Apocalipse escrita por Natália Alonso, WSU


Capítulo 17
Capítulo 16 – O coração do mal




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Dimitri abre os olhos, a máscara de oxigênio que manda ar para seus pulmões ainda tem baixo teor do precioso gás. Valioso para sua vida e para seus poderes. Logo percebe que está em uma câmara idêntica como a que encontrou seu irmão, mutilado pelas mãos de Marcos em sua tortura inimaginável. O torturador está presente também, ao seu lado, tirando a agulha do soro presa ao seu braço. Seu impulso inicial é de tentar aquecer suas mãos para o atacar, a falta de oxigênio no ambiente impede, rapidamente, o caveira avisa.

— Vocês me mandaram abrir os portões pra vocês, eu fiz exatamente isso. — Marcos vira para o painel de controle da câmara.

— Eles te atormentaram, Marcos? — fala Mia, junto de mais três goetias na porta da sala.

— Eu fui prisioneiro deles, ainda tenho que resolver outras coisas. — responde de forma mau humorada. — Ela já está descendo?

— Ainda está cuidando do divórcio lá em cima.

A garota de roupas de couro e cabelo raspado na lateral se aproxima.

— Se eu colocar um goetia no corpo dele, poderemos controlar seu poder, seria muito valioso.

— Sim, era o que eu iria sugerir. Vocês decidem. — Ele nota que outros goetias pedem que Vanessa os levem até onde está Daniele, aprisionada com as correntes de prata. — Achei que iriam torturá-la por um tempo antes de executar.

— É mais seguro assim, menos chances dela escapar, não acha? — Ela solta seu veneno para Marcos.

— Tanto faz. — finaliza ele fechando o painel de configurações. — Com licença, mas tenho que cuidar da minha coleira, já tá pinicando essa merda.

Ele abre a porta da câmara permitindo a entrada dos outros três goetias no local hermético. Mia vira-se para o prisioneiro deitado na maca, acorrentado e pronto para a agonia.

— Não se preocupe, não vou te matar.

Um dos possuídos treme em convulsão no chão, os outros o seguram para que não se debata tanto. O homem abre a boca e seus lábios se rasgam com o maxilar sendo empurrado cada vez mais forte. O som de um engasgo é silenciado quando mãos, cobertas de um líquido negro e pegajoso saem de sua garganta. É possível ouvir o rasgar de seus órgãos, o quebrar dos ossos enquanto o demônio goetia sai de seu corpo humano, o ser disforme com centenas de olhos na cabeça urra com o parto, ele odeia ficar sem um hospedeiro. O pequeno monstro rasteja até a maca, seus olhos cobrem toda a cabeça se movimentam de forma independente, seu corpo parece magro demais, pele e osso na pele pegajosa de grumo negro. Sua boca grunhe assim que sobe na maca, se agarrando nas pernas de Dimitri.

— Nojento.

— Não o trate assim. É só um bebê. — responde Mia, agora em uma voz grutal, duas falando em conjunto.

O ser asqueroso fareja o corpo de Dimitri, um bipe toca e as luzes piscando chamam a atenção de Mia que volta seus olhos flamejantes para a tela de controle. O pequeno monstro rosna farejando o ar em torno, em cima do peito do noman, e o som metálico do trancamento da câmara é ouvido. Marcos usa seu braço mecânico para arrancar a alavanca de tranca que permite a abertura da porta. Antes dos goetias se moverem, uma gigantesca bola de fogo explode no ar, partindo do próprio corpo do noman. O calor provoca uma onda tremendo a parede de vidro a prova de balas, Marcos corre para o corredor pouco antes da segunda explosão, quando o fogo consegue jogar a porta pelo corredor, sendo cravada na parede.

A porta vítrea de catorze centímetros está parcialmente derretido, escorre pelo chão incandescente. Marcos tosse parte da fumaça escura que sai, os gritos ferais dos goetias são de agonia, pode-se ouvir que alguém pisara fazendo um som pastoso, como uma melancia explodindo. Silêncio, os passos revelam Dimitri saindo em seu corpo composto de puro plasma rubro e amarelo, ele olha para Marcos no chão e se aproxima queimando parcialmente sua calça. O traficante se recolhe e levanta-se.

— Ei, ei, ei... calma... amigo...

Os gritos do fundo do corredor e batidas indicam a luta na outra cela.

