Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 6
Psicologia psicopata


Notas iniciais do capítulo

Se quiserem comentar algo para melhorar a fic, façam isso. A opinião de vocês é muito importante.
Boa leitura!



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Ficamos em silêncio no caminho. Normalmente isso me incomodaria, se não fossem os milhões de pensamentos que se passavam em minha cabeça ao mesmo tempo. Eu olhava para o chão pensando em tudo e em nada. Algumas vezes olhava para Thomas e me perguntava em que fim daria tudo aquilo. Senti minhas mãos suarem e as esfreguei no moletom para secá-las. Thomas parecia não sentir nada e eu parecia sentir tudo.

—É... S-Sei que deveria ficar quieta, m-mas... o que vai acontece com minha vida depois... depois de tudo isso?- perguntei andando, ainda olhando para o chão.

Ele parou e me olhou. Agora, seus olhos pareciam ter um pouco de impaciência. Olhando bem, podia dizer que seu rosto tinha traços bonitos, mas sua loucura o tornara mais... indescritível.

—Você quer saber demais. A curiosidade pode ser uma bênção, ou uma maldição. Não acha melhor esperar o destino agir e saber o que vai acontecer?- respondeu com a voz baixa.

Ficamos olhando um tempo um para o outro até que finalmente respondi.

—Mas... eu não quero matar. Eu não faria uma coisa dessas... só de pensar que me rebaixarei a esse ponto... sinto vontade de matar a mim mesma.- falei desviando o olhar para o chão novamente.

Ele se aproximou me olhando e continuei com os olhos focados na grama. Não queria olhar para ele, seu rosto me intimidava.

—Ou você é o caçador, ou é a caça.- ele disse.

Senti que ele queria uma resposta, mas eu não sabia o que dizer. Queria apenas proteger minha família, não queria machucar ninguém.

 Não respondi. Ele se virou e continuou andando e eu o segui.

 

 Ficamos quietos até finalmente chegarmos ao chalé. Quando o vi melhor, percebi que seu exterior era feito de madeira marrom e gasta. Não era muito grande e as árvores não chegavam muito perto dele. Não possuía decoração alguma, e parecia poder desmoronar a qualquer momento. Seu telhado tinha telhas velhas em um tom cinza escuro. Thomas chegou perto da porta e a abriu, mas não entrou. Esticou a mão para dentro, convidando-me para entrar primeiro. Eu entrei e em seguida ele fez o mesmo, fechando a porta. Olhei por tudo e vi as mesmas coisas que na primeira vez. Nada havia sido mudado de lugar ou revirado, como se aquela fosse a primeira vez em dias que ele estivesse ali. Olhei o quarto e nem ao menos sua cama estava bagunçada. Fui para perto dele, não querendo andar muito por lá enquanto estivesse em sua presença. Ele olhou para mim.

—Essa casa serve apenas para uma pessoa.- ele disse.

Certo... então, ele deixou claro que eu precisaria encontrar meu lugar no meio daquela floresta horrível. Não o respondi, apenas olhei para os desenhos de Slenderman e Jeff sobre a lareira. Não eram desenhos comuns de criança, pareciam extremamente reais, mesmo que dessem impressão de esboços.

—Você que fez?- perguntei ainda um pouco nervosa.

Ele olhou para os desenhos e os examinou por alguns segundos, como se uma rápida história deles houvesse passado por sua cabeça.

—Sim.- respondeu.

Li algumas histórias sobre pessoas que desenhavam Slenderman ao serem perturbadas por ele. Parecia uma forma de escape, defesa ou um meio de mostrar como era aquela criatura. Eu não sabia se era esse o caso de Thomas, mas ele parecia não estar empolgado para falar sobre isso, pois saiu dali e foi até seu quarto.

—Venha aqui.- ele disse de lá.

