Além do Tempo escrita por Erin Noble Dracula


Capítulo 2
Katerina Carlton




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P.O.V. Kat.

Depois de quase um mês, os médicos finalmente vão poder acordá-lo do coma.

Eu acordei e ele também.

—Então você acordou?

—Quem é a senhorita? É uma senhorita certo?

—Certo. Eu sou Katerina Carlton.

—Que lugar é esse?

—O hospital. Você vai ser avaliado pela psiquiatra.

—Psiquiatra?

—Ela só vai conversar com você. Fazer umas perguntas. Seus exames de sangue estão normais, você é uma pessoa perfeitamente saudável que tem anticorpos para doenças que já foram erradicadas a um tempo.

P.O.V. Charles Bingley.

Uma mulher médica? O que é isto?!

—Oi. Eu sou a Doutora Amélia Blake. Qual é o seu nome?

—Charles Bingley.

—Em que ano você acha que estamos?

—No ano da graça de mil setecentos e noventa e sete é claro.

—Mil setecentos e noventa e sete?! A quanto tempo você acha que está apagado?

—Dois dias.

—Minha Nossa Senhora! Bem, isso explica os anti-corpos.

—Mas, como ele sobreviveu esse tempo todo? Como que ele não morreu?

—Criogenia. O gelo preservou seu corpo, suas funções motoras, cerebrais. 

—O que está havendo?

—Você esteve... dormindo por duzentos e vinte e um anos. Quase duzentos e vinte e dois.

—E a minha família?

—A polícia está na praia. Os outros foram levados para a Crio-Tec.

—Mas, estão vivos?

—Estão. Só que estão dormindo. Se acordarem do jeito que você acordou, eles podem ter um colapso.

—Mas, acordarão, certo?

—Certo.

Ela usava um vestido preto, extremamente curto. Eu podia ver suas meias também pretas com certa transparência.

—A senhorita não é uma mulher da noite, é?

—Acho que ele acaba de me chamar de prostituta. Mas, não. Não sou prostituta. Como vamos tirar ele daqui Amélia? 

—Estou aqui.

—Mas, você não tem pra onde ir. E da última vez que saiu quase teve um faniquito. Isso porque estávamos na Ilha Vermelha, mas aqui é a Califórnia. Aqui é L.A.

—Ela tem razão. Você pode sofrer um grande choque.

—Choque?

—Adianta muito ter sobrevivido a um acidente de navio e durado duzentos e um anos pra sair na rua e ser atropelado.

—Ele não pode ficar aqui pra sempre. Uma hora ele vai ter que sair.

—Eu sei. E é isso que me preocupa. Vamos, hora de enfrentar o século vinte e um Milorde.

Quando nos aproximamos da porta, ela abriu-se sozinha e... 

—Por Deus!

Edificações enormes, várias carruagens que se moviam sozinhas. Luzes brilhantes. Como um milhão de velas.

A Senhorita Carlton apertou um botão e uma das carruagens piscou.

—Entra no carro.

P.O.V. Kat.

Acho que ele não entendeu. Então vou ser mais direta. Fui até o carro e abri a porta do banco do passageiro.

—Por favor, senhor. Entre no carro.

Finalmente ele entendeu.

—Coloque o cinto de segurança por favor.

—E quanto a minha família?

—Já tá de noite. Vamos atrás da sua família amanhã. Eles estão seguros onde estão. Eu juro.

—Tudo bem. Acredito na senhorita.

Liguei o carro e dirigi, felizmente não tinha muito trânsito a essa hora. Meio que no piloto automático, eu liguei o rádio. É a primeira coisa que eu faço quando entro no carro.

—O que é isso?

—Isso o que?

—Este... som.

—Oh! É o rádio. É música.

—E a orquestra?

—Não tem orquestra. Não aqui, tipo existem orquestras ainda, mas isso é só uma gravação. Um sequencia de gravações, eu só preciso apertar o play. 

—Impressionante.

—Se tá impressionado com isso, espere até conhecer a Internet. O Google, Netflix. Maravilhas da tecnologia moderna.

Finalmente chegamos ao meu apartamento, ele ficou com medo do elevador, mas subimos mesmo assim.

Quando apertei o interruptor, ele quase pirou.

