Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 4
Mais um louco


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é estranho, mas ficou insano como o Jeff.
Ficou sem sentido... como ele também.
Boa leitura!



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Minha cabeça já estava doendo. Olhei para a cabeça de Aurora, um pouco longe do corpo. O rosto estava destruído, cheio de sangue. Um dos globos oculares estava quase saltando para fora do rosto, enquanto o outro estava furado. Sua boca estava totalmente rasgada. Acho que vomitei até o café da manhã do dia anterior. Esvaziei meu estômago. Eu não conseguia me mexer, só chorar. Até que me dei conta de que meus pais não apareciam. Não. NÃO! Pensei. 

Saí correndo e fui até o quarto de meus pais, que não estavam lá.

—Mamãe! Papai!- gritei e saí correndo pela casa, à procura dos dois.

Olhei para a escada e subi. Entrei correndo no quarto de meu irmão.

—Jackson!- gritei e ele se virou de lado.

Lembrei-me que dormia como uma pedra. Já que o quarto era longe da cozinha, e ainda no primeiro andar, com um sono daqueles, provavelmente não escutou nada mesmo.

—Jackson! Acorde!- corri para a cama e o chacoalhei.

Ele acordou assustado, sentando-se na cama. Quando olhou para mim, esfregou e estreitou os olhos, parecendo querer enxergar direito e enfim, gritou.

—Wendy! O que aconteceu?! Por que tem sangue em você?!- arregalou os olhos.

Ele provavelmente devia estar pensando que ainda estava dormindo, preso em um pesadelo. Ainda parecia um pouco sonolento. Eu não soube o que responder. Fiquei apenas olhando assustada para ele, tentando raciocinar como contaria tudo aquilo.

—O QUE ACONTECEU?- Ele gritou impaciente e finalmente pareceu acordar.

—Jeff! JEFF! Ele matou Aurora e tentou me matar!- berrei.

—O que?!- ele gritou pulando da cama.

Desceu correndo as escadas e fui atrás.

—Na cozinha!- eu disse.

Ele foi até lá e viu a namorada morta, mutilada. Como eu, ficou paralisado com os olhos arregalados olhando a cena. Sua respiraçã acelerou, e ele colocou uma das mãos no peito, e então, desmaiou.

—DROGA!- gritei.

 

 Comecei a procurar meus pais. Não estavam na sala, no quarto de Aurora, em nenhum dos dois banheiros. Não fazia ideia de onde estavam. De repente, ouvi um barulho vindo de fora. Me assustei com aquilo, então corri para o banheiro e me tranquei lá dentro, me encolhendo e rezando. Foi aí que ouvi a voz de meus pais, se perguntando como a porta da entrada estava aberta. Saí do banheiro e fui à direção deles.

—Mãe! Pai!- gritei.

Antes que pudessem dizer alguma coisa, me atirei aos braços de minha mãe e lá fiquei chorando alto.

—O que aconteceu, Wendy?!- gritou meu pai.

—Por que você está cheia de sangue?!- perguntou minha mãe, empurrando-me para me olhar, horrorizada.

—F-Foi ele, m-mãe! Foi Jeff! Jeff que fez isso!

—Mãe! Pai!- gritou Jackson, que havia acordado.

Meus pais correram para a cozinha e segui eles. Chegando lá, vi o desespero dele.

—Aurora!- ele gritava olhando para o chão, não sei exatamente para que... parte.

Até os lábios de meu pai estavam brancos, olhando tudo horrorizado e com os olhos arregalados, enquanto minha mãe tremia horrivelmente, com as mãos na cabeça e respirando apressadamente. Jackson chorava tanto gritando o nome de Aurora e se perguntando o porquê daquilo, que era óbvio que a amava de verdade. Não estava interessado em nada, e recordei-me que aquele fora o único namoro que durou mais de 1 mês, bem mais. Jeff estragou tudo.

—O que está acontecendo?- gritou minha mãe, chorando.

—Eu já disse!- falei- Jeff entrou nessa maldita casa e...

—Jeff?!- gritou Jackson olhando para mim- Até quando vai continuar com isso, sua doente?!

—Por que vocês não acreditam em mim?! Eu o vi!

Meus pais olhavam para mim apavorados e confusos. Jackson se aproximou de mim e descontou toda a sua raiva, desespero e tudo mais que estava sentido com um tapa na minha cara, bem em cima do corte que Jeff fez. Comecei a chorar.

