P.O.V Da Jade

— O que você acha? Está bom de sal? - Perguntei para Claire. 

Eu havia colocado um pouco da macarronada para ela provar num pratinho de porcelanato.

A garota começou a tossir, me assustei quando ela correu, levantou a tampa da lixeira e cuspiu dentro.

— Água! Quero água! - Gesticulou desesperada, ainda tossindo.

Me apressei correndo até a pia, peguei um copo que estava no escorredor de louça e o enchi com água da torneira mesmo. 

Entreguei para a garota que bebeu até a última gota.

— O que foi? Exagerei no tempero? - Perguntei receosa.

— Pimenta! Você colocou muita pimenta, tia. - Colocou a língua para fora, se abanando com as mãos.

Seu rosto estava corado e ela estava até transpirando.

— O quê? - Franzi o cenho. - Isso não é possível! - Fui até o fogão já com um garfo em mão.

Destampei a grande panela, retirei um pouco da macarronada para provar. Mastiguei sentindo o forte tempero apimentado. Claire tinha razão.

Aquilo estava mais apimentando que comida mexicana.

Minha língua ficou em chamas. Corri para tomar água, estava muita apimentada mesmo. 

— Mas eu não entendo... - Murmurei ainda sentindo a minha boca formigar, a língua arder.

Em cima da mesa, estava os potinhos com cada tempero que usei. Fui conferir um por um, analisei um potinho vermelho que tinha etiqueta.

O nome estava em espanhol, e eu nem sabia como traduzir.

— Claire, você estuda espanhol, né? - Lembrei que o Beck disse que ela era uma garota muito inteligente e até sabia um pouco de francês.

— Sim, tia, estudo espanhol desde os 5 anos. - Respondeu.

— Sabe me dizer o que diz aqui? - Mostrei o potinho vermelho.

— Pimenta peruana em pó. - Leu traduzindo com muita facilidade.

"Puta merda!"

Eu tinha colocado 3 colheradas pensando que era algum tipo de tempero corante. Mas na verdade, era uma das pimentas mais ardosas do mundo, e ainda por cima em pó...

— Será que dá tempo para refazer? - Olhei para a garota que prendia o riso já sacando a minha burrada.

— Que cheiro delicioso! Deve estar uma delícia! Que cheirinho bom, queridas! - Dona Rachel chegou na cozinha indo dar uma olhada na panela cheia de macarronada.

Claire e eu nos entreolhamos.

— Os convidados já estão chegando. Vou levar a panela lá para a área de lazer, o Ben e o Beck já colocaram as mesas lá. - Ela avisou para o meu desespero.

— Vou trocar de roupa, vovó. - A garota disse antes de se retirar.

— Dona Rachel, eu...

— O que ainda está fazendo aí, querida? Não vai se arrumar? O Beck está te esperando. Vamos! Se apresse! - Me enxotou para fora da cozinha.

Não dava mais para consertar a burrada que cometi. O estrago já estava feito. O que me restava era torcer para ninguém passar mal ao provar daquela maldita macarronada.

[...]

P.O.V Do Beck

— Lá vem a sua noiva! Como ela é gata, hein? - Ben me cutucou.

Quando olhei, todos já estavam olhando para a Jade. Ela apareceu para o almoço usando uma calça jeans que valorizava as belas pernas, uma blusa azul de mangas compridas que realçava a cor dos olhos e uma jaqueta cor de vinho, as botas sem salto finalizavam o look.

Se o clima fosse quente, aposto que ela usaria menos roupa e mostraria mais da pele perfeita. 

O batom vermelho fazia um belo contraste com a cor da pele e com a cor do cabelo. As mechas onduladas caiam por cima dos ombros, seu cabelo era lindo.

Ela sorriu como uma moça simpática e cumprimentou todo mundo. Meus primos abriram a boca chocados com a beleza dela. Um deles derrubou a colher, e o outro tropeçou e quase caiu.

E minhas primas que estavam ali apenas se limitaram a dar uma olhada e se entreolharam entre si. Bando de invejosas. Uma mulher não pode ver outra bonita. Se reuniram para cochichar, deviam já estar botando algum defeito.

Meus tios também não puderam evitar de dar uma boa olhada. Também era um bando de velhos babões que não podiam ver uma mulher jovem e bela como a Jade.

Fui até ela, passei um braço por sua cintura a levei para conhecer os meus avós paternos.

Meu avô era cadeirante e minha avó também tinha dificuldades para se locomover, mas ela andava lenta e com ajuda de uma tia minha.

