Guardiões e os Enigmas da Nova Era escrita por Minnie Colins


Capítulo 5
IV: |Rapunzel| Uma chance de escapar.




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~ ~

Acordara em um pulo. Mais uma vez aquele mesmo pesadelo. Rapunzel sentou-se na cama com o coração palpitando forte. Olhou para os lados e viu-se dentro daquele horrível quarto em que dormia, sem sequer uma janela para o mundo exterior. Aquilo a assustava ainda mais. Sonhara outra vez com Góthel, a sua mãe forjada que agora tinha de aturar todos os dias. No sonho ela esfaqueava Eugene muitas e muitas vezes a sua frente e Rapunzel não podia fazer nada, pois estava acorrentada. Depois Góthel vinha em sua direção, rindo, e sugava todo o seu poder de cura deixando-a fraca e vulnerável.

Desde que fora forçada a deixar Flynn naquela torre, depois de curá-lo e se mudar com Góthel para uma casa fúnebre no topo de uma montanha desértica, Rapunzel era atormentada todas as noites pelo mesmo sonho. Ainda se lembrava de tudo e jamais esqueceria...

— E- Eugene! – Rapunzel foi ao seu encontro, preocupada com o estado machucado dele. Passou a mão em seu rosto suado e em seguida viu o tamanho do corte pela facada. – Oh, tudo bem, tudo vai ficar bem agora.

— Rapunzel... – tentou dizer, mas ela o cortou.

— Eu prometo, tudo vai ficar bem, é só você respirar. – pegou uma parte de seu cabelo para envolver no corte.

— E-eu não posso aceitar. – Eugene estava ficando muito fraco e sua voz saiu falhada.

— E eu não posso deixar você morrer. – Rapunzel o encarou com pesar, sentindo seu coração partir em mil pedaços ao vê-lo naquele estado.

— Mas se fizer isso, você... Vai... Morrer... – cada palavra uma pontada forte no estômago que sentia.

— Shh... Tudo vai ficar bem. – ela garantiu-lhe.

— Ora vamos com isso! – irritou-se Góthel aproximando-se e segurando os ombros de Eugene. – Faça logo Rapunzel antes que eu mude de ideia!

Rapunzel lutou para não direcionar um olhar de puro desprezo àquela mulher horrorosa a sua frente. Que a privou de conviver com sua verdadeira família e agora inibia novamente suas chances de ser feliz ao lado de seu primeiro amor.

Com a voz triste, Rapunzel cantou aquela maldita canção que era o pilar de todo o seu sofrimento, podia curar tudo e todos, mas quanto mais ela cantava, mais sentia o próprio corpo se contorcer em lamúrias.

Em poucos segundos o ferimento de Eugene fechou-se por completo não restando nenhum indício de dor ou danificação. Quando recuperou todas as forças ele levantou-se e lutou contra as correntes que o amarravam naquela pilastra desesperado para resgatar Rapunzel. Mas tudo isso em vão.

Góthel a pegou firme pelos pulsos e a levou embora da torre. O grito de Eugene foi escutado por muito tempo. Rapunzel ficou tão atordoada sentindo sua cabeça doer e mil facas despedaçar seu coração em infinitas partes que perdeu totalmente as forças que a mantinham em pé e desmaiou nos braços frios de Góthel, facilitando ainda mais para ela levar a menina para longe.

A mulher carregou Rapunzel para longe dali o mais rápido possível, sentindo o peito encher pela vitória. Subiu a montanha mais íngreme que conseguiu achar e lá ficou, prendendo Rapunzel em um quarto pequeno, sem qualquer janela ou saída secundária, apenas uma pequena porta adornava o compartimento que Góthel trancava sempre.

Ao reviver isso de novo, Rapunzel deixou as lágrimas caírem sem controlá-las. Já se passou um ano desde que fora separada de Eugene. Ele jamais conseguiu encontrá-la e Rapunzel estava mais presa do que em toda a sua vida naquela torre.

Mesmo assim era forçada a tratar Góthel como se nada tivesse acontecido, afinal fora isso que prometera. Todas as noites que a mulher aparecia em seu quarto para usufruir do poder de seu cabelo, Rapunzel tinha vontade de vomitar cada vez que dirigia a palavra a ela. Mas não podia deixar transparecer nada senão Góthel a deixava sem comer.

Apesar de tudo, Rapunzel ainda era capaz de sorrir de vez em quando, com Pascal que fora escondido até o esconderijo de Góthel para fazer companhia a menina. Era capaz de acreditar que um dia as coisas mudariam. E foi essa capacidade esplêndida que tinha que poucos humanos em seu lugar teriam a mesma força de vontade, que a permitiu voltar a dormir, mesmo com os olhos inchados depois do choro.