—Jackson!- minha mãe gritou.

—Foi você quem fez isso, não foi?!- Jackson perguntou.

—Não...- falei baixo, e depois gritei- NÃO!

Algo abriu bruscamente a porta de entrada e entrou correndo para dentro da casa. Quando nos viramos, vi um garoto que não era Jeff, mas se parecia com ele. Tinha mais ou menos a minha idade e usava um jeans rasgado e uma camiseta verde escura com listras pretas horizontais. Seus cabelos eram negros e lisos. Era um garoto normal, sem tirar o fato de que estava segurando um machado coberto de sangue, assim como ele. 

E não tivemos tempo de reagir de maneira alguma, pois o garoto simplesmente correu para perto de minha mãe e bateu com tudo o machado nas costas dela, e ela gritou de dor e caiu com o rosto no chão. 

—NÃO!- berrou meu pai.

Meu pai correu para atacar o menino, mas este arrancou o machado das costas de minha mãe e se virou para o meu pai.

—É isso que vai te acontecer se mover mais um músculo.- ele disse e apontou para minha mãe.

Meu pai ergueu as mãos como se estivesse se rendendo. Era muita coisa para a minha cabeça processar. Já não era apenas Aurora, minha mãe também estava morrendo, e na minha frente! Maldição! Eu chorava e sentia que logo, logo, morreria de tristeza e desespero. Jackson estava aos berros, encolhido em um canto do chão. Meu pai estava tonto e achei que ele desmaiaria. Minha mãe gemia de dor no chão, morrendo, e eu nem aguentava olhar para ela. O garoto olhou para mim, ainda com o machado apontado para meu pai. Comecei a recuar.

—É melhor não sair daqui, garota.- ele disse.

Se virou novamente para minha mãe e começou a bater mais o machado em seu corpo, deformando-o, enquanto ela gritava de dor.

—Não...- eu disse fraca, com a voz rouca.

O menino olhou para mim e, irônico, levantou uma sobrancelha, psicótico. 

—Não?- ele riu.

E bateu o machado em seu pescoço, separando a cabeça do resto do corpo. Gritei. Minha mãe estava morta. Caí de joelhos no chão e coloquei as mãos no peito, aquela dor era insuportável. Não queria mais viver. Não queria mais aquilo. 

Meu pai estava com muito medo para fazer alguma coisa e Jackson estava em uma crise de pânico, encolhido, se balançando para trás e para frente e chorando. De algum lugar, o menino sacou uma arma e atirou uma única vez em meu pai e em meu irmão.

—Vão morrer rápido.- ele disse olhando para eles e se aproximou lentamente de mim.

—Me mate também...- eu disse olhando para ele, fazendo esforço para minha voz sair.

Ele se abaixou do meu lado e me olhou calmo, como se aquilo tudo fosse normal.

—Que decepção.- ele falou.

 Seus olhos pareciam abismos, profundos, medonhos e azuis escuros. Ele esticou a mão. Senti todas as emoções negativas do mundo vindo em direção a mim. Ele passou uma das mãos ensanguentadas em meu rosto e, mais uma vez, apaguei.

 

 Quando acordei, já era de manhã. Olhei em volta e vi que era tudo real. Um cheiro insuportável pairava no ar. As moscas estavam em volta dos pedaços de Aurora e a cozinha estava coberta de sangue assim como eu. Minha mãe ainda estava morta, mas... meu pai e Jackson não estavam! Eu os vi com ataduras nos locais onde os tiros foram dados e ambos estavam acariciando o rosto gélido de mamãe, a cabeça separada do  corpo. Me viram acordada.

—Wendy!- gritou Jackson.

Fui em direção à ele, e o abracei, assim como fiz com meu pai. Eles estavam muito fracos para se mexerem direito.

—Parece que a bala não foi tão forte comparado a vocês.- eu disse.

Meu pai tentou sorrir, mas vi que não conseguiu. 

—Atingiu a mim e seu irmão, mas não os pontos vitais para matar. O garoto era péssimo em pontaria.- meu pai falou.

Assim que ele disse isso, senti as lágrimas e o abracei. Jackson chegou perto de nós e nos abraçou e começou a chorar também. E quando olhei para meu pai, ele também chorava. Então nós três ficamos ali, chorando a ponto de soluçar e compartilhando as dores através das lágrimas. 