— Vanessa! Agora seria uma boa hora para aparecer! — berra Marcos já com as mãos levantadas.

A porta se abre, Vanessa e Daniele saem, a mão de um goetia repousa no chão.

— Vocês demoraram, os goetias estavam famintos lá. — reclama Vanessa antes de passarem pelos dois no corredor.

Dimitri vê que Daniele caminha tranquila com apenas parte das algemas quebradas nos pulsos.

— Prata de pouca pureza dá nisso, eu descobri da pior maneira. — avisa Marcos, piscando o olho por dentro da máscara de acrílico.

 

 

 

*********

 

Os vampiros trazem grossas correntes, marcas místicas estão no metal, são capazes de aprisionar um demônio. Mefisto olha e reconhece os grilhões da prisão onde Lúcifer estava.

— Você estava ansioso por isso, irmão. Fico imaginando quem poderia tê-lo ajudado a escapar. — fala Mefisto, voltando seu olhar para Lucy, abraçada a Mia, dando ordens aos orobas.

— Eu tive sorte. — responde cinicamente, Lúcifer.

— Ela irá te trair também, todos vocês.

— Não se eu o fizer antes.

A rainha olha para ele.

— É brincadeira, eu não trocaria o reinado garantido por uma pequena vingança.

Asmodeus rosna baixo. Lucy intervém:

— Lúcifer é sangue de Moloch, merecedor do trono e sabe que é importante que demônios e vampiros permaneçam em aliança. — declara para os demônios em torno. — E sabe também que Mefisto deve pagar com uma longa vida no nono círculo.

O som da explosão vinda das prisões ressoa, na segunda é seguido por um tremor sentido nos pés e cascos de todos. O chão fica levemente aquecido e Lucy preocupa-se imediatamente.

— Mia...

Tiros começam por todos os lados, assim como os gritos de luta e rosnados. Os naurús estavam soltos, suas correntes e jaulas eram facilmente quebradas após o sinal dado pelos líderes. Os lobisomens atacam de forma feroz os orobas, vampiros são metralhados pelos caveiras. Um rato que corria por entre os guerreiros de repente para no meio de vampiros, o transmorfo se torna agora um rinoceronte gigantesco que esmaga os vampiros na parede, Henrique se transmuta em um falcão para escapar logo em seguida.

Mefisto aproveita que um dos goetias foi atacado por um naurú e acaba libertando sua mão, é o suficiente para conjurar uma lança verde e empalar o outro que o continha para ser aprisionado. Lúcifer sorri, sua sombra se move estranhamente quando ele conjura a Cimitarra de Luz, a imponente arma para matar demônios como eles. Bem a tempo de bloquear um golpe com a lança que iria diretamente para sua cabeça.

— Foda-se o reino, eu prefiro acertar as contas contigo, irmãozinho.

Mefisto rosna girando a lança acima da cabeça antes de tentar um golpe lateral, Lúcifer desvia recuando e sua sombra finalmente se desprende dele, a mancha disforme percorre o chão. Lucy fica furiosa indo em direção para as catacumbas, sua preocupação é com os prisioneiros e sua amante, mas uma adaga atravessa suas costas e a ponta coroa em seu peito. A mulher para quase sem entender do por que a dor ser tão lancinante como a muito tempo não sentia. A lâmina é puxada devagar, a ponta some na pele e a adaga é arrancada de suas costas com um soco que empurra a mulher a frente. Ela gira o corpo a tempo de ver a sombra ainda disforme se moldando na figura do Soldado Fantasma.

— Eu conheço você... — fala confusa a mulher, sentindo dor no peito perfurado que não cicatriza, logo ela reconhece a adaga Sedenta na mão da fumaça enegrecida. — Seu cheiro, continua o mesmo de quando eu o matei... É o soldado fiel que foi vingar a esposa, não é mesmo?

— E sou também a última coisa que verá, maldita. — A voz se propaga vibrando na penumbra negra, pouco abaixo dos dois pontos vermelhos brilhantes de seus olhos.

— Quantas vezes terei que te matar?

Ela sorri e avança em um golpe certeiro no ventre com as garras. Mas sua mão atravessa a densa fumaça e ele responde com outro golpe em seu ventre. Ela se curva, dessa vez, uma boa porção de sangue se vai por sua boca. Não é agradável sentir o gosto do próprio sangue, ela percebe que terá que mudar seu plano de ataque. Tenta segurar a adaga para que ele não consiga retirar, ele puxa, mas a força da vampira quando alimentada é muito grande. O fantasma segura sua nuca forçando-a curvar para trás, ela urra quando ele consegue tirar a adaga soltando um filete de sangue no ar.

