Crescendo - Shirbert escrita por Sabrina


Capítulo 10
Repercussão




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***

Foi difícil voltar pra festa como se nada tivesse acontecido. Mais difícil ainda convencer Marilla a esperar até chegarmos em casa para uma explicação.

— Bem, então acho melhor irmos agora – ela disse, o rosto bem sério. – Vá procurar Matthew, já está tarde.

Eram só nove horas... cedo para ir embora de uma festa, mas eu não estava em condições de reclamar. Por isso obedeci e fui procurar. Encontrei Matthew sozinho, observando um quadro na parede.

— A Marilla quer ir embora – falei. – Ela mandou te chamar.

— Já estamos indo? Está cedo.

— Eu sei.

Quando retornamos ao local em que a deixei, soube por Cole que minha mãe adotiva estava nos esperando do lado de fora.

— Matthew – falei pensativa. – Pode dizer a Marilla que já vou? Preciso me despedir da Diana. Só vai levar um instante.

— É claro.

Assim que ele se foi, eu olhei ao redor a procura da minha melhor amiga. Ela ainda estava conversando com o tal Sr. McDavid, que parecia ter a nossa idade e era um tanto quanto bonito. Diana sorria para ele, o rosto meio corado. Decidi não incomodar.

— Cole, pode explicar pra ela por que eu fui embora e dizer que conto tudo depois?

— Pode deixar – ele piscou um olho pra mim. – A propósito, não está se esquecendo de se despedir do Gilbert?

— Gilbert! – exclamei, arregalando os olhos. – Eu esqueci! Você viu ele?

Cole riu e apontou pra esquerda, onde o rapaz que eu beijara a menos de meia hora atrás estava conversando com Moody e Charlie. Me aproximei e cutuquei seu ombro, fazendo com que ele se virasse pra mim.

— Eu já vou embora – falei. – Vim me despedir.

— Já? – ele olhou para trás, para os meninos, depois tocou minha mão e me conduziu pra longe deles. Senti seus olhares curiosos sobre nós. – Está cedo pra ir embora, não?

— Eu sei que está cedo, mas Marilla quer ir embora porque pensa que vou conversar com ela quando chegarmos.

— Pode dizer a ela que vou lá amanhã de manhã.

— Mas amanhã é domingo. Temos igreja de manhã.

— Então depois da igreja – ele sorriu. – Posso te beijar? De despedida.

— Não... não acho que seria prudente. Você já olhou ao seu redor? Não estamos em lugar apropriado pra isso.

— Posso te acompanhar até lá fora então?

— Também não acho que seja boa ideia. Marilla e Matthew estão me esperando lá.

Gilbert suspirou. – Tá, acho que vou ter que me contentar com o que rolou lá fora.

Era impossível não rir dele. Com um pouco de pena, me inclinei e o beijei na bochecha.

— Contente-se com isso.

E sai antes que ele visse o sorriso em meu rosto. Quando encontrei Marilla, ela estava ainda mais séria que antes.

— Você demorou – disse.

— Estava me despedindo.

— Matthew me disse.

Subi na carroça e sentei ao lado dela. Assim que chegamos em casa, já foi me atacando:

— Agora me explique o que a tia de Diana quis dizer quando falou que Gilbert está te cortejando.

Eu estava pronta pra responder, pois ensaiara mentalmente um discurso no percurso até em casa, mas esqueci dele quando me dei conta de que Matthew estava na sala, sentado à mesa. Ele não inventou nenhuma desculpa pra se retirar. Ficou lá, acendendo o cachimbo que pegou de sobre a lareira.

— Ande, Anne, estou esperando. Explique-se!

— Marilla – me aproximei dela e abracei. – Não precisa se preocupar. Amanhã depois da missa o Gilbert virá aqui em Green Gables.  Ele quer conversar com vocês.

Ela entreabriu a boca, surpresa. – Conversar?

— Sim. Você sabe o motivo. Agora, se me derem licença, vou dormir. Tenham uma boa noite.