Olhei para a cabeça de minha mãe jogada no chão. Como eu queria que ela estivesse ali para me abraçar e dizer que iríamos embora logo. Eu queria beijar seu rosto, como um adeus, mas não conseguia me aproximar daquela cabeça decapitada. Então, senti uma crise de depressão intensa se alastrando pelo meu corpo. Para ser sincera, eu desejava a morte mais que qualquer coisa naquele momento, não só para mim, mas também ao meu pai e meu irmão. Nossa vida nunca mais seria a mesma depois de tudo aquilo. Mas... senti algo atrás de mim. Não queria me virar. Não queria ver o que era, mas ouvi chamar meu nome. Precisei olhar. Quando me virei, vi minha mãe juntamente com Aurora, de pé em nossa frente. Elas estavam bem e pareciam... vivas. Com certeza era uma alucinação. Estava louca definitivamente, mas me alegrei ao vê-las, assim como Jackson e papai, que percebi que também estavam as vendo.

—Mãe... Aurora...- falei olhando respectivamente para as duas.

Jackson e papai pareciam maravilhados e assustados. Nós olhamos uns para os outros, apenas pra termos certeza de que todos estavam vendo a mesma coisa. Jackson pareceu ter uma vontade enorme de abraça-las, em especial Aurora.

Elas não se pareciam com elas mesmas. Usavam a mesma roupa que estavam usando em sua morte, mas estas estavam limpas. Minha mãe e Aurora estavam bem. Pareciam estar desvanecendo, como se... fossem fantasmas. Não senti medo nenhum, muito pelo contrário na verdade. Imediatamente, como em um passe de mágica, minhas tristezas foram embora. Elas sorriram para nós, carinhosa e angelicalmente, e fiz o mesmo.

—Aqui, do outro lado, podemos mudar seus sentimentos e suas emoções.- disse Aurora e percebemos que era verdade.

—Eu não queria deixá-los. Eu nunca quis deixar vocês. São minha vida.- disse minha mãe.

—Eu sei, mamãe... mas, o que eu devemos fazer agora?- eu perguntei.

Elas se olharam.

—Acho que cada um de vocês, em seu interior, sentem o que devem fazer.- disse Aurora.

Refleti sobre aquilo. Em meu interior só havia ódio quando pensava em tudo o que havia acontecido. Pensei que... só havia uma coisa a ser feita. Parecia que, de alguma forma, elas estavam nos dando coragem. Curioso.

—Sim.- respondi assentindo para elas- Sabemos.

Vingança. Jeff havia feito aquilo com minha família. Eu sabia o que fazer.

—Eles querem Wendy.- disse mamãe.- Por algum motivo.

—Wendy...?- perguntou papai, tristemente e olhou para mim.

—Sim.- disse Aurora.- É a única que pode salvar vocês dois e ela mesma.

—Não podemos querida, é nossa filha. Não pode fazer nada...- disse papai olhando para mamãe, triste.

Senti uma leve pontada de dor voltando novamente. Mas mesmo assim, sabia que eu vingaria minha mãe e Aurora. Concordei com a cabeça para as duas.

—Pai, elas não morreram em vão e vamos provar isso. Eu sinto que vou conseguir, você precisa confiar em mim.- falei olhando para ele e este olhou para minha mãe.

—Eu nunca te deixaria sozinha, filha. Eu e seu irmão vamos com você.- papai disse.

—Não!- minha mãe quase gritou, mas pareceu se acalmar.- Não, querido. Se você for, tudo estará acabado. Wendy precisa fazer isso sozinha. Estarei cuidado dela.

 Meu pai pareceu aflito e olhou para o chão, parecendo pensar. Depois de um tempo, minha mãe disse:

—Você vai me prometer isso, querido.- ela disse com doçura.

Ele chorou. Mas no final das contas, concordou.

—Sim... eu prometo.

Olhei para as duas.

—Mas... sentirei saudades.- falei.- Não quero que vão. 

Jackson soluçou, estava chorando e olhou para Aurora.

—Eu também... muitas saudades.- falou secando as lágrimas do rosto.

—Jackson...-disse Aurora- Sempre estaremos com vocês.

—Vocês poderão nos sentir. Até mesmo em seus sonhos.- completou mamãe.

—Mas sonhos não são vida real...- eu disse triste.

—É você quem diz o que é o que.- sorriu mamãe.- Adeus, meus amores. Vocês serão nossas salvações. Nos façam dormir em paz.

