ELA definitivamente ficou surpresa ao se deparar com Deku na porta de sua casa em um dia chuvoso. Sabia que ele estava treinando, mas passava pela cidade sempre que possível e... o que mais a deixou surpresa foi o fato de Izuku estar segurando um cachorro de pelúcia cor de rosa.

Qual era a finalidade daquilo? O que ele pretendia?

Sentiu suas bochechas ficarem quentes e suas mãos ficarem geladas, no entanto, seu coração não tinha se agitado nem um pouquinho. Pensou em Bakugou enquanto encarava os cabelos verde escuro do menino que ela havia deixado de gostar. Ainda amava Midoriya, isso era claro; mas apenas como amigo. E teve certeza daquilo quando colocou a mão em seu peito e percebeu que tudo estava normal. Ela já não ficava nervosa na presença do rapaz. Não tanto, pelo menos.

Sorriu alegremente e notou as bochechas coradas do garoto que reuniu toda a sua coragem para alcançar a pelúcia para Uraraka. Ela pegou o cachorro delicadamente e o abraçou, agradecendo com uma voz calma. Sequer havia notado que outra pessoa observava aquela cena na esquina de sua casa. Estava escuro demais, não seria possível enxergar que Bakugou estava observando tudo aquilo atentamente.

A chuva só piorava a cada minuto e ela convidou Izuku para entrar, um pouco apreensiva caso ele realmente estivesse ali para se declarar. Porque ela teria de achar uma forma de rejeitá-lo sem ferir tanto seus sentimentos. Mas fazer aquilo era possível? Como se rejeita uma pessoa sem a deixar totalmente triste?

Sua mãe apareceu na porta da sala e acenou para Izuku.

— Então esse é seu namoradinho novo, filha? – Ela questionou, curiosa, porque se lembrava de Ochako ter lhe dado a descrição do menino de cabelos verdes quando contou que estava apaixonada.

Uraraka ficou vermelha como um tomate e Izuku a olhou, curioso. Ela estava namorando?

— Não, mãe. O Deku é só o meu amigo. – Ela fez que não com a cabeça e deixou a pelúcia em cima do sofá, ao lado de onde Deku havia se sentado. Sentou ao lado do amigo, também, e sua mãe resolveu conversar um pouco mais com ele.

— Nós vimos você na TV, é realmente muito forte sua peculiaridade! – Ela mudou o rumo da conversa que havia deixado um clima desconfortável no ar ao notar o rosto nervoso da filha. Deku sorriu amigavelmente ao ouvir o elogio. — Mas me diga, Izuku, quem é o mocinho que minha filha está namorando? Você deve conhecer, é o melhor amigo dela. – Ela questionou e Midoriya deu de ombros.

— Eu não sei. – Respondeu em um tom casual, ainda sorrindo tranquilamente. Uraraka fitou a mãe e começou a empurrar para fora da sala. — Mãe, não piora a situação. – Ela sussurrou ao ouvido da mulher. — Eu acho que ele veio se declarar.

A feição da mãe de Uraraka mudou e ela ficou surpresa. Assentiu com a cabeça sem falar nada e andou para seu quarto. Afinal, era sábado e ela resolveu se dar um dia de folga.

O ambiente ficou em um silêncio desconfortável e Ochako sentia uma leve raiva por sua mãe ter estragado a conversa entre ela e Deku antes mesmo dela começar. Midoriya encarava as paredes da sala onde haviam alguns quadros pendurados e parecia super interessado neles. Uraraka arrumou a pelúcia que ganhou de presente a colocando de seu lado, e então ouviu Izuku suspirar e finalmente começar a falar:

— Eu gosto de você. – Ele disse, simples e em um tom tímido, porém as bochechas e o olhar envergonhado dele eram extremamente adoráveis. Ochako sentiu que corou também, e seu coração bateu forte em surpresa. Quanto tempo ela tinha esperado para receber a declaração de seu melhor amigo?

Muito tempo.

Mas agora a sensação que ficava em seu peito era de uma angústia estranha. Ela esperou muito por isso, mas agora aquilo já não significava mais nada. Seus sentimentos por Deku já não passavam de um carinho e de uma amizade saudável. Ela levou suas duas mãos para o peito, sentindo seu coração enquanto Midoriya encarava o chão, suas pernas tremiam. Estava nervoso.

A garota de cabelos castanhos se sentiu extremamente culpada por não conseguir mais retribuir seu amigo. Ele só devia ter se declarado antes. Só isso. E então ela seria dele. Mas, não era desse jeito que os sentimentos funcionavam. A imagem de Bakugou surgiu em sua mente e ela ficou mais vermelha do que já estava; seus próprios pensamentos entregavam a pessoa de quem ela gostava. Mas aquilo já não era mais novidade.

