Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 5
Srta. Decepção


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Papai e Jackson tinham ido embora com o carro. Olhei para a casa e vi as portas trancadas e as janelas fechadas. Não havia como entrar na casa de novo, então minha única opção foi caminhar até o inferno.

Cheguei em frente às primeiras árvores e senti o vento bem mais frio que inicialmente, atravessando meu moletom. Me encolhi. Hesitei e pensei no que estava fazendo, e senti que aquela coragem toda que tinha havia desaparecido por alguns segundos. Mas me lembrei que não tinha como simplesmente largar tudo e sair correndo. Se estava viva, devia ter um motivo, então respirei fundo e segui em frente. Fiz aquilo partes em coragem, partes em covardia, pois convenhamos, aquilo era praticamente um suicídio. 

Eu andei por alguns minutos sem pensar em nada, mas de repente, senti um frio em minha barriga e pensei em que faria caso encontrasse Jeff. Parei de andar. O que faria?

Nesse instante, a realidade pareceu desabar sobre minha cabeça, trazendo medo e desespero. Que diabos eu estava fazendo? Por que eu estava ali? Eu queria meu pai, meu irmão... queria minha mãe. Algo martelou em minha cabeça, algo que minha própria mãe tinha me ensinado quando estava viva: Não havia “outro lado” aqui na Terra. Os espíritos dos mortos não ficavam vagando por aí. Isso era um fato para mim. 

Mas então, me lembrei que existia alguém que podia manipular tanto as mentes daquela maneira, Slenderman. Será que ele havia feito tudo aquilo? Minha mente começou a se clarear. Minha mãe e Aurora não passaram para dizer um “adeus”, aquilo apenas não passou de uma mentira. Eu tinha certeza quase absoluta de que fora ele quem havia feito aquilo, pois fazia sentido, em todos os aspectos. 

Nesse momento, começou uma guerra de pensamentos em minha cabeça e eu não sabia o que fazer, ou o que pensar. Caí de joelhos e imaginei as possibilidades de sair viva dali se aquilo estivesse certo... nenhuma. Então imaginei se meu pai e meu irmão também já tinham se tocado em algo, até que isso enraizou um pensamento ainda mais importante: Se Slenderman manipulou meu pai e Jackson, então ele sabia que ambos estavam vivos. Então por que os deixara ir? Por que não os matou? Tudo me pareceu ser um plano.

 

 Minha cabeça estava tempestuosa até que ouvi alguma coisa. A música “Paradise” do Coldplay. Pensava estar enlouquecendo e estremeci de medo, até que percebi que vinha de minha bolsa. Meu celular estava tocando. Me levantei e peguei rápido meu celular, sem nem lembrar de que tinha o colocado na mochila. Quando olhei para a tela, não havia números. “Desconhecido”, era o que estava escrito. Atendi e coloquei em meu ouvido, com as mãos trêmulas.

—Alô?- falei depois de alguns segundos.

Ouvi uma respiração.

—Estou te vendo.- falou.

Não era a voz de Jeff, era pior. Era rouca e baixa, e se tinha a intenção de assustar, o fez por dez vezes. Mas quem estava me vendo? Eu deveria me mexer? Comecei a tremer e derrubei o celular no chão. Olhei para os lados, para trás, para cima, não vi ninguém. Eu não tinha tempo a perder e comecei a correr como na primeira vez, mas naquela hora, sabia para onde ir, o chalé. Corri desviando de pedras e me cortando em galhos de árvores. Estava me movimentando tanto que meus coturnos se desamarram, me fazendo cair terrivelmente no chão. Foi um milagre nenhum de meus ossos terem se quebrado, aquela queda foi muito forte. Em compensação, meu rosto se arranhou na grama baixa e gelada e minhas mãos ficaram raladas ao ponto de sangrarem.

—Ah, droga...- resmunguei me sentando.

 

