IONIA - Uma guerra de dois mundos escrita por Yataghan


Capítulo 4
CH3 - O Conto da Raposa


Notas iniciais do capítulo

(Personagem Chave: Ahri)



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     O lago coral estava quieto. Sua água cristalina refletia as nuvens que tomavam o céu, assim como o pequeno sol, quente e brilhante. Javalis-Voadores plainavam em bando sobre o lago, uma Pata-Tartaruga descansava em uma das margens enquanto seus filhotes brincavam na água, ao redor do lago Alces Leão de Dentes-de-Sabre pastavam com seu bando inteiro e sentada numa grande pedra cinzenta na margem do rio estava ela.

     Uma linda mulher estava sentada na grande pedra apoiada sobre os braços, a pele clara e sedosa brilhava sob a luz do sol, assim como o vestido branco e vermelho, tipico de camponesas da pequena vila Tevasa no alto da montanha. Mechas de seu longo cabelo negro escorriam pelos ombros nus e costas, tinha marcas no rosto como uma raposa, os grandes olhos dourados olhavam fixamente para a água enquanto a espessa cauda branca balançava com o vento.

     - Hã? - os olhos dela semicerraram ao ouvir um barulho, como se um saco de trigo fosse jogado no chão bem próximo a ela.

     Quando olhou conseguiu ver um homem totalmente amarrado e amordaçado jogado ao chão. Sobre ele, ainda batendo as mãos como se estivesse se limpando estava um jovem rapaz de pele clara completamente coberto por roupas de couro, todas as peças, parecia um explorador, o cabelo loiro curto estava bagunçado e amassado por um óculos de visão noturna que usava sempre. Os olhos azuis, brilhantes como as marcas em seu rosto, agora fitavam a donzela sobre a rocha.

     Ele estava sorrindo.

     - Ez? - perguntou ela - pensei que não viria.

     - Eu disse que voltaria.

     Ela desceu correndo e o abraçou.

     - Só estava tentando ser cavalheiro.

     - Alguém te seguiu?

     - Claro que não, - disse ele colocando as mãos no quadril e olhando para o infinito - ninguém acompanha Ezreal.

     Ela sorriu baixinho.

     - E esse ai? - perguntou ela apontando para o homem no chão.

     - Vi esse infeliz homem tentando roubar as Porco-Ovelhas de uma senhora na base da montanha, é um ladrão.

     - Espero que seja bom - as unhas dela começaram a crescer e algumas luzes azuis começaram a aparecer ao seu redor.

     - Antes disso - ela parou ao ouvir - precisamos conversar.

 

     Os dois estavam sentados agora a margem do lago com os pés descalços dentro da água  alguns peixes Koi nadavam ao redor deles.

     - Já faz um tempo que eu a conheço, então acho que já posso te perguntar - disse ele.

     - Diga.

     - Ontem a noite, enquanto eu lia, encontrei um trecho que falava sobre um antigo templo aqui na ilha onde as pessoas veneravam o sol.

     - O Templo do Sol.

     - Então ele existe - disse ele empolgado.

     - Sim, é um dos vários templos de Ionia, - respondeu ela - dizem que é um lugar lindo, cercado por margaridas e jasmins, um lugar repleto de sabugueiros e carvalhos escuros. Dizem até ser abençoado pelo próprio Protetor Andarilho.

     - Não faço ideia de quem seja.

     - Mas porque?

     - Então, eu queria te pedir pra que me leve lá.

     - Não posso - ela levantou rapidamente e ficou de costas pra ele - desculpe Ez, não posso te levar lá.

     - Porque não?

     - Não posso, lamento.

     - Eu não quis te ofender Ahri, - ele se levantou e tentou tocar o ombro dela - me desculpe.

     Não adiantou.

     - Me deixa sozinha! - gritou ela afastando a mão de Ezreal - Vá embora.

     - Tudo bem, - disse ele calçando as botas - aproveite a refeição.

     Ahri estava chorando.

     Ela esperou por um tempo parada até nao conseguir ouvir mais Ezreal. Ela se virou e areancou a mordaça do homem gentilmente.

     - Me solta - gritou ele - Agora!

     - Fica quieto - ela disse sentando ao lado dele - você não está em posição de fazer exigências.

     - Quem é você?

     - Não importa.

     - Onde estamos?

     - Isso também não importa.

     - Qual é a tua com o loirinho? Ele não parece gostar da fruta... Espera - disse ele depois de uma pausa - Quem é o loirinho?

     - Você faz perguntas de mais.

     - Não posso fazer outra coisa, posso?

     Ela não respondeu.

 

     Ficaram ali conversando por algumas horas. Ele amarrado, jogado no chão enquanto ela se banhava no rio.

     - Houve uma época - disse ela - em que eu não precisava me despir para tomar banho, uma época em que eu era livre pra correr por ai, livre de qualquer preocupação que poderia ocorrer - parou para mergulhar e emergiu um tempo depois - exceto me alimentar é claro, isso não era uma opção. Bons tempos. Mas um belo dia a raça dos homens perdeu o controle e começaram a caçar uns aos outros, como animais selvagens, ou até pior. No meio dessa confusão, o bosque próximo ao templo de Pallas foi atacado pelo exercito dos mantos vermelhos, e boa parte do meu bando foi morto, mas não morreram em vão, nós raposas não eramos fortes o suficiente, mas conseguimos levar alguns deles. No fim do dia, foi uma carnificina. E por alguma razão os Deuses me levaram até um dos corpos caídos  e nele eu fui envolta por um tipo de magia que me transformou em uma criatura das que eu mais temia, uma humana.

     - Mas você não é bem humana.

     - Sim eu sei, - respondeu ela suavemente - encontrei minha verdadeira natureza junto aos Vastaya, um povo hibrido, provindo em sua maioria da pura magia. Eles me ensinaram a ser quem eu sou, e também me ensinaram que eu tinha o poder de eliminar aqueles que um dia tentaram eliminar a mim.

     Assim que terminou, a lua já estava subindo, ela se secou, se vestiu e voltou até o homem.

     - Porque você me disse essas coisas - ele disse enquanto ela o desamarrava.

     - Querido, - disse ela sorrindo - eu ainda não te contei a melhor parte. Para manter minha forma humana, eu tenho que me alimentar de vocês, humanos imundos.

     Ele se levantou assustado, não parecia entender o porque de ela ter o libertado.

     - Acabou a brincadeira, - disse ela acompanhando o homem correndo em direção a floresta - agora você é meu.

     Sua cauda que antes aparentemente era apenas uma, se dividiu em nove, seus olhos dourados se tornaram azuis como safiras e um brilho rosa envolveu o homem que corria. Ele se virou para olhar pra ela, estava entorpecido, apaixonado por ela, a ultima coisa que ele conseguiu ver foram as presas de Ahri em seu pescoço.

     Ela estava linda.


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