A mulher levanta o braço clamando pelo machado que para em sua mão ainda em velocidade para golpear a penumbra em diagonal ascendente. Apesar de parecer cortar o ar, agora a fumaça se desmancha parcialmente, um machado condenado tem efeito na alma corpórea composta justamente por uma maldição. Assim, cada um em suas armas profanas tentam se golpear. Ela dá dois giros com o machado acima da própria cabeça, a fumaça se dissipa quando é atingido na primeira, na segunda desce passando por baixo das pernas da vampira, formando-se e atacando-a pelas costas mais uma vez.

Mefisto finca sua lança no ombro direito do irmão. Lúcifer solta a cimitarra que cai diretamente em sua mão esquerda, a tempo suficiente para fazer um movimento cortando o abdômen do rei em sua forma de gárgula. O rei ferido responde levantando o demônio no ar e lançando-o do outro lado, de cabeça no chão.

Assim que chega no salão principal, Marcos recebe uma metralhadora das mãos de um dos caveiras, Vanessa atira contra orobas e Dimitri caminha no ar em suas chamas. As labaredas vermelhas são lançadas contra grupos inteiros de orobas e vampiros que teimam em se regenerar. Um goetia que ainda rosnava e dilacerava um caveira é queimado vivo, seus gritos compostos de inúmeras vozes ensurdecem o caos da guerra que tomara os arredores.

Lucy desvia do golpe que seria certeiro em sua garganta, sua cabeça rolaria se não se curvasse para trás. Ela consegue golpear a sombra com o machado, mas o soldado, que não sente dor, usa a adaga para lhe cortar o braço na altura do cotovelo. O membro direito cai no chão, tornando-se um pó enegrecido imediatamente no piso sujo. Ela ruge em dor e a sombra levanta a adaga no alto e para. Os olhos vermelhos vibram paralisados, não consegue se mover ou fugir. A penumbra começa a se solidificar, um som de fratura se emite quando parece se formar uma rocha quebradiça. Aos poucos cai, parte a parte subindo de seu dorso até sua cabeça, a mão é a última a cair ainda segurando a adaga. Os olhos vermelhos apagaram seu brilho, Lucy olha a frente e vê a mão da mulher baixar e tocar o chão, Mia está carbonizada com partes de sua carne exposta no ar.

Lucy levanta-se rapidamente e corre em direção da amante. Vira-a beijando o que restara de seu lábio.

— Meu amor, acalme-se, eu posso...

Fala enquanto morde a mão para gotejar nos lábios de Mia, a garota cospe o conteúdo.

— Não, esse corpo não me interessa mais... — fala a voz grutal.

— O que? Mia querida... eu posso te salvar.

— Estúpida. — responde a voz cavernosa. — Mia morreu a muitos anos, nesta casca tu se deitaste apenas com Zagan!

O único olho negro da vampira estatela em choque, o corpo da mulher convulsiona e começa a estourar de dentro para fora no peito. As garras abrem a abertura torácica esmagando os órgãos na saída, a pele cinza recobre o monstro de olhos sem pálpebras e lábios. Os dentes e presas encavalados são completamente expostos quando o animal rouqueja com sua língua negra bifurcada. De quatro, ele se esgueira no meio do sangue escorregadio e corre para as sombras, desaparecendo rapidamente. Chocada com a visão, Lucy volta seu único olho para Dimitri que ainda queima vampiros.

Ela se levanta, mas então outro grito chama a sua atenção. Mefisto cai de joelhos com a cimitarra de Lúcifer atravessando seu peito.

— Faço isso de bom grado, irmão. Não pelo que fez a esse mundo, nem pelo nosso pai, mas por ter me tomado fazer exatamente tudo isso.

Sorri Lúcifer, antes de decapitar o irmão. A cabeça de Mefisto rola até os pés de Daniele, que vê Lúcifer chutar o corpo do rei, tal como o morto fizera a seu pai, milênios atrás. A feição da vermelha muda tentando avisar o demônio.

— Cuidado!

Ela aponta, ele se vira somente a tempo de receber o golpe único de machado Lucy. A lâmina entrara por seu ombro e para em sua cintura, ele cambaleia o suficiente para ela tomar de sua mão a cimitarra e repetir o movimento que fez ao marido.