Nada tinha acontecido com meu corpo em geral, mas minhas pernas doíam muito e estava bem difícil de levantar. Sentada, olhei para os lados e não vi nada além de árvores e pedras, até que meus olhos focaram-se em um ponto que me chamou atenção, bem longe. Parecia ser uma árvore bem fina se não fosse a cabeça branca. Slenderman estava me olhando de novo e o que aconteceu com meu psicológico naquele momento, foi indescritível. Não senti medo, foi algo mais como uma... depressão, uma grande vontade de encontrar uma forma de me matar. Comecei a chorar de tristeza. Eu queria morrer, não aguentava mais aquilo e não queria imaginar o que iria fazer comigo. Temia começar a ouvir o terrível zumbido de novo, mas aquilo não devia acontecer. Nada acontece da mesma maneira duas vezes. Mas comecei a ver clarões de novo, como na vez passada, como se o sol se ligasse e desligasse, e todas as vezes que a luz voltava ele estava mais perto. Mesmo que eu tentasse, não conseguiria correr em um estado de loucura daquelas, era meu fim. Mas enquanto ele se aproximava, houve uma hora em que tudo se apagou e senti uma grande pontada na cabeça, como se alguém tivesse acabado de dar uma surra com um bastão de beisebol nela. Gritei. Quando tudo se acendeu novamente, vi em um raio de segundos Slenderman cair bruscamente para o lado, sendo atacado por alguém e os clarões se apagaram. Slenderman tentava se teleportar de um lugar para o outro, mas seja lá o que o estivesse atacando, era tão rápido que meus olhos não conseguiam seguir seus movimentos. Slender ficava em posição de ataque o tempo todo, de uma forma bem assustadora, se encurvava, abria os braços tentando agarrar a criatura e fazia o mesmos com seus tentáculos, parecia uma aranha, mas a figura sempre se desviava. De repente, a criatura o atacou sem dó, muito rápido, em alguma parte do tronco, e Slenderman se encolheu e se desfez, se transformando em corvos, que voaram para longe.

 

 Minhas pernas e minha cabeça ainda doíam, mas meu espanto foi tão maior que qualquer dor que não perdi tempo, me levantei gemendo e tentei me esconder em algum lugar. Se aquilo havia acabado com Slender, não queria imaginar o que poderia fazer comigo. Ouvi barulhos de folhas sendo pisadas atrás de mim e sabia que a criatura estava se aproximando. Eu não conseguia correr muito rápido, então imaginei que aquele seria meu fim, até que minhas pernas automaticamente pararam de se mexer e cambaleei, novamente caindo no chão. Não queria olhar para trás, mas sabia que já estava bem próximo. Quando o som ficou mais alto, fui virada bruscamente para frente e me virei caindo no chão, vendo a imagem do mesmo garoto que tinha visto na noite anterior. Ele estava com as mesmas roupas, sujas e rasgadas. Parecia magro e a camiseta ficava folgada em seu corpo, assim como os jeans. Apoiava o machado no ombro, segurando-o com uma das mãos. Sua expressão era fria. Ele poderia me matar naquele momento, a sangue frio, mas não fez isso.

—Olá, gatinha medrosa.- ele brincou, mesmo parecendo sério.

Não respondi. Sua voz era tão sinistra quanto a de Jeff, mas um pouco mais normal e baixa. Meus membros se contraíram e comecei a respirar pela boca, tentando pegar o ar que não conseguia pegar com o nariz. Ele havia matado minha mãe, Aurora e tinha acabado de acabar com uma criatura como Slenderman. Eu estava perto de alguém ruim como Jeff. Eu senti vontade de machucá-lo, mas é claro que não conseguiria. Ele continuava olhando para mim e mais uma vez seus olhos pareciam abismos, vazios e assustadores. Eu não sabia o que dizer. Ele se agachou ao meu lado.

—Nos encontramos novamente.- disse calmo.- Ainda bem que não te matei, mas saiba que Jeff não irá gostar de te ver assim.

Eu estava tremendo.

—A-assim c-como?- minha voz mal saiu.

—Você não pode se apresentar a ele fraca dessa maneira.

Me apresentar? O que ele quis dizer?

—O-O que?- perguntei.

—Sabe o que são proxies?- ele perguntou, abaixando o tom da voz.

Assenti. Proxies eram servos de Slenderman.

—Jeff prefere trabalhar individualmente, mas acho que mesmo um monstro daqueles não consegue viver sozinho. Ele precisa de companhia, mas não com um nome ridículo como proxy. Acho que o que ele quer não tem nome... ou melhor dizendo, talvez deseja aprendizes assassinos.- ele falou.

Eu estava com tanto medo do garoto que mal prestava atenção em suas palavras. Eu apertava a grama com força, tentando não gritar. Queria sair daquela posição, e me afastar um pouco dele, mas eu tinha medo até de respirar naquele momento, então apenas fiquei deitada, ouvindo-o e esperando morrer logo.

—V-você é um?- perguntei rápido.

Ele levantou uma sobrancelha.

—Um aprendiz?- perguntou de volta.

Assenti novamente.

—Não é óbvio?- ele perguntou.

Reuni toda coragem que ainda me restava da ilusão de Slenderman.

—Por isso matou minha mãe?- perguntei, com tristeza, medo e raiva.

Ele não mudou de expressão. Continuou olhando vazio para mim, e não pude saber o que estava sentindo.

—Sim.- respondeu friamente, como se aquilo fosse normal.

Eu queria, mas não consegui chorar ao lembrar de minha mãe, a presença do menino me deixava assustada.

—Você também fará isso com muitas famílias.- ele disse.

