Desenhos de Chocolate escrita por Mellanie


Capítulo 9
Tarde de Sábado




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ELE acordou com o barulho da chuva na janela. Seu corpo parecia pesado demais para que conseguisse levantar, então ele ficou apreciando aquele momento de penumbra que ocorria enquanto seus olhos se fechavam e se abriam com lentidão, como se estivesse no meio termo entre sonho e realidade. Bocejou quando finalmente conseguiu abrir os olhos vermelhos e ver com clareza, porém permaneceu deitado fitando a janela que ficava ao lado de sua cama. Ainda parecia escuro.

Seus cabelos loiros estavam mais desarrumados do que nunca e ele coçou a cabeça virando-se para o outro lado da cama, na tentativa de voltar a dormir. A chuva batia insistentemente no vidro da janela e aquele barulho lhe aborrecia um pouco. Estava forte demais. Uma corrente de vento gelado passou pelas pequenas frestas da janela e ele sentiu seu corpo estremecer. Virou-se mais uma vez para outro lado da cama, e percebeu que não iria cair no sono com tanta facilidade. Procurou por seu celular perdido embaixo de seu travesseiro e suspirou aliviado quando o encontrou.

Eram seis horas da manhã, mas por algum motivo o céu parecia mais escuro do que o usual mesmo com a chuva. Tinha mais algumas mensagens não visualizadas em seu celular e a maioria delas eram do grupo com seus colegas da U.A. Kaminari falou algumas besteiras aleatórias na madrugada e Kirishima apoiou o amigo que estava de coração partido na esperança de que Jirou lhe notasse. Bakugou achou aquilo patético, então mandou uma risada como resposta.

Passou os dedos pela tela do celular, procurando no aplicativo as mensagens com a garota que foi seu primeiro pensamento ao acordar. Uraraka. Ela havia visualizado sua última mensagem que foi uma figurinha boba desejando boa noite porque ela já havia enviado, mas ao notar que ela esteve online por um tempo maior do que ele imaginava lhe deixou com um sentimento ruim. Aquilo era o que? Como se chamava aquela sensação que apertava sua garganta e fazia seu corpo tremer, ao mesmo tempo em que só conseguia pensar em coisas ruins em relação a Uraraka? Ciúmes?

E se ela ficou conversando com Deku? E se ficou mesmo? O que ele tinha a ver com isso? Que se foda.

Apertou o celular com força e teve que dedicar atenção o suficiente para que não acabasse estragando o objeto. Largou o objeto no colchão, com seus pensamentos não muito positivos em relação a Deku e Uraraka, e andou em direção ao banheiro para fazer sua higiene com um semblante irritado.

Quando pensava em Uraraka seu coração batia forte, e ao mesmo tempo em que ele sentia a leveza de ser correspondido pela garota de rosto redondo, quando se lembrava de que anteriormente ela era interessada em Deku, algo apertava sua garganta.

Sim, ela deu sua palavra de que gostava dele. Ou achava que gostava. O que diabos aquilo queria dizer? Ela gostava dele ou não? E se esse achar dela não fosse o suficiente? E se o imprestável do Deku decidisse se declarar para ela de uma vez por todas? Porque também era óbvio que ele gostava da garota. E se ele perdesse Uraraka para Deku?

Bakugou jurava que se seus pensamentos não se calassem ele iria bater sua cabeça na parede. Sentir aquele tipo de ansiedade não era bom e lhe fazia ficar ainda mais aflito. Gostar de alguém era definitivamente mais difícil do que os filmes e livros demonstravam ser. Ele queria poder tirar aqueles sentimentos incômodos de sua cabeça, mas não parecia ser possível.

Era horrível.

Passou o banho todo no devaneio de que Deku lhe roubaria com facilidade a garota de quem ele definitivamente gostava, e aquilo o deixou extremamente aflito. Se pudesse, explodiria o garoto de cabelos verdes e sorriso idiota.  Mas não podia. Andou até a sala onde encontrou sua mãe tomando uma xícara de café e ela lhe olhou apreensiva.

— Que cara é essa, Bakugou? – Os cabelos também loiros dela estavam penteados, porém os fios pareciam lutar para sair do lugar. Eram tão rebeldes quanto os de Katsuki.

— Nada, velha. – Ele andou até o sofá e se sentou próximo a sua mãe, fazendo com que o cômodo ficasse em completo silêncio porque seu pai ainda estava dormindo. O único barulho que decorava o lugar era o da chuva.

