes. Ela me fez lembrar de como era quando Peter e eu brincávamos de perseguir borboletas e corríamos sem parar pelo jardim. Nós nunca conseguimos capturar nenhuma, mas acho que nosso objetivo não estava em pegá-las, mas sim na diversão de correr e correr juntos. De repente, tentei me imaginar perseguindo-as sozinha. Não havia risadas, diversão ou vontade de pegá-las, apenas o cansaço e o dever de continuar correndo... Não sabia qual parte disso tudo havia sido um sonho e qual parte, minha imaginação, pois num rápido momento abri meus olhos e lá estava novamente, deitada em minha cama, já de manhã, observando o nada.

Percebi que estava um pouco atrasada, então me levantei depressa, ainda um pouco tonta, e me dirigi até meu armário. Peguei meu espartilho, um vestido avermelhado com alguns detalhes em marrom e me vesti, apressada, tentando não voltar ao que estava pensando antes. Mantive meu foco em me aprontar rapidamente e ir ao trabalho. Fui até o espelho e, com a ajuda de alguns grampos, fiz pequenas tranças e as prendi para trás, deixando outra parte do cabelo solta.

Ainda parei e tirei um breve momento para me olhar no espelho. Via olhos cansados e perdidos – era claramente possível notar que eu havia chorado na noite anterior – e um rosto um tanto inchado. Eu tentava, no entanto, não direcionar o olhar para minha boca, pois sempre que a avistava, aquela cena se repetia em minha mente e eu sentia novamente tudo o que havia sentido na noite anterior.

Porém, enquanto me observava ouvi o som de batidas em minha janela. Aquele que escutara durante tantos anos e que esperava todas as manhãs. Mas naquela manhã em específico, era o último som que desejava escutar.
— Anna! – a fala abafada através da janela era suave e parecia desanimada, como se já não esperasse por uma resposta – preciso falar com você...

Permaneci imóvel. Minha mente implorava para sair dali, mas meu corpo teimava em desobedecer. Eu não queria e não iria responder, mas meus ouvidos pareciam atentos ao que ele iria dizer, mesmo que nada fosse mudar o que havia acontecido.
— Eu não sei se você está aí... – a voz que antes estava arrastada, se erguia aos poucos – Mas eu preciso que você saiba que não foi um capricho ou só desejo... Foi mais do que isso. Eu... Eu não sei dizer quando esse sentimento ficou tão forte. Acho que sempre esteve comigo...

As palavras pareciam sinceras, mas como eu poderia acreditar? Estou falando do homem que dorme com uma mulher diferente todas as noites. Estou falando do homem que sempre foi para mim como um irmão. Eu nunca havia percebido qualquer sinal de que fosse algo a mais. Eu realmente gostaria de acreditar, mas não conseguia.
— Eu preciso ouvir a sua voz – declarou, insistente, depois de uma breve pausa – Por favor... Me fale qualquer coisa. Só preciso saber se você ouviu o que acabei de falar...

Eu não podia responder. Tentei, em silêncio pegar minhas coisas e sair logo daquele quarto antes que ele notasse minha presença, mas, num descuido, acabei derrubando uma caixinha de jóias que estava em minha penteadeira. Não demorou mais que um segundo para ouvir Peter me chamar.
— Anna?

Desvencilhei-me das coisas que havia derrubado e corri até a porta, tentando esquecer de tudo que acabara de ouvir. Enquanto me dirigia até o corredor, ele ainda me chamou mais algumas vezes, mas mantive o foco em sair daquele lugar e ir ao trabalho. Já conseguia perceber que aquele seria um longo dia...


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