My idiot Lovecome, not exactly as i expected escrita por NewtAtysuka


Capítulo 2
A Garota irritante da Biblioteca




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No mesmo ônibus, agora, 6 meses depois, posso dizer que me impressiona profundamente a capacidade intrínseca do ser humano em se acostumar com qualquer situação. Praticamente nada mudou de lá para cá; percebi, inclusive, que estava sentado na mesmíssima cadeira onde tivera toda aquela reflexão. Mas isso já não me incomodava, muito pelo contrário, passei a me acomodar naquele estilo de vida repetitivo. Se pensar bem, grande parte das coisas ruins que acontecem se originam na tentativa de inovar, e acredite, já tive experiências ruins suficientes.

Era o primeiro dia de aula daquele semestre, portanto senti alívio quando finalmente chegamos na parada.

Mas não me entenda errado, não é que eu estivesse ansioso com a volta das aulas (inclusive, aquilo me era uma tediosa realidade), só não aguentava mais o barulho dos outros estudantes.

 Como era de se esperar, no ônibus havia vários estudantes extremamente animados para contar “as coisas incríveis” que aconteceram durante as férias. Depois de passar um mês no silêncio tranquilo da minha casa me desacostumei completamente com esse ambiente, e mais ainda com essa estúpida competição de “Quem será que fala mais alto?”.

Quando o ônibus parou e o sinal para a descida se iluminou, fiquei sentado e esperei todos descerem. A lógica daquilo era simples: quando um estudante encontra seu grupo de amigos é normal que ele preste bem menos atenção ao seu redor, e rapidamente alguém desbotado como eu some no cenário. Como prefiro não chamar atenção, ando sempre atrás desses grupos e chego sempre por último nos lugares. Já estava acostumado a viver assim, tanto que nem precisava fazer conscientemente, já era natural.

Coloquei a minha mochila sobre o ombro e sai. Lá fora o sol ainda estava baixo, pois eram por volta de 6:50 da manhã; um horário não muito convencional para chegar, visto que a aula só teria início lá pelas oito horas e pouco. Apesar disso, haviam muitos estudantes naquele ônibus, e dentre as coisas que eu sabia sobre meus compatriotas da juventude, era que, no geral, eles odeiam chegar cedo. Conclui que este efeito também advinha da volta das aulas e não me aprofundei demais na ideia, preferindo guardar meus neurônios para algo mais útil.

A caminhada até o colégio era curta, alguns quarteirões apenas. Andava olhando para a calçada de ladrilhos, evitando encarar alguém do fluxo de pessoas que acompanhava.

É um chão bonito até.

A escola onde eu estudava ficava dentro dos limites de uma espécie de condomínio. Não a muito tempo, eu me interessei bastante com a criação daquele lugar, pesquisei as empresas envolvidas no investimento e tudo mais, mas acabou sendo nada além de informação inútil. O lugar era quase do tamanho de uma pequena cidade, e tem de tudo, desde shoppings, até áreas esportivas. Tudo fazendo parte do mesmo complexo habitacional, para os de classe média-alta que não queriam mais se deparar com o que aquele país tinha a oferecer do outro lado dos muros.

Eu moro aqui, mas ainda estou bem longe de ser da classe média-alta, moro em um dos vários pequenos apartamentos que ficam em uma região mais afastada desse centro. Apartamentos que também fazem parte do condomínio, mas servem basicamente para abrigar funcionários e pessoas que, como eu, haviam ganhado bolsa para integrar no sistema de ensino daquele lugar.

Como eu consegui a bolsa? Longa história e pouco tempo para deixar a minha história interessante. Prefiro contar depois, se não se importar.

Assim… não que você tenha escolha né? (risos)

Cheguei até a entrada do colégio, porém, ao invés de entrar, continuei seguindo a calçada, me distanciando do grupo de pessoas. Estava indo para a biblioteca, pois era esta a razão pela qual eu fizera questão de acordar tão cedo.

