My idiot Lovecome, not exactly as i expected escrita por NewtAtysuka


Capítulo 4
Um fim de segunda-feira com tudo para ser normal




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O resto do dia passou sem mais surpresas. Ester continuou sendo cercada de pessoas durante todos os intervalos de aula, inclusive na hora do almoço. Enquanto isso, eu repetia o meu processo padrão de conduta diária. Colocava os fones no ouvido, e olhava, pela janela, o campus do colégio. Na hora do almoço, o qual havia trazido de casa, fui até o lugar onde eu costumava comer: o último lance de escada, aquele que levava para o terraço do Colégio.

Pode parecer um péssimo lugar para comer, mas nem tanto. As escadas eram confortáveis para se sentar e as grades que impediam a saída permitiam a passagem de uma brisa reconfortante. Somando isso a um fone de ouvido e a um retraimento reconfortante. Era perfeito.

Mordisquei o almoço com calma enquanto pensava.

Que dia bizarro, não?

Acabei o almoço e voltei para a sala.

Chegando lá, meu olhar mais uma vez deslizou pelo ambiente até parar mais uma vez em Ester. E dessa vez, ela estava olhando para mim também. Aquele constrangedor momento em que os olhos de dois estranhos se encontram sem razão aparente. Desviei o olhar, envergonhado.

Droga…

Sentei na minha cadeira e, como de costume, comecei a olhar pela janela. O que eu não esperava era que Ester estivesse decidida a me emboscar.

— Ei!

Vagarosamente voltei meu olhar para ela, que estava logo ao lado da minha cadeira inclinando-se levemente para encontrar meus olhos com os próprios, enquanto suas mãos estavam juntas atrás das costas. Notei que as garotas com quem ela estava conversando permaneceram paradas nos mesmo lugares, olhando para nós dois com certa confusão e cochichando uma para as outras. Provavelmente Ester se afastou delas repentinamente, antes que elas a alertassem de que não deveria conversar com o garoto estranho e calado do canto da sala.

Aquele pensamento me veio rapidamente e piorou um pouco meu humor.

— O que foi?

— Bem… eu planejava te procurar durante o almoço. Mas eu olhei pro lado e você já tinha sumido que nem um fantasma, sei lá.

— Humm…, por que?

— É que fantasmas aparecem e somem de uma…

— Não, não… por que você estava me procurando?

— Haaa, sim. Queria saber seu nome e…

— Arthur.

— …e talvez conversar um pouco.

— Sobre?…

Achei que isso cortaria a conversa de vez, mas...

— Assim… — Respondeu Ester virando a cabeça levemente para o lado, colocando o cotovelo sobre uma das mãos e a outra sobre a bochecha, e, com um esboço leve de sorriso nos lábios, continuou em claro tom de ironia — …a primeira coisa que eu vi você fazer foi sair de uma biblioteca correndo e escapar de um atropelamento dando aquele salto incrível…

Tá de brincadeira…

—… fiquei até um pouco assustada, pensando que você era um daqueles delinquentes que só querem chamar atenção. Mas depois você acabou me ajudando, e se mostrou ser alguém mais… neutro.

Neutro? Deveria me sentir ofendido?

— Então… você está interessada na parte delinquente ou na parte neutra?

— Acho que depende. Estou interessada na parte em que eu descubro alguém calado e quieto que foge de bibliotecas nas horas vaga.

As aparências enganam.” É o que eu teria respondido normalmente, entrado no jogo e logo depois tentaria ser engraçado com alguma tirada criativa. E admito, quase o fiz, pois, o jeito daquela garota parecia contagiar um pouco de um lado meu que empoeirou com o tempo.

Mas não, ficou preso na garganta como se minhas cordas vocais houvessem esquecido de como fazer um tom que não fosse tão sem emoção e seco. Quase chegou, mas não deu; eu não consegui.

— Ei, suas amigas estão olhando para cá. Acho que querem falar com você.

Nos lábios de Ester, o sorriso borrou um pouco. Ela olhou para trás, e, de fato, as garotas estavam olhando para nós. Elas rapidamente desviaram o olhar um tanto quanto indiscretamente.