—O que é isso?! Internet? O Google? Netflix?

—Não. Isso é só eletricidade mesmo. Quando eu aperto o interruptor se a luz estiver apagada o circuito elétrico está fechado, mas quando está ligada, o circuito está aberto. 

—Interessante. Esta é a sua residência?

—É.

—Mora sozinha?

—Moro.

—E o senhor seu pai permite que viva aqui sozinha?

—Meu pai, não quis saber de mim. No momento que minha mãe disse que tava grávida, ele foi embora. Foi correr atrás de outra mulher.

—Mas, que patife.

—Mm.

P.O.V. Charles.

O local era amplo, porém ao mesmo tempo apertado.

—É uma bela residência.

—Imagino que você esteja exausto. Se você quiser usar o banheiro é no fim do corredor á direita.

—Sim. Ainda não fiz minhas abluções hoje.

—Abluções? Aqui a gente toma banho. De chuveiro. Infelizmente, eu não tenho produtos de higiene masculinos, mas amanhã a gente sai pra comprar. Enquanto isso, eu tenho sabonete que vale para homens e mulheres e um shampoo neutro que vai servir, por agora.

Haviam muitas velas espalhadas pelo ambiente, todas apagadas, porém pelo estado da cera elas eram acesas com frequência.

—Se tem a eletricidade, porque as velas?

—Eu uso as velas pra outra coisa. Agora, vai tomar banho que eu vou arrumar o quarto de hóspedes.

O mesmo mecanismo da cabana. Foi fácil fazê-lo funcionar, ela me trouxe uma toalha e vestimentas que não eram exatamente o que eu esperava, porém ao menos estas tinham mangas e cobriam as pernas.

Quando retornei á sala de estar, ela estava sentada no sofá de estofado cinza com uma vestimenta...indecente.

—Por Deus!

—O que?

—Porque insiste em vestir-se com tamanha indecência?

—Indecência? Eu to de camisola. Você não tá vendo meus peitos e nem a minha bunda.

—Todas as mulheres deste século são como você?

—Não. Provavelmente não há mais ninguém como eu. Então, o que você quer comer?

—Não sei.

—Podemos comer, pizza, sushi, comida chinesa, comida tailandesa.

—Comida chinesa?

—Sim. Ai o cardápio.

Ela fez o pedido e enquanto esperávamos notei que haviam vários retratos no apartamento.

—Quem são eles?

—Minha mãe, Selene Carlton e o meu padrasto Luke.

—Seu padrasto?! Ele é um negro!

—Eu sei. Luke é policial, ele é detetive e o meu pai para todos os efeitos. Eu fui dama de honra no casamento deles.

—Onde arrumou essa vestimenta?

—A minha ou a sua?

—A minha.

—Era do meu ex-namorado, mas eu chutei ele. Ele estava comigo e com outra garota ao mesmo tempo.

A comida era muito boa, porém aquelas vestes cor de rosa eram uma distração considerável.

—O que a sua mãe lhe ensinou?

—A ser eu.

—Ela não lhe ensinou a bordar, a se portar como uma dama, etiqueta, a ser uma mulher do lar?

—Mulher do lar? Minha mãe é uma das empresarias mais ricas dos Estados Unidos, ela tem filiais pelo mundo todo. Holdings, parcerias e recentemente adquiriu uma franquia de lojas de roupas infantis. 

—Uma mulher gerindo um negócio?

—Um negócio que vale centenas de milhões de dólares. Ela é a fundadora, a dona.

—E quem é esse rapaz? Um pretendente?

—Meu melhor amigo. Steve.

—Steve?

—Steven. Mas, todos chamam ele de Steve. Ele é um gênio, um prodígio. Quer ser engenheiro civil.

—Você disse que estava cursando medicina. É verdade?

—É. Eu vou ser clínica geral e depois vou fazer uma especialização em medicina alternativa. Acupuntura, cromoterapia e herbologia. Com ervas eu sou boa.

Aquele minusculo traje de seda cor de rosa que deixava a mostra seu colo, seus braços, suas pernas.

—Que tal assistirmos um filme?

—Um filme?

—Certo. Você não sabe o que é um filme. Já sei, vamos assistir Orgulho e Preconceito.