A biblioteca ficava um pouco depois do colégio. Era uma construção imponente feita de grandes blocos de pedra como os castelos de antigamente, exalando uma atmosfera ancestral de conhecimento. Em contraste, por dentro, o edifício era feito quase integralmente de madeira, o piso reluzia com as lajes cinzentas e polidas encaixada em um quadriculado fino de madeira impecavelmente pintada com verniz, assim como as várias e várias estantes dispostas em linhas próximas direcionadas diferentemente para formar um impressionante arranjo arquitetônico que pareciam convergir para o centro em curvaturas suaves. Aquele lugar abrigava livros incríveis, e com aquele design misto de arcaísmo e modernismo formava uma obra prima por si só. Uma obra prima para guardar outras, quem quer que pensou nisso tinha pelo menos um quê de espírito poético.

No centro do grande pátio que abrigava as altas estantes, havia um espaço circular onde havia cadeiras e mesas para os leitores. Nas laterais, formosas escadarias levavam para o segundo andar, onde haveriam ainda mais estantes e livros.

Assim que pus os pés naquele lugar tão familiar, que a mais de um mês não visitava, procurei alguma nostalgia entre meus sentimentos tão frios. Estava lá, de fato. Ou era eu que me induzia a sentir aquilo?

— Arthur, como vai você? — Me perguntou uma voz baixa e controlada, quase como um sussurro.

— Vou bem. E a senhora?

Era a senhora Teresa, a bibliotecária cuja função exercia a vários anos, cuidando daquela gigantesca biblioteca como chefia de vários assistentes e zeladores. Seus cabelos, antes castanhos, apresentavam um tom mais grisalho, o que contradizia sua expressão calma e seu sorriso aliviado esbanjando sua juventude de espírito que durava bem mais que o comum.

Sabe aquele clichê de bibliotecária velha e chata? Esqueça.

— Melhor agora. Se você está aqui é sinal de que a férias finalmente terminaram, né?

— Não posso gostar de vir até a biblioteca durante as férias?

— Você está de uniforme…

— Acho ele bonito.

Teresa riu com discrição.

— Não tente me enganar… durante as férias você prefere se isolar em casa. Se não fosse assim, não teria levado tantos livros da última vez.

Na verdade, por incrível que pareça, não passei as férias isolado, mas para que negar?

— O que você é? Sherlock?

Teresa colocou a mão sobre o queixo, pensativa.

— Prefiro Hercule Priot.

— Prefere os Belgas aos ingleses?

— Digamos que simplesmente prefiro Hercule ao Sherlock…. Então você leu aquele livro?

— Não…

Não tive tempo.

— …foi minha irmã que leu e me contou sobre a história. — Completei.

— Entendo…, mas afinal? Já começaram as aulas?

— Como você já deduziu magnificamente: sim.

— Bom! Pelo menos esse lugar vai encher um pouco mais. Inclusive, uma colegial chegou um pouco mais cedo que você, o que é impressionante.

Uma colegial? Tão cedo aqui?

Ela disse isso com tal surpresa, pois sempre que eu visitava a biblioteca era o primeiro a chegar. Não me lembro de nenhuma exceção.

— Na verdade — Acrescentou, Teresa, em tom de piada. — Você é estranho o suficiente para vir de uniforme para a biblioteca no meio das férias, mas dois de vocês?… Seria coincidência demais.

— Estranho? Essa doeu…

— Protagonistas de livros costumam ser estranhos, o que há de tão mau?

— Protagonistas de livros não existem na vida real… ser estranho é só uma característica, não passa muito disso.

— Você e esse seu pessimismo…

— Pessimismo? Não me entenda errado, gosto de mim mesmo e de como sou, mas não deixo de ser realista.

— Se você diz…

Normalmente eu deixaria a conversa prolongar um pouco mais, pois Teresa é uma das únicas pessoas com quem consigo esse tipo de comunicação natural. Porém, estava com certa pressa.

— Pois é… eu vim para entregar os livros que levei da última vez e pegar mais alguns. Posso?

— Claro que sim! Por isso estou aqui – Respondeu ela com animação.

Coloquei minha mochila sobre a mesa de Teresa, e tirei de dentro os livros que havia pegado empilhando-os ao lado. Ela analisou a capa e folheou os livros à procura de quaisquer imperfeiçoes. Vendo que não havia nada sobre o que reclamar, fez alguns procedimentos e terminou com minha assinatura.

— Quanto aos livros que quer pegar agora, tem algum em mente? — Perguntou Teresa.

— Sim… mas não são prioridade no momento. Vou só procurar algum livro de romance para a minha irmã e ir para o colégio.