Fui até o quarto e minhas lembranças não foram muito agradáveis. Tirei minha mochila das costas e coloquei-a no chão, ao lado da cama. Ele abriu seu guarda-roupa e eu esperava ver roupas lá, mas vi bem mais que isso. Nele estavam guardadas armas, desenhos e fotos de pessoas que não consegui identificar, grudadas nas portas. Vi em uma delas uma lista cheia de nomes, nos quais alguns estavam riscados e me assustei. Haviam variadas armas: facas, terçados, bisturis, facões... Thomas esticou a mão e pegou da parte inferior do armário uma lâmina muito grande... uma faca estilo cutelo enorme, prata e bem amolada. Ele a pegou com tanta calma, que não temi que fosse me atacar. Pegou a arma com uma das mãos e a esticou para mim, e nessa hora, recuei. Ele levantou uma sobrancelha e soltou um longo suspiro.

—Pega logo. Sua hesitação me irrita.- disse ele.

Naquele momento, percebi a irritação em seu rosto. Fixei os olhos no cutelo, e pensei em tudo que faria com aquilo. Não queria machucar ninguém com aquela lâmina, porém, não podia me mostrar fraca. Eu era a caça ou o caçador? Olhei para Thomas, que ainda estava com a mão esticada.

—Eu realmente não tenho opção?- perguntei.

—Se quiser viver, não.- ele respondeu, direto.

Olhei por mais alguns segundos para o cutelo e o peguei. Não era muito pesado e era bem fácil de mover. Eu esperava usar aquilo somente em Jeff. Thomas fechou a porta do guarda-roupa.

—Agora...- disse ele sentando-se na beirada da cama.- Vamos esclarecer algumas coisas.

Ele estava sério. Fiquei um pouco confusa, mas continuei ouvindo.

—Primeiro, não seremos amigos.- ele disse.- Para mim, você é somente uma conhecida. Segundo, você terá que procurar seu lugar, mesmo que seja em meio à floresta. Essa casa é minha. Como aprendizes, devemos seguir Jeff para onde vai, então ficamos somente um pequeno período aqui nesse lugar e depois vamos para a cidade matar. Ele passa um tempo em uma mansão sombria com mais alguns assassinos e depois sai de lá, mas no tempo em que estiver aqui, precisamos de um lugar para ficar. Esse é o meu, então arrume o seu.

Eu não me surpreendi com nada daquilo. Meu problema era onde passaria as malditas noites. Ele continuou.

—Para Jeff não ter má impressão, vou te ajudar um pouco para que ele não se aborreça com você. Mas saiba que estou fazendo isso por mim, já me cansei de procurar outra pessoa para ser aprendiz daquele psicopata.- disse frio.- Você tem alguma pergunta?

Eu tinha muitas perguntas. Queria que tudo aquilo fosse somente um sonho ruim. Como aquele garoto conseguia viver daquela maneira? Matar pessoas? Como é viver sabendo que você assassinou tantas almas que gostavam do que faziam ou da forma que viviam? Qual era a diversão ou objetivo daquilo tudo? Eu queria falar tanto, mas a única pergunta que saiu da minha boca, pareceu calar todas as outras em minha mente.

—Você... poderia acabar com tudo isso agora?- perguntei olhando para os pés.

Definitivamente, eu era a caça. Ele pareceu relaxar mais a expressão, e me fazia parecer uma criança com medo do escuro.

—Você é fraca, Wendy.- disse.

Foi a primeira vez que dissera meu nome e foi a primeira vez que me senti tão baixa. Ele fez meu nome soar como se eu não estivesse pronta para o mundo, como se eu realmente fosse uma criança. Eu o olhei triste. Eu queria que ele me matasse, queria que tudo aquilo acabasse.

—Se não vai fazer isso...- eu disse trêmula- eu vou.

