Crescendo - Shirbert escrita por Sabrina


Capítulo 8
Cortejada




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***

Os dias se tornaram semanas e as semanas se tornaram meses. Graças à soletração, voltei ao meu normal com Gilbert. Íamos competindo até a parte do caminho onde nos separávamos. Ás vezes também conversávamos sobre outras coisas. Ele desabafava um pouco sobre como estava cansado, eu o incentivava falando um pouco sobre como seria incrível quando se tornasse médico, então ele falava um pouco sobre como seria incrível quando eu me tornasse professora.

— Ei, já ia esquecendo – ele disse quando eu estava prestes a partir. – Você vai ao aniversário de Diana, certo? Sei que é uma pergunta idiota, mas queria confirmar.

— Claro que vou – revirei os olhos. – Que tipo de melhor amiga eu seria se não comparecesse? Você tem cada ideia, Gilbert...

Ele riu. – Não, é que... Já quero me adiantar e reservar as suas duas primeiras danças.

Quase engasguei com a própria saliva. – D-duas?

— Na verdade eu ia pedir logo as três, mas achei que seria muito pretensioso da minha parte.

— Gilbert!

— O que foi? Olha, é só dizer se aceita ou não, tá? Não precisa fazer tanto drama.

Olhei para ele, nervosa. O sorriso sumira de seu rosto. Agora ele estava sério. Senti meu corpo formigando. São só duas danças, certo? Que mal pode haver em dançar?

— Aceito.

— Ótimo! – ele voltou a sorrir. – Te vejo amanhã, Cuthbert!

E partiu pela outra rua da bifurcação. Eu o observei ir, sem acreditar no que tinha feito. No que tínhamos feito. Fui pra casa um pouco atordoada, tentando imaginar a reação de Ruby ao me ver dançando com Gilbert. Desde o trágico dia em que li minha redação para a turma, ela sequer tocava no nome dele, e se alguém o dissesse, virava o rosto, como se fosse um xingamento. Flertava com vários garotos, mas era sempre para Gilbert que seus olhos se voltavam ao fim do dia, antes de levantar pra ir embora. Ela devia achar que estava disfarçando, mas eu notara.

Passei o resto do dia com esse assunto na cabeça. Até tentei conversar com Marilla e Matthew, mas ela só me disse “eu te avisei” enquanto Matthew repentinamente se lembrava de uma tarefa por fazer no estábulo.

— Marilla, eu preciso de conselhos! – revirei os olhos. – Eu te avisei não é um conselho!

— Ora, deixe de ser tola!

— Isso também não é conselho!

— Ah, é sim! Agora faça um favor e vá cumprir suas tarefas. Ande, rápido!

Bufei irritada, mas obedeci. Agora vejo que me preocupei á toa. Quando cheguei a casa da família Barry e me sentei-me à mesa das garotas, Ruby estava exibindo seus convites de dança.

— A primeira já está prometida a Cole, e a segunda e a quarta a Billy, a terceira Moody e quinta a...

Parei de prestar atenção, pois Diana se aproximava e ela estava tão deslumbrante! Usava o vestido branco mais lindo do mundo, e o cabelo não tinha mais o costumeiro laço azul. Agora estava preso num coque, o penteado que as mulheres adultas costumam usar. No pescoço, um colar de pérolas.

— Diana, você está encantadoramente linda! – falei, abraçando-a. – Feliz aniversário. Esse é o meu presente.

Ela pegou o embrulho da minha mão, sorrindo. – Obrigada, Anne, não precisava...

— Claro que precisava!

— Eu tenho tantas coisas para te contar...! Ah, espere aqui, preciso receber os recém-chegados. Já volto!

Só que ela não voltou. A cada momento parecia chegar mais gente, e Diana permaneceu onde estava, próxima a porta. Quando os convidados que tinham chegado terminavam de paparicá-la, chegavam novos e o processo se repetia, gerando um ciclo. Passei grande parte da festa na mesa, conversando com as meninas e principalmente matando as saudades de Cole. Depois de cerca de duas horas, deixei-os para ir conversar com tia Josephine. Ela me contava as novidades e inovações científicas que ocorriam no mundo e as quais eu nem sempre tinha acesso. Foi quando um pianista contratado começou a tocar, e as danças começaram. Avistei Gilbert numa conversa com Marilla e Bash. Estranho, pensei. Sobre o que será que estão conversando?

