Além do Tempo escrita por Erin Noble Dracula


Capítulo 8
Hospedeira




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P.O.V. Jane.

Isso é torturante. Posso ver o que estou fazendo, sei que é real, mas não posso controlar, não consigo falar, pedir socorro.

Por favor, eu lhe imploro.

Ver o meu corpo com aquelas roupas obscenas, aquela maquiagem tão... vulgar.

—Talvez podemos perder a virgindade hoje, o que acha? Não vai ser mais donzela... lá, lá, lá, lá.

—Por favor, não faça isso comigo. Eu imploro.

—Vamos nos divertir amor, a noite é uma criança.

Quando acordei minha cabeça doía e eu estava nua, deitada numa cama com um homem.

Não! Não! Não!

—Aqui. Como combinamos.

Ela deu um maço de dinheiro para o cavalheiro que saiu.

—Peguei você Jane. Nada aconteceu. Você ainda é uma donzela, mas quero que saiba que se tentar alguma coisa contra mim ou contra quem eu amo de novo... vou destruir você, te aniquilar e te fazer querer morrer. Eu prometo.

—Eu não vou. Eu prometo.

—Ótimo. Então temos um acordo.

Ela me forçou a voltar para o apartamento onde o seu corpo estava estirado. E de repente, eu apaguei.

Felizmente quando acordei, tinha o controle novamente.

—Estou de volta. Graças á Deus! Sua criatura vil!

Tentei partir para cima dela, mas ela me estendeu um documento.

—Eu não faria isso se fosse você.

—O que é isto?

—O nosso acordo. Se você ferir a mim ou a qualquer um que eu amo, vou destruir você. Eu sou uma bruxa e isso me torna sobrenatural. Ou seja, nosso pacto é sobrenatural. Pactos sobrenaturais são amarrados em todas as dimensões e todas as épocas possíveis. Não há pontas soltas. Sem brecha.

—Sempre há uma brecha.

—Isso não é feitiço. É pacto. Pactum Pactorum se preferir.

—Um pacto demoníaco?

—Não necessariamente. Para ser um Pactum Pactorum basta ser sobrenatural.

—Parece-me que eu a subestimei.

—É. Isso acontece muito.

P.O.V. Charles.

Ainda não acredito que a doce senhorita Carlton teve capacidade de tramar algo tão diabólico.

—Como pude acreditar que você era boa?

—Eu sou boa. Mas, também sou um pouquinho perversa. A coisa que os mundanos nunca entenderam, então deixe-me esclarecer. Tudo o que é demais, faz mal. Até bondade demais. Ninguém é de todo bom e ninguém é de todo mal. Sou heroína e sou vilã. Sou mocinha e sou bruxa. Eu curo e eu mato. Assim como você. A única verdadeira diferença entre um herói e um vilão é só quem tá narrando a história. A qualquer momento até mesmo um mundano, humano não sobrenatural pode perder o seu controle e tornar-se o vilão da história de outra pessoa. Agora, se quiseram posso mandá-los de volta. De volta á sua era, onde vão viver uma vida longa e humana. Vocês são sortudos. A maioria dos humanos que tem contato com o submundo, geralmente não sobrevive. E se sobrevive, torna-se uma parte dele para sempre. Um vampiro, um lobisomem, etc.

—É verdade.

—Senhorita Argent.

—Eu fui assassinada por um Oni. Scott mordido por um lobisomem, mas eu pessoalmente gosto mais da pessoa que sou agora, do que da garota que um dia já fui. Gosto de ser imortal, feroz e poderosa.

—Eu quero voltar. Por favor, leve-me de volta.

—E quanto a você, Charlie? Passagem só de ida.

—Se eu voltar, vou vê-la novamente?

—Não. Provavelmente não, mas... sou uma caminhante do tempo. Talvez um dia eu dê uma passadinha na sua casa para dizer oi.

—Caminhante do tempo?

—Sim. Posso voltar no tempo sempre que eu quiser, é assim que vou levar vocês de volta.

—Eu não vou voltar.

—Elizabeth!

—Eu gosto daqui. Não vou voltar.

—Você tem noção de que uma vez que eu levar a Jane de volta, assim como os demais que querem voltar... nunca mais vai vê-los?

—Sim. Mas, ao menos uma vez em minha vida. Vou pensar em mim. Pelo menos uma vez, serei egoísta.

—Ok. Quem deseja voltar, estejam prontos. Levantamos amanhã ás cinco da manhã. E não se esquecem de colocar as roupas vitorianas de volta. 

—Vamos nos lembrar de tudo o que passamos aqui?