Não iria deixar Góthel tirar o gosto de Rapunzel pela vida, por mais que ela estivesse no limiar do abismo.

Pareceu se passar poucas horas desde que tinha caído no sono novamente, só soube que já era dia quando Pascal começou a esfregar-se em seu rosto tentando acordá-la. Rapunzel abriu os olhos com dificuldade e viu o pequeno camaleão em cima do seu nariz. Ela sentou-se ereta na cama depois de levar um pequeno susto.

— Pascal, não faça mais isso. – permitiu-se rir um pouco. Pascal vibrou. Há meses que tentava de tudo para fazê-la se divertir com qualquer coisa, mas quase sempre não obtinha resultados. Porém, quando acontecia, também era breve. Dado pouco tempo, Rapunzel desmanchou o sorriso e olhou para a brecha da porta de seu quarto, o único lugar por onde conseguia enxergar a claridade do dia.

O momento que ela mais odiava era quando Góthel vinha visitá-la, preferia qualquer coisa a ter de enxergar sua face sínica. Mas esse momento logo não tardaria a acontecer. Góthel em poucos instantes apareceria com o café da manhã para ela e é claro, para checar se sua fonte de rejuvenescimento estava intacta.

Tal como previra, Rapunzel pôde escutar passos de botas vindo do lado de fora e se aproximando da porta. A menina cerrou os punhos e engoliu em seco. Barulho de chaves se movendo. Uma delas atravessou a fechadura e fez um “click” assombroso. No minuto seguinte a figura indesejada de Góthel apareceu com um sorriso calculista. Trazia em mãos uma bandeja recheada de comida.

— Bom dia minha flor. – cumprimentou normalmente adentrando o quarto e fechando a porta em seguida com a chave.

— Bom dia, mamãe. – cada palavra saía arranhando a garganta de Rapunzel. – Como passou a noite?

— Maravilhosamente bem. – a outra respondeu e depositou a bandeja aos pés da cama. – E você?

— Melhor impossível. – Rapunzel sorriu forçada tentando ir para o meio da cama e evitar que Góthel a tocasse. – Obrigada pelo delicioso café. – comer as coisas que Góthel oferecia era outro suplício, detestava levar a boca algo que a mulher havia tocado. Mas infelizmente suas necessidades fisiológicas dependiam daquilo.

— Ótimo. – Góthel respondeu contente. Adorava ter tudo sob o seu comando novamente. Não se sentia nem um pouco incomodada de levar essa vida com Rapunzel para sempre. Ela tinha toda a liberdade que desejasse, podia sair daquela discreta casa a hora que quisesse e, para seu consolo, sua flor mágica permaneceria lá. – Hoje vou sair para comprar algumas avelãs e no jantar teremos sua sopa preferida.

— Fico contente. – Rapunzel disse sem encará-la.

— Filha, não vai comer? – indagou Góthel. Esse tempo todo a menina estava evitando tocar na comida e a mulher notou isso. Rapunzel sorriu, a contragosto, e pegou um pedaço de pão para comer. Ela detestava quando Góthel a chamava de filha. Mordeu com tanta força que machucou a língua e logo sentiu o gosto de sangue inundar seu paladar. – Muito bem, então eu já vou indo. Preciso sair cedo se quiser comprar as melhores avelãs. Nos vemos à tarde minha flor. – ela inclinou-se e beijou a bochecha de Rapunzel que sentiu o estômago embrulhar.

Góthel caminhou para fora do quarto não deixando nunca de trancar duas vezes a porta depois de sair. Rapunzel esperou os passos se afastarem e a porta da frente bater-se para jogar a bandeja longe junto com um grito desesperador que deixou escapar.

Jamais se acostumaria com aquilo, mesmo depois de um ano. A louça espatifou-se no chão, assustando Pascal que estava ali perto. Mas ele compreendia a dor de Rapunzel como mais ninguém

— Você é DOENTE! – exclamou ajoelhando-se no quarto e apertando os punhos com força para liberar toda a raiva que sentia. As lágrimas lutaram novamente para serem liberadas, mas dessa vez Rapunzel não permitiu que elas saíssem.

Aos poucos foi se acalmando e deixando a respiração controlada. Desfez a força nas mãos depois de perfurar a palma com as unhas. Foi então que pediu com todas as forças para que tudo aquilo mudasse. Para que o sol pudesse surgir para ela outra vez e que pudesse ver o brilho da lua em breve.

De repente, como se a alguém tivesse escutado seu pedido, um vento começou a soprar em seus cabelos e em todos os lugares do quarto. Rapunzel ergueu o olhar tentando encontrar a fonte da ventania, mas só encontrou o olhar de Pascal que a fitava tão confuso quanto ela. Logo mais o espaço a sua frente começou a deformar-se e a abrir um buraco de onde se emitia uma luz branca.

