Eu observava pela janela do ônibus. O mesmo caminho de sempre.

A mesma padaria, as mesmas farmácias, as mesmas praças e as mesmas pessoas. Essas últimas costumavam ser interessantes, as pessoas. Passou o tempo e eu ainda via nelas uma espécie de potencial, uma esperança de fuga.

Todos que eu olhava por aquela janela eram possibilidades, todos aqueles “mundos” com suas próprias cores, pintando as mesmas paisagens com os mais diversos tons.

O que elas estão pensando? O que estão sentindo? Com que problemas lidam? Com que outros mundos interagem?

8 bilhões de pessoas, 8 bilhões de mundos…

Tamanha complexidade chega a me causar apreensão. Faz eu me sentir pequeno.

Suspirei e fechei a cortina ao meu lado. Eu já não aguentava mais aquela minha mania, pensar e imaginar, ver na vida dos outros e nas possibilidades uma forma de fugir da minha tediosa prisão cotidiana. Quanto mais tempo passava, mais claramente eu percebia a inutilidade de tais pensamentos. No meu próprio mundo e no de todas aquelas pessoas, eu me sinto apenas um figurante.

Mundos! Mundos! E mais mundos!… Eles estão por toda parte, nas pessoas, nos livros, na televisão, mas não importa o que eu faça, não importa o quanto eu tente mergulhar em outras histórias experimentar outras perspectivas; sem que eu engane a mim mesmo, nunca vou conseguir fugir do meu próprio. A razão me prende a isso com grilhões que otimismo nenhum é capaz de quebrar.

Se seu mundo está como o meu, e quer enxergar algo que te satisfaça, não vai ter outra opção a não ser fechar os olhos para a realidade.

Com a cortina fechada, comecei a prestar atenção nas outras pessoas que estavam no ônibus, estudantes animados com o novo dia, jogando conversa fora, sorrindo à toa, chamando a atenção…. Pareciam tão felizes que me fizeram sentir uma pequena pontada de inveja. Coloquei fones em meus ouvidos para abafar o som.

Mas porque sentir inveja, não é mesmo? Já que grande parte disso não passava do teatrinho de sempre, aquele do qual já havia decidi me afastar, me pondo com verdadeira satisfação na posição de plateia ou crítico.

Me explique! O que há de tão interessante em fazer essas tais amizades que essencialmente só servem de paliativo para a nossa necessidade de atenção? Existe algo que seja realmente genuíno nisso tudo?

Pois então que seja! Prefiro viver até o fim em meu mundo cinza e verdadeiro, do que morrer naqueles coloridos e saborosos tons de mentira. Não vou me cegar por algo assim.

Mas, independentemente de tudo, aquela rotina estava cotidianamente me matando em meio aos gritos angustiantes com os quais o silencio perfurava meus ouvidos. Parecia uma fita tocada vez após vez que não emitia sons ou imagens, sem propósito. Pelos cabos do meu MP3, as músicas de sempre deleitavam meus ouvidos e agrediam minha alma, e todo pensamento que aquele enforcamento passivo me causava era:

Que tédio…