My idiot Lovecome, not exactly as i expected escrita por NewtAtysuka


Capítulo 5
Quando sua vizinha quase pôs fogo no prédio




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Alguns poucos minutos depois…

— Deixa eu ver se eu entendi… você conseguiu fazer isso tudo preparando um pouco de arroz e um bife?

Ester, encostada na parede, olhava para os seus pés envergonhada, enquanto assentia suavemente com a cabeça.

Recapitulando o ocorrido…

Depois que Ester abriu a porta e me pediu ajuda de forma desesperada, rapidamente agarrei seu braço e puxei ela para fora.

Fumaça, cheiro. Um incêndio?

Extintor mais próximo? No corredor, dez metros.

— Ei! Tem um extintor ali… pega! Rápido!

Entrei no apartamento que estava cheio de fumaça.

Todos os apartamentos têm um extintor na cozinha!

Fui correndo até a cozinha, que parecia ser o foco do fogo. E assim que vi a origem dele, não pude deixar de me impressionar. Uma panela soltava fumaça incessantemente, enquanto uma coluna de fogo subia de uma frigideira, atingindo pouco mais de meio metro, o que era o suficiente para atingir uma estante que ficava logo em cima do fogão.

Uma estante de madeira…

Quando olhei para o lugar onde deveria estar o extintor, não havia nada.

Acho que fazia muito tempo desde que um pensamento tão rápido me açoitou com tanta ferocidade; cortando minha mente no que parecia o intervalo de um segundo.

Preciso apagar o fogo, pensa, pensa!

Sem extintor…

Fogo… Combustível: Óleo, nada de água;

Sem extintor…

Comburente: Oxigênio… tampar, preciso tampar.

Foi um movimento rápido de olho, simples e objetivo.

A panela! Não dá tempo de procurar outra coisa, a estante vai pegar fogo!!

Puxei meu cinto e enrolei cada ponta em uma mão com tanta precisão e velocidade que daria inveja ao protagonismo dos heróis shounen. Agarrei a panela e no mesmo movimento joguei todo o conteúdo na pia ao lado, levantando uma explosão de fumaça. Depois, girando o corpo inteiro, a panela cortou o ar embaçado que dançava em torno de meus braços enquanto eu gritava com tanto fervor que devo ter sido ouvido até no recanto mais obscuro do condomínio. E, com a panela de cabeça para baixo, fazendo um barulho retumbante de metal batendo em metal, tampei a frigideira. Milagrosamente, aquela panela encaixou perfeitamente, vedando completamente as chamas, que eventual se apagariam por falta de oxigênio. Me joguei para trás, com medo de respingos de óleo.

Mas não havia terminado… não… eu havia sido lento demais…

A estante já queimava.

Mas nesse momento… quando as sombras já dominam o mundo e você pensa que não existem mais esperanças, sempre haverá uma luz; sempre haverá… mesmo que vindo do recanto mais inesperado, sempre haverá uma força impulsionando os heróis para frente, como um empurrão amigável; uma mão caridosa.

Pois a humanidade é assim… Nunca vai se render ao desespero!

Ester surgiu da fumaça, aparecendo como um anjo, e lançando jatos brancos e gélidos que terminaram de vez com a feroz batalha, enchendo o lugar de pó branco que suspendia no ar como neve.

Essa é a versão que contei para todas as pessoas que se interessaram pela história dali em diante, mas, como meu compromisso é com a verdade, e nada além da verdade, aqui está o que você veria como um espectador externo:

Eu entrei correndo no lugar com a cara mais desesperada que poderia fazer. Achei a frigideira pegando fogo e soltei um grito de susto. Peguei a panela e tampei as chamas, gritando mais uma vez. Cai para trás por simples instinto. O fogo na estante era apenas uma pequena chaminha, perfeitamente controlável. Ester entrou no lugar gritando e usando o extintor em qualquer coisa que se mexesse, ou melhor, em qualquer coisa… enchendo o lugar com o pó do extintor.

E, depois de uns segundos nos encarando mutuamente para perceber que já estava tudo bem, eu abri as janelas do lugar para que a fumaça saísse de vez.

E foi assim que chegamos até aqui. Ester me contava como havia fracassado extraordinariamente em preparar arroz e um bife, queimando o arroz ao mesmo tempo que pôs fogo no óleo do bife.

Ela parecia genuinamente envergonhada, com o olhar baixo e a expressão triste, o que me causou certa pena. Olhando para a casa dela, dava a impressão de que havia acontecido uma guerra ali, ou melhor, uma nevasca; ou melhor ainda, uma guerra no meio de uma nevasca, bem like Stalingrado.