— Eu disse que o queria vivo.

O grito de Daniele alerta Dimitri. Ele lança labaredas na direção da vampira, mas ela desaparece pouco antes do fogo a atingir. No canto, a vampira corre entre as sombras em direção do corpo do Soldado, a adaga Sedenta ainda estava presa em sua mão solidificada, a águia pega com suas garras e logo se transmuta em Henrique ao lado de Daniele. Ele olha diretamente ao único ponto de luz do olho negro de Lucy, a vampira recua rosnando. Pode-se ouvir o rastejar dela no teto, ainda pretende tentar algo, a maioria dos caveiras morreu, sobraram muitos vampiros e orobas. Asmodeus aparece arrastando um braço de pelagem vermelha e jogando no chão. O oroba de cabeça de touro deixa o braço no chão e usa a lança para bater no chão.

Dum.

A batida única é respondida por outros.

DUM.

Ele retoma. Dum.

O chão vibra novamente. DUM.

Alternadamente eles batem no ritmo, a do líder e a dos soldados. Um tic tac baixo é ouvido como o riso de uma hiena. As presas de Lucy brilham nas sombras junto de tantos outros olhos vermelhos que preenchem a escuridão do teto.

— Achavam mesmo que podiam matar os Cains assim? O bom de nós amaldiçoados é que somos muito resistentes.

Alguns vampiros têm vários tiros, orobas com membros atingidos ainda carregam suas armas, se movem devagar ainda que feridos.

Os rosnados de vampiros e batidas dos orobas tomam o lugar até uma batida estrondosa vir do teto. Todos se calam, tentando entender o que fizera aquilo. Uma segunda batida provoca a queda de parte da estrutura do teto, rapidamente os vampiros que lá estavam se esgueiram para as laterais e paredes. A Resistência recua, vai para corredores para se proteger do que quer que seja. Então uma abertura se forma, parte do teto se despedaça quando os socos poderosos atingem o lajeado. As botas douradas são as primeiras a aparecer, ao descer planando, Kate reluz o dourado de sua capa rasgada como asas. Pouco a pouco dezenas de clonadas entram pairando no ar, vestidas ainda em seus uniformes militares.

Kate é a justiça. — falam em uníssono baixo.

— Está na hora da limpeza. — avisa Kate para as clones.

Kate é a salvação da humanidade.

Em um gesto com a mão, Kate comanda as clonadas a atacarem os Cains, os orobas usam suas armas malditas contra o exército que ainda possui fraqueza com a magia deles. Mas são muitas, o voar acelerado delas provoca um zumbido com o tremor das roupas no ar, o vespeiro militar se divide entre os que atacam os cains e os que tiram a resistência para fora.

— Para onde estão indo? — questiona Henrique.

— Temos que sair daqui, precisamos ir para um bunker.

— O que está acontecendo, Karen!? — Dimitri se espanta.

— Kate. Me chamem assim agora, para me diferenciar das outras, por favor.

— Mas...

O corvo desce por entre as soldadas e se transmuta rapidamente em Aradia para os alertar.

— As soldadas já levaram os que estavam do lado de fora, só faltam vocês, rápido!

Kate volta seu olhar para a vampira que quebra o pescoço de uma das Karens. Ela voa em sua direção, a atropela em um soco a encurralando na parede.

— Onde pensa que vai, rainha?

— Para o inferno, meu lar. — responde ela usando suas garras no ventre da garota. — És terrível para um humano, difícil para meus filhotes. Mas para mim, tu és apenas carne. — sorri a vampira antes de tentar morder o pescoço de Kate.

A resposta vem com um tiro certeiro de escopeta no rosto da vampira, o estrago é grande na cabeça, o corpo ainda segura a alien que se desvencilha dos braços malditos. Marcos chama Kate para sair de lá, antes que seja tarde. Ele recarrega a arma quando a vampira se regenera o suficiente para puxá-la novamente.

— Onde pensa que vai, garota? — retoma o rosto disforme da vampira, ainda se regenerando.

O segundo tiro pega de raspão no ombro, Kate escapa e a vampira, irritada salta sobre o traficante.

— Aleijado desgraçado! — grita ela enquanto arranca a máscara que cobria parte de seu rosto deformado.