Ester olhou para mim, hesitou um pouco, mas então disse:

— Acho que não deve ser tão importante. Conheci elas hoje afinal.

— Você se enturmou bem rápido né?

— Deve ser porque sou uma aluna nova entrando no meio do ano.

— Talvez, mas se fosse assim, Helen não estaria cercada de pessoas também?

            …

Ester parecia não ter pensado naquela possibilidade, então voltou sua atenção para Helen, que estava lendo um livro calmamente e sozinha.

— É… você tem razão…

Nesse momento, o professor entrou na sala e os alunos foram sentar-se em seus respectivos lugares.

— Não fuja de mim no final da aula. — Ordenou Ester.

Quem essa garota pensa que eu sou?

 

Obviamente, assim que a aula terminou eu fugi e na saída peguei dois ônibus ao invés de um para despistar aquela garota.

Por favor, não me julgue, pois eu já tinha uma ideia bem estruturada quanto ao que poderia acontecer a partir dali:

Opção 1: A garota realmente ficou interessada em mim.

Nessa opção temos dois desfechos possíveis. Caso eu decida deixar as coisas rolarem. Ou ela vai perceber rapidamente o quão sem graça eu sou, ou ela vai me iludir me fazendo pensar que virei seu amigo quando na verdade eu sou só um figurante que ela mantém como conveniência.

Não que ela pareça uma pessoa ruim, mas até mesmo pessoas boas acabam causando esse tipo situação de uma forma tão natural que chega a ser assustador.

Tudo funciona assim: Considere uma pessoa especial e extrovertida X, e alguém sem nada de muito especial, mas que seja agradável Y. Normalmente, se X e Y convivem, X considera Y como amigo por pensar “Eu gosto de Y, então ele é meu amigo”. Mas lembramos que Y não possui nada que o torne de fato especial para X, então, em um exagero dos fatos, caso Y desaparecesse não é como se fosse realmente fazer tanta falta para X, o que, na minha opinião não configura amizade.

Apesar disso, se Y não nota a fragilidade daquela relação, Y pode acabar dando uma importância extremamente unilateral para X, pois ele é especial para Y e sua ausência deixaria uma lacuna. Inconscientemente (usando aqui certo eufemismo) Y acaba ficando satisfeito com isso, o que, apesar de injusto, costuma deixar ambas as partes felizes e funciona para a maioria das pessoas.

E assim, o mundo é recheado de muitos X’s e Y’s.

Infelizmente, eu claramente sou um Y, e aquela garota um X. Mas pior ainda, eu sou um Y que sabe muito bem o quão frágeis são essas relações; que aprendeu da pior forma possível

Opção 2: A garota pensa que eu estou com problemas e quer me ajudar.

Muito obrigado pela preocupação! Mas não preciso de ajuda e muito menos de alguém sentindo pena de mim. Não quero ser usado para satisfazer a cota de boas ações de ninguém.

Dessa forma, fugir não me parece lá a pior das opções. Se eu fizesse algo diferente disso, não é como se algo fosse de fato mudar.

Nada vai mudar.

Esses pensamentos me ocorriam enquanto eu voltava para casa, como uma forma de me convencer de que aquilo tudo não era nenhum exagero de minha parte.

Minha casa era um dos apartamentos de um grande edifício de 7 andares. Após subir as escadas até o segundo andar, virei para a direita me deparando com o corredor preenchido de portas de um lado, e aberto do outro, como uma grande varanda. Havia alguém debruçado sobre o corrimão de segurança, sentindo a brisa lhe bagunçar os cabelos. Seus olhos se estreitavam, fitando o horizonte com tanta melancolia e concentração que, mesmo aparentando ter a minha idade, externava um semblante de extrema maturidade.

Hahaha… as aparências enganam mesmo né.

— Qual é a dessa pose? — Perguntei.

Assim que ouviu minha voz, meu provável único amigo, Michael, levantou a cabeça rapidamente e produziu um sorriso animado e brincalhão. Saltitou para longe do corrimão e ensaiou uma reverência em gestos exagerados.

— Olhem se não é Sir. Arthur “meu vizinho depressivo” — Disse ele em tom excessivamente cordial — O que trouxe vossa senhoria a chegar em um horário tão incomum?