— Ei mano o que tá acontecen… O QUE É ISSO?! — Gritou Anna, que acabara de chegar no lugar.

— Eu ouvi uns gritos… e você tava demorando… — Continuou ela — Afinal, o que aconteceu aqui? Eu mandei você entregar um bolo e não destruir a casa inteira!

Então se voltou para Ester, não dando tempo para nenhuma explicação e falando tão rapidamente que os rappers americanos sentiriam inveja. Quase fundindo o final das palavras com o inicio das que as seguiam

— Meu deus! Você é a dona né? Me d-d-desculpa, nem-nos-meus-sonhos-eu-imaginei-que-meu-irmão-idiota-inútil-seria-capaz-disso. Eu-me-arreppendo-profundamente-toda-a-minha-fámilia-pede-perdão-pelo-retardado-desse… — Por um segundo, hesitou por falta de xingamentos — imbecil. Vamos-arrumar-tudo-e-pagar-qualquer-dano. Por-favor-não-peça-que-expulsem-ele… n-n-nós-fazemos-qualquer-coisa

— Não…, mas não é bem… — Tentou me defender Ester.

— Não? Por-favor-não-d-d-diga-que…

— Mana…

— Calaboca! E vai buscar algo para…

— Você entendeu errado! — Interrompeu novamente Ester.

— Hann?

— Ele não fez nada de errado. Só me ajudou a apagar o fogo…

— Fogo…

Então Anna olhou ao redor e, penso eu, percebeu que aquilo estava muito além do que seu “irmão idiota, imbecil e retardado” era capaz de fazer em plenas faculdades mentais.

— Exato — Completei, aproveitando o momento de confusão de Anna — Aconteceu um acidente na cozinha, e lá começou a pegar fogo. O extintor que deveria estar aqui dentro não estava, então eu entrei para ajudar.

Anna, parecendo finalmente entender a situação, respondeu com as mãos na cintura.

— Entendi… então… que incêndio grande… olha essa bagunça…

— Você não tem ideia… me impressiona estarmos todos vivos. — Respondi.

— Bem… — Disse Ester, chamando nossa atenção — Muito obrigada pela ajuda, de verdade! Não faço nem ideia de como retribuir.

— Não se preocupe. Saber que meu irmão fez algo de útil para alguém já é mais do que o suficiente — Respondeu Anna com um sorriso sincero… sincero até demais.

— Ei! — Protestei.

— Mas não nos agradeça ainda, vamos te ajudar a arrumar isso aqui — Disse Anna, ignorando o meu protesto.

— Não! Por favor, eu posso cuidar disso sozinha.

— Eu insisto. Vamos pegar as coisas mano.

— Não, não vamos — Respondi firmemente.

— Quê?!

— Hann?!

Até mesmo Ester, que queria evitar usar mais de nosso tempo, se surpreendeu com a facilidade com que eu me neguei a ajudar.

Suspirei, já cansado daquele dia que parecia se recusar a terminar.

Ester quase pôs fogo em seu apartamento na tentativa de preparar um arroz com bife. Baseando-me nesse fato, conclui que ela é uma completa incompetente em qualquer coisa que diga a respeito de preparar comida. Mesmo assim, sabendo de sua própria incapacidade, ela tentou preparar algo ao invés de comer em algum lugar. Sinal de que, ou ela não possui dinheiro para comer em um restaurante, ou não sabe onde comer.

A questão é: aquele bife e aquele arroz que queimaram provavelmente era o que ela tinha para comer e, sendo assim, o mais correto séria:

— Vamos comer. Eu estou com fome e já está ficando tarde — Disse para Ester — Se você quer me compensar, então me ajude a preparar o jantar, depois que nós comermos a gente pensa no que vai fazer quanto a isso tudo.

— Mas…

— Não tem essa de “mas”. Eu lhe ajudei, então você não está no direito de reclamar, vai sim me ajudar a preparar o jantar. Não tem como escapar.

— O mano tem razão — Reforçou Anna com um sorriso simpático — Você não tem escolha.

Antes que Ester pudesse reclamar mais uma vez:

— Anna, vá colocando os ingredientes na mesa e as panelas no lugar, por favor.

Yes sir! — Respondeu ela batendo continência e saindo rapidamente do apartamento.

— Você tem um pano? É melhor tirar logo a espuma dos móveis antes que ela seque.

— Bem… sim. No banheiro…

— Certo.

