Crescendo - Shirbert escrita por Sabrina


Capítulo 9
O beijo




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***

Quando as danças enfim terminaram (e Diana já havia dançado com cada cavalheiro solteiro do local, como era de praxe) eu a sequestrei para um canto mais discreto.

— Preciso falar com você – falei. – É urgente.

— Aconteceu alguma coisa?

— Sim, você não tem ideia...

Nos sentamos numa mesa vazia. Eu tamborilava os dedos sobre a perna, nervosa.

— O que foi, Anne? Você está me deixando preocupada.

— Gilbert pediu permissão para me cortejar.

— Ah, eu achei que ele ia direto ao noivado...

— Como assim?

Ela riu. – Eu já imaginava que ele fosse pedir algo do tipo, Anne. Ele até demorou, se você quer saber. Provavelmente pediu apenas para te cortejar porque achou que a ideia de algo mais sério iria assustar você. Preferiu ir com calma.

— Por que parece que todo mundo já sabia que ele tinha interesse em mim?

— Porque todo mundo já sabia— ela sorriu. – Você aceitou?

— Não. Eu tenho até o final da festa pra dar uma resposta. É por isso que te chamei. Acho que vou enlouquecer, Diana!

— Você reconhece que gosta dele?

Desviei o olhar. Eu morreria antes de admitir tal coisa, que gosto daquele ser irritante cuja missão de vida é me contrariar, e que sentiria falta disso caso ele parasse. Sentiria mais ainda se ele fosse embora outra vez.

— Vou considerar isso um sim – disse Diana. – Se você gosta, o que a impede de aceitar?

— Ruby...

— Ruby está praticamente implorando a Billy que a peça em namoro, e acho que ele vai mesmo pedir.  Olhe para os dois.

Eu olhei. O nojento de Billy bebia champanhe com Ruby. Os dois riam e se olhavam de modo nada discreto. Logo atrás, Moody observava com um ar triste.

— Ela não poderia ter feito escolha pior... – falei.

— Isso não importa – disse Diana. – O que importa é que os dois vão acabar se casando quando a escola acabar. E se você rejeitar Gilbert, depois de alguns anos ele vai voltar pra Avonlea formado em medicina e bem casado, pode ter certeza.

Senti um aperto no coração. A ideia de Gilbert com outra pessoa... eu nunca tinha parado pra pensar nisso, mas me incomodava profundamente.

— Diana, o Sr. McDavid finalmente chegou. Venha cumprimenta-lo!

Minha melhor amiga olhou para mãe, depois para mim. – Preciso ir, Anne. Meu conselho é que siga seu coração, está bem? Depois me conte tudo.

E me deu um sorriso antes de se levantar e ir. Ao invés de me sentar à mesa das meninas, eu voltei para a mesa de tia Josephine, onde Cole também estava agora. Não conversei muito, apenas ouvi e murmurei algumas respostas enquanto observava Gilbert conversando com Prissy. Me senti incomodada, mesmo ela sendo minha amiga e tendo acabado de retornar da faculdade. Em algum momento, Marilla e Matthew se juntaram a nossa mesa.

— Você está bem, Anne? – disse meu pai adotivo. – Parece distraída.

— Não se preocupe, Sr. Cuthbert – disse Cole. – Ela está assim desde que se sentou aqui. É apenas Gilbert.

Matthew fez uma expressão confusa. Eu novamente quis ser um avestruz.

Cole! Como pode me envergonhar dessa maneira?

— Gilbert não é o rapaz que está te cortejando, Anne? – indagou tia Josephine. – Que antiquado, cortejando! Os jovens de hoje fazem isso?

— Só alguns – respondeu Cole. – Geralmente eles partem direto pro namoro e então noivado. Ou só noivado mesmo.

— Anne! – exclamou Marilla. – Acho melhor explicar essa história direito!

— Preciso ir ao banheiro – Matthew se levantou. – Com licença.

Suspirei irritada. – Vocês me constrangem, sabiam?

Cole sorriu e bebericou sua bebida, mas Marilla continuou com seu olhar inquisidor.

— Também preciso ir ao banheiro – falei, ficando de pé. – Prometo explicar tudo quando chegarmos em casa.

Já estava me distanciando quando ouvi uma voz masculina dizer meu nome e me virei para Gilbert.

— Podemos conversar? – perguntou ele.

Lá atrás, Cole deu uma risadinha. Marilla começou a se levantar, então peguei a mão de Gilbert e o arrastei para longe, antes que ela chegasse perto e o atacasse. Levei-o para fora da casa, para o quintal. Ele ficou olhando para nossas mãos juntas com um sorriso bobo, então o soltei.

— Marilla deve estar furiosa! – falei, começando a andar de um lado pro outro. – Ela pensa que você está me cortejando sem a permissão dela e de Matthew!

— Eu jamais faria isso. Gosto muito deles.

— Por isso seria uma decepção ainda maior: eles também gostam de você.

— Que bom – Gilbert sorriu. – E você, gosta?

Parei de andar e o encarei. Lembrei-me do que Diana tinha dito. Se eu o rejeitasse agora, o perderia pra sempre. Antes que eu me desse conta, as palavras saíram de modo impulsivo da minha boca:

— Eu permito!

Gilbert franziu as sobrancelhas e se aproximou um passo. – Mesmo?

Mesmo.

Então ele fez algo que eu não esperava. Ele aproximou o rosto do meu e ficou parado ali, com a boca a centímetros da minha, como se quisesse testar se eu não ia fugir. E apesar do meu coração acelerado e da respiração rápida, eu continuei ali, olhando pra boca dele. Foi quando ele me beijou. Foi simples e doce. Ao invés de se afastar completamente quando acabou, ele permaneceu com o rosto próximo do meu.

— Ainda não estou acreditando... – murmurou.

Levei as mãos ao seu rosto e o puxei para outro beijo, dessa vez mais demorado. Gilbert sorriu na minha boca.


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