Terminando o cumprimento, acrescentou em meio a um sorriso irônico.

— Achou uma garota com quem perder seu tempo?

Ele foi tão certeiro que hesitei por um segundo.

— Hum… não.

Foi um segundo, juro, mas o safado percebeu…

Michael se moveu na minha direção rapidamente colocando a mão no meu ombro e olhando profundamente nos meus olhos, falando com uma firmeza implacável:

— Arthur, você se atrasou por causa de uma garota?

A pergunta foi incisiva, e seus olhos decididos.

— Humm…

Desviei o olhar para o lado.

— Não — Respondi.

A mão de Michael apertou me ombro, ele desviou o olhar de mim e se afastou. Colocou uma das mãos sobre o corrimão, como se precisasse de algum apoio para se manter em pé. A outra mão, usou para esconder os olhos, ensaiando uma aparência abalada e frágil.

— Eu… não acredito… não pode ser… impossível… Arthur? Garota?

Repentinamente, a mão que segurava o corrimão se moveu apontando para mim.

— Arthur, que dia é hoje.

— Por que quer saber?

— A partir de agora, esse dia vai ser lembrado por mim e pela minha descendência como a prova de que nada é impossível nesse mundo.

Sua mão que apontava se transfigurou, fechando-se e apontando o polegar para cima.

— Afinal… se há esperanças para o “meu vizinho depressivo” então há esperança para todos.

Naquele ponto da conversa, minha surpresa já havia se esvaído por completo e eu só presenciava a performance teatral do meu amigo com um olhar entediado e cético.

— Idiota — Respondi. — Havendo esperanças para mim ou não, as suas já se acabaram no momento em que o parafuso saiu do lugar.

— Me subestimas caro amigo, um parafuso solto na verdade é a marca registrada de qualquer genialidade.

— Se é assim, você é o idiota mais genial que já conheci.

Michael cruzou os braços em gesto convencido.

— Isso mesmo, o que você chama de idiota é apenas minha presença revolucionaria refletida nesse seu espelho de ignorância.

Acabei rindo por dentro.

De onde esse cara tira essas frases?!

— Ei, ei, ei… — Retomou Michael, perdendo a pose e dando um fim ao teatrinho — Mas me conta aí vai. Quero saber o que é que tá pegando.

Suspirei.

— Com certeza não é nada do que você imagina, mas te conto tudo depois. Tenho que ir preparar o jantar, e já estou atrasado — Respondi.

Michael pareceu bastante convencido.

— Bem… você tem razão, vai lá. Mas me conta tudo depois, ok?

— Claro.

Passei por ele enquanto ele voltava em direção as escadas, pois mora no andar de baixo.

— Ei! — Gritou ele no meio do caminho — Caso você se encontre com o novo morador, dê as boas-vindas para ele por mim.

— Novo morador?

Mas não deu tempo de ele ouvir, já havia descido pelas escadas.

Quando entrei em casa, a recepção foi a de sempre.

— Artyy!!

Gritou minha irmã, Anna, animadamente enquanto se aproximava de mim. Ela não me tocou, pois sabe o quanto me sinto desconfortável com aquilo. Mas eu estava com o humor amaciado depois do meu encontro com Michael, então fiz um cafuné bagunçando seus cabelos tão negros quanto os meus enquanto exibia o mais próximo de um sorriso de que era capaz.

— Iaê? Como foi seu dia? — Perguntei.

— Bem normal. — Respondeu Anna — Esse ano temos algumas matérias mais difíceis do que o comum, mas eu consigo dar conta.

Anna está no nono ano e, como eu, aquele havia sido seu primeiro dia de aula.

— E você? — Perguntou ela — Conheceu alguém novo, pra variar?

— Felizmente, não.

Anna colocou a mão na testa, demostrando preocupação.

— Você não tem jeito mesmo né mano… Se continuar assim, o que você vai fazer quando eu me casar? Vai viver sozinho?

— Se casar? Não é meio cedo para pensar nisso?

Anna juntou as mãos com os olhos brilhando, sonhadores.

— Estou chegando no ensino médio. É lá que encontramos a nossa alma gêmea por quem nos apaixonamos perdidamente.