— Queria ter forças pra dançar, mas eu mal me aguento em pé – comentou tia Josephine. – Você vai dançar, Anne?

Gilbert olhou ao redor, me procurando. Sorriu ao me ver e disse algo a Marilla e Bash antes de começar a vir em minha direção.

— Parece que sim – respondi a tia Josephine. – Gilbert Blythe reservou duas danças comigo.

— Só duas?

— Ele disse que queria três, mas achou que seria muito pretensioso.

Ela me olhou curiosa. – Ele está lhe fazendo corte?

— Não! – corei. – Quer dizer, eu não sei.

— Bom, ele deve saber, querida. Por que não pergunta a ele?

Ah, ali sim estava um conselho de verdade! Coloquei a mão sobre a da mulher mais velha e apertei levemente, me sentindo sinceramente agradecida. – Obrigada, tia Josephine!

— Srta. Cuthbert? – disse a voz de Gilbert. – Está pronta para a nossa primeira dança?

Me levantei, sorrindo. Gilbert já era bonito naturalmente, mas de termo ficava ainda mais lindo. Eu não conseguia nem imaginar como ficaria de jaleco.

— Estou, Sr. Blythe.

Ele me ofereceu o braço, e passei o meu pelo dele. Havíamos dado apenas dois passos quando tia Josephine disse nada baixo:

— Anne, não precisa mais perguntar a ele! Esse moço com certeza está lhe cortejando!

Olhei para o chão, desejando que um buraco se abrisse e me sugasse. Ou apenas ser um avestruz e enterrar minha cara na areia. Infelizmente nada disso aconteceu. Continuei como estava, e pude ver Gilbert olhar para trás e rir.

— Você ia me perguntar se eu a estou cortejando?

Havíamos chegado ao salão, e agora dançávamos em meio aos outros casais. O mais bonito deles era Diana e seu pai. A mãe observava de um canto, os olhos marejados, parecendo emocionada.

— Ela está linda, não está? – falei, indicando Diana.

— Claro, mas você está mudando de assunto, Cuthbert. Quer saber se eu estou lhe fazendo corte?

Revirei os olhos, irritada. Por que ele tinha que ser tão difícil?

— Gilbert...

— Eu teria que pedir seu pai antes. No caso, Matthew. E a você – ele fez uma expressão fingidamente pensativa. – De preferência a você primeiro.

— Eu sei, é que tudo o que tem acontecido me deixou um pouco confusa e...

— Eu planejava fazer isso hoje.

Arregalei os olhos. – O quê?!

— Se você não tivesse estragado tudo com a sua enorme e insistente curiosidade, eu iria esperar até o fim da noite pra lhe pedir, e no caso de vocês aceitar, iria até a Green Gables no dia seguinte falar com Matthew e Marilla.

Eu não podia acreditar que aquelas palavras haviam saído da boca de Gilbert Blythe. É absolutamente a última coisa que eu esperaria nesse mundo. E ainda mais que ele fosse dizer assim, tão na lata.

— Você permite, Anne? – ele me girou. Seus olhos tinham um ar divertido. – Você costuma ser impulsiva, então aconselho que pense antes de responder.

— Gilbert, eu não estou preparada pra isso...

— Jura? Não pareceu. Estava até conversando sobre isso com aquela senhora.

Semicerrei os olhos. - Engraçadinho...

— Preciso que me responda até o fim dessa noite. Se disser que não, vou respeitar sua escolha e não vou mais importuná-la.

— Não vai mais me importunar ou vai se afastar completamente de mim?

— A primeira opção.

Mas não consegui acreditar nele. Ele se afastaria sim. E fiquei assustada com essa perspectiva. Não quero que Gilbert faça isso. Já foi horrível quando ele foi embora após a morte do pai, e só temos mais esse ano antes de seguirmos caminhos opostos...

— Mas e a faculdade? – perguntei.

— O plano continua o mesmo. Podemos pensar no futuro quando tivermos nossos diplomas.

— Você é louco.

— É... – ele balançou a cabeça. – Sou um pouco.


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