Elas começaram a sumir lentamente. 

—Não... não!- gritou papai.

Ele tentou se aproximar para tocá-las, mas elas sumiram e ele passou a mão no ar. Chorou ainda mais, e eu e Jackson também. 

Depois de um tempo, parei para notar que falamos com os espíritos de conhecidos como se fosse a coisa mais normal do mundo... foi insano. Mas, de alguma forma, parecia mesmo normal. É estranho, mas eu não estava mais deprimida, não como antes pelo menos, mesmo que tenha chorado. Acho que poderes “do além” faziam mesmo o que Aurora disse. Eu tinha uma missão a completar, e era isso que faria. De repente, eu estava com mais força. Minha mãe e Aurora trouxeram minha força de volta, me deram coragem em dobro, de forma mágica, e tenho certeza que meu pai e Jackson sentiam a mesma coisa.

 

 Pegamos os corpos e todos os outros membros que estavam espalhados pela casa e levamos para fora. Era de manhã, talvez umas nove horas, apesar de o clima estar frio e ainda nublado. Pegamos pás guardadas em um cômodo da casa e cavamos dois buracos fundos, ao lado esquerdo da casa. Quando terminamos, colocamos os corpos de cada uma em seu determinado buraco e depois colocamos a terra em cima de novo. Por algum motivo, estávamos mesmo sem medo.

 

 Terminamos o trabalho de tarde e entramos em casa. Limpamos todo sangue que estava lá. Entrei no banheiro, sem medo algum e tomei banho. Coloquei as mesmas roupas do primeiro dia em que fui à floresta e arrumei minha bolsa da mesma maneira, com exceção do canivete: ao seu lugar, coloquei duas facas de diferentes tamanhos. Também peguei alguns pertences de minha família, para me lembrar deles. Peguei um colar de Aurora, a touca de Jackson, brincos da mamãe e uma camiseta do papai, além de uma foto com nós quatro juntos. Tudo coube perfeitamente dentro da mochila, para me lembrar deles.

 

 Quando terminei, as malas do papai e de Jackson já estavam feitas e elas já tinham arrumado os cômodos. Estava tudo perfeito. Pegaram as coisas de Aurora e mamãe.

—Eu não sei como estou sendo louco o suficiente para fazer isso.- disse papai, chegando perto de mim em meu quarto.- O que eu estou fazendo...? Aquilo foi uma miragem. Eu sou louco?

Percebi que ele parecia estar mudando de ideia, então agi rápido para encoraja-lo.

—A vida da mamãe e de Aurora foram tomadas. Eu os encontrarei, papai. Precisa confiar em mim.

Nesse momento, Jackson entrou em meu quarto também, chorando novamente.

—Eu vou ficar louco.- ele disse- Não conseguirei te deixar sozinha com esses insanos. E se chamarmos a polícia?

—A polícia morreria.- eu disse- Assim como todos que eles mandarem para cá. Mas... agora parei para pensar, o que vão fazer com a polícia a respeito de Aurora e mamãe?- perguntei triste por eles.

Meu pai balançou a cabeça.

—Daremos nosso jeito.

Eu esperava que sim.

 

 Coloquei mais algumas coisas na mochila, como isqueiros e mais uma camiseta. Depois de tudo isso, abracei fortemente meu pai e Jackson, que já tinham posto as malas no carro.

—Eu devia estar triste.- disse Jackson- Devia estar muito deprimido. Mas eu sinto mesmo que você conseguirá sair dessa.

—Nós confiaremos em você, querida.- disse papai.

Dei um último abraço neles.

—Vou fazer com que tudo isso acabe, e logo em seguida, os encontrarei, de alguma maneira.

 

 Eles entraram no carro e foram embora. Meu pai e meu irmão estariam bem. Aquilo tudo era tão, tão louco. Meu pai e minha mãe, que não me deixavam nem ir ao mercado sozinha, me deram permissão para assassinar um serial killer. Eu mataria Jeff e encontraria aquele garoto misterioso, não importa o quão insano fosse aquilo. Eu as faria dormir tranquilamente.

Sim Jeff, elas vão dormir, e você também.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que essa empolgação da Wendy e essas aparições fantasmagóricas não parecem estar dentro do contexto agora, mas continue lendo e descubra o quão amaldiçoada essa história pode ser...

=)

Obrigada por chegar até aqui.
Nos vemos no próximo capítulo.



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