— Acho que estou te deixando ler romances demais. Estou a quase dois anos no ensino médio e acho que não encontrei nada assim.

— Haaaa… para de ser chato. Deixa eu me iludir um pouco.

O brilho nos olhos foi substituído por uma expressão mais fria.

— Nossa… usar a si mesmo como argumento foi apelar um pouco não acha?

— Talvez?

— Foi sim… só de me imaginar acabando que nem você, tenho calafrios.

— Ei! Isso não foi meio cruel?

— Foi mal maninho — Respondeu ela em um tom recheado de boas intenções — Mas contra fatos não há argumentos.

Suspirei cansado.

Das cinco pessoas que encontrei hoje, 4 fizeram questão de declarar o quanto estranho e/ou antissocial e/ou sem futuro eu sou. Sério isso!?

— Vou preparar o jantar, pode chamar o nosso pai para vir comer?

— Ele está trabalhando — Respondeu ela apontando para trás.

Como sempre né…

— Mas tem duas coisas que eu gostaria de te pedir — Acrescentou ela — Deve ser o tempo que o papai termina o que tem que fazer.

E então esticou a mão, como se exigisse algo. Rapidamente entendi o pedido e tirei da mochila o livro que havia escolhido na biblioteca e deitei ele sobre a mão de Anna, que sorriu após ler a capa.

— Boa escolha

E então correu para dentro. Voltou alguns segundos depois com uma sacola que colocou em minhas mãos.

— Tem um novo morador nessa casa aqui ao lado. Entrega isso para ele como sinal de boas-vindas. É um bolo que eu fiz hoje durante a manhã.

— Duas perguntas: desde quando você faz bolos? E por que você não entrega?

— Duas respostas: Papai ajudou. E você tem de aprender a falar com as pessoas.

— Mas…

— Não tem, “mas”. E ajeita esse cabelo. Você fica muito estranho assim.

É, ela puxou a mamãe…

— Tá bom, tá bom…

Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Realmente, o meu cabelo estava bem estranho, pois fazia muito tempo que eu não o cortava.

Ele já crescera até embaixo da orelha, e parte das mechas escondiam meu rosto. Se alguém que não me conhecesse agora me visse daquele jeito, pensaria que sou alguma espécie de emo ou rockeiro. Para completar o visual esquisito, eu também usava óculos de armação fina.

É, acho que deveria pelo menos dar uma boa primeira impressão.

Primeiro, retirei meus óculos e coloquei lentes de contato, penteei e prendi parte do meu cabelo atrás da cabeça. Modéstia a parte, ficou bonito. Ainda um visual meio alternativo, mas bem melhor do que antes. Um contra eram as orelhas, com elas a mostra era possível ver os furos de alguns piercings que havia usado algum tempo atrás, além de ser um penteado que chamava bastante a atenção.

Ir ao colégio assim estava fora de cogitação, seria um verdadeiro desastre.

Satisfeito com o trabalho, mas um pouco triste com a minha conclusão, peguei a sacola e sai de casa.

Logo que pisei do lado de fora da casa senti um leve cheiro de queimado.

— Ei Anna, qual a casa mesmo?

— A da esquerda.

Quando me aproximei da porta, o cheiro de queimado se intensificou. Parei na frente do apartamento, e percebi que uma fina fumaça escapava por debaixo da porta. Enquanto vários barulhos desconhecidos começaram a irromper lá de dentro. Comecei a sentir medo do que podia estar acontecendo ali.

Isso tá ficando perigoso…

Decidido a fugir dei um passo para trás, mas, quase em resposta aquilo, a porta se abriu rapidamente batendo contra a parede; e lá de dentro surgiu da atmosfera de fumaça o rosto de uma garota que havia conhecido e de quem havia fugido pouco tempo atrás. Quando notou minha presença, a confusão passou como um flash pelos seus olhos lacrimejantes sendo rapidamente substituída por uma suplica de urgência.

— M-me ajuda!… Por favor! — Pediu Ester em desespero.


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Notas finais do capítulo

Gente, esses foram todos os capítulos que eu tinha escrito. Comentem o que acharam, critiquem e digam se tem algo a melhorar, isso ajuda muito e motiva bastante.



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