— Pode procurar por aquela última seção. Chegaram alguns de romance lá…

— Obrigado pela dica.

Sai de perto do balcão e passei entre as estantes, me dirigindo para o centro da biblioteca. Passei pelas fileiras de estantes que convergiam até o centro do lugar. E então a vi.

E travei no mesmo lugar enquanto observava.

Quando Teresa havia me dito que uma colegial chegara mais cedo, imaginei uma garota normal; daquelas que você espera encontrar sozinha em uma biblioteca, não aquilo.

Em uma mesa mais afastada do centro, sentada de tal forma que a via em perfil, estava uma garota que, por um breve momento, me fez ter vontade de virar as costas e sair dali correndo. Sua postura era impecável, segurava um livro nas mãos, com a cabeça levemente inclinada. Seus cabelos marrons desciam por suas costas, tão bem cuidados que cada fio delineava um caminho comum, formando mechas uniformes e levemente onduladas. O cabelo estava afastado, passando sobre a orelha, para não atrapalhar sua leitura; deixando, assim, visível seus olhos e sua expressão.

Seu rosto era pequeno, de onde estava não consegui ver os detalhes.

Passando o momento de confusão, continuei andando e passei pela frente da sua mesa. No ato, não consegui resistir a olhar uma segunda vez para seu rosto, discretamente, sem nem mesmo mover minha cabeça. Pela segunda vez, me surpreendi.

Mas o que me surpreendeu não foi o rosto em si, nele quase não consegui prestar atenção. Foi a sua expressão que me impactou. As pálpebras próximas estreitavam uma linha por onde se via seus olhos, e a boca levemente retraída como se tentasse reprimir algo que que tentava sair. Ela podia parecer triste ou com raiva, mas eu sabia bem como era aquilo, e por saber, entendia que aquele livro era só fachada e que aquela biblioteca, apenas uma fuga.

Desviei os olhos e continuei seguindo entre as estantes, deixando a garota trás.

Se aquilo houvesse acontecido dois anos atrás, talvez tentasse ajudar. Perguntaria se estava bem, se precisava de algo, e talvez até mesmo contasse uma piada na tentativa de animar aquela bela garota. Mas hoje eu sei: não vale a pena.

Esse tipo de situação acontece durante a vida, principalmente nessa loucura que é a juventude, e eu sei que não sou o tipo de pessoa que conseguiria fazer muito mais do que ouvir e falar.

Então, eis o melhor cenário possível: Eu ofereceria a minha ajuda, a garota jogaria reclamações sobre a vida e falaria sobre seus problemas, dos quais certa porcentagem só existiam em sua cabeça. Eu daria conselhos, ela encontraria razões para não os seguir. Então, por fim, ela diria obrigado por tê-la ouvido e esqueceria minha existência para sempre.

Só o pensamento, mesmo que hipotético, de mais uma vez ser usado, já me permitia a certeza de que fizera o melhor para mim mesmo em não me intrometer naquilo.

Além disso, seria injusto. Aquela garota apenas chamou a minha atenção, assim como chamaria a de qualquer um ali. Enquanto isso, existem várias garotas que nunca receberiam uma mão apoiadora vinda de um desconhecido. Seja por não terem um rosto bonito ou por não chamarem tanta atenção, seja por esconderem seus sentimentos ou mostrá-los, mas de formas tão sutis que os desatentos e insensíveis (vulgo maioria da população) seriam incapazes notar.

Mas não me compreenda mal, pois não faço pouco dos problemas de ninguém e não afirmo que ajudaria alguém tão desamparado quanto descrevi algumas linhas atrás; mas, estava tão certo de que outra pessoa se disporia a ajudar uma garota tão linda, que não senti nem mesmo um pingo de remorso pelo ato de deixa-la para trás.

Notei que estava parado na seção de livros que estava procurando, e que passara alguma abundância de tempo pensando naquilo enquanto deveria ter me concentrado na tarefa que, como já disse, devia fazer com rapidez. Suspirei, meio decepcionado comigo mesmo.

Por que estou pensando tanto nisso?

Afastei quaisquer pensamentos sobre a garota e comecei a procurar livros que me chamassem a atenção. Alguns vários deles minha irmã já havia lido.