Beijei a bochecha dela e a de Matthew e depois subi as escadas para meu quarto. Tirei o vestido e (que alívio) aquele corpete idiota. A camisola é mais fresca. Me ajoelhei ao pé da cama e rezei como me ensinaram. Tentar dormir, porém, foi inútil. Eu terminei as orações e pulei na cama, apressada, fechando os olhos e desejando que o tempo passasse rápido e o dia seguinte chegasse logo, mas isso não aconteceu. Fiquei me revirando de um lado pro outro, sem sono, e com meu primeiro e recente beijo na cabeça. Por fim desisti, acendi uma vela e fui escrever. Fingia que estava contando tudo para Diana, então decidi transformar numa carta. Amanhã na igreja eu entregaria pessoalmente a ela. Só depois de umas sete páginas foi que larguei a pena e fui dormir, exausta e com as mãos sujas de tinta. Quando acordei com o galo cantando, eu estava destruída. O cabelo apontava para todas as direções, haviam olheiras por sob meus olhos e um lado do meu rosto estava amassado. Demorei uma hora para me sentir apresentável e sair do quarto, bem quando Marilla vinha me chamar.

— Ah, você está aí – ela disse. – Demorou a levantar.

— Desculpe. O dia está lindo hoje, não está? Eu olhei pela janela do quarto e me surpreendi em como o céu está nublado. Não é bonito? Parecem vários pedaços de algodão. Ou de algodão-doce. O que você acha que mais se parece, Marilla?

— Nuvens.

Revirei os olhos. Ela não é muito criativa...

— Rápido, Anne – disse, já partindo pelo corredor em direção as escadas. – Só falta você tomar o café da manhã para podermos ir.

— Já estou indo! – falei, correndo atrás de Marilla.

Será que ela estava me apressando porque demorei um pouco para me arrumar, ou porque também está ansiosa para a conversa com Gilbert? Se for a segunda opção, deve ter ficado tão decepcionada quanto eu por ele não ter ido a igreja. Perguntei por ele a Mary e Bash, ao fim da missa. Os dois riram.

— Blythe estava muito ocupado na frente do espelho para vir – disse o homem. – Eu avisei a ele que isso era um pecado.

— Aparentemente – continuou a esposa, trocando um olhar risonho com o marido – ele está muito ansioso por alguma coisa. Está assim desde ontem.

Senti o rosto ficando quente, o que fez os dois rirem. Foi quando Diana se aproximou.

— Minha querida Anne – ela tinha um ar acusador. – Você me deve uma história detalhada sobre ontem.

— Ah – exclamei, me lembrando da carta e pegando-a do vestido. – Aqui está, como prometido.

Diana vibrou enquanto pegava o envelope. – Quantas páginas?

— Sete. Frente e verso.

— Perfeito! – ela me abraçou. – Poderiam ser dez, mas sete está ótimo. Também aguardo por seu relato oral. Mal posso esperar para que conversemos no caminho até a escola. Também tenho coisas para contar, mas prefiro que seja pessoalmente.

Estreitei os olhos. – Seria algo a ver com o famoso e jovem Sr. McDavid?

— Talvez...

Rimos. Foi quando Bash pigarreou e percebemos que tivemos aquela conversa na frente dele.

— Blythe vai ficar feliz em saber que escreveu uma carta de sete páginas sobre ontem, Anne – disse, piscando um olho. – Ainda mais frente e verso.

Arregalei os olhos, corando até a raiz do cabelo. Gilbert já era metido demais. Imagina se soubesse disso? Ficaria convencido por dias.

— Não se preocupe, querida – Mary deu uma cotovelada no marido. Ele se retorceu com um “ai!” de dor. – Não vou deixar ele contar.

— Muitíssimo obrigada senhora... – comecei, e ia enfeitar um pouco mais meu agradecimento se Marilla não tivesse vindo me chamar. Me despedi rapidamente porque estava ansiosa. Em breve, Gilbert estaria em Green Gables para conversar com Marilla e Mathew.


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