O acrílico protegia a ossatura parcialmente exposta, do Caveira que grita tentando usar uma segunda arma de sua cintura. A mulher quebra o seu pulso e morde seu ombro, evita o pescoço com a coleira naurú. Vanessa é segurada por Henrique, transformado em um gorila para conter a garota e todos saírem do local, somente as clones ainda lutam com os poucos orobas que restaram.

Kate apressa a todos, Marcos não é prioridade para ser salvo, ele já está sendo devorado. No meio da refeição, Lucy para quando ouve o bizarro:

— HA-HA-HA.

O riso estranho e forçado do caveira com seu rosto estraçalhado ainda exibe um sorriso sinistro, sua mão mecânica exibe o controle roubado de Daniele, sua coleira apaga a luz verde e pisca a luz vermelha.

Dois bipes.

A explosão toma conta do local, uma bola de fogo preenche o salão e transborda pela abertura do teto que desaba parcialmente. Vanessa e Henrique caem, são atingidos pelo fogo por alguns segundos antes de Karens voarem para resgatá-los. Feridos, eles são carregados às pressas pelas clonadas. Henrique está desacordado, Vanessa berra de dor com as mãos no rosto. As clones saem sem se importar com os ferimentos e chamas que ainda queimam as roupas. As clonadas parecem não sentir qualquer dor, estão inertes e só respondem aos comandos de Kate. Todos são levados a um dos bunkers da Aliança. O local é lacrado e Daniele questiona Kate:

— Por que isso tudo?

— Quando eu tirei as clonadas de lá, eu sabia como garantir que os vampiros sejam mortos, os orobas podem escapar, mas pelo menos os vampiros vão acabar.

— Garantir?

— Era a única maneira, eu precisava disso.

Daniele olha para Aradia que tem uma expressão assustada e questiona:

— O que você fez?

 

***

 

Do outro lado do Estado, em Primavera, a redoma está completamente destruída. Todo o exército foi morto ou está se arrastando pelo chão. Os laboratórios estão em chamas, sirenes e alertas tocam em loop com o som distorcido, o aviso manda que todos devem ir para os bunkers, pois a cidade está sendo atacada. Uma escola infantil está desmoronada, carros estão amontoados nas ruas, civis estão dilacerados ao meio, feitos por uma força descomunal. O afundamento no carro mostra que alguém deu um soco poderoso para que ele não pudesse fugir da cidade. Um único homem ainda caminha, o sangue em seu rosto inchado mostra que a briga foi dura. Sangue escorre devagar na perna que possui um torniquete. O soldado de alto escalão é Manson, o general que comandava todos com suas negras mãos de ferro. Ele anda de forma apática, uma seringa de controle mental ainda está presa em sua cabeça, ele não se importa.

O crachá é colocado no sensor e permite a passagem do general até uma sala muito isolada, seis andares abaixo do solo, após muitas portas a prova de balas, mas não a prova de outra coisa a prova de balas. Ele abre uma tela, toca no sensor de voz, o leitor de íris confirma e na tela pisca.

Acionar ataque nuclear – sim/não.

— SIM.

Escolha da amplitude do local – curta/longa.

— LONGA.

Quantas armas a serem usadas – porcentagem.

— 100%

Marcar acionamento – digite a data e hora.

— DATA DA POSTAGEM DO CAPÍTULO.

Confirmar – Sim/Não.

— SIM.

Acionamento confirmado.

Quando a mão de Manson permitiu o ataque nuclear, os números contavam na tela. Os olhos castanhos do General acompanhavam de forma apática, então sua íris finalmente reage. O rosto negro muda do sono profundo para a surpresa, ele olha em torno e tira a seringa ainda presa a sua têmpora.

7.

Volta-se para para a tela, pensa no acionamento de bloqueio.

6.

Encontra a chave de confirmação que pede sua digital e leitura óptica.

5.

A leitura é efetivada com sucesso.

4.

Surge uma nova janela perguntando se ele deseja abortar o processo.

3.

Ele vai com o mouse até o quadro correspondente de confirmação, então a mão caída de um soldado, atrás do computador lhe chama a atenção. Ele olha, volta seus olhos para as telas de seguranças.

2.

Um soldado se arrasta no pátio central, além do recém paraplégico, não há mais qualquer movimento.

1.

Seus olhos se voltam para a tela, ele tira a mão do mouse e senta-se na cadeira observando a tela.

0.

Ele assiste ao abrir das escotilhas.


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