Minha expressão respondeu por mim. Senti desejo de protestar, mas não o fiz.

—Sente-se.- ele disse.

Não queria, mas precisei obedecê-lo. Sentei-me em sua frente de pernas cruzadas, tensa.

—Jeff irá torná-la uma nova aprendiz, e você terá que cooperar com isso se não preferir a morte como destino. Mas Jeff não quer mais nada além de uma menina e um menino, para ele, esses dois bastam. Ele é um garoto louco, que sabe que é louco, aceita sua loucura e se diverte com ela, e faz questão de provar tudo isso caso você falhe com ele, e por isso te digo, não seja fraca.

Demorei um pouco para responder. Estava falando com o assassino de minha mãe frente a frente. Ele me dizia que meu destino era me tornar como ele, caso o contrário, eu morreria. Eu não tinha mais ninguém para tomar conta de mim, e como ele havia dito, eu era só uma gatinha medrosa, não podia fazer nada.

—E Slenderman?- perguntei baixo, olhando para os lados.

—Slenderman te queria como proxy, mas acho que Jeff foi mais rápido... ou melhor, eu fui mais rápido.- ele se corrigiu.- Jeff e ele estavam em uma disputa sangrenta para ver quem te alcançaria primeiro. Você pode não saber, mas Slenderman sente quando alguém tem sangue de assassino de verdade. Se ele foi atrás de você, é porque você tem. Ah, e aliás, eu sei que você viu o fantasma de sua mãe e de sua amiga. Tudo aquilo não passou de uma mera ilusão, uma ótima armadilha para te trazer para cá.- novamente, disse tudo como se fosse normal.

Me entristeci ao lembrar daquilo.

—Eu sei.- disse triste, confirmando todos os meus pensamentos anteriores e depois me toquei no que ele havia dito.- Mas não, não...- respondi baixo- Eu não sou uma assassina. Definitivamente não.

Ele me olhou atentamente.

—Não seu para Jeff ou para Slenderman, mas para mim, você é uma decepção.- disse sem dó.

Eu me importei muito com aquele comentário. Se aquele garoto achava aquilo de mim, o que Jeff acharia? Abaixei minha cabeça.

—Vamos.- ele disse.- Você tem muito o que aprender.

Olhei para ele, que se levantou e estendeu a mão para mim. Aceitei e ele me puxou. Ajeitei minha mochila nas costas e não olhei para ele. Era difícil encarar aqueles olhos de assassino, aqueles olhos monstruosos que não viam piedade nas almas que feria. Algumas pessoas não merecem a vida que têm. Aquele garoto não tinha expressão. Nada parecia alegrá-lo, deixá-lo surpreso ou triste. Ele olhou para mim e apoiou o machado novamente no ombro.

—Tenho certeza de que conhece o lugar que estamos indo.- ele disse sem me olhar.

—Conheço?- perguntei.

—Sim.- ele respondeu.

Estaria ele falando do chalé?

—Acho... que já estive lá.- falei.

—Espero que não tenha tocado em nada. Quando chegarmos, vou te explicar muitas coisas e espero que evolua imediatamente, antes que Jeff nos encontre. Se quer saber, acho que ele nem imagina que você já está aqui.

Meu coração disparou.

—O que ele fará?- perguntei.

Ele hesitou ao responder.

—Não faço ideia.- disse finalmente.

Eu seria treinada por um psicopata para saber lidar com outro psicopata. É... aquilo ficava cada vez pior, e eu havia me metido em tudo aquilo. Queria que papai soubesse no que essa viagem se tornaria antes te termos ido para aquela casa. Queria que soubesse...

—Bom, você vai aprender a se virar rápido, é esperta e curiosa e isso compensa a sua fragilidade.- ele disse ainda sério.

—Você teve escolha?- perguntei à ele.

Sua expressão continuou a mesma, vazia e indecifrável. Foi uma pergunta forte. Eu não sabia por tudo que aquele menino tinha passado e sabia que não nos tornaríamos amigos. Sabia que ele tentaria me matar sempre que possível e agora, também sabia que tudo o que eu sentia eram falsas esperanças. Tudo não passava de uma mera ilusão, como ele tinha dito. Ele respirou fundo.

—Se acha que vai conseguir o que queria, está enganada. Sem perguntas agora. Vamos andando, está ficando tarde.

O que eu queria? Ele estava falando em matar Jeff? Provavelmente era disso que falava, mas tanto ele quanto eu tinha um pensamento lúcido: aquilo era impossível. Ele começou a andar, e de repente parou de novo e nessa hora, encarei seus olhos negros.

—Ah, e a propósito.- ele disse virando-se para mim.- Eu sou Thomas.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar até aqui.
Nos vemos no próximo capítulo ♥



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