E então eu fui até o cômodo que ela havia me apontado, peguei dois panos e joguei um para ela. Começamos a tirar a espuma dos móveis de madeira. Eu estava de costas para ela quando:

— Ei… humm… — Chamou Ester.

— Que foi?

— Qual o seu nome?

— Arthur…

Espera! Eu já não havia dito o meu nome?

— Ahhh… que coincidência.

(Momento de silêncio)

— Espera aí! O QUE?!

Então senti um agarrão no ombro. Ela me puxou na intenção de ver meu rosto e me encarou, concentrada e nervosa.

— Você… é aquele Arthur?

— Quê?

— O meu colega de classe…. Sim, é você mesmo, com certeza!

— Nossa, muito bom saber que você já tinha esquecido de mim… — Respondi me afastando um pouco.

— Não, não esqueci. É que… você está muito diferente. Não está de óculos e com esse cabelo preso…. Parece outra pessoa. Espera…

Então ela se aproximou ainda mais e encostou na minha orelha com as pontas dos dedos, delicadamente.

— Você usa piercings…

Ela estava perto demais, seus olhos azuis observavam a minha orelha com uma curiosidade tão inocente que me deixou um pouco envergonhado. Eu me senti meio relaxado, então não me afastei dessa vez, era como se a situação houvesse me hipnotizado. Então, seus olhos se moveram e por um segundo eu vi toda a profundidade deles enquanto me encaravam, e aquilo me puxou de volta para a realidade.

Mais uma vez me afastei, me encostando na parede por falta de espaço.

— Não, não uso mais…

— Além disso — Continuou Ester — Você também está diferente…

— Diferente? 

— Tipo, no colégio você era mais calado, falava mais baixo. Dava a impressão de que queria fugir…

— Se você quer dizer que eu parecia um antissocial, pode dizer de uma vez.

— Você parecia um antissocial.

— Ei! Se falar com tanta certeza vai me ofender!

— Você disse que eu podia dizer…

— É, disse, mas não lembro de ter dito que não me ofenderia.

— Bom argumento — Respondeu Ester rindo.

— Viu? — Continuou ela — Você está completamente diferente.

Suspirei, e, ainda encostado na parede, disse:

— A verdade é que não tenho muita escolha…

— Como assim?

— Tenho minhas razões para não me relacionar com ninguém. Não quero chamar a atenção, só quero sumir no cenário. Sendo assim, não se sinta obrigada a conversar comigo ou algo do tipo, não é como se eu precisasse disso.

— Mas então…

— Pois é, veja bem: a gente apagou um incêndio, estamos lavando sua casa, vamos jantar juntos e também vamos ser vizinhos de agora em diante…

(Sem falar que eu havia me descuidado por causa da confusão e tratado ela com muita naturalidade, não fazia sentindo continuar o teatrinho de antissocial)

— … Seria meio estupido continuar tentando não chamar a sua atenção.

— Quer dizer que, se você pudesse, teria fugido? Tentaria me evitar?

— Com certeza!

— Não sei se me ofendo com isso…

— Tente pensar assim: Não é você, sou eu!

— Que clichê…

— Clichês existem porque costumam funcionar.

— Você não deixa nada sem resposta?

— Se quiser que eu te deixe falando sozinha é só avisar.

Ester colocou a mão no queixo, pensativo.

— Ok, posso avisar, mas você faria o que eu pedir?

— Você aprende a lidar com as pessoas bem rápido né?

— Você acha?

— Tenho certeza. Mas não se engane, não é um elogio.

— Hummm…

Vendo a reação desanimada dela, decidi me corrigir:

— Bem… eu não disse que é algo ruim. É apenas uma característica que eu acho que não combinaria nem um pouco comigo.

— Mas você está lidando comigo agora, não está? Eu diria que você também sabe lidar com as pessoas.

— Não-não — Respondi abanando a mão — Não confunda, eu não estou lidando com você, estou só dizendo exatamente o que der na telha. Se fosse você ou qualquer outra pessoa eu faria a mesma coisa, e encher o saco de mim ou não é escolha dos outros… não faço questão de lidar com as pessoas pois, no geral, elas não me importam muito.

— Não entendo como você diz essas coisas de forma tão natural… —  Disse ela, quase em um sussurro.

— Pronto, terminei aqui, e preciso ir para pelo menos tomar um banho.

Preferi fingir que não ouvi aquilo.

— Eu também! — Respondeu ela.

— Você tem no máximo tem 7 minutos.