Ela ligou toda aquela sofisticada aparelhagem e numa delas estava escrito em letras garrafais:

Netflix.

—Achei.

Mais um botão foi apertado e imagens começaram a ser reproduzidas na tela.

—Que esplêndido!

Conforme o... filme foi passando reconheci todos os indivíduos retratados, inclusive... a mim mesmo. As imagens estavam sendo reproduzidas na tela quando sinto algo sob minhas pernas.

Era a senhorita Carlton. Ela havia adormecido e deitou sua cabeça em meu colo. O estranho é que apesar das vestes extremamente reveladoras, seus olhos eram cheios de pureza e inocência, em momento algum a senhorita Carlton se insinuou para mim. Ao contrário, salvou-me a vida, duas vezes, convidou-me para ficar em sua residência, alimentou-me, vestiu-me e ofereceu-se para me comprar novas vestes. Mais condizentes com esta nova era.

Foi simpática, amigável e duma forma genuína. Carreguei-a até aquele que imaginei ser seu aposento, já que haviam mais retratos. Coloquei-a gentilmente na cama de colcha roxa com detalhes em preto.

As paredes eram em um tom de verde e haviam luminárias penduradas sob a cama. Que não possuía mosquiteiro.

—Boa noite senhorita Carlton.

Dirigi-me ao aposento que me foi designado e este estava limpo, foi arrumado com esmero, haviam várias coisas que infelizmente me eram desconhecidas, porém haviam livros. Encontrei um pelo qual interessei-me.

—Viajem ao Centro da Terra. Julio Verne.

Era realmente criativo, porém haviam vários termos que eu desconhecia.

Acabei adormecendo e quando acordei, acordei ao som de mais uma daquelas melodias desconhecidas, entretanto a letra era de muito bom gosto.

Senti cheiro de comida. Encontrei-a na cozinha e ela estava cantando juntamente com... o rádio.

—Can't you see, I'm beggin please. Cause when your eyes light up the sky tonight. I Know your gonna find your way back to me.

—A senhorita canta lindamente.

—Oh! Obrigado.

—Que música é esta? Se me permite a pergunta.

—É Back to Me. Do All American Rejects. É uma banda. Uma banda é uma orquestra, só que... menor. Fiz café da manhã. Vai precisar de energia, hoje nós vamos ás compras e depois, vamos á Crio-Tec ver se a sua família já está acordada e dar um jeito de tirá-los de lá.

—Sou muito grato pelo auxílio que me prestou.

—De nada. Então, me fala da sua família.

—Meu pai já... faleceu á muito tempo. Minha mãe foi primeiro, que Deus a tenha.

—Sinto muito.

—Após a morte de minha mãe, papai casou-se novamente e Louisa nasceu. Quando meu pai faleceu me tornei o novo Mestre de Netherfield. Meu querido amigo Darcy casou-se com Elizabeth Bennett e apesar da senhorita Jane Bennett demonstrar certo... interesse na minha pessoa nunca retribuí o sentimento.

—Isso é uma droga. Pra ela.

—E quanto a sua família?

—Bom, como eu já disse meu pai biológico foi embora no segundo que minha mãe disse que tava grávida, ai o Luke ajudou ela e eles se apaixonaram, alguns anos depois eles se casaram e ele é meu pai para todos os efeitos.

—Algo importante que eu deva saber sobre este século?

—A escravidão foi abolida, vivemos numa democracia, na Inglaterra ainda existe uma família real, mas é meramente decorativa já que o Parlamento é que decide tudo. O divórcio é permitido, se um marido bate na esposa ou uma esposa bate no marido, o respectivo vai preso após a denúncia. Crianças não trabalham. Existe licença á maternidade, décimo terceiro salário, mulheres podem votar, estupro é crime hediondo. Em alguns estados existe pena de morte ainda, mas é raro. E a pena de morte é só para assassinos em série, estupradores, molestadores de crianças. As execuções não são mais públicas e não há decapitação, fogueira e nem nada assim. É injeção letal. 

—Injeção letal?

—Injetam veneno nas veias do criminoso. Dizem que é uma morte rápida e praticamente indolor.

—Misericórdia após o torturador ter...

—Tortura é ilegal.

 


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