Ele me olhou como se aquelas palavras não tivessem importância para ele, e eu sabia que não tinham. Segurei o cutelo e o coloquei sobre o meu pulso levemente e fiquei o olhando por um tempo. Apertei um pouco mais e senti um corte leve, aquela lâmina estava bem afiada. Thomas não disse sequer uma palavra e me perguntei o que havia dentro dele. Era um menino tão vazio, sem sentimentos. Mordi os lábios e minhas mãos começaram a tremer. Queria apertar mais o cutelo no pulso, mas não consegui. Pensei em Jackson, papai e em tudo. Tudo. Aquilo realmente valia a pena? Talvez eu morresse de qualquer jeito uma hora ou outra mesmo. Joguei com força o cutelo no chão e caí de joelhos, chorando. Eu estava muito confusa sobre tudo. Senti Thomas se aproximando. Ele se agachou em minha frente e olhou para mim, ainda parecendo não se importar muito com aquilo. Olhei para ele, chorando.

—Você não conseguiria fazer isso.- ele disse.

Eu sei, mas bem que queria fazer. Queria aquilo mais do que tudo. Ele suspirou e continou falando.

—Olha... eu sei que está conturbada agora, mas irá se acostumar, como eu me acostumei. Acha que eu quis fazer tudo isso? Acha que quis matar sua mãe?- olhei para ele, confusa.- Se eu tivesse escolhas, escolheria ter minha família aqui e agora, só para me dar um abraço. Mas nada é como queremos. É assim desde o começo e sempre será. Nós já nascemos mortos, e a vida não passa de uma bela mentira. Mas faça essa mentira ter algum sentido para você e a transforme em realidade. Nós fazemos nossa realidade, e mesmo que a sua seja uma roseira com espinhos, aprecie as rosas e veja o lado bom da vida. Apesar de tudo que aconteceu, você, seu pai e seu irmão estão bem. Se você está viva, deve haver uma razão e não desperdice isso.- ele disse, parecendo mais relaxado, mas ainda assim, sério.

Todas aquelas palavras me atingiram, fazendo-me parecer que Thomas, mesmo parecendo insensível e frio, sentia falta de alguém, assim como eu. Talvez ele não quisesse mesmo matar minha mãe, e pensei sobre aquilo. E o fato de mencionar sua família me fez pensar no que ele provavelmente havia passado antes de tudo aquilo. Mas... suas últimas palavras me deixaram intrigadas.

—C-Como sabe que meu pai e irmão estão vivos?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, mas respondeu.

—Algumas vezes, sigo meus próprios métodos.- ele disse.

Me deu impressão de que não os matou porque não quis, simplesmente. Provou-me um espírito de independência, apesar de ser praticamente uma marionete de Jeff. E ele me parecia bem consolador para alguém que não queria amizades, mas fiquei quieta. Absorvi todas as suas palavras e me senti melhor, porém não consegui sorrir.

—Obrigada.- eu disse fraca.

—Não vou mentir.- ele disse baixo.- Tento matar Jeff sempre que posso. Mas isso é impossível. Talvez possamos brincar de ser suicidas algumas vezes, porém se formos pegos fazendo isso, nossas cabeças irão rolar. Não sou um servo totalmente fiel e vejo que você também não será.

Isso me deu um pouco de esperança.

—Você também quer matá-lo?- sussurrei com medo.

Mais uma vez, não percebi nenhuma expressão, mas não precisei disso para identificar o primeiro sentimento que percebi em Thomas ao dar sua resposta.

—Ninguém merece nada disso.- falou.- Mas isso não será mudado da noite para o dia, então continuo essa vida miserável até algo de bom acontecer.

Ele se levantou e esticou a mão para mim. Aceitei a ajuda e me levantei.

—Tem muito que aprender.- ele disse virando-se e saindo do quarto.- Siga-me.

—Para onde vamos?- perguntei.

Ele pegou o machado e o apoiou no ombro. Parou de andar mas não se virou para me responder.

—Vamos treinar seu estômago um pouco.- respondeu- Pegue sua arma e vamos para fora.

Continuou a andar. Thomas tinha desejos, mesmo sendo como era. Eu estava passando mal, e estava em meio a roseira espinhenta de minha mente, mas tentaria, de uma forma ou de outra, apreciar as rosas cor de sangue.


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Notas finais do capítulo

Valeu por chegar até aqui.
Nos vemos no próximo capítulo ^^



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