Ela respirou profundamente e então começou a falar, com calma:

— Eu já tenho outra pessoa, Deku-kun. – Abriu um leve sorriso amigável e sentiu o olhar do garoto de cabelos verdes vacilar sobre si. Midoriya estava extremamente triste, mas se forçava a sorrir e ela reconhecia aquilo.

— É o Kacchan? – Ele questionou tentando manter uma certa alegria em sua voz para fingir que seu coração não doía, e Ochako agradeceu mentalmente, porque aquilo só iria piorar a situação caso ele chorasse na sua frente. Ela se sentia a pior pessoa do mundo.

A chuva havia enfraquecido, mas continuava caindo sem dar sinal de quando iria parar. Alguns trovões preenchiam o ambiente que estava em silêncio enquanto Uraraka procurava as palavras certas para dizer que sim, ela estava apaixonada por Bakugou.

— Sim. – Ela sorriu levemente, e os olhos de Deku brilharam. Ele abriu um sorriso que mostrava os dentes e parecia genuinamente feliz por seu amigo de infância, embora seu peito doesse.

— Eu nunca pensei que vocês fossem ficar juntos. Quero dizer, nunca mesmo. Mas fico feliz! – Midoriya se levantou e pegou seu guarda-chuva que havia deixado perto da porta da casa de Uraraka e ela entendeu que ele precisava ir. E ficar sozinho.

Ochako pensou em dar um abraço no amigo, mas aquilo provavelmente só pioraria a situação, então abriu um sorriso doce e sincero. Estava feliz com a reação dele. Mesmo que corresponder Izuku estivesse fora de alcance, ele permanecia alegre pela felicidade de seus amigos. Midoriya Izuku era uma pessoa amável demais e ela sabia que ele merecia a melhor garota do mundo.

— Obrigada, Deku-kun. – Disse, enquanto o menino de cabelos verdes se virava para olhar para ela e fez um aceno com a cabeça, tentando sorrir. Ela o fitou caminhar pelas ruas silenciosas até que o mesmo sumisse de vista.

Andou até seu quarto e colocou a pelúcia em uma estante. Era realmente fofa. Finalmente pôde jogar seu corpo na cama e cogitou em chamar Bakugou para conversar, mas no mesmo momento em que tocou em seu celular, ele vibrou.

Ela tinha quarenta mensagens não lidas, e aquilo a assustou um pouco. Quem poderia ser? Tocou na notificação e então seu celular abriu a conversa de Kirishima. O melhor amigo de Bakugou.

Uraraka! Você tem alguma notícia do Katsuki? Ele não responde minhas mensagens, e como ele me contou que vocês estavam “juntos”, tenho a esperança de que o esquentadinho esteja com você. A mãe dele ligou preocupada. Comentou que o Bakugou chegou com uma cara estranha em casa e quando ela foi falar com ele novamente, ele tinha saído de novo. Sem avisar. – Kirishima

Ele é rebelde, você sabe, mas ele sempre avisa onde vai. Estamos preocupados. – Kirishima

Vocês brigaram? – Kirishima

Eu recebi uma mensagem dele dizendo que “O amor é uma merda” e desde então não consigo entrar em contato com ele. – Kirishima

Por favor, quando receber essas mensagens me responde! – Kirishima

Ela sentiu um nervosismo preencher todo o seu corpo. O que poderia ter acontecido com Bakugou? Ele realmente não era o tipo de pessoa que fazia aquele tipo de coisa. Tentou ligar para o garoto. Nada. O celular estava desligado.

Respondeu Kirishima que não sabia, mas que iria procura-lo. Colocou sua capa de chuva e gritou para sua mãe que voltaria logo, para Uraraka, era mais do que óbvio que Bakugou devia estar pela praia.

Correu o máximo que podia pelas ruas alagadas, tentando não escorregar. Depois de alguns minutos de corrida, chegou em frente ao mar e parou para procurar onde diabos Katsuki havia se metido. Sua respiração estava ofegante e isso fazia seu peito doer. Fez esforço demais.

Viu uma pessoa de moletom preto e capuz sentada na areia ignorando o fato da chuva, e reconheceu que era Bakugou. Sentiu um certo receio em ir até ele, porque só de ver o garoto de costas já era possível saber que algo estava muito errado.

Caminhou lentamente pela areia, e então encostou no ombro do rapaz que estava sentado. Ignorou que também estava ficando toda encharcada mesmo usando a capa da chuva e sentou ao lado dele, tentando ver o rosto do rapaz. Bakugou grunhiu com raiva e virou sua cara para o outro lado, mas Ochako bufou e puxou o rosto do mesmo.

— Qual o seu problema de sair sem avisar?! Você deixou sua mãe preocupada e Kirishima também e- - Ela começou a falar, extremamente irritada com a atitude dele, mas assim que fitou o rosto de Katsuki e viu seus olhos totalmente vermelhos, Ochako só conseguiu o abraçar.

Bakugou estava chorando.