Rapunzel levantou-se e ficou estática com o que via. Sem qualquer explicação, uma pessoa surge de lá de dentro e para a sua frente. Ela levou as mãos à boca quando o viu. Um garoto que parecia ter a sua idade tinha cabelos prateados e segurava em mãos um cajado maior que ele. Ele mostrou estar um pouco atordoado sem enxergar ao certo onde estava, até que seus olhos se encontraram.

Rapunzel tirou lentamente a mão da boca enquanto o encarava. O rapaz tinha intensos olhos azuis e brilhantes, tão intrigantes que a faziam questionar tudo a sua volta. Ele fez menção de dizer algo e foi quando ela sentiu-se estranha, o medo e a incerteza que a pouco tinham domado seu corpo sumiram e em seus lugares um sentimento de confiança e bem estar surgiu.

— Rapunzel... – o menino começou. Ela não conseguia desviar o olhar ou demonstrar qualquer reação. Sua aparição súbita a tinha deixado sem falas. – Não se preocupe, eu não vou machucá-la. – ele garantiu levantando as mãos brevemente. – Você pode me ver? – era nítido que sim, mas essa pergunta nunca deixara de ser proferida cada vez que Jack visitava alguém que nunca conhecera.

Ela confirmou com a cabeça.

— Meu... Meu nome é Jack Frost e eu precisava encontrar você... – ele não sabia muito bem como fazer para se explicar.

Aquilo era loucura. Uma pessoa como ele podia atravessar uma espécie de portal mágico. Podia entrar e sair daquela prisão. Rapunzel ficou atordoada por vários instantes. Precisava se certificar se ele era real, se não passava de uma miragem em sua mente que estava a lhe pregar peças depois de tanto tempo enfurnada naquele lugar.

Ainda sem tirar os olhos do tal Jack, ela caminhou devagar até ele, sem saber ao certo o que estava fazendo. Jack ficou parado tentando compreender, a garota parecia muito desconcertada. Deixou que ela se aproximasse e quando Rapunzel estava perto o suficiente para tocá-lo, ela o fez, depositando sua mão no peito de Jack.

Ele era tão frio e ela tão quente, tal contraste a fez despertar do aparente transe e Rapunzel perdeu as forças nas pernas desmoronando na frente dele. Jack assustou-se e segurou-a para que não caísse. Guiou-a até a cama que ali havia.

— Você está bem? – perguntou preocupado. Ainda podia sentir o toque dela em seu peito, algo que o fez sentir-se diferente.

— Estou. – Rapunzel respondeu sentindo-se tonta. – Por que está aqui? – quis saber voltando a fitá-lo. – Como me encontrou?

— Eu preciso de sua ajuda. Vim levá-la comigo para outra dimensão, para que possamos...

E então ela não conseguiu escutar mais nada. Seus ouvidos pararam de funcionar assim que ouviu a frase “vim levá-la comigo para outra dimensão”. Nem sabia que dimensão era essa, nem sabia o que a aguardava, mas o simples fato de ter a chance de escapar da prisão de Góthel pareceu ser tudo o que ela precisava. Pouco lhe importou para onde Jack a levaria, desde que para longe daquela mulher monstruosa. Sua mente não estava a lhe pregar peças, essa era uma chance real de sair dali.

— ... por isso você precisa vir comigo. – Jack concluiu seu pensamento o qual Rapunzel não escutara coisa alguma.

— Eu vou. – disse sem rodeios. Tão rápido que Jack até estranhou. – Vou com você, agora, nesse instante. – ela levantou-se e foi até Pascal que subiu em seu ombro.

— Ótimo. – Jack proferiu aliviado por Rapunzel não fazer objeções. Pegou um globo de neve que tinha no bolso e o quebrou a sua frente. A mesma deformação no espaço de antes surgiu, abrindo passagem para algum lugar que Rapunzel não fazia ideia. E pouco lhe importava.

Ela nem percebeu sorrir quando estava diante do portal que a sugaria para um lugar completamente desconhecido. O sentimento de libertação tomou conta de si, mesmo que Rapunzel não fizesse ideia do que estaria prestes a enfrentar.


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Notas finais do capítulo

Tadinha, Punzie só queria fugir das garras de Góthel mesmo que com um menino de outra dimensão que aparece do nada no seu quarto. O que o desespero não faz, né galeris? kk
Enfim, se não fosse pelos finais felizes Disney, eu bem acho que Góthel faria isso mesmo, não ia deixar eles tagarelando ali ia ser tipo isso: "faça logo Rapunzel!"
Bem, é isso!
Até breve ♥



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