—Cada momento. Vou levá-los para um mês depois do acidente de barco. E se alguém perguntar alguma coisa, digam que foi um milagre.

—Porque depois do acidente?

—Porque o acidente eu não posso mudar. Os espíritos não me deixam. Se for para eu levá-los de volta vai ter que ser depois do acidente.

—Os espíritos?

—Sim. Centenas de milhares de bruxas mortas, algumas delas são minhas ancestrais.

No dia seguinte, ás cinco horas da manhã. Jane, Lydia e todas as outras irmãs Bennett, exceto Elizabeth eram propriamente vestidas.

—Todo mundo pronto?

—Sim.

—Muito bem. Onde era a sua propriedade, Charlie?

—Em Netherfield.

—Na Inglaterra?

—Sim.

—Puta merda. Bom, facilmente resolvível. Vamos de avião. Vou pedir para o piloto abastecer o jato.

—Jato?

Ela não respondeu, simplesmente pegou o telefone e falou com alguém.

—Pronto. Em vinte minutos estaremos no aeroporto e em uma hora mais ou menos, na Inglaterra.

—E porque teríamos de viajar para a Inglaterra?

—O tempo cronológico muda, o lugar de partida não.

Entramos no carro e ela dirigiu até um lugar enorme com grandes portões.

—Identificação, por favor?

Disse a caixa. E ela abriu a janela do veículo, colocou a cabeça para fora e disse:

—É o bicho papão.

—Olá Kat. Bem vinda.

Os portões abriram-se sozinhos e o veículo voltou a se mover. Só para parar diante de um objeto enorme de metal onde uma verdadeira equipe estava esperando.

—Minha Nossa! Onde vai com um vestido desses?

—Meus amigos e eu vamos fazer um piquenique vitoriano na Inglaterra.

Ela saiu e abriu a porta do carro para que pudéssemos descer.

—O que é esta coisa?

—Um avião á jato. Tecnologia do século vinte e um, cortesia das Empresas Carlton. Este é meu de uso pessoal e particular. 

Então, se dirigiu ao homem de terno. Não, de uniforme. Era como um uniforme de mordomo.

—Temos o plano de voo?

—Sim. Horário estimado de chegada ao aeroporto de Londres meio-dia.

—Ótimo. Então, vamos.

Era como um pequeno veículo. Havia um longo corredor, com quatro acentos de cada lado.

—Porque precisamos deste veículo para chegar á Inglaterra? Não podemos usar o outro?

A resposta dela para a pergunta de Jane pegou a todos de surpresa.

—A Inglaterra fica em outro continente. Temos que atravessar um oceano para chegar lá. E carro não sabe voar.

—Voar?!

—Sim.

—Vamos voar?

—Vamos. O piloto conduz o avião.

Então uma voz disse:

—Tripulação preparar para decolagem. Senhoras e senhores passageiros, por favor afivelem os cintos.

—Ouviram o comandante. Apertem o cinto pessoal, vamos voar.

Todos apertamos os cintos e então houve um tranco, como um coice de arma e então... nada.

—É apenas isso?

—Porque não abre a janela, Charlie? A vista é linda.

Eram como janelas de cabines de navio, elas todas se abriram duma vez. E podíamos ver as nuvens.

—Por Deus! Estamos voando!

—Sim, estamos senhorita Bennett.

—Oh, é belíssimo. Como um sonho.

Enquanto para nós aquilo era incrível, fascinante, magnifico, para ela era algo banal.

—Você já fez isso antes?

—Viajar de avião?

—Sim.

—É claro. Eu era bebê da primeira vez que viajei. E fui para Praga no fim de semana passado.

—Praga? Na Itália?

—Sim.

—A senhorita foi da América para a Itália em dois quartos de hora?

—Dois quartos de hora é um dia?

—Vinte e quatro horas? Viajar da América para a Itália leva vinte e quatro horas?

—Não! Uma hora no máximo. Mas eu tinha muita bagagem.

—Uma hora. Viaja-se de um continente para o outro pelo ar e em uma hora. Incrível!

Então a voz falou novamente:

—Atenção senhores passageiros, informamos que vamos começar a servir o serviço de bordo. Obrigado.

—O que é serviço de bordo?

—Comida.

E a equipe trouxe-nos quitutes e champanhe.

—Um brinde, aos novos amigos.

—Aos novos amigos e ao futuro.

—Aos novos amigos e ao futuro.

A comida era muito boa e em dez minutos contados no relógio, aterrizamos num local muito parecido com o local de partida. E havia um carro pronto para nos buscar. Bom, para buscá-la.

—Boa tarde, senhorita Carlton.

—Boa tarde, Morrice. Como vai?

—Bem. Gostei do seu vestido.