E fui direto para o meu apartamento, sem esperar resposta. Quando entrei Anna estava encostada na parede do corredor. Eu já esperava alguma bronca ou algo assim, mas ao invés disso ela sorriu e disse:

— Hoje eu deixo passar. Vai logo tomar um banho. Você parece que voltou de uma guerra.

Achei suspeito, mas dei de ombros e fui ao banheiro.

Alguns minutos depois…

— Então vamos começar?

— Você tem certeza que quer confiar em alguém que pôs fogo na cozinha?

— Relaxa, comigo aqui vai dar tudo certo…

— Se você diz…

Estávamos nós dois vestindo aventais e lado a lado na frente da bancada da cozinha. Ester prendera o cabelo em um coque de bom estilo, que formava aquela “bola de cabelo” comum, mas que deixava várias mechas espetadas, dando um visual mais despojado, parecido com o meu quando estava com o cabelo preso. Depois de tomar banho, deixei ele solto como sempre. Ou melhor, eu havia planejado deixa-lo assim.

— … mas antes — Continuou Ester em um tom perigoso — de costas.

— O que? Por que?

— Vai logo maninho — Mandou Anna, que observava tudo da sala, com um olhar entretido.

— Mas por que? — Perguntei.

— Quero ajeitar seu cabelo — Respondeu Ester — eu gostei dele preso. Confia em mim, eu sei o que eu faço.

Lembrando das várias formas com que ela arrumara o cabelo durante aquele dia, não era capaz de duvidar de sua capacidade. Mas…

— Não quero, obrigado…

— Se você não deixar, eu mesmo vou cozinhar o jantar. Sozinha.

— Eu apoio! — Gritou Anna.

Engoli em seco.

Momentos depois, eu estava de coque, um muito melhor do que eu seria capaz de fazer sozinho e que levou apenas um ou dois minutos para ser feito.

Impressionante…

— Então o que devo fazer chefe?

Agora chegou a hora de esclarecer as dúvidas. Por que eu convidei Ester para cozinhar comigo? Dado os meus princípios, fazer isso foi um tanto quanto contraditório, não é mesmo?

Foi tudo movimento estratégico. Eu queria analisar se eu seria capaz de ensiná-la a cozinhar, pois, caso fosse, minha vida seria infinitamente facilitada e minha consciência ficaria completamente limpa. Caso não fosse, eu só teria 2 opções, das quais uma terminaria com Ester morrendo de fome ou colocando fogo em sua casa 2 vezes na semana, e outra que me causaria certo desconforto, mas manteria a integridade da garota e do edifício.

Depois de utilizar seu talento para me auxiliar na cozinha, qual foi a conclusão?

Resposta: Eu não confiaria em Ester para cozinhar nem mesmo um macarrão instantâneo. Ela é o que chamaríamos de: caso raro de incompetência absoluta. Mesmo que eu tentasse ensina-la, levariam semanas só para ela aprender o suficiente para diminuir apenas minimamente a probabilidade de ela causar problemas intestinais a si mesma ou destruir aquele edifício inteiro.

Bem… não se desespere, talvez aja alguma alternativa. Vamos conseguir informações.

— Nossa, que incrível, você cozinha que nem um profissional! — Comentou Ester, surpresa, enquanto levávamos as comidas para a mesa.

Tenho que admitir, cozinhar é um dos meus Hobbies favoritos. Desde que eu comecei a cozinhar para meu pai e minha irmã nunca me contentei em fazer a mesma coisa, então aprendi uma série de receitas diferentes e técnicas profissionais. Portanto, não poderia fazer menos do que meu melhor para uma visita, apesar da falta de alguns ingredientes.

Quando sentamos na mesa para comer, perguntei a Anna:

— E o papai, não vem?

— Não… ele disse que vai vir pegar um pouco de comida mais tarde, pois ele tem um prazo que termina amanhã, o editor mandou várias mensagens…

Suspirei.

— Ele anda trabalhando muito, o velho é de ferro… — Comentei.

— Com o que o pai de vocês trabalha? — Perguntou Ester entre uma garfada e outra

— Ele é escritor… — Respondi.

— Nossa! Que legal! Nunca conheci um escritor antes. Vocês gostam de ler?

— Muito! — Respondeu Anna. — Não vivo sem os livros que o mano traz.

— Então era isso que você estava fazendo na biblioteca? — Perguntou Ester — Você gosta de ler também?