— Esses são os meus avós paternos, Philiph e Eleonor. - Os apresentei. - Vô e vovó, essa é a minha noiva, Jadelyn West. - Falei.

— É um enorme prazer em conhecê-los. - A morena os cumprimentou com um beijo no rosto.

— Como ela é bonita, filho. - Vovó sorriu espremendo os olhos.

— Ela é linda mesmo, vó. - Concordei e olhei para Jade que sorriu e abaixou o rosto.

Ou ela estava fingindo ou acabou corando de verdade. Era difícil saber.

Minutos depois...

— FAMÍLIA, CHEGUEI!!! - A minha prima Evangeline surgiu escadalosa como sempre.

Ela era conhecida por sua vulgaridade, antipatia e por suas piadas maldosas. 

Ela devia ser proibida de participar de qualquer reunião familiar.

Nem o Ben que ia com a cara de todo mundo, não suportava ela.

[...]

P.O.V Da Jade

— FAMÍLIA, CHEGUEI!!! - Uma loira apareceu chamando atenção de todos.

Ela tinha pele clara, longos cabelos lisos claramente tingidos de um tom de loiro e olhos verdes que combinavam com sua pele, e o vestido que ela usava era muito vulgar para a ocasião.

Estávamos num almoço de família e não numa festa em uma casa noturna.

O vestido tinha mangas compridas, mas era ultra-colado ao corpo com um decote em V. Na era curto, mas se abria em fendas mostrando as pernas torneadas.

Sua boca era tão carnuda, os lábios pintados de um vermelho berrante. Ela usava cílios postiços e uma generosa camada de sombra rosa.

Não era feia, ela tinha traços bonitos como as maçãs do rosto, nariz e os olhos claros, eu não tinha certeza se eram lentes. Mas com certeza era mais bonita de corpo.

Possuía belas curvas, cintura delineada, quadris largos e uma bunda de dar inveja... Não parecia ser silicone.

— Credo! Que coisa mais sem graça, hein? Cadê a animação, pessoal? - Ela caminhou entre as duas mesas postas. - Ainda bem que eu trouxe o meu iPod. Cadê o aparelho de som? - Perguntou.

— Ali! - Um dos primos do Oliver apontou para a mesinha onde se encontrava o aparelho e as caixas de som.

— Kelvin, faça esse favor para mim, sei que você gosta de brincar de DJ! - Jogou o iPod para o primo que sorriu e foi colocar alguma música para tocar.

— Quêm é o aniversariante? - Ela olhou redor, parecendo empolgada.

— Não tem aniversariante nenhum, sua doida! O Beck trouxe a noiva dele para a nossa família conhecer, esse é um almoço de comemoração! - Ben explicou dando um sorriso enorme.

O sorriso grande e iluminado sumiu dos lábios carbudos e cobertos de batom. A loira platinada arregalou os olhos e depois arfou, a notícia a pegou de surpresa e ela não pareceu gostar de saber daquilo...

— O quê? - Quase gritou, incrédula. - ABAIXA O SOM! - Gritou para o Kelvin, era um dos primos do Oliver. - Acho que não ouvi direito... O Beck vai casar? - Indagou ainda descrente.

— Vou sim, Evangeline. E essa é Jadelyn West, a minha noiva! - Entrelaçou nossos dedos e levantou nossas mãos unidas.

A tal de Evangeline me olhou por alguns segundos e depois encarou o Beck...

— Que. Ótima. Notícia! - Disse pausadamente vindo até nós, o som dos saltos ecoando pelo assoalho de madeira. - Notícia maravilhosa, primo! - Bateu os cílios piscando, seu tom de alegria era de puro fingimento.

Eu conhecia uma cínica de longe.

— Prazer em conhecê-la, Evangeline. - Dei uma de falsa também e estendi a mão.

— Me chama de Eva, meu bem. Eva. Assim como a Eva da Bíblia, eu já pequei quando comi uma certa fruta proibida. Me identifico com ela. O Beck sabe muito bem disso! - Apertou a minha mão, os olhos verdes brilhando de malícia. Vi que não eram lentes.

Olhei para o Oliver que acabou se entregando... Ele estava tenso. Algo já tinha rolado entre eles. Ele devia ser a fruta "proibida" que ela havia citado... 

Eva coisa nenhuma. Ela estava mais para serpente. E eu não tinha medo de cobras. Ela que não se atreveria a mexer comigo...

Eu ia fazer ela provar do próprio veneno.