—Obrigado.

Respondeu prestando uma reverência perfeita. A cidade de Londres não era nada como eu me lembrava. A enorme ponte que em minha época ainda estava em construção, agora estava completa e era majestosa. Havia uma roda imensa e a única coisa que não havia mudado era a ponte da Torre. Que agora se ligava a várias outras pontes. Carros trafegando, luzes piscando, a costumeira neblina, a garoa. O relógio Big Ben ainda estava lá assim como o mercado. Mas, era como se tudo tivesse mudado e ainda assim permanecia igual.

E finalmente, Netherfield Park. As propriedades haviam mudado, haviam mais pessoas. Carros parados, gramados verdes, cercas brancas.

—Bem vindos ao subúrbio.

Encontramos a minha propriedade que não era mais minha, então do gramado ela nos transportou de volta ao passado. Nada mais de carros, aviões ou luz elétrica.

—Bem, bem-vindos de volta ao lar.

—Alto! Quem vem lá?

—Somos nós seu Belccior.

—Por Deus! Assombrações!

—Eu lhe asseguro meu caro, que ainda estamos muito vivos.

—Mas, eu soube do naufrágio!

—Chame de milagre.

—Bem, de fato senhor. Entrem, entrem.

—Onde estão a senhora Darcy e o senhor Darcy?

Decidi mentir.

—Infelizmente, eles não sobreviveram.

—Oh, mas que tragédia. Que Deus os tenha.

Disse o mordomo enquanto nos conduzia para dentro da propriedade.

—Então, este é o seu mundo? Impressionante. Tem cheiro de estrume.

—E quem é a senhorita?

—Ela é minha convidada. Perdeu toda a sua família.

—Não toda. Vou voltar para casa amanhã. Ainda tenho uma tia.

Eu a apresentei ao meu século e ficou evidente que ela não gostou. Nem posso culpá-la. Após ver as maravilhas do século vinte e um, o dezoito deixa muito a desejar.

—Bem, se há algum Deus que ele me pare agora.

—Que é isso? O que está fazendo?!

P.O.V. Katerina.

O homem ficou louco. Pegou um Cálice na Igreja, aqueles Cálices de primeira comunhão e começou a beber vinho de dentro.

—Ai Misericórdia! Tá perdendo o juízo é?

—Porque tem tanto respeito pela gente que caçou a sua gente?

—Ódio só gera mais ódio. Agora para com isso ou eu te largo ai e você que se entenda com a polícia!

—Por Deus! O que é isto?

—Ai, Padre... me acuda. O homem perdeu o juízo. Está bebendo vinho do seu Cálice sagrado!

—Ao futuro Padre. E aos novos amigos! E a você senhorita Carlton e seus milagres.

—O senhor vai chamar a polícia, padre?

—Vou primeiro pedir que o senhor pare imediatamente com este sacrilégio.

—Você tem uma bruxa na sua igreja e eu beber do Cálice é sacrilégio?

Felizmente ele estava claramente bêbado.

—Ai Padre, me acuda. Como faço ele parar?

E foi um Deus nos acuda. Chamaram a polícia, a multidão se amontoando na porta da Igreja para ver, o Charles batendo nos policiais.

—Charlie pare de resistir. Se você resistir vai ser pior!

A polícia levou ele preso, alguém chamou um advogado e pelo amor de Deus. E deu audiência.

—Senhorita, por favor identifique-se.

—Sou Katerina Petrova.

Usei um sobrenome falso. TVD na veia.

—Senhorita Petrova, faria o favor de informar a natureza de sua relação com o senhor Bingley?

—Depois do acidente, após a perda de seu melhor amigo e da senhora Darcy... o senhor Bingley perdeu-se completamente. Incapaz de aceitar a perda ele criou esta fantasia em sua cabeça. Acredita piamente que sou uma bruxa quando ai de mim, sou apenas uma serva encarregada de cuidar do pobre homem.

—Alega que o senhor Bingley perdeu o juízo?

—Sim. Alego. Ele parece lúcido, porém nunca se sabe quando virá o próximo ataque de loucura. Num momento ele está bem e no próximo... pensa que foi para o futuro, que ficou congelado por mais de duzentos anos. E que sou uma bruxa.

—Você é uma manipuladorazinha. Inteligente que só você.

—Vê? 

—E é por isso que eu te amo.

—Ah,Senhor Bingley...

—Não vai mais chamar-me de Charlie?

—Se o senhor insiste. 

E no fim compraram a história de que ele havia perdido o juízo.

—Por ordem do Juiz, o senhor Charles Bingley está livre de todas as acusações, porém vai ter de ser avaliado pelo alienista.


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