Peguei um deles aleatoriamente e li a sinopse: “Amor… romance… rebeldia… verdade… amor de novo…”

É… ela vai curtir…

Comecei a folhear o livro por um simples impulso nostálgico. O cheiro das folhas subiu até o meu nariz e o primeiro traço de um esboço de breve sorriso se formou na minha boca. Já fazia muito tempo que eu não lia um livro.

Comecei a olhar mais capas, folhar algumas folhas, ler algumas sinopses. Quando estava para me animar com a atividade, um alerta da minha consciência me fez recordar do perigo que aquilo representava para mim.

Suspirei, mas não por decepção.

Eu não posso. Já passei do limite da realidade uma vez, e agora sabia que essas histórias no fim só deixariam mais e mais evidente o contraste entre as movimentadas emoções da ficção e a estática realidade da minha vida. Eu não posso mais ler livros como antes… eles são cruéis demais. No fim só me faria sentir algo que não queria sentir.

Para espantar aquele momento, tentei pensar na garota novamente, trocar uma triste nostalgia por uma curiosa possibilidade parecia um bom negócio. Não é contradição, sou apenas eu preferindo me sentir idiota a me sentir triste.

Ela com certeza era muito bonita, o tipo de garota por quem é possível se apaixonar em um simples cruzar de olhares. Obviamente aquilo era inviável para alguém como eu. Já havia fechado meu coração para esse tipo de sentimento muito tempo atrás, então algo banal como uma garota mais bonita que a média não surtia mais o efeito “normal”. Ok, eu me impressionei alguns minutos atrás, mas foi só isso mesmo; um momento de surpresa.

Mas será que eu ainda sou capaz de sentir? Depois de tanto tempo, o que? 10 meses? Será que se eu me permitisse sentir algo eu ainda era capaz? Ou de fato me tornei um completo insensível?

Movido por nada mais que curiosidade, lembrei do rosto da garota. Ainda estava fresco na memória, os olhos eram castanhos e grandes, a boca, pequena e perfeitamente delineada. Ela com certeza era linda, e um simples “mais que a média” não era capaz de exprimir aquilo por completo. Mas, mesmo assim, ainda não sentia nada.

Lembrei, então, de um importante detalhe quanto ao algoritmo de se apaixonar.

Lembre-se bem companheiro (ou companheira), de suas experiências…. Esse tipo de sentimento costuma aparecer depois de alguma esperança descabida, depois de um “e se” que te faz agarrar-se em algo muitas vezes improvável. Depois desse tipo de pontapé inicial, a dopamina e uma montanha russa emocional fazem o resto.

Então, movido por ainda mais curiosidade, pus-me a testar a veracidade daquela minha intrigante teoria.

Se no fim, aquela garota fosse diferente de todas? E se com ela eu pudesse sentir algo além do nada que tão cotidianamente me preenche? E se ela fosse o que eu precisava para fugir daquilo tudo? Para me permitir sentir de novo?

E se… ela pode me mostrar algo realmente genuíno? …

Quando algo diferente aos poucos começou a raiar no meu peito, aquele calor reconfortante que costuma acompanhar prazerosas fantasias, rapidamente parei de pensar, me fechei a tudo mais uma vez.

No fim ainda sou humano…

Alguém cutucou no ombro. Me virei.

Mas o que?!

A garota.

Minha reação:

— Quê?

Seus olhos castanhos encararam tão profundamente os meus que dei um passo para trás. Onde diabos estavam os olhos prestes a derramar lágrimas que vira a poucos minutos?!

— Você já está parado aí a muito tempo. Dá licença? — Disse ela em um tom monótono, mas com uma leve pitada de irritação.

— Claro…

Me afastei da estante e dei passagem para ela, que passou o dedo pela fileira de livros. Pus a mão no bolso, meio nervoso, e comecei a observá-la enquanto escolhia. Eu ainda pretendia levar mais um além do que já pegara, mas preferi não fazer ela esperar ainda mais.

Enquanto procurava seu livro, a garota olhou rapidamente para trás, viu que eu ainda estava ali e continuou a procurar. Passaram alguns segundos e ela olhou novamente, com uma expressão mais irritada. Depois de lançar aquele olhar ameaçador pela terceira vez a mensagem ficou clara:

Essa garota quer mesmo me mandar embora assim?! Isso é sério?!