— Sim… e mais ou menos…

— Que mentira Arthur — Disse Anna — Você virava noites e noites lendo, sem falar que também adorav…

— Isso era antes, né? — Cortei — Hoje em dia não me interessa mais tanto. Mas, mais importante, por que você tentou fazer sua janta se não sabia nada sobre cozinha?

— Bem…

Por favor, não diga que foi por falta de dinheiro…

— …foi por que. Tipo, eu não tive escolha…

Por favor…

— …eu não tenho dinheiro.

Droga!

— Mas, se você mora aqui, então deve ser uma bolsista, não é mesmo?

— Não exatamente — Disse ela — eu sou matriculada na escola como uma estudante normal. Eu morar aqui foi escolha dos meus pais, é complicado…

O que? Não faz sentido…

— Mas então, se sua família pode pagar o colégio, por que não lhe mandaram dinheiro?

— Eles mandaram, ou melhor, pensam que mandaram mas acabaram não mandando.

— Então fale com eles…

— Não dá, eles estão em uma viagem pela savana africana, não tem como entrar em contato.

Olhei para Anna. Em minha expressão confusa se transmitia uma mensagem que era clara: Isso é sério?! Sério mesmo?!

Anna deu de ombros como se dissesse: Acho plausível.

— Tipo… — Continuou Ester — …com o dinheiro que eu trouxe comigo eu posso me manter até eles voltarem. Mas não posso me manter jantando em restaurantes; ou eu preparo minha comida ou como comida de micro-ondas até meus pais voltarem.

— Quando seus pais voltam?

— Provavelmente… em 2 meses…

Na minha cabeça: [2 meses de comida de micro-ondas]=[morte]

— Ops… — Disse Ester, notando o quanto o seu discurso soara depressivo — Mas não se preocupe, eu me viro… sério…

Suspirei cansado, provavelmente, o trigésimo suspiro cansado daquele dia que só ficava mais longo.

Acho que não tenho escolha… vou ter que optar pela segunda opção para prevenir a morte da minha vizinha.

Olhei para Anna, pedindo direcionamento. Ela deu de ombros como se dissesse: Não tem o que fazer, vai em frente. E então sorriu.

— O que foi? — Perguntou Ester.

— Podemos fazer um acordo, se você ajudar a comprar os ingredientes e se adaptar ao nosso horário, posso preparar a comida todas as noites para comermos juntos; afinal, você é nossa vizinha, então, dar conta disso vai ser tranquilo.

Depois disso, levamos algum tempo para convencer Ester de que era uma troca bastante justa. Comemos e Anna conversou bastante com Ester sobre seus livros favoritos de comédia romântica, o que parecia ser um interesse em comum de ambas. Depois, fomos deixar ela na porta.

— Até amanhã Arthur.

— Até… — Respondi sem muito entusiasmo. Não estava muito afim de lembra-la da minha promessa de ajudar na limpeza da casa, até porque eu acreditava que ela preferia dormir.

— Volte sempre que quiser Ester — Disse Anna acenando.

Então Ester saiu.

— Ei Arth… — Chamou Anna

 — Diz.

— Ela parece com aquela garota, não parece?

— Que garota?

Eu sabia exatamente de quem ela falava.

Anna suspirou. Ela sabia que eu sabia.

— Não pense que tudo vai sempre acabar dando errado — Disse Ela — Eu sei que é difícil… mas dê uma chance…

Eu não sabia como responder aquilo. Anna não costuma comentar esse tipo de coisa, e muito menos falar em um tom tão suave e sério.

— De qualquer formaa!! — Disse ela, voltando ao tom animado de sempre e dando um leve soquinho na minha barriga — Não seja um babaca que vai dar tudo certo!

E então foi, saltitante, até o seu quarto.

Eu tentei não pensar muito no que ela disse, pois um pedido tão sério da minha irmã, diferente de uma garota bonita, podiam mexer de verdade com os restos que eu chamava de coração. Apenas fui para a minha cama, dormir.

Já depois de bastante tempo deitado na cama, acordei com o barulho de uma porta abrindo, e com o tec, tec, rítmico já muito familiar para mim.

O papai deve estar indo comer.

Olhei para o relógio: 00:46

Já é muito tarde… acho melhor eu deixar ele comer sozinho… se eu for agora ele é capaz de passar horas conversando sobre o dia…

Ele precisa dormir.

No escuro clareado pela luz da sala eu via a silhueta dos vários cadernos e livros sobre a minha estante, eram realmente muitos. A muito tempo, representavam um sonho, mas agora, não passam de uma pilha de papel.

Adormeci preocupado.

Se eu ao menos pudesse fazer algo para ajudar…


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