— Pirralho, sua cara não tá boa. Ontem estava ótima, você estava todo apaixonadinho. Desembucha. O que foi, filho? – A mãe olhava para o filho apreensiva enquanto tomava outro gole de seu café.

— O que a gente faz pra não perder alguém? – Katsuki murmurou, e mesmo falando baixo sentiu como se seu orgulho tivesse sido quebrado em pedaços. Aquela pergunta não era algo que ele faria. Mas ele queria se livrar daquele sentimento horrível que assombrava seu peito.

Mitsuki olhou para o filho com ternura embora tivesse sentido uma leve vontade de rir daquela situação boba. Não era algo que ela esperava que Katsuki fosse passar. Principalmente porque era ele. Se ele não era confiante, então quem seria? Ela parou de tomar seu café, e então pensou alguns segundos antes de responder.

— Cadê seu orgulho, Katsuki? Acredite mais em si mesmo. Se conseguir fazer isso, não vai ter medo de perder quem ama pra outra pessoa. Você precisa enxergar seus próprios pontos positivos, ao invés de ficar pensando que outro garoto é melhor que você.

— Que pontos positivos, velha? Eu sou forte pra caralho, e inteligente, mas isso é óbvio. Mas, quando se trata de me relacionar com as pessoas, você sabe. A maioria não vale a pena. Eu não sei fazer isso... e se ela encontrar um cara mais amoroso? – Bakugou cruzava os braços enquanto fitava a chuva pela janela.

— Se ela encontrar? Certamente ela já conhece alguém. Mas esse é o ponto, meu filho. Ela gosta de você, não gosta?

— Ela “acha” que gosta. – Bakugou fez um sinal com os dedos representando as aspas quando comentou.

— Talvez ela tenha usado esse acha pra não ficar muito direto. Você me contou que ela é um pouco tímida. MAS O QUE EU QUERO DIZER É QUE – A mãe dele se sentou ao lado do filho e o abraçou, enquanto Katsuki bufava irritado e tentava sair do aperto dela. — Ela gosta de você, filho. Isso já é muito. Talvez você devesse confiar em si mesmo e nela, não é? Se ela disse que gosta de ti, então é porque aceita o jeito meio grosseiro — enquanto falava isso, dava tapinhas leves na cabeça do garoto — que você tem. Não se desespere enquanto a isso. – A mãe soltou o filho e sorriu gentilmente.

Bakugou ficou em silêncio processando o ensinamento de sua mãe e se sentiu um pouco bobo de recorrer a ela, mas talvez aquela ajuda não fosse totalmente ruim. Voltou para seu quarto e atirou o corpo na cama. Estava sem fome. Ficou deitado lá por algumas horas até decidir que iria até a casa de Uraraka questionar se ela tinha certeza da declaração que tinha feito, afinal.

Aquele acho que ela usou não lhe dava certeza de nada.

Colocou o primeiro casaco que encontrou e pegou o seu guarda-chuva preto; dessa vez sua mãe não havia trocado.

Enquanto a chuva gelada batia no chão e a cidade estava vazia graças a isso e ao período de férias, ele sentiu que o frio também atingia seu peito no momento em que viu coisas que não queria.

Quando estava chegando na esquina de onde ficava a casa dela, pôde ver Uraraka abrindo a porta e sorrindo alegre para quem ele não esperava que estivesse ali. Ficou parado na chuva, desconcertado a ponto de tirar o guarda-chuva de sua própria cabeça e sentir as gotas de água molharem seus cabelos.

Deku segurava um cachorro de pelúcia cor de rosa, que Bakugou achou ridículo, e sorria feliz em ver Ochako. Suas bochechas estavam coradas e as de Uraraka também, e ver aquilo fez com que Katsuki sentisse um aperto em seu peito.

Ele sentiu muita vontade de confrontar ambos e entender o que aquilo queria dizer, e esperava muito que a cara redonda justificasse que não era nada e que ela não podia aceitar o presente de Midoriya, mas ele também não tinha nenhum relacionamento sério com ela. Ele também não podia exigir nada.

A garota de cabelos castanhos comentou algo em voz alta que Bakugou não prestou atenção, e apertou a pelúcia contra si. Aquilo fez com que Katsuki se sentisse sufocado. Ele definitivamente odiava Deku. O que caralhos ele queria fazer entregando presente para Uraraka?

Enquanto a chuva gelada continuava encharcando seus cabelos, o garoto sentiu algo quente escorrer por seu rosto; e ao perceber que aquilo que o molhava já não era mais chuva, se odiou também.


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