Eu não costumo ser mal-educado, mas aquela atitude prepotente me irritou. Não é com uma cara feia que aquele estereótipo de garota popular iria me mandar sair dali como um cachorro bem adestrado. Encostei na estante oposta e não dei sinal de que iria sair.

— Ei, você vai mesmo ficar aí me encarando? — Perguntou ela.

Seu tom de voz foi tão condescendente que parecia dizer: “Ei, eu entendo que você é idiota demais para perceber, mas eu quero que você saia daqui”

— Eu pareço estar encarando?

— Você não está?

— Não…, tenho mais o que fazer.

— Então por que não está fazendo?

— Estou esperando…

— O que?

— Você decidir se vai mesmo pegar um livro, ou se vai passar o resto da semana aí.

— Desculpa. Acho que entendi mal. Você ainda vai escolher outro livro?

Opa… isso até que foi educado…

— Sim… pretendo levar um para um amigo. — Respondi, ainda meio surpreso com a mudança pouco natural no tom da conversa, e envergonhado por ter me irritado.

— Você não parece o tipo de pessoa que tem amigos.

Ela disse isso com tanta sinceridade e casualidade que demorei um pouco para entender a ofensa.

Qual o problema dessa garota?!

Cruzei meus braços. Pior do que uma ofensa mentirosa, somente uma ofensa verdadeira, que só se intensifica quando apontada por um desconhecido. Eu realmente pareço tão antissocial quanto eu sou?

— E por que diz isso? — Perguntei.

— Hoje é o primeiro dia de aula do semestre, e você está aqui, sozinho procurando livros em uma biblioteca…

Até que faz sentido…

— …e além disso — continuou ela — essa sua expressão depressiva e olhar vazio são típicos de antissociais do pior tipo possível.

E o que diabos seria um “antissocial do pior tipo possível”?!

Em um momento, passei pela cabeça uma rápida retrospectiva de vida a procura do momento em que eu fizera algo merecedor de tamanho ódio. Mas, mais uma vez, a forma monótona com que ela falava me fez sentir que aquilo não eram de fato ofensas, mas sim que, ela estava apenas respondendo a minha pergunta sem rodeios ou eufemismos; ela estava simplesmente sendo sincera.

Bem… não faz sentido me irritar com pessoas por serem sinceras, se o fizer, estarei apenas me contradizendo.

— Talvez você tenha razão…

Desencostei da estante e comecei a me afastar. Já não sabia se a garota realmente tentava me ofender, e, pensando melhor, não havia tal sentimento em seu tom de voz, que permaneceu monótono a todo momento. Sendo isso verdade ou não, a melhor opção era acabar com aquela discussão por ali mesmo, se é que podia chamar aquilo de discussão.

— Ei! — Chamou a garota.

Girei 180 graus e olhei para ela, já esperando uma nova alfinetada no meu ego.

— Oi?

— Não vai pegar o segundo livro?

— Posso fazer isso mais tarde. Por enquanto esse está bom.

Sem dizer mais nada ela voltou a analisar as estantes. A observei por um breve momento.

— Ei! — Chamei.

Ela não respondeu nada, apenas olhou para mim.

— O quinto livro da terceira fileira de cima para baixo. Ele é bom, bem parecido com o outro que estava lendo…

Antes de constatar se ela acataria a minha recomendação, sai em direção a recepção, enquanto pensava no que ela disse:     

 “Você não parece o tipo de pessoa que tem amigos. ”

 “Hoje é o primeiro dia de aula do semestre, e você está aqui, sozinho procurando livros em uma biblioteca…”

Ela também está aqui, sozinha… será que ela também não tem amigos?

Balancei a cabeça em sinal de negação.

Aquilo não era da minha conta; não me importava. Problema dela. Eu sabia o que poderia acontecer. Sabia que, se tentasse fazer algo, no fim eu só ficaria sozinho de novo, que aquilo acabaria comigo, que eu estava melhor daquele jeito.

Aquele era um “e se” que não poderia deixar existir.


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Notas finais do capítulo

Gente, quem houver lido até aqui, deixe um comentário por favor, criticar, elogiar ou o que for sempre ajuda bastante.
E continuem lendo, ainda tem muito dos personagens para desenvolver, vocês vão curtir, garanto.



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